sábado, 22 de fevereiro de 2020

Crônicas de Marlon Brando - Parte 16

O livro "The Godfather" (O Poderoso Chefão) de Mario Puzo ficou por mais de 60 semanas na lista dos mais vendidos do The New York Times. Era um sucesso absoluto, um best-seller. Em 1971 o produtor Robert Evans, da Paramount Pictures, negociou os direitos de adaptação para o cinema do romance com o próprio escritor. Após as negociações concluídas o estúdio foi atrás de um diretor. A escolha recaiu em Francis Ford Coppola que apesar de não ter nenhum grande sucesso no currículo, tinha boa fama de ser um verdadeiro artesão da sétima arte. Além disso ele tinha origem ítalo-americana, um dos requisitos que a Paramount considerava ser primordial para para uma boa adaptação.

A primeira questão que surgiu veio da escalação de um bom elenco. Coppola queria Ernest Borgnine ou Rod Steiger para o papel principal, a do patriarca Don Vito Corleone. O produtor Bob Evans não achava nenhuma das escolhas a adequada. Para ele Borgnine não tinha a imagem e nem a personalidade ideal para encarnar um tipo tão marcante. Faltava um certo ar de autoridade para o ator. Além disso quem iria associar o bondoso Ernest com um chefe da máfia siciliana? Já Steiger também não iria servir pois ele já havia interpretado outro gangster famoso, Al Capone. Evans não queria que o público associasse Capone com Corleone. "Eram personagens bem diferentes" - na opinião do experiente produtor. Quem acabou colocando fim à dúvida foi o próprio autor Mario Puzo. Ele telefonou para Coppola e lhe disse: "Só existe um ator para interpretar Vito Corleone no cinema e o seu nome é Marlon Brando!".

A Paramount não gostou da sugestão. Brando tinha um histórico de problemas com o estúdio. Ele havia criado muitos problemas no passado. Era considerado um ator genioso, explosivo, complicado de se lidar. A Paramount iria investir milhões de dólares em um filme estrelado por Marlon Brando novamente? Ninguém queria saber disso na diretoria. Outro problema segundo os executivos da Paramount vinha da própria idade de Marlon Brando. Na época ele tinha 47 anos e Vito Corleone, o personagem, já havia passado dos 60. Tudo bem, uma maquiagem bem feita poderia superar isso, mas como alguém poderia esquecer que Brando vinha de uma década de fracassos de bilheteria? Será que ele ainda tinha força para atrair o público para os cinemas? Em uma tensa reunião na Paramount o diretor Coppola ficou horas tentando convencer os executivos a contratarem Brando. Foi uma luta.

E qual era a posição de Brando sobre tudo o que estava acontecendo? Para falar a verdade o ator não parecia muito preocupado. Ele não tinha lido o livro de Mario Puzo e parecia indiferente ao projeto do filme, ao contrário de seus colegas de profissão, que estavam tentando de tudo para entrar no elenco do filme. Duas coisas porém fizeram Brando mudar de ideia. A primeira é que ele precisava urgentemente de dinheiro. Os diversos processos que tinha enfrentado em relação a divórcios e guardas de seus filhos o fez gastar verdadeiras fortunas com advogados. Ele estava na pior, financeiramente falando. A outra questão que fez Brando começar a brigar pelo papel era o fato do ator estar desesperado por um sucesso. Todos diziam que "O Poderoso Chefão" seria um grande campeão de bilheteria, justamente o que Brando procurava. Além disso sua carreira precisava muito de um impacto. Tudo certo, só havia mais um problema a superar: a Paramount exigiu que Marlon realizasse um teste. Algo que ele não fazia desde os anos 40. Era um tipo de humilhação para um ator tão consagrado como ele, era coisa de iniciantes. No fundo a Paramount queria testar mesmo era a personalidade do ator. Será que ele toparia fazer algo assim? Estaria mais humilde do que no passado? Brando engoliu seu orgulho pessoal, sua vaidade e topou fazer o tal teste em sua casa em Mulholland Drive. Se esse era o preço a se pagar para estar no filme, Brando estava disposto a encarar o primeiro teste em sua carreira nos últimos 30 anos!

Pablo Aluísio.

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