Muita gente se fez essa pergunta. Afinal o presidente Barack Obama tinha afirmado que o dia em que o ditador sírio Bashar al-Assad usasse armas químicas seria o dia em que os Estados Unidos entrariam no conflito de uma vez por todas. Pois bem, como foi comprovado Bashar al-Assad usou gás mortal contra parcela de sua população e... nada aconteceu! Muitos se perguntam o porquê! Ora, Obama se precipitou em demasia. Primeiro ao colocar um ultimato no ar - coisa que não se deve fazer pois delimitar linhas em política internacional sempre é um equívoco. Também errou por ter dito que iria apoiar os rebeldes sírios contra o ditador mão de ferro. Sim, Bashar al-Assad é um ditador dos mais sanguinários, mas Obama deveria ter parado um pouco para conhecer também os tais rebeldes ao governo.
E quem são eles? Provavelmente a mais violenta e fanática facção do Oriente Médio. Entre eles se encontra o infame Estado Islâmico. São fanáticos religiosos, intolerantes, que estão matando cristãos na Síria e não satisfeitos com isso prometem ainda mais matanças para breve. Muitos outros grupos rebeldes são fortemente ligados à Al-Qaeda, a persistente rede terrorista que teima em levar em frente sua organização. Como é que um líder ocidental do porte de Obama vai mandar soldados americanos para morrerem na Síria em nome desse tipo de gente? No mínimo o presidente americano deveria ter procurado conhecer melhor os grupos rebeldes antes de sair dando ultimatos pela imprensa internacional. Quando tomou consciência no que estava se envolvendo já era tarde demais. Nesse quadro quem acabou ganhando foi Wladimir Wladimirowitsch Putin, o eterno líder russo, que desde o começo da guerra civil na Síria foi bem mais ponderado, não tirando o freio de mão do conselho de segurança da ONU, evitando assim mais uma intervenção desastrada dos Estados Unidos no Oriente Médio. Na verdade Bashar al-Assad é um líder mais ocidentalizado. Embora seja um ditador o ocidente sabe o que esperar dele. Como político ele vem implantando a plena liberdade religiosa em seu país, onde todos podem seguir a fé que desejarem. Além disso tem sempre procurado manter religião e Estado devidamente separados. Com os rebeldes isso certamente não será possível. O Estado Islâmico, por exemplo, não admite tal coisa. São intolerantes e querem implantar um regime de ditadura islâmica, acima de tudo. Há poucas semanas eles trucidaram uma jovem cristã em um vilarejo sírio. Também mataram centenas de cristãos e chegam ao ponto de manter mulheres escravas nas cidades que dominam. E não podemos esquecer que Bashar al-Assad tem sim apoio de grande parte de sua população, essa formada justamente pelas alas mais moderadas da sociedade.
Além das patetices de Obama na questão Síria, outro fato pesou contra a não intervenção americana naquele país. A verdade pura e simples é que a população dos Estados Unidos está farta de guerras em países distantes. As recentes intervenções no Iraque e Afeganistão se mostraram desastrosas em termos políticos e econômicos. O governo americano torrou bilhões de dólares nessas guerras e nesse processo acabou quebrando a própria economia do país. Os Estados Unidos de hoje não se parecem em nada com a grande e forte nação de trinta anos atrás. O desemprego está acelerado, o déficit público é um dos maiores da história e o país não consegue sair de uma eterna crise financeira. Para piorar a onda de imigração sem controle desfigura a população norte-americana, aumentando a cada dia diversos problemas sociais em determinadas cidades. O maior exemplo da decadência dos Estados Unidos é a outrora gloriosa Detroit, capital mundial na fabricação de carros que recentemente abriu falência (nas leis americanas uma cidade pode literalmente ir a bancarrota).
A verdade é que em certos países não existe solução mágica a médio prazo. No Afeganistão o talibã tem reconquistado territórios, impondo novamente sua fanática lei baseada no Islã a todos os habitantes das regiões controladas por eles. No Iraque houve a queda do ditador Saddam Hussein mas o povo iraquiano não sabe direito o que fazer com sua recém conquistada democracia (parecem com o povo brasileiro que não sabe em quem votar direito!). O número de ataques de carros-bomba só tem aumentado nos últimos meses. Os americanos por sua vez estão com o pé fora desses lugares pois o dinheiro acabou. Parece que os líderes dos EUA finalmente estão entendendo que intervenção em países do Oriente Médio só significa mesmo a importação de problemas, problemas dos outros, é bom deixar claro. Enquanto os americanos tentavam consertar o erros de outras nações esqueceram de olhar para seu próprio quintal, que diga-se de passagem não anda nada bem.
Assim há dois lados nessa guerra civil na Síria. De um temos uma ditadura. Essa não pode ser apoiada pelos americanos pois os Estados Unidos é um país democrático que supostamente procura promover a democracia ao redor do mundo. Do outro lado existem os rebeldes, entre eles o Estado Islâmico, fanáticos violentos e perigosos. Que lado escolher? Não há lado que se possa apoiar e os americanos preferem simplesmente se omitir.
Pablo Aluísio.
História & Literatura
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