Winston Churchill (1874 - 1965) foi o homem certo na hora exata. Quando o nazismo afiou suas garras pela Europa ele conseguiu levar o povo inglês a uma heróica resistência durante a II Guerra Mundial. Eleito primeiro ministro, substituindo o vacilante e para muitos fraco premier Neville Chamberlain, Churchill sabia que não havia como lidar com o nazismo por meros meios diplomáticos. Veterano de guerras passadas, ele logo compreendeu o que se passava na alma de seu inimigo. Os nazistas eram bestas feras que queriam conquistar toda a Europa. Por mais irracional que isso parecesse, era justamente o que estava acontecendo. Chamberlain havia se equivocado duplamente em pensar que poderia negociar com aquele tipo de gente ou que poderia abrir uma linha de amizade com os membros daquele fanático partido nacional socialista. Hitler tinha outros planos. Ele pensava sinceramente que conquistaria "a ilha", como ele gostava de chamar a Inglaterra, em pouco mais de duas semanas. Ele acreditava piamente que seria tão bem sucedida sua campanha quanto havia sido na conquista da França, que caiu de joelhos muito antes do que todos pensavam. A Blitzkrieg, a tão conhecida guerra-relâmpago nazista, havia conquistado várias regiões da Europa em tempo recorde. Os países caíram rapidamente. Polônia, Tchecoslováquia, Austria, Hungria, em nenhum deles havia qualquer sinal que algum exército europeu poderia parar os avanços do exército alemão. A França poderia resistir, mas logo se rendeu também, de forma vergonhosa para muitos. Para Hitler a Inglaterra iria pelo mesmo caminho da derrota fácil e rápida. Estava muito enganado. Se havia algo que os ingleses não estavam dispostos a fazer era se render sem luta, muita luta!
Winston Churchill levantou a moral do povo britânico, mas sem mentiras ou enganações, tão comuns em políticos populistas. Ele jamais subestimou a inteligência do povo britânico e deixou claro desde o começo que não seria fácil. No rádio afirmou que não prometia nada a não ser "Sangue, Suor e Lágrimas", uma frase que se tornou imensamente famosa em todo o mundo. No campo de batalha a Inglaterra conseguiu lutar grande parte da guerra praticamente sozinha. Os Estados Unidos tinham receios de entrar em outra grande guerra sangrenta como havia acontecido na Primeira Guerra Mundial e por essa razão adotou uma postura de neutralidade durante longo período de tempo. Apenas após o terrível e covarde ataque a Pearl Harbor por aviões japoneses, na base americana no Havaí, foi que finalmente a América entrou de corpo e alma na guerra. Esse foi um momento decisivo para Churchill pois ele sabia que desse ponto em diante não haveria mais retorno. Era impossível aos países do Eixo vencerem a guerra após a entrada dos Estados Unidos no confronto, afinal sua indústria bélica e capacidade inesgotável de produzir armamentos em série era praticamente impossível de se superar.
Outro erro de Hitler foi abrir duas frentes na Europa. Ao trair seus antigos aliados russos, invadindo a União Soviética, o ditador alemão selou seu próprio destino. Os russos não estavam bem equipados e nem tinha mais grandes comandantes em suas forças armadas, pois Stálin havia matado muitos deles antes da guerra, mas o povo russo era forte como um rocha e estava disposto a enfrentar os alemães. A rendição não era uma opção como havia sido para os franceses. Era ir até o fim, para a glória ou para o inferno. Morrer lutando nos vastos campos congelados da Rússia e países satélites sob controle de Moscou. Esse choque de ditaduras sanguinárias, de um lado o nazismo e do outro o comunismo vermelho, é certamente um dos capítulos mais interessantes da história da humanidade. Na luta para saber quem seria o ditador mais feroz venceu Stálin, um dos maiores genocidas que se tem notícia, que conseguia matar com a mesma sede de ira e velocidade os inimigos estrangeiros assim como também o seu próprio povo oprimido. Se Hitler era uma besta fera, Stálin era o próprio cavaleiro da morte do apocalipse!
Enquanto russos e alemães se matavam em solo soviético, Churchill colhia vitórias no front ocidental. Com a ajuda dos americanos ele abriu as portas para a vitória. Primeiro no dia D, a famosa invasão da Normandia, depois no avanço sem tréguas rumo ao coração da Alemanha. Quando essa finalmente caiu, coroada pelo suicídio de Hitler, a Inglaterra finalmente respirou aliviada, pois a guerra havia sido vencida. Winston Churchill foi considerado um herói e acabou aclamado por seu povo. Curiosamente em pouco tempo também perdeu as eleições, sendo destituído de seu cargo. Os britânicos sabiam muito bem que, apesar de seus atos heróicos serem louvados, não era saudável a uma democracia manter os mesmos líderes por muito tempo. Verdadeiras democracias sabem a importância de sempre haver alternância de poder (algo que o povo brasileiro aliás ainda não entendeu completamente). Assim, dando espaço para a democracia inglesa respirar, ele deixou o palco do cenário político de seu país. Depois disso Churchill virou uma pessoa querida entre os ingleses, uma lembrança de um momento em que a bravura de seu povo foi colocada à prova e venceu todos os desafios. Espirituoso e brincalhão, acabou ficando famoso por diversas tiradas irônicas que deu em festas e eventos comemorativos após a guerra. Certa vez uma senhora da fina flor da sociedade inglesa resolveu criticar seu hábito de beber e fumar em demasia (pois estava sempre com um charuto acesso entre seus dedos e um copo de whisky nas mãos). Numa festa ela não se conteve e virou para o sorridente Churchill e lhe disse em tom de desaprovação: "Se eu fosse sua mulher eu lhe daria veneno!" ao que, sem perder a piada, Churchill respondeu: "E se eu fosse seu marido tomaria o veneno de bom grado". Coisas de um homem que sabia muito bem como viver e lutar pelo que acreditava.
Pablo Aluísio.
Tópico de história.
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