Se você gosta de história, uma boa dica de leitura é esse "História da Guerra Civil Americana" de autoria do escritor John D. Wright. Muito embora o texto em si não tenha uma visão crítica dos acontecimentos, Wright narra em ordem cronológica todos os principais eventos do conflito que mais perdas causaram ao povo americano. De um lado o Norte do país, com estados industrializados, cidades cosmopolitas e aversão completa ao instituto da escravidão negra. Do outro os estados sulistas, com a economia fortemente embasada nos pilares do plantation, onde o grande motor econômico era a exportação para França e Inglaterra do algodão, com farto uso de mão de obra negra escrava em grandes fazendas. Os nortistas ficaram conhecidos como ianques, com fardas azuis e os sulistas, que também lutavam pela secessão dos Estados Unidos, foram denominados de confederados, com uniformes cinzas. No meio de tudo estava o presidente americano Abraham Lincoln, que lutava para manter o país unido sob uma mesma bandeira.
Além do aspecto jurídico, social e econômico, a guerra civil americana também mostrou que nem os heróis são isentos de demonstrarem momentos de vacilação e medo. Um exemplo vem do próprio Lincoln retratado em suas páginas. Como se sabe o presidente americano hoje é visto como um símbolo de virtuosidade, mas no calor dos acontecimentos as coisas não foram bem assim. Na véspera da saída de vários estados da União, o presidente, temendo uma cisão completa, realizou um discurso lamentável, afirmando que não iria abolir a escravidão no sul americano, até porque ele acreditava que "negros não são iguais aos brancos." em suas próprias palavras. Não satisfeito ainda declarou: "Não podemos afirmar que eles possam ser igualados aos brancos. Não queremos que votem ou tenham os mesmos direitos que a raça branca, que é obviamente superior a todos eles". Pois é, só quando a coisa toda desandou completamente, com a declaração da confederação e a guerra batendo as portas da Casa Branca é que Lincoln finalmente abraçou a causa da abolição.
Outro personagem digno de nota que surgem das páginas desse excelente livro é o general Ulysses S. Grant. Ele começa a guerra como um oficial desacreditado. Formado entre os piores de sua classe em West Point se mostra um homem importante dentro do campo de batalha. Ao contrário de seus superiores, que tinham receios de enfrentar os confederados de frente, Grant ia diretamente ao confronto direto, vencendo inúmeras batalhas, o que era justamente o que faltava para a União naquele momento, pois poucos sabem, mas a confederação sulista havia vencido as principais batalhas no começo da Guerra civil. Grant também era um sujeito sui generis. Beberrão e despojado, se misturava com seus soldados no front, participando ativamente do corpo a corpo, o que lhe trouxe uma incrível fama de bom líder e guerreiro leal entre os soldados ianques. Esse seu jeito decisivo de participar da guerra levaria Lincoln a elogiar Grant sempre que possível. Aconselhado a demitir o general por causa de seu estilo arrojado e pouco convencional do que se esperaria de um general do exército, o presidente teria dito: "Não posso me desfazer desse homem, ele luta!". Anos depois o próprio Ulysses S. Grant se tornaria presidente dos Estados Unidos.
Já o general Sherman, outro herói ianque da guerra, é retratado como um militar linha dura, chegando às raias da crueldade. Quando os nortistas invadiram a capital do sul, Richmond, Sherman deu ordens diretas aos seu homens para que incendiassem e pilhassem tudo o que encontrassem pela frente, inclusive com abusos (até de ordem sexual) contra as mulheres sulistas que ousassem enfrentar as tropas. Isso bem demonstra que nem sempre os heróis do passado agiam com heroísmo. Sherman foi violento e irracional em muitos momentos da guerra. Por fim, como é de se esperar de uma história da guerra, nada melhor também do que conhecer os grandes nomes do outro lado também. Entre os oficiais confederados nenhum se destacou mais do que Robert Lee, o famoso general que largou o exército da União para se juntar ao exército confederado. Considerado um tradicionalista, um oficial justo e honesto, Lee acabaria se tornando o maior ícone da causa confederada na guerra civil. Ele sabia que o sul não teria chances de vencer a guerra, mas como era natural da região deixou seu lado mais pragmático de lado para lutar ao lado daqueles que considerava o seu povo. No final seus esforços foram em vão pois o sul perdeu a guerra, não por falta de coragem ou bravura, mas sim por não ter a mesma estrutura econômica e financeira do norte rico e industrial. Algo que também aconteceria na segunda guerra mundial, afinal de contas guerras são vencidas geralmente pelo lado mais rico do ponto de vista puramente econômico e financeiro.
Pablo Aluísio.
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