quinta-feira, 14 de abril de 2011

O Drácula da História

Muitos nunca pararam para pensar sobre isso, porém se você hoje em dia tem plena liberdade religiosa, não é obrigado a vestir uma burca em público e não sofre pena de morte por ser homossexual ou ateu, então é melhor agradecer ao Drácula por isso! Estranho o ponto de vista? Será mesmo?! E o que o personagem histórico Vlad, o Empalador, tem a ver com tudo isso? Muito simples de explicar. Vlad III, Príncipe da Valáquia (1431 - 1476), foi um nobre europeu que conseguiu deter o avanço do Império Otomano em direção ao centro da Europa cristã. Historiadores concordam que se ele tivesse falhado em deter o avanço do islamismo em direção ao coração do continente europeu muito do que conhecemos hoje em dia como cultura ocidental teria sido varrida do mapa. Os grandes reinos europeus cristãos teriam sido destruídos. A Igreja Católica, berço do cristianismo europeu, teria sido destruída, nada sobraria ao terrível avanço dos Otomanos.

Os Otomanos aniquilavam qualquer tipo de religiosidade que não fosse a sua, muçulmana. Realizavam ataques de aniquilação completa de vilas inteiras apenas por essas serem cristãs. Matavam a esmo mulheres, crianças e idosos, caso não aceitassem se converter ao Islã. Em sua sede de sangue e poder esse Império chegou nas portas da Europa em meados do século XV. Seu objetivo era claro: dominar os reinos europeus para converter toda sua população ao Islã. Quem fosse infiel seria colocado no fio da espada. O que eles não contavam é que havia um príncipe bem no meio de seu caminho. Membro da ordem do Dragão - o que lhe valeria o nome de Drácula nas páginas de Bram Stoker - Vlad decidiu que era hora de destruir aquelas hordas de muçulmanos que avançavam em direção ao reu reino. E ele estava disposto a ser tão cruel quanto seus inimigos de fé.

Obviamente que estamos falando de uma época da história particularmente brutal. As guerras eram travadas corpo a corpo, com os inimigos olhando uns nos olhos dos outros. E não havia espaço para misericórdia. Vlad, em especial, sabia que teria que vencer uma ideia, uma fé, algo que era muito enraizado na alma de seus adversários no campo de batalha, ele teria que ser ainda mais brutal que seus algozes, já conhecidos pela ira que tratavam os infiéis cristãos. Para isso Vlad resolveu empreender uma guerra psicológica para causar medo e pavor nos guerreiros do Império Islâmico. Os prisioneiros otomanos capturados eram empalados vivos - com a introdução de uma grande lança de guerra em seus ânus, que atravessavam todo o seu corpo, saindo pelas suas bocas, na outra extremidade. Depois eles eram penduradas à vista dos Otomanos, criando um campo aberto de empalados, onde gritos e choros se misturavam ao lamento dos guerreiros do outro lado do campo de batalha.

Era um fator psicológico para deter os avanços dos muçulmanos rumo à Europa. A mensagem era clara: Não venham, pois serão empalados também! Em decorrência disso muitos cronistas da época escreveram que o número de deserções no lado dos Otomanos aumentou consideravelmente da noite para o dia. Eles preferiam fugir como covardes e desertores de guerra do que enfrentar Vlad Tepes. Some-se a isso o cheiro insuportável de milhares de corpos apodrecendo e você terá uma pequena ideia do que aconteceu. Os que ficaram tentaram em vão derrotar as tropas cristãs lideradas por Drácula, mas essas com moral elevada se mostraram oponentes ferozes. As batalhas obviamente foram sangrentas e a Transilvânia viu seu solo encharcado de sangue dos guerreiros, tanto cristãos, como do Islã. Havia não apenas uma guerra religiosa em curso, mas também cultural, um verdadeiro choque de civilizações. No final Vlad se tornou vitorioso, sendo que hoje em dia ele ainda é reverenciado como um herói nacional romeno por causa de seu grande feito histórico.

Depois de séculos um escritor chamado Bram Stoker resolveu usar parte de sua história para criar o mais famoso vampiro de todos os tempos, o Conde Drácula, do romance homônimo. Ele ficou particularmente impressionado com uma crônica histórica da época que dizia que Vlad gostava de montar uma mesa de jantar bem no meio do campo dos empalados, onde se servia de sangue quente e fresco dos Otomanos agonizantes nas estacas. Unindo esse tipo de história com velhas lendas de corpos desenterrados com sangue escorrendo por suas bocas, criou-se o cenário perfeito para o escritor dar vida ao seu famoso livro. Stoker resolveu ter a brilhante ideia de unir tudo em torno de apenas um personagem, um vampiro sedento de sangue humano. O resto é história...

Pablo Aluísio.

2 comentários:

  1. Tópico de História - Expansionismo islâmico na Europa

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  2. Publicado originalmente no blog História & Literatura
    Pablo Aluísio
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