quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Amor por Acidente

Título no Brasil: Amor por Acidente
Título Original: Mrs. Winterbourne
Ano de Lançamento: 1996
País: Estados Unidos
Estúdio: TriStar Pictures
Direção: Richard Benjamin
Roteiro: Phoef Sutton
Elenco: Shirley MacLaine, Brendan Fraser, Ricki Lake

Sinopse:
Uma jovem grávida de seu namorado que a abandonou, sofre um grave acidente de trem. No meio do caos e da confusão que se segue ela é hospitalizada e passa a ser confundida com outra passageira, criando uma série de problemas e mal entendidos com seus familiares e amigos. 

Comentários:
Mais uma comédia romântica que assisti nos anos 90. Por aqui nada de muito significativo, a não ser o elenco que é por demais interessante. E o interesse começa pela presença da sempre ótima  Shirley MacLaine. Mesmo após se tornar idosa, ela nunca abandonou de forma definitiva sua carreira no cinema. sempre surgindo de tempos em tempos em filmes menores como esse. Sua presença em cena mantém o bom nível de todo o elenco que era formado basicamente por jovens atores e atrizes, aqui claramente procurando aprender com a atriz mais velha e experiente. Entre esses jovens e aspirantes ao sucesso temos um bem moço Brendan Fraser. Na época em que o filme foi realizado ele ainda não tinha encontrado seu caminho certo em Hollywood, mas se sai muito bem, nem se sentido intimidado por contracenar com a estrela da ouro de Hollywood Shirley MacLaine. Não deixava de ser um sinal importante de personalidade por parte dele, claro. Enfim, deixo a dica dessa boa comédia romântica. Vai agradar a quem aprecia o estilo.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Elvis Presley - On Stage, February 1970 - Parte 1

 Elvis Presley - On Stage, February 1970 - Parte 1
"On Stage - February 1970" foi o primeiro álbum gravado ao vivo por Elvis Presley a ser lançado na década de 70. De certa forma foi o pioneiro numa série de discos de grande sucesso de público e crítica. Saiam de cena as trilhas sonoras de filmes e entravam os discos gravados nas temporadas de Elvis em Vegas e nas suas turnês pelos Estados Unidos. A ideia desse primeiro disco foi bem interessante. Ao invés de lançar um LP aos moldes do anterior (Elvis in Person), trazendo um show na íntegra, com vários sucessos de Elvis gravados ao vivo, os produtores resolveram fazer uma seleção apenas com músicas inéditas dentro da discografia de Elvis. Assim iria satisfazer tanto o fã que estivesse em busca de um disco gravado no palco por Elvis como aquele que estivesse em busca de novidades, de material inédito do cantor. 

A faixa que abriu o disco foi justamente essa "C.C. Rider" que ao longo do tempo iria tradicionalmente abrir os concertos de Elvis nos anos 70. A origem da canção é desconhecida. Já na década de 1910 ela já era bem tocada por cantores de blues em bares no sul. Quem a criou? Provavelmente um desses artistas cujo nome se perdeu no tempo... Apenas em 1924 seria gravada pela primeira vez por Gertrude "Ma" Rainey ainda nos tempos dos acetatos de cera dos gramofones. Como era uma canção tradicional nunca desapareceu, sempre tocada em eventos pelos estados sulistas. Aqui Elvis a revitalizou, dando um arranjo mais moderno, mais rock ´n´ roll. Curiosamente se você tiver a oportunidade de encontrar uma cópia original do LP americano verá que a canção foi creditada no selo do disco ao próprio Elvis Presley. Na verdade Elvis não a compôs, mas sim ajudou nos arranjos. Esse fato acabou justificando a retificação nas reedições posteriores do disco quando então foi creditado da forma correta com a expressão "Arr: Elvis Presley". Essa primeira versão que ouvimos aqui é excelente, mais acústica do que as demais. Além disso soava como novidade, algo que não iria se repetir com a exaustão de execuções repetidas dos anos seguintes quando ela finalmente ficaria saturada.

Sempre gostei muito dessa regravação de Elvis de "Release Me", um velho sucesso da década de 1940, gravada originalmente por Ray Price. Ele foi um artista muito popular durante a adolescência de Presley em Memphis, sempre tocando nas emissoras de rádio da cidade. "For the Good Times", outro de seus sucessos radiofônicos, seria gravada também por Elvis em pouco tempo (sendo lançada no álbum "Good Times" de 1974). Assim Elvis resolveu dar uma nova roupagem a esse velho hit country, usando de certa maneira como base a versão posterior de Engelbert Humperdinck, que chegou, imagine você, a disputar com um single dos Beatles (Penny Lane / Strawberry Fields Forever), a primeira posição nas paradas de sucesso da Inglaterra! Assim você já pode perceber que "Release Me" já era muito conhecida quando Elvis a interpretou em Las Vegas em sua segunda temporada. Como o cantor queria trazer mais material renovador para seu repertório a canção acabou se enquadrando muito bem no que ele tencionava fazer nos palcos da cidade. Em termos de melodia e letra "Release Me" é bem simples, fruto da época em que foi composta, no período da II Guerra Mundial. Aqueles soldados americanos que estavam lutando na Europa só queriam ouvir uma boa música country para relembrarem suas namoradas que ficaram nos Estados Unidos. Por essa razão a mensagem era simples e fácil de entender. Nada muito intelectualmente sofisticado. 

Como se sabe muitos desses militares na Europa ou no Pacífico encontraram novos amores nas cidades por onde passavam, assim a letra trazia essa mensagem ao mesmo tempo nostálgica de um amor do passado e libertária em relação a novos relacionamentos. Em termos de carreira de Elvis eu costumo qualificar canções como essa como "músicas de palco". Elvis nunca a gravou oficialmente em estúdio e ela só foi lançada na discografia oficial justamente nessa versão ao vivo. A interpretação do cantor foi excelente nessa noite e de todas as performances de Elvis cantando "Release Me" ao longo de sua carreira essa é certamente a melhor. Curiosamente Elvis também a descartaria rapidamente do repertório dos concertos, sem muita explicação. Assim ao longo dos anos ela seria sutilmente esquecida por Elvis e sua banda. Uma pena.

Pablo Aluísio. 

Frank Sinatra - Songs for Young Lovers

Frank Sinatra - Songs for Young Lovers
Esse foi o primeiro álbum de Sinatra na Capitol Records. Não era apenas uma mudança de gravadora, pois Sinatra havia deixado para trás um belo legado musical na Columbia. Era também uma mudança de ares importante para o cantor. Ele já não vinha se dando bem nos últimos anos na Columbia, por causa de brigas com certos executivos. Na Capitol haveria possibilidade dele recomeçar um novo caminho na sua carreira e foi justamente isso que aconteceu. Sinatra decidiu que iria basicamente gravar as músicas que apresentava no Cassino Sands em Las Vegas. O mesmo repertório, as mesmas músicas e a mesma orquestra que o acompanhava no palco. O tema das canções era geralmente o mesmo, o coração partido de jovens apaixonados. Então não foi mesmo muito complicado de se achar o título ideal para o álbum. 

O disco acabou sendo comercialmente muito bem sucedido se tornando um dos mais vendidos naquele ano. Foi também um dos últimos em que Sinatra não precisou enfrentar a concorrência do rock, que estava prestes a explodir nas paradas musicais. A partir do surgimento da primeira geração do rock americano Sinatra iria enfrentar dificuldades para alcançar as primeiras posições dos mais vendidos. De qualquer forma é um grande trabalho. E como curiosidade final esse era o disco preferido de James Dean, conforme ele mesmo confessou em uma entrevista poucos dias antes de morrer. Quem diria, com sua imagem tão identificada ao rock, James Dean curtia mesmo um belo disco romântico do bom e velho Sinatra. 

Frank Sinatra - Songs for Young Lovers (1954)
My Funny Valentine (Richard Rodgers, Lorenz Hart)
The Girl Next Door (Ralph Blane, Hugh Martin)
A Foggy Day (George Gershwin, Ira Gershwin) 
Like Someone in Love (Jimmy Van Heusen, Johnny Burke)
I Get a Kick Out of You (Cole Porter) 
Little Girl Blue (Rodgers, Hart) 
They Can't Take That Away from Me (George Gershwin, Ira Gershwin) 
Violets for Your Furs (Tom Adair, Matt Dennis)

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 7 de novembro de 2023

Alan Ladd - Rajadas de Ódio

Um faroeste que procurou mostrar o outro lado das chamadas guerras indígenas. Ao invés de explorar as batalhas envolvendo a cavalaria americana e os guerreiros das tribos rebeldes, esse aqui procurou contar a história dos chamados delegados da paz, homens com formação diplomática que eram enviados para o oeste com a missão de celebrar a paz com os nativos. Podemos inclusive, considerar esse western como bem a frente de seu tempo. O roteiro trazia uma questão politicamente correta, analisada em termos de bom equilíbrio. narrativo e social.

O protagonista se chama Johnny MacKay. Alan Ladd interpreta o papel desse homem que é designado pessoalmente pelo presidente Grant para pacificar uma região onde apaches liderados pelo chefe tribal "Capitão Jack" (Charles Bronso) estão em pé de guerra contra os brancos que ousam atravessar seus territórios. Logo na viagem sua diligência é atacada por guerreiros justamente desse grupo, o que o coloca, em primeira mão, logo a par da situação.

Esse tipo de personagem, que procura usar mais a diplomacia do que as armas, caiu muito bem para Alan Ladd, O astro que ficou imortalizado para sempre por causa de "Os Brutos Também Amam", segue na sua mesma linha de trabalho, interpretando bons homens, pessoas sutis, de boa índole. Seu contraposto vem na figura do líder Apache, na pele de um Charles Bronson completamente convincente como índio. Seu rosto quadrado e suas feições de nativo combinavam perfeitamente com o papel que estava interpretando. Assim os dois personagens dominam bem o filme, sendo um o oposto do outro. Enquanto Ladd é pura sofisticação e bom senso, Bronson é pura alma de pele vermelha, coração em fúria. No saldo final desse duelo de personalidades nasce um grande filme de western. Não deixe de assistir.

Rajadas de Ódio (Drum Beat, EUA, 1954) Direção: Delmer Daves / Roteiro: Delmer Daves / Elenco: Alan Ladd, Charles Bronson, Audrey Dalton, Marisa Pavan / Sinopse: Na trama somos apresentados a Johnny MacKay (Alan Ladd) que é enviado pelo presidente Grant para uma região remota do Oeste com o objetivo de pacificar o local. Para isso ele deve usar de todos os meios diplomáticos possíveis, inclusive procurando pessoalmente o chefe rebelde conhecido como "Capitão Jack" (Charles Bronson).

Pablo Aluísio. 

Viva Villa!

Título no Brasil: Viva Villa!
Título Original: Viva Villa!
Ano de Produção: 1934
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer
Direção: Jack Conway, Howard Hawks
Roteiro: Ben Hecht, Edgecumb Pinchon
Elenco: Wallace Beery, Fay Wray, Leo Carrillo

Sinopse:
Nesta biografia romanceada, o jovem Pancho Villa foge para as montanhas depois de matar um justiceiro em vingança pela morte de seu pai. Em 1910 ele encontra pela primeira vez e faz amizade com um repórter americano chamado Johnny Sykes. Depois de uma reunião com o visionário Francisco Madero ocorre finalmente a transformação de Villa, de um bandido vingativo e fugitivo, ele passa a ser considerado um general revolucionário. Fazendo da melodia "La Cucaracha" seu hino, seus exércitos varrem todo o interior do México.

Comentários:
Filme que tenta mostrar aspectos da história do líder revolucionário Pancho Villa, aqui muito bem interpretado pelo ator Wallace Beery. O Villa da história real era um sujeito indigesto, assassino e vilão em essência que matava sem remorsos todos aqueles que ousassem cruzar seu caminho. Sujo e violento era uma figura deplorável em todos os aspectos. Obviamente que Hollywood deu uma suavizada em sua rudeza e tentou explicar o fenômeno de sua popularidade, colocando a "culpa" em um jornalista americano pouco ético e sem senso de limite para seu próprio sensacionalismo jornalístico. Um dos maiores pecados dessa produção é sua visão bem preconceituosa do povo mexicano, que surge sempre retratado como analfabeto, camponês e até mesmo estúpido. Mesmo assim, se você conseguir deixar de lado todos esses problemas, poderá até se divertir com o lado mais agitado do filme, recheado de batalhas e conflitos sangrentos. Sob esse aspecto sim, "Viva Villa" é um ótimo programa cinematográfico.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 34

Marilyn Monroe e Joe Di Maggio
Alguns romances parecem que foram escritos nas estrelas. Infelizmente na maioria das vezes apenas parecem mas não se concretizam. Esse parece ter sido o caso de Marilyn Monroe e Joe Di Maggio. Ela, uma das atrizes mais populares da história do cinema. Ele, um mito do beisebol, considerado o "último grande herói" do mais americano dos esportes. Um ícone da nação. Se eram parecidos no quesito fama não poderiam ser mais diferentes em suas personalidades. Di Maggio era um ítalo-americano típico. Turrão, era reservado e tratava a imprensa a patadas. Ciumento e possessivo achava que o lugar da mulher era realmente na cozinha preparando um belo prato de macarronada para o maridão. Monroe era o oposto de tudo isso. Expansiva e louca por publicidade Marilyn sabia que para manter sua popularidade tinha que manter bons contatos com a imprensa. Tinha amigos jornalistas e vira e mexe os presenteava com furos - muitas vezes de sua própria vida pessoal. Como artista adorava os holofotes, sejam quais fossem. Era literalmente uma estrela e como sabemos é da natureza das estrelas sempre brilharem o máximo possível.

Os dois se conheceram meio ao acaso. Di Maggio viu uma foto de Marilyn em uma revista e ficou impressionado pela beleza da atriz. Usou de seus contatos no meio cinematográfico para conhecê-la a qualquer custo. Informada ela não deu muita bola, afinal não acompanhava beisebol e pouco sabia sobre Di Maggio. Após alguns desencontros resolveram se encontrar. Foi um jantar formal, com Joe sempre receoso em tudo ir por água abaixo. Curiosamente apesar da diferença de personalidades acabaram se entrosando. Marilyn há muito almejava encontrar seu par ideal para quem sabe formar uma família de verdade (algo que realmente nunca teve em vida). Finalmente depois de vários encontros finalmente foram para a "terceira base" (uma gíria bem em voga nos EUA). Se deram muito bem sob os lençóis. Tão bem que esse acabou sendo realmente o elo que sempre os mantinham juntos.

Em um impulso típico da atriz acabaram se casando. Di Maggio finalmente tinha seu grande prêmio, a mulher de seus sonhos. Ele tinha sua própria ideia do que seria um casamento ideal e para falar a verdade Marilyn bem se esforçou para corresponder a esses anseios do marido. Se tornou praticamente uma dona de casa. Fazia a comida de Joe enquanto esse ficava na sala assistindo seus faroestes preferidos na TV. Até suportou o bando de amigos beberrões do marido que sempre os visitavam para beber, jogar cartas e contar piadas machistas. Imaginem a cena: um monte de italianos ao redor de uma mesa de bridge sendo servidos com salgadinhos e cerveja por um dos maiores símbolos sexuais do mundo. Olhando bem de perto realmente não havia como dar certo uma coisa dessas. Marilyn já tinha tido uma experiência assim com seu primeiro marido. O fato puro e simples era que ela na realidade queria voltar aos sets de filmagem o mais rápido possível.

Assim após alguns meses Marilyn finalmente retornou aos braços de seu público. Lá estava ela em plena Nova Iorque filmando as famosas cenas do vestido levantado em "O Pecado Mora ao Lado". Di Maggio que já havia tido vários atritos com ela por causa dos roteiros dos filmes que fazia ficou discretamente posicionado atrás das câmeras, meio na surdina. Marilyn obviamente nem tomou conhecimento da presença do marido no local. Di Maggio franziu a testa. O que viu lhe deixou profundamente irritado. Marilyn com as saias esvoaçantes, deixando muito pouco para a imaginação dos homens no local. Rindo e se divertindo ela acabou adorando as cenas. A volta para casa foi tumultuada. Joe pediu explicações - Marilyn retrucou. Depois de muita gritaria finalmente aconteceu o que selou o fim do casamento. Joe Di Maggio, o herói americano, agrediu Marilyn. Ela já tinha suportado muita coisa de Joe mas isso não. Era o fim. Em pouco tempo Monroe pediu o divórcio e se foi. Di Maggio ficou arrasado. Ele ainda tentou várias e várias vezes reatar seu relacionamento mas Marilyn, que quase virou um dia uma típica dona de casa italiana, caiu fora para sempre. Era o fim do casamento dos sonhos da grande nação ianque.

O casamento da estrela e do herói do esporte acabou definitivamente, mas não a paixão de Di Maggio. Ao longo dos anos ele virou literalmente um chiclete no saldo alto da atriz. Sempre pronto a tentar uma reconciliação. Engoliu seu tradicional orgulho italiano e se prestou a passar por verdadeiras humilhações públicas. Marilyn nunca voltou atrás e parece não ter se arrependido disso. Mas como diz o velho ditado o mundo dá voltas. Após diversos fracassos amorosos Marilyn encontrou seu destino no quarto de sua casa em Hollywood. Na cama sozinha ela ainda tentou fazer uma última chamada mas o efeito das pílulas que tomou foram fortes demais. Ela apagou. Em suas últimas semanas Marilyn Monroe estava arrasada. Tinha sido despedida da Fox após inúmeros atrasos e faltas no set de seu último filme. Tentara e fracassara em seu romance duplo com os irmãos Kennedy. Abandonada e ferida Marilyn se afogou em tristeza e depressão. Para alguns uma morte acidental, para outros suicídio e como todo conto de fadas Made in USA esse também teve sua pitada de teorias da conspiração. Teria Marilyn sido assassinada pelo FBI ou pela CIA? Hoje, passado tantos anos isso realmente não importa mais.

No apagar das luzes do mito eterno foi Di Maggio quem acabou sendo o responsável por seu funeral. Afastou da cerimônia as pessoas que ele acreditava terem sido danosas a Marilyn (como Frank Sinatra, por exemplo). Providenciou uma despedida simples e respeitosa, com os poucos verdadeiros amigos da atriz. No final se mostrou inconsolável de uma dor que jamais iria se cicatrizar. Ao longo dos anos Di Maggio recusou milhões de dólares para escrever sua auto biografia. Certa vez confidenciou a um amigo próximo que jamais o faria, porque sabia que a imprensa queria mesmo era saber sobre a vida de Marilyn Monroe e ele certamente não a trairia nesse ponto. Enquanto viveu ele mandou depositar diariamente um ramalhete de flores na lápide da amada. Era uma forma de provar que jamais a esqueceria. No final seu amor por Marilyn mostrou-se realmente eterno e incondicional pois cumpriu sua promessa de nada declarar sobre sua amada. Morreu em 1999 sem falar uma linha sequer sobre seus anos ao lado da atriz mais famosa da história do cinema. O amor realmente desconhece as razões de sua própria existência.

Pablo Aluísio.

Assassinato por Decreto

Em tempos de nova franquia de Sherlock Holmes (onde em minha opinião o personagem está totalmente desvirtuado de suas origens literárias) nada melhor do que assistir a uma bela adaptação mais fiel aos livros originais. Obviamente que aqui há várias licenças com os textos escritos por Conan Doyle mas em essência o Sherlock que aparece em cena é bem mais condizente com o personagem que vemos nos romances policiais. O filme é basicamente um encontro do personagem de ficção Sherlock Holmes com o personagem real Jack, o Estripador. Será que se Sherlock existisse realmente durante as mortes de Jack ele teria mesmo resolvido o mistério da identidade desse serial killer? 

Basicamente é esse o argumento do roteiro. Interessante porque lida com dois ícones ingleses, um do lado da lei (o sempre inteligente e astuto Holmes) e o outro o mais famoso assassino em série da história (que conseguiu inclusive sair impune de seus horríveis crimes). O filme em si é muito bem realizado, tem ótima produção de época e uma dupla de atores excelentes, Christopher Plummer (corretíssimo como Holmes) e James Mason (ótimo na pele do Dr Watson). Quem conhece a história de Jack sabe que existem várias teorias sobre quem teria sido o assassino e aqui o roteiro não se esquiva escolhendo uma das mais conhecidas para revelar o mistério (claro que não direi aqui qual delas é a escolhida pelos roteiristas para não estragar o filme).

Para quem só conhecer o personagem Sherlock Holmes pela nova franquia que está nos cinemas é bom frisar que esse aqui segue a linha bem mais conservadora, o que pessoalmente acredito ser um ponto muito positivo. Sherlock usa o figurino tradicional, seu parceiro Dr Watson é um senhor bem mais velho (ao contrário dos galãs que andam escalando para esse papel ultimamente como Jude Law) e o filme tem um estilo bem mais intelectual (Sherlock soluciona tudo com dedução e pouca ação, como é bem do feitio dos livros originais sobre o personagem). O filme foi feito no final dos anos 70 mas tem cara de filme oitentista mesmo. Até a fotografia antecipa o cinema da década que viria. Um ótimo programa para quem é fã do famoso personagem da literatura. Indicado para quem quiser conhecer o verdadeiro Sherlock Holmes.

Assassinato por Decreto (Murder by Decree, Estados Unidos, Inglaterra, 1979) Direção de Bob Clark / Roteiro: John Hopkins baseado na obra de Sir Arthur Conan Doyle / Elenco: Christopher Plummer, James Mason, Donald Sutherland, Genevieve Bujold, Susan Clark, David Hemmings, John Gielgud, Anthony Quayle. / Sinopse: Sherlock Holmes é chamado para investigar série de assassinatos, tendo como principal suspeito Jack, o Estripador. Christopher Plummer e James Mason em excelentes performances nos papéis de Holmes e Dr. Watson, respectivamente.

Pablo Aluísio

domingo, 5 de novembro de 2023

Imperador Romano Cláudio

Imperador Romano Cláudio
Retomando meus textos sobre história, vou tecer aqui alguns comentários sobre esse imperador romano. Cláudio (Tibério Cláudio César Augusto Germânico) foi um imperador improvável. Em sua juventude ninguém da família imperial daria um tostão furado em uma aposta em que se dizia que ele seria o senhor absoluto em Roma algum dia. O imperador Tibério, por exemplo, considerava Cláudio uma vergonha dentro do clã imperial. Dizia que ele era retardado e aleijado. Que era um monstro e que deveria ter sido morto ao nascer, como era tradição nas antigas famílias romanas que matavam as crianças nascidas com defeitos físicos. O cruel e pedófilo imperador Tibério costumava dizer que Cláudio era um inútil débil mental e que deveria ficar escondido do povo de Roma. E foi justamente isso que salvou Cláudio da morte. Quando houve uma grande matança dentro da família por causa de disputas do poder, ele foi poupado por ser considerado um asno. Foi a sorte grande em sua vida. 

Assim quando o louco imperador Calígula foi morto pela guarda pretoriana, os militares saíram em busca de um sucessor. E tinha que ser alguém com sangue real, imperial. Só havia sobrado Cláudio da família depois de todos aqueles anos de sangue derramado entre irmãos. Era o único que ainda estava vivo. Afirma a tradição que ele foi encontrado escondido, tremendo, atrás de uma cortina no Palácio e levado ao trono do império pois o exército romano precisava de um imperador. Na falta de alguém melhor, ele subiria ao poder absoluto. O mais interessante é que Cláudio, apesar do medo inicial, tentou governar com seriedade. E para muitos historiadores ele foi, apesar de alguns deslizes, um bom administrador do Império. Trouxe estabilidade política para Roma. E apesar do que diziam dele, não era louco e nem doente mental. Pelo contrário, procurando seguir um exemplo melhor do que seus antecessores, também foi um imperador considerado misericordioso pelo povo romano. 

O seu único defeito mesmo foi se relacionar com as mulheres erradas. A esposa Messalina era considerada a maior prostituta de Roma. Era inegavelmente uma bela mulher, mas fútil, frívola e vulgar ao extremo. Enquanto ostentava o título de imperatriz consorte, mandou fazer os maiores bacanais e orgias que se tinha notícia. Algumas dessas festas extravagantes foram realizadas em templos sagrados, o que deixou a sociedade Patrícia completamente escandalizada. Também se apaixonou por um jovem romano que era um cafajeste e um escroto. Construiu uma mansão para o amante e foi morar com ele. Gastou dinheiro público para dar o melhor do que existia para seu amante. Andava de mãos dadas com ele no fórum e dava beijos escandalosos na presença de mulheres de famílias tradicionais da antiga Roma. Era escandalosa e afrontosa na frente de toda a elite romana. Era demais! Cláudio então mandou executar Messalina. Ela teve sua cabeça cortada e seus restos mortais foram jogados aos cães de rua vadios. O amante foi pendurado numa cruz e depois queimado vivo nela com óleo de baleia ardente. Seus restos ficaram à mercê de abutres famintos. 

Mas os problemas continuaram. Cláudio resolveu se casar com Júlia Agripina Menor, que já tinha se casado antes. Ela era a mãe do jovem insano e obeso Nero e tinha sonhos de que ele se tornasse o novo imperador. E foi isso que passou a planejar durante todo o tempo. Mas para que Nero se tornasse imperador ele teria que ser adotado por Cláudio. Era a única coisa que mantinha Cláudio vivo e ele nem desconfiava disso. E Cláudio cometeu seu último erro. Declarou Nero seu filho adotivo e herdeiro. Não demorou muito e Cláudio acabou sendo envenenado por Agripina. Ele havia esquecido que na família imperal todos os parentes procuravam matar os seus concorrentes ao trono. Agripina era vil e traiçoeira e queria matar Cláudio para que Nero se tornasse o imperador Romano. E foi exatamente isso o que acabou acontecendo. 

Pablo Aluísio.