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domingo, 3 de março de 2024

Imperador Romano Nerva

Imperador Romano Nerva
Após o fim de Domiciano, assassinado em uma conspiração da guarda pretoriana, houve uma certa indefinição sobre quem seria o novo imperador. Para o bem de Roma, finalmente um senador chamado Marcus Cocceius Nerva foi o escolhido em 18 de setembro de 96. Ele assim se tornava o novo imperador de Roma. Com Nerva o senado romano finalmente chegava ao poder máximo no Império. A era dos imperadores generais tinha chegado ao seu final. Como a brutalidade e violência desses militares eram bem conhecidos pelo povo romano, o fato do novo imperador não ser um desses militares toscos já era um ponto de esperança. A escolha de Nerva assim foi muito bem recebida nas ruas da capital do império. 

Nerva era bem conhecido do povo romano. Ele era um homem da elite e vinha desempenhando o cargo de senador desde os tempos de Nero. Sua vasta experiência como político o fez compreender como nenhum outro romano, os erros dos imperadores anteriores, alguns deles verdadeiros homens insanos. Nerva sabia que não poderia cometer os mesmos erros. E ele era um homem preparado, intelectual, que conhecia bem as vias da administração de Roma. Também era um político nato, formando alianças com as diversas linhas de pensamento dentro do império. Era bom ouvinte e a leitura era vista por ele como um prazer. Sem dúvida era um homem culto e adequado para o cargo. Também mostrou desde os primeiros dias que iria recusar a violência e a repressão como única política de Estado. Não gostava de atitudes tirânicas. Ao seu modo era sem dúvida um homem democrata!  

Pessoalmente era um imperador cordial, diplomata. Dedicava todo o seu tempo diário para resolver os problemas imperiais. Era sensato, estudioso, pensativo. Nunca tomava uma decisão sem antes ouvir o senado e os demais setores importantes da sociedade. Com Nerva no poder, o império romano conquistou uma estabilidade política que lembrava os antigos tempos do imperador Augusto. Com tantas qualidades, ele passou a ser apontado pelos historiadores como o primeiro dos cinco grandes imperadores dessa fase. Era o primeiro do ciclo dos cinco bons imperadores, homens sérios, honestos, que trabalhavam duro pela ascensão do império. 

Pouco antes de morrer, Nerva adotou Trajano como seu filho. Ele não tinha filhos naturais e a escolha do bom Trajano foi uma questão de garantir uma sucessão pacífica para o poder. Nerva via em Trajano todas as qualidades que entendia ser essenciais para o contínuo sucesso do império romano. Com a escolha de Trajano para sucedê-lo também houve um abrandamento completo dentro das fileiras que faziam oposição ao imperador Nerva pois esses entendiam que Trajano seria um imperador melhor. Nerva, que sempre ouvia a todos, até mesmo seus opositores, decidiu que eles também teriam a chance de governar Roma após sua morte. 

Outro aspecto que mostra o sucesso do imperador Nerva vem do fato de que ele morreu de morte natural, ao sofrer um derrame enquanto trabalhava. Ele estava debruçado sobre documentos administrativos de Roma quando sofreu o derrame. Ele morreu aos 67 anos de idade, em 27 de janeiro de 98. Foi uma surpresa para o povo de Roma ver um imperador morrer assim, pois praticamente todos os imperadores anteriores tinham sido assassinados. Nerva, o imperador sábio e pacífico, foi grande até mesmo no momento de sua morte. 

Pablo Aluísio. 

domingo, 4 de fevereiro de 2024

Imperador Romano Domiciano

Imperador Romano Domiciano
Domiciano era filho do imperador Vespasiano e irmão do imperador Tito. Quando esse último morreu de forma inesperada, rumores se espalharam por toda a Roma afirmando que Domiciano havia matado o irmão Tito para assumir o poder e se declarar imperador. Algo que nunca foi provado, mas que iria cobrar seu preço pois o povo de Roma jamais iria gostar de Domiciano. Além disso o novo imperador era introspectivo, não parecia gostar do povo e poucas vezes aparecia em público. O que sempre ganhavam destaque eram seus atos de violência e terror contra inimigos, reais ou imaginários. Ele havia tido uma educação privilegiada, mas o mundo em que vivia era realmente muito solitário. Mal chegou a conhecer direito seus familiares que viviam no exterior em campanhas militares. Quando Tito morreu, Domiciano não aparentou nenhum sentimento de dor ou sofrimento pela morte dele, sendo essa mais uma causa para o povo desconfiar de seus atos. Como consequência foi o mais impopular imperador da história de Roma. Para a plebe ele seria incapaz de mostrar afeto por qualquer pessoa, seja do povo, seja da elite romana. 

Muitos imperadores romanos demonstravam claros sinais de psicopatia, mas Domiciano certamente foi um dos mais cruéis ao subir no poder máximo do Império Romano. Ele se tornou imperador por um lance de sorte ou de crime, uma daquelas circunstâncias que pareciam nunca se cumprir, mas que se cumpriram. Filho de um grande imperador, ele foi imperador por quinze anos, mas nunca conquistou a afeição dos romanos. Pelo contrário, era odiado em Roma, tanto pelos Patrícios como pelos Plebeus. E motivos não faltavam para justificar todo esse ódio. 

Logo ficou claro que ele odiava religiões e pessoas religiosas, a começar pela própria religião romana. Domiciano passou a perseguir e matar diversas virgens vestais. Essas eram mulheres que viviam nos principais templos de Roma. Elas tinham que viver uma vida de castidade e santidade, para agradar aos Deuses. Caso fossem pegas se envolvendo com algum homem eram punidas e expulsas do templo. Ele afirmava que estava reformando a religião romana, mas na verdade estava perseguindo as pessoas que se dedicavam à ela. 

Para Domiciano isso era pouco. Ele logo criou decretos que condenavam à morte as virgens vestais que traíssem os seus votos de castidade. Matou centenas delas com acusações dos mais diversos tipos de perversões sexuais. Para historiadores, eram julgamentos forjados em mentiras. Ao que tudo indica ele era mesmo um imperador que odiava mulheres em geral. Tanto que também inovou nos jogos de gladiadores, fazendo com que elas fossem martirizadas e mortas nas arenas, algo que chocou a população romana. Ver uma mulher sendo morta por um gladiador era demais, até mesmo na violenta Roma antiga. 

Para os cristãos, Domiciano determinou que todos fossem condenados a morrer na cruz, tal como seu estranho deus judeu. Também determinou que os líderes religiosos cristãos fossem queimados no momento em que eram pendurados nas cruzes romanas. Eles deveriam virar tochas humanas, tal como fazia Nero. E por falar em judeus, Domiciano os odiava em especial, criando uma série de leis que oprimiam e confiscavam bens e propriedades de judeus, que formavam uma das comunidades mais ricas e prósperas de toda a Roma. Os que resistiam e enfrentavam o imperador eram mandados para a morte no Coliseu, onde eram devorados por feras selvagens. 

Com o passar dos anos o imperador foi ficando paranóico. Dizia-se em Roma que ele era a reencarnação do pérfido Tibério que voltara do mundo dos mortos para se vingar da elite romana. Domiciano realmente tinha bastante em comum com o velho imperador, tanto que chegara a admitir que via nele uma espécie de modelo. Só que seu governo tirânico começou a criar muito ódio entre os patrícios, a elite romana, que logo começou a planejar uma maneira de eliminar o tirano imperial. 

E assim foi feito. Domiciano foi morto a punhaladas, na emboscada, durante uma noite de lua cheia em Roma. Para eliminá-lo foi contratado um famoso matador romano, um sujeito que se infiltrou nos aposentados do imperador e o apunhalou de surpresa. Domiciano ainda reagiu, conseguindo lutar com seu assassino, dando-lhe facadas de vingança, mas não resistiu aos ferimentos, vindo a falecer em 18 de setembro de 96. O Povo de Roma não lamentou sua morte. Ao contrário disso, todos pareciam felizes. Dizia-se nas ruas que esse imperador jamais havia gostado de qualquer ser vivo, seja um ser humano, seja um animal. Sempre foi considerado um imperador arrogante e frio, sem qualquer traço de bondade ou piedade com o sofrimento alheio, principalmente dos mais pobres, que desprezava. Nas ruas gritavam: "Morreu o imperador que nunca gostou de ninguém em sua vida!". Com a morte de Domiciano também chegou ao fim a curta história da dinastia Flaviana que no final das contas só contou com 3 imperadores romanos. 

Pablo Aluísio. 

domingo, 28 de janeiro de 2024

Imperador Romano Titus

O imperador romano Titus (ou Tito, como é conhecido na língua portuguesa) reinou por pouco tempo em Roma, mas o seu período foi tão marcante na história do império romano que até hoje historiadores se debruçam sobre sua biografia. Tito era filho do imperador Vespasiano e quando esse morreu sua sucessão foi considerada natural pelo senado. Isso demonstrava que embora formalmente Roma fosse ainda considerada uma República, na prática já se tinha contornos de uma monarquia de sangue. Tanto que Tito e seu irmão Domiciano se tornariam imperadores, simplesmente pelo fato de serem filhos de Vespasiano.

O nome de Tito jamais será esquecido pelo povo judeu. Foi ele que destruiu o templo de Jerusalém. Esse foi o primeiro momento histórico realmente marcante da vida desse imperador. A província da Judeia era considerada uma das mais problemáticas para Roma. Havia rebeliões, conflitos e os judeus nunca aceitaram de fato a dominação romana. Para piorar o quadro político havia a esperança de que um Messias iria libertar o povo judeu da escravidão dos romanos. Esse Messias era uma figura religiosa, fazia parte das escrituras sagradas dos judeus e isso havia se tornado um tormento para os governadores enviados por Roma.

Tito então enfrentou o problema de frente. Se a religião dos judeus era um problema, então os romanos iriam destruir seu maior símbolo, o Templo de Jerusalém. Quando os legionários entraram no templo isso foi considerado o maior dos sacrilégios. Tito mandou confiscar todo o ouro que havia ali, além de destruir tudo, colocar o templo literalmente abaixo. Dizem cronistas da época que os sacerdotes se jogaram nas espadas dos legionários romanos, tamanho era o desespero. Muitos morreram. Um desses em seu último momento encontrou Tito cara a cara e lhe disse que ele seria amaldiçoado pelo que havia feito, que não iria durar como imperador e que seu povo iria pagar por tudo o que havia feito aos judeus. Tito lhe virou as costas e mandou que a destruição continuasse, que tudo fosse queimado e demolido. Dizem que entrou a cavalo em um lugar extremamente santo do templo, onde o povo judeu acreditava que o próprio Deus ali habitava. Aquilo era o desrespeito máximo do romano para com a fé do povo judeu.

De volta a Roma Tito enfrentou o maior desafio de seu governo. O vulcão Vesúvio entrou em erupção. Milhares de pessoas morreram. Cidades como Pompeia e Herculano literalmente desapareceram do mapa, soterradas pelas cinzas do vulcão. Os cidadãos romanos que ali viviam morreram sufocados ou queimados vivos pelas chamas do Vesúvio. Pedras de fogo caiam do céu, era um cenário de apocalipse. Poucos escaparam. Os gritos podiam ser ouvidos a distância. Homens, mulheres, idosos, crianças, todos morreram de forma quase instantânea. Tito ficou desesperado. Ele enviou legiões para ajudar, mas os seus soldados morreram asfixiados por gases expelidos pelo Vesúvio. Foi uma enorme tragédia para o povo romano. Seu tão poderoso exército se revelava inútil naquele momento. E não foi apenas isso. Durante três dias e três noites Roma ardeu em chamas, em um incêndio tão grande como aquele que havia destruído a cidade nos tempos de Nero! E como havia profetizado o sacerdote judeu o reinado de Tito foi breve. Ele ficou como imperador por apenas dois anos. Inesperadamente morreu em 81 da era cristã, mesmo sendo ainda jovem. Dizia-se que havia sido envenenado pelo próprio irmão, Domiciano, que agora era o novo imperador após sua morte misteriosa. Tito assim acabou se tornando um imperador de rápida passagem pelo poder máximo do mundo antigo, em um dos momentos mais terríveis da história do império romano.

Pablo Aluísio.

sábado, 30 de dezembro de 2023

Vespasiano - O Imperador General

Depois de Calígula e Nero, Roma ficou com um vácuo de poder. Esses foram imperadores terríveis, depravados, alucinados e cruéis. Verdadeiros tiranos na mais restrita acepção da palavra. Quando Nero finalmente morreu uma sucessão de líderes surgiram em Roma. Homens como Otão e Vitélio, o Glutão, ficaram pouco tempo no poder. Eram medíocres demais para liderarem um vasto e grandioso império como o Romano. Coube a um general chamado Vespasiano, colocar as mãos no poder para que Roma não sucumbisse.

Vespasiano foi forjado dentro da disciplina militar. Ele foi um brilhante oficial das legiões romanas. Mesmo sob ordens de imperadores obtusos como Nero ele conseguiu ainda se destacar nas fileiras do exército. Participou de inúmeras campanhas bem sucedidas por todo o império e começou a ficar conhecido e respeitado pelos cidadãos de Roma. Quando a situação se tornou insustentável ele reuniu as legiões sob seu comando e marchou de volta a Roma. Disse a um de seus oficiais que a situação havia chegado a um limite sem volta e que apenas o exército romano poderia colocar ordem em todo aquele caos.

Vespasiano foi um homem pragmático. Ele fazia o que tinha que fazer. As finanças do Estado estavam arruinadas. Assim ele mandou reorganizar o sistema tributário de Roma. Novos tributos foram criados e aos poucos o império foi saindo da crise. De origem militar rechaçava todo o luxo que havia marcado a corte dos imperadores anteriores. O povo ficava surpreso ao descobrir que ele calçava suas próprias botas e cuidava de suas roupas. Não havia dezenas de escravos para isso, como acontecia com Nero. Vespasiano também mandou construir grandes obras, como o Coliseum, que seria terminado por seu filho Tito. Também mandou reconstruir os bairros romanos que tinham sido consumidos pelo fogo nos tempos de Nero. Com uma administração competente e honesta, ganhou as simpatias do povo, tanto da plebe como dos patrícios.

Chegou até mesmo a ser comparado com Augusto. O Senado lhe ofereceu todos os tipos de títulos, mas Vespasiano os recusou. Não era de sua índole. Na política externa o Imperador General precisou lidar com rebeliões na província da Judeia. Uma nova religião estava se espalhando pelo império. Ela tinha a crença que Jesus, um homem que havia vivido na Galiléia, havia ressuscitado após ser crucificado pelos romanos em Jerusalém. Segundo relatórios enviados ao imperador até mesmo membros do exército romano na região estavam se convertendo ao cristianismo. Vespasiano era um homem sem nenhuma fé religiosa. Nem mesmo acreditava nos deuses romanos e por isso avaliou essa nova crença como um problema político para o império Romano.

Ele encarregou seu filho Tito para combater os sentimentos de revolta do povo judeu. No ano de 79 da era cristã o imperador começou a sentir-se mal. O velho general começava a sentir o peso dos anos. Alguns historiadores modernos acreditam que o imperador começou a sofrer problemas relacionados ao Mal de Parkinson, além de doenças do coração. Quando descobriu que estava em seus últimos dias de vida mandou e ordenou que o Estado não deveria gastar fortunas com seu funeral. Queria algo simples. Chegou a dizer que jogassem seu velho corpo de militar nas águas do Rio Tibre. Queria morrer como um soldado. No dia de sua morte mandou seus soldados o levantarem da cama, para que morresse de pé, como um bom legionário. Ele faleceu de um provável câncer de intestino. Acabou dando origem a uma nova dinastia de imperadores denominada Flaviana.

Pablo Aluísio.

sábado, 16 de dezembro de 2023

Imperador Romano Vitélio

Imperador Romano Vitélio
Depois da morte de Nero, o Império Romano passou por uma fase de grande instabilidade política e militar. Foi um tempo de guerra civil, onde golpes militares eram superados por outros golpes militares, sendo que as legiões vencedoras proclamavam como novo imperador justamente os seus generais vitoriosos nos campos de batalha. Foi o que aconteceu com Aulus Vitellius Germanicus, o imperador Vitélio. 

Ele vinha de uma linhagem que sempre desfrutou dos privilégios da casa de Júlio César. Dizia-se, na boca pequena, pelos becos de Roma, que ele havia sido um dos "peixinhos" do Imperador Tibério. Esse termo era usado para designar os jovens, menores de idade, que eram abusados sexualmente por Tibério, que tinha fama de pedófilo em Roma. Depois da morte desse velho imperador, ele continuou na corte, sendo um jovem privilegiado nas cortes de Calígula, Cláudio e Nero. Quando esse morreu, Vitélio comandava legiões romanas no exterior. Na fase que se sucedeu, ele sentiu que poderia assumir o poder total, pois suas legiões eram fortes e prontas para a guerra. 

Rumou para Roma e destruiu as tropas leais a Otão. Depois de matar aquele imperador, Vitélio assumiu o título de Imperador Romano. Ele seria o último dos três imperadores efêmeros dessa fase da história de Roma. Infelizmente para os romanos de sua época, ele era um ser humano desprezível que tinha poucos valores morais a preservar. Para o povo romano em geral se vendia como general e político honesto, homem acima de qualquer crítica. Um militar vitorioso em campos de batalha distantes do centro do poder. Por baixo dos panos, nos bastidores do império, se comportava como um ladrão barato, capaz até mesmo de roubar jóias do tesouro imperial. Na calada da noite assaltava os locais onde ouro, prata e jóias eram guardadas pelos senadores.

E seus atos como Imperador apenas confirmava o lado sórdido de sua personalidade. Enquanto militar, ele acumulou grandes dívidas pessoais. Eram inúmeros os seus credores. Quando subiu ao trono esses pensaram que finalmente iriam receber seu dinheiro, mas para seus infortúnios, o novo imperador não pagaria suas dívidas. Ao invés disso mandou passar no fio da espada todos os seus credores. Não apenas nunca receberam, como também perderam suas vidas para esse homem pérfido. 

E as atrocidades não pararam, atingindo sua própria casa. Mandou matar dois de seus filhos que eram acusados de conspiração política contra seu poder imperial. Não satisfeito, exilou para uma ilha distante sua única filha que havia chorado pelos irmãos mortos. Também celebrou publicamente a morte da mãe, que dizia-se havia sido envenenada por seus homens no palácio. Para quem se vendia como militar honesto ele se entregou cedo a todos os vícios possíveis, praticando orgias e banquetes suntuosos, enquanto grande parte do povo de Roma passava fome. Era insensível, brutal e cruel, segundo inúmeras crônicas de sua época. 

Com tanta corrupção, foi outro imperador que caiu cedo. Ficou apenas oito meses no poder. O Senado e as famílias tradicionais de Roma ficaram horrorizadas com aquele comportamento. Não demorou muito e foi preso por outro general, Vespasiano, que finalmente iria trazer alguma estabilidade na política da cidade eterna. E sua derrota foi selada no campo de batalha quando suas últimas legiões leais foram derrotadas pelos exércitos de Vespasiano. 

Depois de um breve julgamento de acordo com o Direito Romano, o agora deposto Vitélio foi jogado para a turba romana que promoveu um linchamento com seu corpo pelas ruas da cidade. Foi esfaqueado inúmeras vezes após ter suas vestes arrancadas pela enfurecida plebe romana. Seu corpo, destroçado, então foi jogado no rio Tibre, onde desapareceu para todo o sempre. Era dezembro de 69 e seu reinado de terror havia chegado ao fim. Vespasiano era o novo imperador romano. Pelas ruas da cidade o general desfilou com o povo gritando a plenos pulmões "Vida longa ao novo César!"

Pablo Aluísio. 

domingo, 26 de novembro de 2023

Imperador Romano Otão

Imperador Romano Otão
Depois da morte do imperador Galba subiu ao poder Otão. Ele não pertencia a nenhuma família tradicional romana. Não era um Patrício, membro da mais alta classe social do império. Muitos senadores o consideravam apenas um plebeu oportunista. E a classificação de assassino jamais deixou de manchar sua reputação, afinal ele era apontado como o principal conspirador da morte do imperador Galba e não poderia continuar no poder. Em pouco tempo o exército romano se aliou ao Senado para tramar a morte de Otão que de fato só ficaria três meses no poder absoluto, sendo morto logo em seguida. 

Essa foi uma fase de guerra civil em Roma. Com o fim da dinastia de Júlio César o título de imperador passou a ser disputado por generais e políticos e a arma para se chegar ao trono era a violência, a força bruta. O general que tivesse mais legiões ao seu lado vencia a luta para ser o novo imperador. Otão teve força no começo, quando Galba foi assassinado, mas não tinha homens suficientes para enfrentar as outras legiões que marchavam de volta a Roma para entronar seus próprios generais. Em apenas 1 ano o império teve três imperadores, sendo assassinados pelos que o sucediam. 

Otão tinha conseguido se tornar imperador porque contou, em um primeiro momento, com o apoio da guarda pretoriana, mas essa ligação era frágil. Ele vinha de uma família de bajuladores. Não tinha nobreza familiar. Seu pai havia caído nas graças do imperador Cláudio após contar ao imperador que havia um plano para matá-lo. Com a prisão dos conspiradores ele ganhou cargos importantes. Otão foi criado dentro do palácio imperial e era amigo de infância e juventude do jovem Nero que um dia também iria se tornar imperador romano. Por essa razão ele era visto pelo Senado como um homem de Nero que não poderia continuar no poder. Tinha que ser morto. 

Quando Nero foi morto e Galba o sucedeu, Otão participou das conspirações para matar o idoso imperador. Claramente agia por vingança pela morte de Nero. Era considerado tão sórdido quanto Nero e tentava vingar a morte do amigo. Após 3 meses no poder se viu cercado por legiões que tinham voltado da Germânia onde combatiam os bárbaros. Eram guerreiros experientes no campo de batalha. Voltavam para matar ou morrer. Abandonado pela guarda pretoriana que não tinha como enfrentar os legionários fora do palácio, Otão decidiu se matar, caindo em cima de sua própria espada. Sua cabeça foi cortada e jogada aos pés daquele que iria se tornar o novo imperador de Roma, Vitélio. 

Pablo Aluísio. 

domingo, 19 de novembro de 2023

Imperador Romano Galba

Imperador Romano Galba 
Sérvio Sulpício Galba foi o imperador que sucedeu a Nero após sua morte violenta no ano de 68 da era comum. Esse imperador não tinha laços de parentesco com Júlio César. Por essa razão a partir de sua subida ao poder o termo César ganhou ares de título imperial, não tendo qualquer ligação mais com os descendentes do verdadeiro César. Apesar de não ser da família de César o fato é que Galba era de uma das famílias nobres mais ricas e tradicionais de Roma. Um verdadeiro nobre de sangue. Ele havia mostrado seu valor como homem público em diversos cargos que havia desempenhado ao longo de sua vida nos reinados de Calígula, Cláudio e Nero. Era considerado um homem sério, leal e de valor aristocrático. Também era inteligente e de certa maneira misericordioso até contra seus inimigos. 

Além de ser um homem público dos mais respeitados no império romano, Galba também havia sido general do exército romano. Ele não participou das conspirações para matar Nero, mas tampouco lutou contra os planos de seu assassinato. Antes da morte do insano imperador, Galba havia interceptado uma carta em que Nero mandava um legionário assassiná-lo, por essa razão recebeu a notícia da morte de Nero como um alívio e como um livramento dos deuses, pois sua vida haveria de ser poupada daquele assassino louco. 

De uma forma ou outra, Galba acabou sendo escolhido como o novo imperador pelas legiões após a morte de Nero. Ele havia sido general, tinha vasta experiência como administrador de províncias romanas e era um homem de linhagem nobre. Realmente poucos estavam à sua altura nesses quesitos. Era o homem ideal para ser o novo imperador. Quando Nero foi morto, Galba ocupava o posto de governador da hispânia (atual Espanha), um cargo de muito prestígio em Roma. Ele inicialmente relutou em ser o novo imperador, mas com receio de que houvesse anarquia e mortes em massa em Roma, decidiu aceitar o cargo de imperador. 

Galba poderia ter sido um dos melhores imperadores da história se não fosse por um detalhe: Ele estava muito idoso quando se tornou imperador. Mal conseguia andar por causa da velhice, sofria de artrite nas mãos e segundo algumas pesquisas de historiadores provavelmente sofria do Mal de Parkinson. Ele tinha tremores nas mãos e andava amparado por três homens de sua guarda pessoal. Já não enxergava direito e nem ouvia bem e sua fragilidade era algo perigoso para alguém que ocupava o posto máximo do Império. 

Além disso Galba começou a ter muitos atritos com generais do exército romano. Muitas vezes era duro demais com os militares, despejando ofensas pessoais pesadas sobre generais poderosos. Um deles, chamado Otão, decidiu que não iria ser ofendido mais por Galba. Ele promoveu uma armadilha para o idoso imperador. Ele foi convidado a ir até um lugar remoto nas cercanias de Roma. Chegando lá, viu a sua guarda pretoriana ir embora. Sabia que havia caído numa armadilha mortal. Velho e debilitado, não poderia resistir e nem lutar contra os assassinos contratados por Otão. Acabou sendo morto a punhaladas. Depois teve sua cabeça cortada, colocada em uma lança. Era o fim trágico de mais um imperador romano morto por suas próprias tropas imperiais.  E depois de sua morte um período de caos se apoderou dentro do maior império de sua era. 

Pablo Aluísio. 

domingo, 5 de novembro de 2023

Imperador Romano Cláudio

Imperador Romano Cláudio
Retomando meus textos sobre história, vou tecer aqui alguns comentários sobre esse imperador romano. Cláudio (Tibério Cláudio César Augusto Germânico) foi um imperador improvável. Em sua juventude ninguém da família imperial daria um tostão furado em uma aposta em que se dizia que ele seria o senhor absoluto em Roma algum dia. O imperador Tibério, por exemplo, considerava Cláudio uma vergonha dentro do clã imperial. Dizia que ele era retardado e aleijado. Que era um monstro e que deveria ter sido morto ao nascer, como era tradição nas antigas famílias romanas que matavam as crianças nascidas com defeitos físicos. O cruel e pedófilo imperador Tibério costumava dizer que Cláudio era um inútil débil mental e que deveria ficar escondido do povo de Roma. E foi justamente isso que salvou Cláudio da morte. Quando houve uma grande matança dentro da família por causa de disputas do poder, ele foi poupado por ser considerado um asno. Foi a sorte grande em sua vida. 

Assim quando o louco imperador Calígula foi morto pela guarda pretoriana, os militares saíram em busca de um sucessor. E tinha que ser alguém com sangue real, imperial. Só havia sobrado Cláudio da família depois de todos aqueles anos de sangue derramado entre irmãos. Era o único que ainda estava vivo. Afirma a tradição que ele foi encontrado escondido, tremendo, atrás de uma cortina no Palácio e levado ao trono do império pois o exército romano precisava de um imperador. Na falta de alguém melhor, ele subiria ao poder absoluto. O mais interessante é que Cláudio, apesar do medo inicial, tentou governar com seriedade. E para muitos historiadores ele foi, apesar de alguns deslizes, um bom administrador do Império. Trouxe estabilidade política para Roma. E apesar do que diziam dele, não era louco e nem doente mental. Pelo contrário, procurando seguir um exemplo melhor do que seus antecessores, também foi um imperador considerado misericordioso pelo povo romano. 

O seu único defeito mesmo foi se relacionar com as mulheres erradas. A esposa Messalina era considerada a maior prostituta de Roma. Era inegavelmente uma bela mulher, mas fútil, frívola e vulgar ao extremo. Enquanto ostentava o título de imperatriz consorte, mandou fazer os maiores bacanais e orgias que se tinha notícia. Algumas dessas festas extravagantes foram realizadas em templos sagrados, o que deixou a sociedade Patrícia completamente escandalizada. Também se apaixonou por um jovem romano que era um cafajeste e um escroto. Construiu uma mansão para o amante e foi morar com ele. Gastou dinheiro público para dar o melhor do que existia para seu amante. Andava de mãos dadas com ele no fórum e dava beijos escandalosos na presença de mulheres de famílias tradicionais da antiga Roma. Era escandalosa e afrontosa na frente de toda a elite romana. Era demais! Cláudio então mandou executar Messalina. Ela teve sua cabeça cortada e seus restos mortais foram jogados aos cães de rua vadios. O amante foi pendurado numa cruz e depois queimado vivo nela com óleo de baleia ardente. Seus restos ficaram à mercê de abutres famintos. 

Mas os problemas continuaram. Cláudio resolveu se casar com Júlia Agripina Menor, que já tinha se casado antes. Ela era a mãe do jovem insano e obeso Nero e tinha sonhos de que ele se tornasse o novo imperador. E foi isso que passou a planejar durante todo o tempo. Mas para que Nero se tornasse imperador ele teria que ser adotado por Cláudio. Era a única coisa que mantinha Cláudio vivo e ele nem desconfiava disso. E Cláudio cometeu seu último erro. Declarou Nero seu filho adotivo e herdeiro. Não demorou muito e Cláudio acabou sendo envenenado por Agripina. Ele havia esquecido que na família imperal todos os parentes procuravam matar os seus concorrentes ao trono. Agripina era vil e traiçoeira e queria matar Cláudio para que Nero se tornasse o imperador Romano. E foi exatamente isso o que acabou acontecendo. 

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Imperador Romano Calígula

Gaius Julius Caesar Augustus Germanicus se tornou imperador de Roma por um motivo simples. Por ser jovem ele foi praticamente o último membro na linha de sucessão que conseguiu sobreviver. Todos os demais, seus irmãos mais velhos, tios, primos, etc, foram assassinados. Era o governo do imperador Tibério, considerado pedófilo e assassino. Assim que percebia que algum parente estava com ambições ao seu trono, era logo passado na espada. Tibério não admitia qualquer ameaça ao seu poder sem limites. O jovem Calígula assim conseguiu se manter vivo, enquanto seus parentes mais velhos eram mortos em série. O apelido Calígula veio na infância. Ele era filho de um importante general romano chamado Germanicus. Quando ele era apenas um garotinho seu pai o levou em uma campanha militar. O pequeno garoto usava a mesma roupa dos legionários romanos, só que em tamanho reduzido para a sua idade, claro. Assim os soldados o apelidaram de Calígula, uma palavra em latim que significava "botinhas". O futuro imperador detestava o apelido e talvez por isso ficou sendo chamado por ele. Para um apelido pegar basta o apelidado odiar ele. Velha tradição.

Quando Tibério morreu, o trono foi por direito de sucessão para Calígula. E em seus primeiros meses como imperador tudo saiu muito bem. O novo imperador se mostrou sensível aos problemas dos pobres em Roma. Mandou distribuir alimentos, mandou prestar assistência médica de graça ao povo, ajudou os miseráveis. Por isso passou a ser um imperador muito adorado por seu povo. Foi um começo de governo impecável. As pessoas da plebe o amavam e tudo parecia levar a crer que ele seria um dos grandes imperadores de Roma. Só que o jovem imperador caiu doente de uma febre misteriosa. Ele ficou semanas entre a vida e a morte e quando voltou estava transformado... para pior! Historiadores acreditam que Calígula se levantou de sua cama com algum problema mental. Seus atos e atitudes passaram a sugerir que ele havia enlouquecido. Calígula começou a tomar atitudes bizarras. Afirmou que iria nomear seu cavalo senador ou cônsul de Roma. Determinou que as mulheres do senado se tornassem prostitutas em prol de império. Começou a ter um relacionamento escandaloso com suas próprias irmãs, sugerindo incesto abertamente. As orgias sexuais sem fim, os banquetes extravagantes, as violências diárias contra inocentes, tudo sugeria que Calígula havia mesmo perdido a razão, estava completamente insano.

O povo de Roma ficou alarmado ao ouvir certas histórias afirmando que o imperador havia estuprado mulheres, que tinha abusado de crianças, como seu tio Tibério havia feito no passado. O Imperador era um criminoso, um estuprador, um pedófilo, um pederasta e um assassino. Enquanto cometia crimes contra outras pessoas o exército manteve sua lealdade. O problema é que Calígula começou a punir e matar generais de alta patente. Então as legiões romanas se revoltaram contra ele. O imperador louco devia ser morto, gritavam os legionários. Com apenas 28 anos de idade, o jovem que era tão promissor foi morto por soldados romanos. Foi morto com golpes de espada. Sua morte colocou o império em um caos político sem precedentes e o próprio exército romano resolveu o problema elevando seu tio Cláudio ao posto de imperador. Foi o fim de um curto reinado de muitas mortes, loucuras e insanidade. A história de Calígula foi mais uma comprovação da famosa frase do jurista e filósofo Montesquieu. Séculos depois esse cientista político iria dizer que o homem sempre iria abusar do poder político caso o poder não tivesse mecanismos de frear esse mesmo poder, surgindo dai sua famosa teoria da separação dos poderes, sendo separados o poder executivo do poder legislativo e do poder judiciário. Uma lição de direito e política até hoje aplicada nas grandes democracias ao redor do mundo. O poder corrompe e enlouquece, eis a grande lição da história desse imperador romano da antiguidade.

Pablo Aluísio.

sábado, 16 de abril de 2011

Juliano - O Imperador Anticristão

O Imperador Romano Juliano pertencia à casta familiar do Imperador Constantino que foi figura central na consolidação do Cristianismo no Império Romano. Para muitos historiadores o Cristianismo jamais teria tido a influência e expansão que teve se não fosse pela participação crucial de Constantino e seu apoio. É de se admirar assim que um membro da casa de Constantino tenha sido um dos mais infames imperadores anticristãos da história. Foi justamente isso que aconteceu. Quando Constantino morreu houve uma brutal disputa familiar pelo poder como era comum acontecer dentro do Império Romano. A ala familiar de Juliano levou a pior e foi dizimada pelos vencedores. O único que sobrou foi justamente o próprio Juliano que se encontrava muito doente e por isso foi poupado da chacina pois os assassinos de sua família acreditaram que ele morreria logo.

Juliano não apenas sobreviveu como conseguiu se reerguer politicamente das cinzas. Guiado por uma sede de vingança sem precedentes ele foi subindo cada vez mais dentro do xadrez de poder em Roma. Aliando chantagens, assassinatos de parentes e muitos  crimes, Juliano foi eliminando todos os seus opositores. Procurou também matar cada um membro de sua casta que tivesse tido algum tipo de participação nas mortes de seus pais e irmãos. Com pouco mais de 25 anos de idade Juliano já tinha conseguido executar todos eles. Suas mãos estavam cheias de sangue, mas ele se considerava realizado e saciado em sua sede de vingança mortal. Durante sua caminhada rumo ao poder supremo em Roma, Juliano foi tentando suprimir todo o legado de Constantino, homem que ele particularmente desprezava e odiava.

O Cristianismo, aquela nova religião estranha que havia sido colocada em um ponto tão alto do Império exatamente por Constantino, era uma aberração na visão de Juliano. Ele ansiava em revalorizar a antiga religião pagã imperial. Juliano acreditava que o Cristianismo tinha que ser eliminado o mais rapidamente possível, mas isso teria que ser feito com inteligência e não com  violência e brutalidade. Esse tipo de opressão, muito utilizada por imperadores no passado, não havia dado bons frutos. Ao contrário disso, havia fortalecido a fé dos cristãos pois a morte de mártires aumentava ainda mais o número de adeptos e seguidores daquele judeu a quem chamavam de Cristo.

Quando se tornou Imperador em Roma, Juliano começou a perseguir os cristãos que faziam parte do aparelho de Estado. Demitiu altos funcionários do Império apenas por eles serem Cristãos, confiscou terras e mandou bloquear bens e finanças de importantes líderes daquela nova religião. A intenção de Juliano era destruir a influência e poder dos cristãos, sejam eles financeiros, políticos ou militares. Ao mesmo tempo em que asfixiava o povo cristão de Roma, mandou restaurar e reconstruir antigos templos dedicados aos velhos e tradicionais Deuses Romanos. Procurando demonstrar sua fidelidade ao paganismo o próprio imperador teria participado de um ritual Pagão de purificação, se banhando no sangue de um touro sacrificado em sua presença! Juliano dizia que para eliminar os cristãos não era necessária a violência, mas sim a quebra da estrutura que os mantinha no topo da hierarquia romana. Seus planos de destruição da religião cristã porém tiveram uma interrupção abrupta quando o imperador foi morto numa sangrenta batalha campal contra os Persas. Pelo visto seus amados deuses romanos não o livraram da morte com uma espada inimiga atravessando seu pescoço.

Pablo Aluísio.

domingo, 10 de abril de 2011

Imperador Romano Tibério

Imperador Tibério
Quando Jesus Cristo foi crucificado o Imperador que reinava em Roma era Tiberius ou Tibério. Ele foi um imperador improvável. Filho da querida esposa de Augusto, não tinha laços de sangue com o grande monarca. Na verdade ele era filho do primeiro casamento de Lívia Drusa. Augusto era apenas seu padrasto e jamais pensou nele como o futuro imperador do Império Romano. Augusto queria em sua linha de sucessão alguns de seus netos, mas eventos do destino impediram isso. Eles morreram jovens e deixaram o velho imperador frustrado e desolado, sem herdeiros de sua própria linhagem. Quando caminhava já para seu fim ele então virou-se para Tibério e o declarou seu herdeiro político. Foi um ato feito sem nenhum prazer, fruto apenas da consideração que tinha por sua amada esposa, a companheira de muitos anos, Lívia. Na realidade Augusto não confiava muito em Tibério e não via nele nenhuma qualidade em especial para reinar em Roma. Alguns historiadores afirmam que ele tinha até certa aversão por ele, por causa de sua personalidade dura e nada simpática.

A vida, apesar da proximidade com o trono, nunca foi fácil para Tibério. Desde cedo ele foi enviado para servir em legiões romanas que lutavam em lugares distantes e inóspitos. Lá Tibério aprendeu como poucos a dureza da vida militar. Foi um homem sem luxos, que apesar de ser o filho da amada do imperador jamais gozou de muitos privilégios. Durante praticamente quarenta anos viveu na lama do serviço militar, em pleno campo de batalha. Quando subiu na hierarquia militar foi considerado por seus subordinados como um oficial rígido e disciplinador. Por não estar próximo da linha de sucessão e nem tampouco ser considerado um potencial futuro imperador romano pouco chamou atenção para si durante seus anos no exército. Também não criou inimigos no senado, uma vez que jamais foi um político, mas sim um militar. Quando Augusto finalmente adoeceu, sem herdeiros diretos ao trono, sua mãe Lívia intercedeu para que o velho Augusto escolhesse Tibério como sucessor. A campanha em favor dele surtiu efeito e o seu filho subiu ao poder supremo de Roma.

Ao contrário de seu padrasto que era amado pelo povo, Tibério foi um imperador cruel, duro e sanguinário. Logo no começo de seu período como imperador procurou destruir toda a oposição real e imaginária que encontrou pela frente. Implantou uma lei que punia severamente quem ousasse ofender as atitudes e a imagem do Imperador Romano. A Lei da Lesa Majestade foi implantada por todo o império e levou milhares de pessoas à morte. Tibério também resolveu nomear homens de sua estreita confiança para administrar as províncias romanas. Um deles foi Pôncio Pilatos, o governador que iria julgar e condenar Jesus Cristo a morrer na cruz. A crucificação também se tornou modelo padrão de condenação romana contra aqueles que tivessem a coragem de colocar em dúvida a supremacia do poder imperial. A menor crítica contra Tibério era vista como crime de Lesa Majestade, sendo seu autor morto na cruz, em qualquer lugar do Império.

Violento e paranóico, Tibério implantou um regime de terror em Roma. Organizou um regime de exceção no Império e condenou a morte muitos cidadãos romanos. Fortaleceu o exército e com violência puniu também todos aqueles que atentassem contra a religião romana. Certa vez mandou matar um grupo de homens acusados de tentar manter um relacionamento com as virgens vestais do templo. Tibério subiu ao poder quando já estava com uma idade considerada avançada para a época (56 anos). Por essa razão em pouco tempo começou a perceber que não tinha mais força, paciência ou energia para continuar vivenciando a rede de intrigas políticas do senado romano. Também temia que fosse morto mais cedo ou mais tarde pelos senadores. Afinal se até o grande Júlio César foi apunhalado pelas costas, o que poderia se esperar de um velho militar como ele, que não tinha nenhum jeito para o mundo da politicagem em Roma. Resolveu assim se retirar da cidade, indo morar em uma luxuosa vila em Capri, no alto de uma montanha, onde administrava o império através de correspondências que iam direto de seu gabinete para a capital. Lá também se sentia seguro das inúmeras conspirações que visavam assassinar o imperador - algo comum e esperado em Roma.

Em Capri o imperador Tibério também deu vazão à sua personalidade doentia. Embora fosse casado, em arranjos familiares bem de acordo com a alta sociedade romana, se dizia na boca pequena em Roma que o imperador tinha apreciação mesmo por jovens garotos. Sim, Tibério era um homossexual pedófilo. Quando foi para Capri e se fechou em seu palácio, começou a recrutar jovens garotos da região para joguinhos eróticos em sua grande piscina. Chamando os meninos de "peixinhos" ele se tornou um velho degenerado e depravado, acima das leis e da justiça de Roma, que afinal de contas lhe devia a mais estreita obediência. Quando se aborrecia com algum "peixinho" mandava que seus soldados o atirassem do alto da montanha em direção às pedras e rochedos da costa lá embaixo. Vivendo como um degenerado em seu palácio começou a cobrar moralidade dos que seguiam a religião romana. Era um hipócrita, mas mesmo assim foi colocado como sumo sacerdote da religião oficial do Estado. No fim da vida, já meio senil, mandou o senado declarar que ele era um Deus que deveria ser venerado pelos templos do império. Quem se recusasse a reconhecer que ele era uma divindade deveria morrer imediatamente. Morreu provavelmente envenenado pela mãe de Calígula, que desejava há muitos anos que seu insano filho subisse ao poder total de Roma. Como era tradição no Império Romano os imperadores acabavam sendo assassinados por seus próprios parentes e familiares.

Pablo Aluísio.

Imperador Romano Nero

Está cada vez mais em moda essa onda de revisionismo histórico. Grandes assassinos e déspotas do passado ganham uma nova chance de saírem melhor na foto da história. O mais novo contemplado com essa visão é um dos mais alucinados e cruéis imperadores da história de Roma, sim, ele mesmo, Nero! Para alguns historiadores modernos o pobre Nero não seria tão mau como vemos nos registros históricos. Famoso por supostamente ter colocado fogo em Roma e por uma perseguição sem tréguas contra os cristãos, o novo retrato de Nero pintado por esses novos autores é bem diferente. Eles alegam que o imperador foi alvo de simples "intriga da oposição". Como sua história foi escrita por defensores do antigo sistema político romano - a República - ele foi pintado com tintas forte demais.

A primeira parte desse novo retrato inocenta Nero de ter colocado fogo em Roma. Muitos autores da atualidade dizem que a história que Nero teria mandado colocar fogo na cidade para depois ficar olhando tudo de seu palácio, tocando harpa, é pura ficção. Para essa nova corrente Nero sequer estava em Roma naquele dia. Ele estaria numa cidade próxima, em sua propriedade, onde descansava e passava férias. Em defesa dessa nova história dizem que assim que soube do desastre Nero teria enviado ajuda imediatamente, inclusive cedendo palácios imperiais para abrigar os feridos e queimados. E não foi só. Deslocou parte do exército romano para ir na cidade servir de exército da salvação, literalmente.
  
Claro que depois que a cidade foi queimada e Nero construiu sobre as cinzas um novo e espetacular palácio seu prestígio ficou bem abalado. Os boatos começaram a tomar conta de Roma dizendo que o imperador havia colocado fogo na cidade para abrir espaço para sua "casa dourada". Além disso a perversidade de Nero contra os membros daquela nova seita chamada cristã era um fato que mesmo seus maiores defensores não conseguiam negar. Segundo fontes antigas Nero mandava que os cristãos  - homens, jovens, idosos, mulheres e até crianças - fossem crucificados e depois queimados vivos, enquanto ele desfrutava de seu banquete noturno. Como defender um psicopata dessa magnitude?

Por fim, Nero também não consegue escapar das inúmeras mortes que promoveu, não apenas de seus adversários políticos mas também de seus próprios familiares. Ele teria matado a mãe, seu irmão e duas esposas, uma inclusive grávida e morta a pontapés pelo insano tirano! Outro ponto que obscurece seu retrato moderno é a sua vida recheada de escândalos sexuais. Nero era considerado um estuprador de mulheres jovens e virgens e também de matronas casadas. Mas quem pensa que ele era um hetero convicto se engana. Nero era um homossexual passivo o que chocava a sociedade romana que considerava isso uma indignidade para um homem de sua posição. Era coisa de grego na cabeça dos romanos. Para piorar também tinha acessos de travestismo, onde se pintava e vestia roupas de mulher, andando como um verdadeiro travesti dos dias atuais. Pois é, redimir o velho Nero vai ser um pouco mais complicado do que pensam seus defensores ferrenhos!

Pablo Aluísio

domingo, 23 de março de 2008

Imperador Romano Heliogábalo

Foi certamente um dos imperadores romanos mais depravados e dementes da história. E também um dos mais jovens. Ele subiu ao poder após os problemas de sucessão do violento Caracala. Naquele período da Roma imperial já havia uma certa anarquia na escolha dos imperadores. Acabava subindo ao trono quem tinha apoio do exército e da guarda pretoriana. No meio do caos a sucessão acabou indo parar nas mãos desse jovem. E os romanos iriam se arrepender amargamente de terem escolhido essa figura trágica e lamentável como o novo imperador.

Seu nome real era Vário Avito Bassiano e seu nome imperial de Heliogábalo veio da fixação que tinha por essa divindade oriental. Ele acreditava que Heliogábalo era o único Deus. Diante disso implantou uma violenta persequição religiosa contra cristãos e até mesmo pagãos, seguidores dos deuses romanos tradicionais. Vestindo trajes de pura seda, espalhafatosos e com jeito afeminado de ser, podia ser tão violento como qualquer outro gladiador das arenas romanas. Ele se deliciava ao ver o sofrimento das pessoas. Sua personalidade tinha traços claros de psicopatia. Ao acordar já ia perguntando aos seus auxiliares mais próximos: "Quem vamos matar hoje? Quero me divertir!"

Pedófilo, adorava a parte de sua divindade que exigia sacrifícios humanos de jovens rapazes. Ele violentava esses adolescentes romanos indefesos e depois oferecia suas vidas para o estranho Deus Sírio. Em pouco tempo todos estavam sabendo que o novo imperador era um pederasta violento e atroz.Também chocou a todos quando tomou como amante um escravo forte que havia sido gladiador. O imperador não escondia de ninguém que ele era seu amante. Publicamente trocavam gestos de carinhos e perversão. As famílias romanas ficaram horrorizadas com aquele espetáculo grotesco.

Também era sádico. Mandou matar todo romano que pudesse representar uma ameaça ao seu poder. Com o ímpeto da juventude mandou matar senadores e transformou suas esposas em prostituas. Fazia encenações grotescas, colocando mulheres nuas em desfiles de bigas de cavalos, chocando as famílias romanas mais tradicionais. Promovia orgias, como nos tempos de Calígula e depois de satisfazer suas maiores perversões sexuais mandava que feras selvagens como leões e tigres fossem soltos em cima de seus convidados. Não tinha o menor respeito pela vida humana e promovia massacres em populações que demonstrassem a menor reação contra seu governo.

Começou rapidamente a ser odiado pelo povo. Heliogábalo também tinha problemas ao seu lado. Seu irmão Alexandre Severo era bem mais admirado pelos militares. O jovem imperador assim tentou seguir os passos de Caracala, tentando matar o próprio irmão, mas sem sucesso. Conforme o tempo foi passando e todos perceberam que era um maníaco inútil, conspirações começaram a surgir de todos os lados. Acabou sendo encurralado por soldados no palácio. Sua mãe tentou defendê-lo, mas acabou tendo o mesmo destino do filho. Ambos foram decapitados. Depois seus corpos nus foram arrastados pelas ruas de Roma, com aplausos da plebe. Os patrícios também celebraram a morte daquele louco violento. Depois de serem trucidados pelas ruas, seus restos mortais foram jogados no Rio Tibre.

Com sua morte, Alexandre Severo foi celebrado e finalmente levado ao poder máximo. As estátuas de Heliogábalo foram então derrubadas e destruídas pelo povo. Foi um dos mais odiados imperadores da história de Roma. As pessoas queriam apagar sua memória. Foi considerado o pior imperador da dinastia Severo, que estava com seus dias contados. No total ficou apenas 4 anos no poder. Seu nome foi devidamente jogado na lata de lixo da história pelos romanos.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 14 de março de 2008

A Paixão do Imperador Adriano

Vários imperadores romanos foram homossexuais. Essa era uma tradição que vinha desde Júlio César cujas inscrições pelas ruas de Roma diziam: "César, homem de muitas mulheres, mulher de muitos homens". Fazia parte do jogo político ter relações homossexuais com figuras importantes para subir na carreira política. O imperador Adriano porém se notabilizou por ter elevado a homossexualidade ao sagrado divino. Ele subiu ao poder após a morte de Trajano, um imperador nascido fora de Roma. Adriano também era natural da província da Hispânia (atual Espanha) e para muitos romanos não passava de um estrangeiro dentro do próprio Império. Segundo várias fontes Adriano teria conspirado com a própria mulher de Trajano para se tornar imperador. Uma vez entronado no poder supremo começou a perseguir violentamente todos aqueles que pudessem simbolizar uma ameaça ao seu poder.

Embora fosse casado com uma importante mulher romana, Adriano gostava mesmo da companhia de jovens rapazes. Ele foi um homossexual praticamente assumido o que causava escândalo em certos setores da sociedade romana. A questão era que Adriano amava a arte grega, sua literatura e seu modo de vida. Naquela época o homossexualismo era extremamente difundido entre os gregos e ser gay era praticamente um pré requisito para ser um verdadeiro grego. Com o poder em mãos Adriano se jogou numa vida de pura luxúria homossexual. Viajou praticamente durante todo o seu período como imperador, ficando pouco tempo na capital do império, Roma. Durante essas viagens Adriano se entregou a todos os tipos de prazeres pervertidos. Centenas de jovens bonitos, todos menores de idade, foram para a cama com ele. Sim, além de ser homossexual, Adriano também era pedófilo, como havia sido Tibério antes dele.

Um desses meninos porém virou a cabeça do imperador. Ele se chamava Antínuos e era considerado um dos jovens mais bonitos da Grécia antiga. Adriano se apaixonou completamente pelo rapazola. Mandou que os principais poetas romanos lhe escrevessem longos poemas de amor e passou a exibir ostensivamente sua paixão por onde passava. Seu romance porém foi breve. Durante uma viagem pelo Egito Antínuos sofreu um acidente, caindo do navio imperial, se afogando nas águas barrentas do Rio Nilo. A morte de seu amado abalou profundamente o Imperador que inconsolável resolveu que todos os habitantes do império romano deveriam tratar seu jovem namorado como a um verdadeiro Deus dali para frente. Inaugurou estátuas sagradas em honra a Antínuos, mandou construir templos em sua honra e assumiu de maneira completamente pública seu grande amor homossexual pelo jovem (que segundo fontes não teria nem ao menos 17 anos de idade ao morrer). Pela primeira vez na história um Imperador romano era ostensivamente homossexual e pedófilo, para todos verem.

Duas religiões porém se negaram a aceitar Antínuos como um Deus! A primeira foi o Judaísmo. Era impossível para um judeu aceitar um rapaz como aquele, homossexual e pederasta, como uma divindade que estivesse no mesmo patamar que seu amado Deus único! Adriano ficou possesso com isso e mandou seus exércitos praticamente destruírem Jerusalém. A guerra que se iniciou foi uma das mais violentas da história culminando com a destruição de vários templos judaicos, profanações de seus lugares sagrados, crucificações em massa e morte. Adriano praticamente destruiu a cidade, expulsou os judeus sobreviventes e mudou o nome de Jerusalém para Élia Capitolina. O culto ao Deus dos judeus foi proibido. Orações só poderiam ser feitas agora para seu jovem namorado falecido. Para completar e mostrar força mandou destruir um importante templo judeu, erguendo em seu lugar um recinto religioso dedicado a orações para Zeus e seu amante juvenil, Antínuos.

Outra religião nascente que também trouxe muitas resistências a Adriano foi o Cristianismo. Seus seguidores acreditavam que Jesus era o Messias enviado por Deus. Crucificado por Roma ele teria ressuscitado do mundo dos mortos para a salvação da humanidade. Havia uma forte moralidade dentro do cristianismo que combatia de forma veemente o homossexualismo que Adriano tanto tentava propagar no império. Bastou isso para que o imperador ordenasse inúmeras perseguições a líderes cristãos. Qualquer um que fosse reconhecido como membro dessa seita religiosa deveria ser crucificado ou jogado aos leões nas arenas romanas. Quando Adriano soube que o tal Jesus Judeu havia sido crucificado no lugar chamado de Gólgota ordenou imediatamente que no mesmo lugar fosse erguido em templo em honra a Afrodite, a Deusa do Amor e do Erotismo. Adriano também mandou editar leis que ordenavam a prisão de qualquer religioso que se levantasse contra os seus padrões de comportamento. Bastava a citação de que o homossexualismo seria um pecado mortal para que o insurgente fosse condenado às mais duras penas do Império Romano.

Após a morte do imperador o culto ao novo deus Antínuos foi desaparecendo do Império. Os próprios imperadores que o sucederam chegaram na conclusão que era um absurdo transformar um jovem rapaz homossexual, amante de Adriano, em uma divindade. Muitos inclusive alegaram que fatos assim só serviam para destruir ainda mais a religião pagã e politeísta do antigo Império. Com isso Antínuos foi paulatinamente desaparecendo dos grandes templos, caindo rapidamente em esquecimento. Enquanto isso o Cristianismo baseado na vida daquele pobre homem morto em Jerusalém foi ganhando cada vez mais adeptos até se tornar a maior religião do mundo em todos os tempos.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 11 de março de 2008

Diocleciano, o Assassino de Cristãos

Os séculos III e IV foram particularmente caóticos para o Império Romano. Não havia uma linha de sucessão clara para a subida dos imperadores ao trono e assim a lei do mais forte prevaleceu. Nessa época histórica aquele que tivesse o melhor exército subiria ao trono pela força bruta. Isso deu origem a uma série de imperadores generais, entre eles o sanguinário Diocleciano. Ao subir ao trono o novo imperador percebeu que não tinha força suficiente para dominar completamente o vasto império Romano. Assim resolveu dividir o império entre quatro outros generais, dando origem a uma tetrarquia (um governo de quatro imperadores). Dentre eles Diocleciano foi escolhido para ser o Autocrata Supremo, o líder máximo, cuja opinião iria sempre prevalecer sobre os demais.

General habilidoso no campo de batalha esse novo imperador não tinha muita paciência ou diplomacia para lidar adequadamente com os assuntos de Estado. Assim muitas vezes resolvia os problemas administrativos e sociais da mesma forma que agia no campo de batalha: matando e passando no fio da espada todos os que se atrevessem a cruzar seu caminho. Ele promoveu reformas tributárias e procurou reorganizar o caos que reinava em muitas províncias romanas. Em 303 Diocleciano determinou que aquela estranha religião chamada cristianismo deveria ser varrida dos territórios de Roma. Implantou pena de morte para quem seguisse esse Cristo, um Deus proveniente da Judeia. Para Diocleciano uma das razões da decadência do Império era justamente o abandono por parte dos romanos dos antigos rituais em honra aos seus deuses, como Marte, o deus da guerra e Baco, o deus do vinho. Os templos começavam a ficar vazios pois a cada ano aumentava o número de seguidores do Cristo dentro da própria Roma. Para Diocleciano a morte de cristãos iria inibir novas conversões.

Assim de 303 a 311 houve assassinatos em massa de comunidades cristãs pelo império. Para dar o exemplo o imperador ordenou aos seus generais que as penas fossem cumpridas com extrema brutalidade. Torturas e execuções em massa fizeram com que o chão do império ficasse impregnado do sangue dos mártires cristãos. Segundo historiadores a fúria de Diocleciano deu origem a mais sangrenta perseguição aos cristãos da história - nada poderia ser comparado ao número de mortes promovidas pelo general imperador, nem mesmo Nero que se notabilizou por tantas mortes poderia ser comparado a ele nesse aspecto. Para chocar ainda mais os adeptos da nova religião o imperador ordenou que todos os cristãos fossem crucificados tais como o seu mestre judeu. Cruzes podiam ser vistas por todas as estradas imperiais.

A morte não foi apenas a única pena aplicada. Lugares que eram usados para cultos, chamados de igrejas pelos seguidores do Cristo, foram destruídos e queimados. Qualquer funcionário do Império que fosse descoberto cristão perdia imediatamente seu cargo e sua vida. Relíquias e objetos tais como cruzes ou qualquer outro sinal que lembrasse o Cristo judeu era destruído e seus donos penalizados brutalmente. O que Diocleciano não contava era que sua perseguição acabaria criando um efeito contrário ao que ele planejava. Ao invés de diminuir o número de cristãos aconteceu justamente o oposto - a coragem dos mártires acabou inspirando milhares de romanos a também seguirem a nova fé. Em pouco tempo o número de cristãos em Roma duplicou e depois triplicou! Diocleciano ficou chocado com essa situação.

Para piorar ainda mais a situação o próprio governo do imperador começou a ruir. A tetrarquia foi desfeita, as fronteiras do império invadidas e o exército romano já bastante cristianizado começou a sofrer de indisciplina e desordem em suas fileiras. O imperador começou a ser visto como um assassino cruel e sanguinário. A inflação se tornou crônica e a economia imperial entrou em colapso. O imperador acabou morrendo na distante Croácia, em pleno campo de batalha, aos 66 anos de idade, enquanto Roma passava por graves e conturbadas convulsões sociais. Ele que havia governado pela espada, também morreria por causa dela! Anos depois de sua morte os cristãos decidiram erguer uma Igreja em cima de sua tumba em Split na Croácia. A nova catedral foi construída em honra de São Domingos. Um monumento cristão sobre os despojos de um Imperador que passou para a história como um dos maiores assassinos de cristãos da Roma Antiga. O Cristianismo assim triunfava sobre a antiga religião pagã e seu imperador homicida.

Pablo Aluísio.

domingo, 9 de março de 2008

Augusto

Quando Jesus Cristo nasceu o imperador que reinava em Roma era Augusto, o divino! Claro que na realidade ele não era divino coisa nenhuma, porém Augusto foi considerado um administrador tão capaz do Império que acabou sendo aclamado como uma divindade, com direito a um lugar no panteão romano dos deuses, algo que era aceito naturalmente dentro da religião politeísta do povo romano. O próprio título que lhe foi atribuído, Augusto, significava justamente isso, o de um ser humano que ao morrer se tornou um Deus glorioso!

O mais interessante é que Augusto foi de certa maneira um imperador improvável. Ele era um patrício de família nobre, mas nada em sua infância e juventude poderia antecipar que um dia ele se tornaria um imperador romano com tanto poder! Na realidade quando nasceu Caio Otávio (seu nome real) nem sequer existiam imperadores em Roma, já que seu nascimento se deu na fase da República romana. Sua única ligação com o poder era o fato de ser o sobrinho do grande general, orador e político Júlio César. Amado pelos seus soldados e pela plebe (a grande massa empobrecida do império), Júlio César acabou centralizando praticamente todo o poder de uma Roma em seu auge. Quando se deu conta ele praticamente havia se tornado um verdadeiro rei - algo que dava arrepios no senado romano. Assim para conter sua sede de poder ele acabou sendo morto brutalmente por senadores que o esfaquearam em pleno senado nos idos de março.

A morte de Júlio César mudou a vida de Otávio para sempre. Poucos sabiam, mas ele acabou sendo nomeado o herdeiro de César em seu testamento, o que significava que ele herdaria todos os seus bens e também seu legado político. Depois de um período realmente conturbado - onde um triunvirato subiu ao poder, sendo Otávio um de seus vértices - ele finalmente se acomodou no trono em Roma, se tornando não um rei, mas sim um imperador, um novo título que iria dominar a política romana nos séculos seguintes.

Sob um ponto de vista histórico Augusto foi um bom imperador. Ele reorganizou o Estado romano, criou instrumentos para equilibrar as finanças, organizar o exército e preservar as vastas fronteiras de um Império que dominava praticamente todo o mundo ocidental conhecido. Ao cessar as invasões a povos vizinhos de Roma ele conseguiu implantar um momento histórico de paz e prosperidade em Roma. A "pax romana" significava justamente isso: havia pela primeira vez em séculos um período de paz absoluta dentro das fronteiras romanas. Uma de suas maiores satisfações foi justamente fechar as portas do templo de Marte (o Deus da guerra) em Roma, um gesto que significava que todo o império se encontrava em paz, sem guerras e nem matanças de povos inimigos.

Augusto viveu muito para um homem da antiguidade, mais de 75 anos de idade. Ele era magro, tinha hábitos moderados, comia pouco, trabalhava muito e procurava administrar toda a máquina estatal romana com honestidade, responsabilidade e justiça, premiando os melhores homens do império por suas qualidades pessoais e competência. Embora Jesus tenha sido provavelmente o maior homem que já andou na face da Terra, o imperador Augusto morreu sem saber de sua existência. Afinal de contas Jesus nasceu numa distante província romana. Além disso quando Augusto morreu o jovem Jesus era apenas um garoto de 14 anos, ainda entrando na sua puberdade.

Aliás para muitos historiadores o único grande fracasso da vida do imperador Augusto foi justamente no campo religioso. Como imperador ele foi alçado ao cargo máximo da religião romana. E ele levou muito à sério essa função, promovendo uma série de leis de moralidade a serem seguidas pelo povo de Roma. Infelizmente suas leis foram desrespeitadas por sua própria filha, Júlia, que promoveu uma orgia em um templo sagrado na cidade eterna. Horrorizado e escandalizado por sua atitude ele a baniu para sempre para uma ilha distante e isolada. Augusto não admitia ser desmoralizado como chefe da religião pagã de Roma. Depois de sua morte todos os seus esforços foram reconhecidos pelo povo de Roma, a ponto de um mês do ano ser renomeado em sua homenagem: o mês de agosto, o mês de Augusto, o Divino.

Curiosidades sobre Augusto
Embora tenha sido considerado um bom imperador, Augusto precisou banhar suas mãos em sangue, muito sangue, como era comum na Roma Antiga. Quando sufocou uma rebelião na Sicília, se viu diante de um exército de escravos. Os que tinham donos foram entregues de volta. Para aqueles que não se sabia a quem pertenciam, ele mandou matar todos. Foram crucificados de uma só vez mais de 6 mil homens de acordo com alguns dados históricos.

Augusto também mandou matar muitos senadores e figuras importantes da história da república romana, entre eles o grande orador e político Cícero. Para que a república morresse e o império surgisse no horizonte em Roma, muitas pessoas importantes da cidade foram assassinadas. Isso de certa maneira mancha a biografia desse imperador, muitas vezes retratado como um homem sensato. Na hora que foi necessário mandar para a morte seus inimigos, Augustus não pensou duas vezes.

Augusto também era considerado um homem de estatura baixa e de composição física frágil. Um dos problemas em sua biografia era a falta de conquistas militares para estampar no fórum de Roma. Ele nunca chegou nem perto de ter um histórico militar de batalhas como seu tio-avô Júlio César. Com isso foi necessário que algumas vitórias de seu general Agripa fossem creditadas como vitórias de Otávio Augusto. Ele poderia ser considerado um líder inteligente e astuto, mas nunca foi um soldado romano de legião.

Historiadores concordam que Augusto só teve dois amigos verdadeiros em vida, o general Agripa, seu amigo desde a infância e o rico mercador Mecenas. Ambos faziam parte da vida privada de Augusto, eram amigos próximos realmente, pessoas com quem ele falava abertamente e sobre todos os assuntos do império. Augusto não gostava e nem confiava em seu enteado Tibério, que iria se tornar o imperador romano com sua morte. Augusto considerava Tibério muito limitado intelectualmente, algo que iria se revelar verdadeiro nos anos seguintes à morte de primeiro imperador.

Pablo Aluísio.