segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Becket, O Favorito do Rei

A história do filme se passa em 1066, na Inglaterra medieval. No trono está o Rei Henrique II (Peter O'Toole). Ele é um monarca insolente, imoral, pouco afeito aos assuntos do Estado. Os prazeres, as mulheres e o vinho são mais importantes para ele. Para gerenciar o governo da nação ele resolve nomear seu grande amigo Thomas Becket (Richard Burton) como chanceler. A Inglaterra sofre há anos com a rivalidade entre normandos e saxões. O Rei é de uma linhagem normanda, enquanto sue novo chanceler é saxão. Embora sua decisão tenha sido acertada o Rei logo descobre que precisa de Becket também em outra função.

A Igreja Católica e seu clero se tornam muito poderosos no reino e Henrique II teme por sua coroa. Assim resolve nomear Becket como o Arcebispo de Canterbury. A decisão choca os católicos ingleses pois Becket jamais havia sido membro do clero. O fato porém é que o Rei impõe sua decisão a todos, contando obviamente com o apoio de Becket dentro da Igreja em seu favor. Só que para sua surpresa o novo Arcebispo começa a levar muito à sério sua função. Quando um nobre mata um padre de seu clero ele exige que seja julgado. O Rei assim fica dividido entre os interesses da Igreja e da nobreza, o que lhe coloca numa saia justa. Pior do que isso, Henrique II se sente traído por Becket, a quem pensava ser seu leal amigo.

Esse filme é realmente excelente. Tem uma ótima reconstituição de época e conta uma história real muito interessante. O mais curioso é que o personagem interpretado por Richard Burton se tornaria santo tanto da Igreja Católica como da Anglicana. Ele foi mártir da fé cristã naquele tempo distante, onde os reis absolutistas tinham todo o poder em suas mãos. Por falar em reis, o Henrique II de Peter O'Toole acabou se tornando uma das maiores interpretações de sua carreira e em se tratando de um ator com tantos clássicos em sua filmografia isso definitivamente não é pouca coisa. O roteiro trabalha com uma sugestão subliminar, muito tênue, tratando a imensa amizade que o Rei tinha com Becket quase como se fosse uma relação homoerótica. Os historiadores ainda debatem sobre essa estranha obsessão do monarca para com seu chanceler e amigo. O filme adota assim um tom de sugestão sutil, embora nunca assuma de uma vez essa delicada questão histórica. No mais é uma produção requintada com ótimos figurinos, trilha sonora, cenários e, é claro, ótimas atuações de todo o elenco.

Becket, O Favorito do Rei (Becket, Estados Unidos, Inglaterra, 1964) Direção: Peter Glenville / Roteiro: Jean Anouilh, Lucienne Hill, Edward Anhalt / Elenco: Richard Burton, Peter O'Toole, John Gielgud / Sinopse: Thomas Becket (Richard Burton), chanceler e amigo do Rei Henrique II da Inglaterra (Peter O'Toole), assume o mais alto cargo do clero católico da nação. Aos poucos porém ele começa a defender os interesses da igreja e não os do Rei, o que acaba enfurecendo o monarca que o considerava seu amigo. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Roteiro Adaptado. Também indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme (Hal B. Wallis), Melhor Ator (Peter O'Toole), Melhor Ator (Richard Burton), Melhor Ator Coadjuvante (John Gielgud, como o Rei da França, Louis), Melhor Direção (Peter Glenville), Melhor Fotografia (Geoffrey Unsworth), Melhor Figurino (Margaret Furse), Melhor Som, Edição, Direção de Arte e Música. Vencedor do Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Drama e Melhor Ator (Peter O'Toole).

Pablo Aluísio.

O Rei

A história do Rei Henry V (1386 - 1422) já deu origem a pelo menos dois excelentes filmes no cinema. O primeiro é o clássico de 1944 estrelado por Laurence Olivier. Ele mesmo dirigiu essa peça teatral filmada, uma vez que foi baseada na obra de William Shakespeare. No final dos anos 80 houve outra versão bem conhecida, também baseada na peça do imortal escritor. Dessa vez o monarca foi interpretado por Kenneth Branagh, uma espécie de sucessor de Olivier. Ambos os filmes são considerados obras primas do cinema e adaptações primorosas da obra original de Shakespeare; Filmes impecáveis. Agora, com menos pretensão, a Netflix produziu esse filme que conta a história de Henrique V. Sai o texto mais complexo de Shakespeare e entra um roteiro convencional, com diálogos simples, sem a complexa linguagem do autor. Foi uma boa decisão pois nem todo mundo está preparado para encarar um texto tão rebuscado. Muitas vezes o espectador apenas quer assistir a uma boa reconstituição da verdadeira história medieval.

O Henry que surge nesse filme é um jovem príncipe inconsequente que só pensa em farrear e beber. Sua vida rebelde muda quando seu pai morre. O relacionamento com ele era o pior possível, a tal ponto que ele é tirado da sucessão ao trono pelo seu pai, o Rei Henrique IV. Só que seu irmão também é morto em combate, sobrando apenas Henry dentro da família para subir ao trono. E para surpresa de muitos ele acabou sendo um Rei acima da média. Ele inicialmente procurou pela paz, mas quando essa se tornou impossível com o Reino da França uma guerra em solo francês se tornou inevitável, o que acabou sendo um fato essencial para que esse Rei se tornasse tão querido pelo povo inglês.

Um fato curioso, não mostrado no filme, é que Henry acabou tendo vida breve. Ele morreu durante uma de suas campanhas, no meio do campo de batalha, de causas ainda hoje desconhecidas. A versão oficial é que teria morrido de diarreia, já que os padrões de higiene na Idade Média eram praticamente inexistentes. Já outra versão, mais aceita atualmente por historiadores, afirma que ele foi envenenado por sua própria esposa francesa, a filha do Rei da França que havia derrotado. Pois é, dormir com o inimigo nunca é mesmo uma boa ideia.

O Rei (The King, Inglaterra, Hungria, Austrália, 2019) Direção: David Michôd / Roteiro: Joel Edgerton, David Michôd / Elenco: Timothée Chalamet, Robert Pattinson, Joel Edgerton, Ben Mendelsohn, Thibault de Montalembert, Tom Glynn-Carney, Gábor Czap, Tom Fisher  / Sinopse: O filme conta a história do Rei inglês Henrique V. Subindo ao trono muito jovem precisou lidar com as provocações do Reino da França, algo que culminaria em guerra. Filme produzido pelo ator Brad Pitt.

Pablo Aluísio. 

domingo, 10 de novembro de 2019

A Última Vez Que Vi Paris

Helen Ellswirth (Elizabeth Taylor) é uma americana que vive em Paris ao lado de sua irmã Marion (Donna Reed) e seu pai, James (Walter Pidgeon), um velho espirituoso e excêntrico que apesar de estar na ruína financeira não deixa o jeito de ser típico de milionários generosos. No dia em que Paris é libertada do domínio nazista Helen acaba conhecendo o jovem soldado americano Charles Wills (Van Johnson) e se apaixona por ele. O problema é que Charles, assim como Helen, não tem um tostão. Mesmo assim iniciam um breve romance que logo vira casamento. Charles resolve abandonar o exército e se emprega como correspondente jornalístico em Paris para um jornal europeu. Logo nasce sua primeira filha e ele dá início ao seu sonho de ser um grande escritor. Infelizmente porém seus textos vão sendo recusados um após o outro pelas editoras. Vendo seu sonho fracassar e começando a ter problemas com as bebidas, Charles começa a ver seu sonho Parisiense naufragar. “A Última Vez Que Vi Paris” é um dos clássicos românticos da carreira de Elizabeth Taylor. Aproveitando o cilma romântico de uma das cidades mais famosas e românticas do mundo o filme foi o último de Liz antes de começar as filmagens do grande sucesso de sua carreira, o mitológico Giant (Assim Caminha a Humanidade).

O roteiro foi baseado no famoso livro do escritor F. Scott Fitzgerald (o mesmo autor dos clássicos “O Grande Gatsby”, “Suave é a Noite” e “O Último Magnata”). O enredo é essencialmente construído em torno do amor atribulado dos personagens Helen e Charles. Ela é uma americana que tenta ser feliz ao lado do marido que agora vivencia o desmoronamento de seus sonhos literários. A impossibilidade de realizar seu sonho de tornar-se escritor trará conseqüências trágicas para o casal. Elizabeth Taylor está belíssima em cena. Com seu visual clássico, cabelos negros e olhos azuis, ela impressiona pela bela presença. Van Johnson não convence muito como personagem trágico mas felizmente não compromete. Uma das surpresas do elenco é a excelente atuação de Walter Pidgeon. Suas ironias e tiradas cômicas são realmente muito espirituosas e bem escritas, uma pena que o roteiro não o explore mais.

Outra curiosidade é a presença de um jovem Roger Moore, fazendo um desportista que seduz e tenta conquistar o coração de Helen (Elizabeth Taylor). O jeito sutilmente canastrão que iria usar anos depois na série James Bond já é bem visível aqui em cena. A recepção de "A Última Vez Que Vi Paris" em seu lançamento foi controversa. Alguns críticos acusaram o filme de tentar ser um novo "Casablanca", usando inclusive dos clichês do clássico de Michael Curtiz. Outros focaram seu alvo em Van Johnson, considerado exagerado em cena. Quem se saiu ilesa das resenhas negativas foi justamente Liz Taylor.  No mais o filme aproveita bastante a ótima ambientação de Paris, com todos os seus monumentos e pontos turísticos, além da música, sempre presente e evocativa. “A Última Vez Que Vi Paris” é isso, um romance dramático ambientado no pós Guerra em plena cidade luz que naquele momento histórico renascia para nunca mais se apagar. 

A Última Vez Que Vi Paris (The Last Time I Saw Paris, EUA, 1954) Direção: Richard Brooks / Roteiro: Julius J. Epstein, Philip G. Epstein e Richard Brooks baseados na obra de F. Scott Fitzgerald / Elenco: Elizabeth Taylor, Van Johnson, Walter Pidgeon, Donna Reed, Roger Moore / Sinopse: Jovem soldado se apaixona por americana que mora em Paris durante as comemorações do dia de libertação da cidade das forças alemãs. Após se casarem ele tenta emplacar uma carreira de escritor de sucesso mas as coisas acabam não indo do jeito que planejava.

Pablo Aluísio.

sábado, 9 de novembro de 2019

Adeus às Ilusões

Laura Reynolds (Elizabeth Taylor) é uma mulher nada convencional. Artista, ateia, mãe solteira, vive com seu jovem filho numa pequena cabana, localizada numa praia isolada e ensolarada da Califórnia. Lá passa os dias pintando a natureza em seus quadros, enquanto seu garotinho explora as belezas naturais da região. Os dias de tranquila paz porém logo são encerrados. Após o garoto matar um animal silvestre ele é enviado para o juizado de menores onde um severo juiz impõe a seguinte escolha para sua mãe, Laura: Ou ele é enviado para uma escola de ensino religioso onde aprenderá os mais importantes valores morais da sociedade ou então será encaminhado para o reformatório, onde terá contato com pequenos marginais.

Laura não segue nenhuma religião e definitivamente não deseja que seu filho seja doutrinado mas diante da situação extrema concorda em matricular o jovem numa escola religiosa local administrada pelo reverendo Edward (Richard Burton). Esse aliás fica impressionado pelo modo de vida de Laura e seu filho. Vivendo de caça e pesca, com um suado trocado proveniente das vendas dos quadros de sua mãe, Edward fica intrigado pela estrutura dessa família sui generis e diferente. A aproximação porém trará sérias conseqüências na vida de todos os envolvidos pois o religioso começa a sentir uma atração incontida por Laura. Poderá um romance entre um religioso conservador e uma artista liberal, de idéias modernas, dar realmente certo?

“Adeus às Ilusões” é um drama estrelado pelo casal Elizabeth Taylor e Richard Burton sob direção do famoso Vincente Minnelli. O argumento é baseado na obra do autor Dalton Trumbo (um dos grandes roteiristas e escritores da era de ouro do cinema americano) e explora um amor que nasce de duas pessoas completamente diferentes. Ele é um religioso austero, disciplinador, firme em suas convicções e crenças e ela é o extremo oposto disso, artista, de alma livre, que não segue nenhuma regra e vive em harmonia no meio da natureza. Além disso é ateia convicta e não acredita em Deus. Como seria possível duas pessoas de pensamentos tão contrários se apaixonarem, passando por cima de todas as convenções sociais? O texto é excepcionalmente bem escrito, com diálogos saborosos onde cada um tenta convencer o outro de suas crenças (ou da falta delas).

Como não poderia deixar de ser a química entre o casal salta aos olhos nas cenas mais ardentes. Elizabeth Taylor está belíssima em cena, falando suavemente e de forma contida (o extremo oposto de sua personagem histérica em “Quem Tem Medo de Virginia Wolf?”). Burton também se sobressai com o dilema moral que vive seu reverendo. Não conseguindo mais conciliar entre sua fé e a paixão que sente por Laura (Taylor) ele sucumbe aos prazeres do amor e da sedução. Vincente Minelli reservou longos planos abertos para mostrar toda a beleza do lugar onde a produção foi realizada. Também encheu o filme de uma bela trilha sonora com muito jazz e bossa nova. Até o durão Charles Bronson aparece suavizado, em um papel singular, a de um jovem artista escultor que vive na praia entre amigos e saraus. Produção bem escrita, requintada e de bom gosto, “Adeus às Ilusões” é programa obrigatório para os fãs de Elizabeth Taylor, que aqui surge radiante. Não deixe de assistir.

Adeus às Ilusões (The Sandpiper, EUA, 1965) Direção: Vincente Minnelli / Roteiro: Irene Kamp, Louis Kamp, Dallton Trumbo / Elenco: Elizabeth Taylor, Richard Burton, Charles Bronson, Eva Marie Saint, Robert Webber / Sinopse: Religioso austero, conservador e rígido (Richard Burton) se apaixona por jovem artista (Elizabeth Taylor) que além de liberal e atéia também é mãe solteira de um pequeno garoto que se torna aluno da escola religiosa onde administra. Filme vencedor do Oscar de Melhor Canção Original, “The Shadow Of Your Smile".

Pablo Aluísio

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Extraordinário

O filme conta a história de uma criança que nasceu com má formação congênita no rosto. Isso faz com que ela tenha que passar por várias cirurgias plásticas ao longo dos anos. Criada em casa, sendo educada pelos pais no sistema de home school, chega o dia em que precisa finalmente ir para uma escola de verdade, para conviver socialmente com outras crianças de sua idade. Isso porém é também um problema a mais, já que crianças costumam também ser bem cruéis com as diferenças. Até para evitar esse tipo de coisa o menino usa um capacete espacial nas ruas, para evitar olhares curiosos sobre sua aparência física.

Embora a situação, o enredo, tivesse a tendência de transformar tudo em um dramalhão daqueles que já estamos acostumados a assistir, o diretor Stephen Chbosky resolveu pegar leve nesse aspecto. Sim, o conflito existe, o drama de ser um aluno com problemas de má formação o impedem de ser uma criança comum dentro da escola, mas isso também não se torna desculpa para exagerar nas cores do melodrama. As coisas até se normalizam mais a frente, quando a vida do menino começa a ficar mais comum dentro do cotidiano de uma escola como aquela. Ele até mesmo faz amigos e depois se decepciona com um deles quando o pega falando mal dele pelas costas, mas isso é algo que poderia acontecer com qualquer um nessa fase da vida. Como eu disse, a vida escolar nessa idade pode ser bem complicada.

O filme é protagonizado pelo garotinho Jacob Tremblay, que já tinha chamado bem a atenção em "O mundo de Jack". Seus pais são interpretados por dois famosos de Hollywood, a ex-estrela Julia Roberts, já que hoje em dia seu nome já não significa muito em termos de bilheteria e o comediante Owen Wilson. Eles não brilham, já que são apenas coadjuvantes. Se a produção tivesse escalado outra dupla desconhecia para esses papéis não faria diferença nenhuma no final das contas. Então é isso. Um filme sobre uma criança com problemas, tanto físicos como emocionais. Tudo feito até com certo equilíbrio, embora tenha lá seus momentos de pura pieguice.

Extraordinário (Wonder, Estados Unidos, 2017) Direção: Stephen Chbosky / Roteiro: Stephen Chbosky, Steve Conrad / Elenco: Jacob Tremblay, Julia Roberts, Owen Wilson, Izabela Vidovic / Sinopse: O filme conta a história do garotinho que nasceu com um problema facial, em decorrência de má formação. Sua infância segue com uma certa normalidade, até o dia em que ele precisa ir para uma escola de verdade, conhecer outras crianças de sua idade. Em outras palavras, conhecer o mundo real lá fora.

Pablo Aluísio.

Jesse James

Um dos criminosos mais infames do velho oeste, a história do pistoleiro e ladrão Jesse James deu origem a diversos filmes ao longo da história. Um dos mais lembrados é esse clássico da década de 1930. Não há como negar que o roteiro desse filme seja bem romanceado, mas mesmo assim tenta manter um pé na realidade dos fatos históricos. O filme inclusive contou com consultores históricos para recriar a biografia do famoso criminoso de forma mais fiel aos acontecimentos reais. No começo da história ainda há uma tentativa de justificar a entrada de Jesse James no mundo do crime, mas depois, de forma acertada, o texto demonstra a mudança em sua personalidade quando ele se torna realmente um criminoso por vontade própria, ciente de seus atos. Embora haja traços do Jesse James da literatura de entretenimento, dos famosos livros de bolso que ajudaram a popularizar seu nome, o roteiro procura sempre seguir os fatos reais quando possível. A cena final de seu assassinato, embora com erros históricos, é bem realizada.

Um dos melhores motivos para se assistir “Jesse James” é o seu elenco. Tyrone Power está bem como o personagem principal, embora haja limitações em sua caracterização pois ele está de certa forma muito polido em cena (o verdadeiro Jesse James era mais turrão e rude). Melhor se sai Henry Fonda, com trejeitos rústicos do interior, sempre cuspindo fumo e com olhar de caipirão desconfiado. Sua atuação demonstra uma preocupação maior em construir um personagem mais próximo da realidade. Seu Frank James não aparece muito, mas quando surge chama bem a atenção. A atriz Nancy Kelly que faz a esposa de James surpreende em ótimas cenas. São dela inclusive os momentos mais dramáticos como àquele em que resolve ir embora com o filho recém nascido. Por fim, completando o núcleo do elenco principal temos Randolph Scott. Em papel coadjuvante o ator está excepcionalmente bem na pele de um sujeito que caça Jesse James no começo do filme, mas que depois compreende a situação do criminoso e acaba mudando de atitude, ajudando inclusive sua família.

Embota não tenha sido creditado o filme foi produzido pessoalmente pelo chefão da Fox, Darryl F. Zanuck. Isso significa que “Jesse James” contou com o melhor que estava disponível na época no estúdio. De fato a produção é de muito bom gosto, com boa reconstituição de época (inclusive no que diz respeito a pequenos detalhes como figurino). Há ótimas cenas de roubos de trens, bancos e perseguições. Uma sequência que inclusive chama a atenção até hoje é aquela em que Jesse e Frank James pulam com seus cavalos do alto de um despenhadeiro em um rio abaixo. Pela altura e pela coragem dos dublês o resultado final realmente impressiona. A nota triste é que os animais foram sacrificados após soltarem daquela altura o que levou o filme a ser enquadrado em uma lista do American Human Associate por crueldade animal em filmes de Hollywood.

Já em termos de direção, não há mesmo o que reclamar. O diretor Henry King soube ser conciso em “Jesse James” e realizou um trabalho enxuto e eficiente. Evitou glamorizar a vida do criminoso. Como o filme teve um cronograma de filmagens muito austero, o cineasta Henry King contou com a ajuda de outro diretor da Fox, Irving Cummings, que acabou não sendo creditado. Henry King aqui trabalhou novamente ao lado de um de seus atores preferidos, Tyrone Power. Juntos tiveram grandes êxitos de bilheteria em filmes de capa e espada – sendo esse “Jesse James” mais uma bem sucedida parceria entre eles, embora em um estilo completamente diferente. O filme foi a quarta maior bilheteria do ano só ficando atrás apenas de fenômenos como “E o Vento Levou” e “O Mágico de Oz”.

Jesse James (Jesse James, Estados Unidos, 1939) Direção: Henry King / Roteiro: Nunnally Johnson, Gene Fowler, Curtis Kenyon, Hal Long / Elenco: Tyrone Power, Henry Fonda, Nancy Kelly, Randolph Scott, Donald Meek, John Carradine / Sinopse: Cinebiografia do famoso criminoso Jesse James (Tyrone Power) que ao lado de seu irmão Frank James (Henry Fonda) assaltava bancos, trens e diligências no velho oeste.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Fanático

Esse é o mais recente filme do ator John Travolta. Ele interpreta um homem com problemas mentais, possivelmente autismo (o roteiro nunca deixa claro) que ganha a vida pelas ruas sujas de Los Angeles. Fanático por cinema, ele nutre uma grande admiração pelo astro de filmes de ação Hunter Dunbar (Devon Sawa). Quando descobre que ele vai fazer uma sessão de autógrafos numa loja perto de sua casa, ele praticamente enlouquece pela chance de conhecer pessoalmente seu ídolo. E aí vem aquela situação delicada quando o fã conhece seu ídolo e descobre que ele é no fundo um babaca arrogante que não tem respeito por ninguém e nem por nada. Como Moose (Travolta) sofre de um transtorno mental ele perde a noção das coisas e começa a perseguir o ator.

Descobre onde ele mora por por um aplicativo de celular e vai até à sua casa. Se torna um stalker (perseguidor), infernizando a vida do ator que idolatra. E aí as coisas definitivamente começam a sair do controle. O filme ainda não tem título nacional, mas poderia se chamar "O Fã", seria melhor do que "O Fanático", embora ambas as expressões fossem adequados, já que o autista de Travolta pode ser enquadrado tranquilamente nas duas categorias. Ora ele age como um fã normal, como qualquer outro, ora perde a noção das coisas e passa a ser um fanático sem senso de realidade, não respeitando os limites que devem ser impostos principalmente em relação à privacidade de seu grande ídolo das telas.

John Travolta aliás se esforça bastante para interpretar bem seu papel. Ele usa roupas esquisitas, anda de monociclo pelas ruas da cidade e tem um comportamento bem estranho. Para ganhar a vida interpreta um policial inglês na calçada da fama de Hollywood, para ganhar alguns trocados dos turistas. O filme tem um clima melancólico e até sombrio, mas o roteiro não vai até as últimas consequências. Um freio é puxado quando as coisas começam a ficar violentas demais. Outro aspecto interessante é que inicialmente pensei se tratar de uma adaptação de quadrinhos, pois pontuais sequências de desenho animado são vistos entre as cenas. Porém isso não procede. É de fato um roteiro original que acabou me agradando em sua proposta geral.

Fanático (The Fanatic, Estados Unidos, 2019) Direção: Fred Durst / Roteiro: Fred Durst / Elenco: John Travolta, Devon Sawa, Ana Golja, Jacob Grodnik / Sinopse: Moose (Travolta) é um homem com problemas mentais que passa a perseguir o ator Hunter Dunbar (Devon Sawa). Ele é um astro de filmes de ação que reage muito mal à aproximação de seu admirador, criando uma tensão e um clima de violência que pode explodir a qualquer momento.

Pablo Aluísio.

Cowboy do Asfalto

Dar uma visão do cowboy americano da atualidade – essa era a proposta desse “Cowboy do Asfalto”, produção estrelada por John Travolta no auge de sua carreira. No filme acompanhamos as mudanças pelas quais passa Bud Davis (John Travolta), um rapaz do interior que se muda para a cidade grande em busca de novas oportunidades. E lá que seu tio vai lhe dar uma mão na busca de um emprego e um novo lugar para morar. Recém chegado logo começa a trabalhar numa refinaria como operário. Com os trocados que ganha durante a semana no trabalho duro o jovem Bud vai para os bailes de música country no fim de semana.

Em uma dessas noites ele acaba conhecendo Sissy (Debra Winger), uma garota que adora o universo country. Depois de uma paixão avassaladora resolvem dar o grande passo de suas vidas, se casando de forma até prematura. O que parecia ser um belo caminho a trilhar em suas vidas infelizmente logo começa a ruir com os problemas do cotidiano. Falta de grana e meios para se viver melhor. A grande chance de dar a volta por cima acaba vindo em torno de uma competição esportiva de montaria ao touro mecânico, que promete pagar um belo prêmio ao último cowboy que conseguir ficar firme na montaria até o apito final.

“Cowboy do Asfalto” é interessante porque conseguiu captar a vida de dois jovens comuns que apaixonados vivem as incertezas do casamento. Durante a semana eles pegam pesado no batente, geralmente em empregos desgastantes e sem nenhum atrativo, mas extravasam suas frustrações durante o fim de semana quando se vestem como vaqueiros do interior, dançam e se divertem ao som de muita música country, participando de competições do gênero como a montaria no touro mecânico.

John Travolta, bem jovem e cheio de maneirismos, repete de certa forma seu tipo de interpretação que havia desenvolvido em filmes como “Grease” e “Os Embalos de Sábado à Noite”. A única novidade é o universo country ao seu redor. Melhor se sai Debra Winger como a jovem que só quer ser feliz ao lado do amor de sua vida. O filme tem muita música, dança (como era de se esperar de um filme com John Travolta naquela época) e romance. Revendo hoje em dia o filme ganha muito no aspecto nostalgia (principalmente para quem foi jovem nas décadas de 70 e 80) e por isso vale ser revisto. Ah e antes que me esqueça: a trilha sonora de “Cowboy do Asfalto” é um prato cheio para quem gosta de música country, inclusive com a participação de muitos cantores famosos na época. Se você é fã do estilo não deixe de ver.

Cowboy do Asfalto (Urban Cowboy, EUA, 1980) Direção: James Bridges / Roteiro: Aaron Latham, James Bridges / Elenco: John Travolta, Debra Winger, Scott Glenn / Sinopse: O filme narra os problemas e o romance de um casal de jovens que vivem em uma grande cidade americana mas que procuram preservar as suas origens dentro do universo country.

Pablo Aluísio.