quarta-feira, 22 de maio de 2013

Amor Profundo

Filmes desse estilo sempre são interessantes, principalmente para quem é particularmente interessado em história e costumes da sociedade. O roteiro mostra um aspecto em que muitas mulheres provavelmente vão se identificar. A personagem principal da trama é Hester Collyer (Rachel Weisz). Aparentemente é uma jovem que tem tudo que toda mulher almeja em sua vida, uma boa posição social, uma excelente reputação, uma vida financeira estável e confortável e um bom casamento – ela é casada com um influente e prestigiado juiz. A questão é que a verdadeira felicidade sempre parece ser algo mais. Embora seja casada ela não se sente realizada ou feliz do ponto de vista emocional. Por isso, contra todas as convenções sociais, morais e religiosas, resolve arriscar tudo ao se envolver com outro homem, um piloto da força aérea, interpretado pelo bom ator Tom Hiddleston. Não demora muito para ela entender que na sociedade a hipocrisia e a mentira são mais bem aceitos do que a verdade e a busca pela felicidade plena.

“Amor Profundo” é um drama ao velho estilo. A estória não tem pressa de acontecer e a teia de relacionamentos vai se construindo aos poucos, de forma gradual. Eu particularmente gosto desse estilo de narrativa, mas entendo que o público atual vai acabar se sentindo um pouco entediado com o desenrolar da trama. Em tempos atuais, onde os filmes precisam ter um ritmo acelerado, feito para jovens com déficit de atenção, é muito prazeroso encontrar uma obra assim em cartaz. O filme mostra muito bem as rígidas regras sociais vigentes no período pós-guerra, onde um caso extraconjugal poderia arruinar a vida de uma esposa. Na mentalidade de então era preferível que a mulher mantivesse um casamento de fachada, mesmo que se sentisse extremamente infeliz do que partir para novas experiências, ouvindo o seu coração abertamente. Reconstituição de época maravilhosa, excelentes figurinos e um sensível elenco completam o quadro. Rachel Weisz está cada vez melhor. Suas cenas à beira do suicido são grandiosas e não me admirei em nada quando foi indicada ao Globo de Ouro por sua sensível atuação. Enfim, “Amor Profundo” é pesado, dramático e complexo e por isso merece ser assistido por pessoas em busca de algo mais cultural e relevante nos cinemas.

Amor Profundo (The Deep Blue Sea, Estados Unidos, 2012) Direção: Terence Davies / Roteiro: Terence Davies / Elenco: Rachel Weisz, Tom Hiddleston, Ann Mitchell, Jolyon Coy, Karl Johnson / Sinopse: Durante o pós-guerra, esposa infeliz no casamento com um importante juiz decide ouvir seu coração ao se relacionar com um piloto da força aérea.

Pablo Aluísio. 

Matemática do Amor

Se você estiver em busca de um filme modesto, com estorinha cativante e uma trilha sonora com muita música indie, então indico esse “Matemática do Amor”. Jessica Alba interpreta um papel completamente oposto à imagem que criou por todos esses anos. Se na vida real a atriz é conhecida por seus dotes físicos e beleza, aqui ele deixa tudo isso de lado para interpretar uma tímida professora de matemática do ensino fundamental. Seu pai tem um problema de saúde indefinido e sua mãe cansada de ver a filha não fazendo nada de sua vida arranja um emprego para ela como professora na escola local. Detalhe interessante para os brasileiros: Sonia Braga faz a mãe da personagem de Alba. Sem nenhum glamour, não usando maquiagem e assumindo a idade a atriz acaba surpreendendo, mesmo em um papel coadjuvante.

No novo emprego a meiga professora Mona Grey (Alba) conhece um professor de ciências boa pinta e começa a ver uma luz no fim do túnel de sua solidão. Também começa a superar seu problema de TOC (Transtorno obsessivo compulsivo) que a faz contar tudo ao redor, vendo números em todos os lugares, até mesmo quando bate de forma insistente na madeira de móveis em geral, cadeiras, mesas, etc. É louvável o esforço de Jessica Alba em dar veracidade ao seu papel. Ela propositalmente se enfeia ao máximo, usa roupas cafonas e um penteado realmente horrível (uma franjinha fora de moda). Pela tentativa de fazer algo fora de sua zona de conforto acabei simpatizando com ela durante todo o filme. No geral é um filme inofensivo, bem ao estilo “Sessão da Tarde”, que ajuda a passar o tempo de forma bem descompromissada. Vale a pela assistir nem que seja pelo menos uma única vez.

Matemática do Amor (An Invisible Sign, Estados Unidos, 2010) Direção: Marilyn Agrelo / Roteiro: Pamela Falk, Michael Ellis / Elenco: Jessica Alba, Chris Messina, Sônia Braga / Sinopse: Tímida professora de ensino médio se apaixona por professor de ciências na escola onde trabalha. Ao mesmo tempo tenta superar as inseguranças e anseios em sua vida.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 21 de maio de 2013

K-19: The Widowmaker

Apesar de não ter dirigido o filme esse foi um dos projetos mais pessoais de Harrison Ford. Ele entrou depois que o estúdio já havia começado a pré-produção do filme mas assim que aceitou participar do elenco começou também a exigir mudanças. As primeiras foram no roteiro que não agradavam a Ford. O texto original era baseado em um fato real ocorrido com um submarino nuclear soviético perto da costa dos Estados Unidos. Um fato histórico que quase levou as duas nações a um conflito armado. Ford porém não gostou desse enfoque e pediu que alterações fossem feitas. Nessa modificação certamente “K-19” perdeu em realidade e fidelidade histórica mas também ganhou em aventura e agilidade. Outro problema surgiu quando Harrison Ford decidiu que interpretaria seu personagem, um oficial da marinha vermelha, com forte sotaque russo! O estúdio não concordava com a decisão pois isso poderia prejudicar o filme comercialmente, mas Ford não deu ouvidos.

No meio de tantas intervenções do astro principal no filme (ele chegou até mesmo a implicar com o material promocional do filme), o estúdio não teve outra alternativa a não ser aceitar tudo de forma passiva. Afinal Harrison Ford era um dos maiores campeões de bilheteria da história do cinema americano e tinha certamente força para fazer impor sua vontade. Quando o filme finalmente foi lançado porém as expectativas logo se transformaram em decepções. O público não comprou a idéia do filme e “K-19”, assim como o submarino que retratava em seu enredo, afundou de forma desastrosa nas bilheterias. A verdade é que o filme não empolga, não convence. Ford está especialmente ruim em sua caracterização mais parecendo um lunático do que um oficial graduado das forças armadas soviéticas. Junte-se a isso os problemas de ritmo e as forçadas de barra do roteiro. “K-19” também foi alvo de criticas por parte dos familiares dos marinheiros mortos no evento real e dos veteranos da marinha que acharam tudo um grande desrespeito. Definitivamente foi uma película de guerra que não deu muito certo.

K-19: The Widowmaker (Idem, Estados Unidos, 2002) Direção: Kathryn Bigelow / Roteiro: Louis Nowra, Christopher Kyle / Elenco: Harrison Ford,  Liam Neeson, Sam Spruell, Peter Stebbings, Christian Camargo / Sinopse: Submarino das forças armadas russas é levado a uma missão onde testará todos os seus limites, colocando EUA e o império vermelho em rota de colisão. Baseado em fatos reais.

Pablo Aluísio.

A Informante

Filme que denuncia um dos maiores escândalos da história da ONU (Organização das Nações Unidas). Baseado em fatos reais o enredo mostra a luta de Kathryn Bolkovac (Rachel Weisz), uma jovem policial americana que é designada pela ONU para trabalhar na Bosnia Herzegovina. Como se sabe desde o fim dos regimes socialistas do leste europeu muitos países se fragmentaram, sendo um dos mais atingidos nesse processo a antiga Iugoslávia. Depois de anos de guerra civil várias nações surgiram como Croácia e Bósnia. Kathryn começa como investigadora de pequenos casos e depois começa a ser promovida na carreira. Em um novo posto, de hierarquia mais elevada, começa a descobrir a existência de uma grande rede de tráfico humano, que leva garotas jovens e pobres de países do leste europeu para casas de prostituição na Bósnia. Para sua grande surpresa descobre também que os principais clientes eram, ora vejam só, funcionários e membros de equipes de empresas privadas e órgãos internacionais como a própria ONU. Tentando denunciar tudo o que acontecia a oficial acabou sendo perseguida e depois demitida de suas funções. Uma história escabrosa!

O filme choca o espectador porque mostra um completo desvirtuamento de valores. Pessoas que deveriam zelar pela paz e segurança daquelas populações acabaram se envolvendo em crimes horríveis. Os chefões desses esquemas de tráfico humano e prostituição jogavam todas aquelas garotas jovens e bonitas em um verdadeiro terror. Os locais onde viviam mais pareciam masmorras medievais, com correntes e completa falta de higiene. Para piorar elas viravam verdadeiras escravas pois os cafetões não deixavam voltar ao seu país de origem antes que pagassem todas as suas contas de despesas, algo que as impedia de fugir daquele show de horrores. O pior de tudo porém é saber que americanos e europeus, agentes enviados para a Bósnia para ajudar a população local se aproveitavam disso, se envolvendo até o pescoço com todos esses crimes. Triste e lamentável. O filme é muito bom, extremamente bem roteirizado e conta com o grande talento da atriz Rachel Weisz, que tem se destacado cada vez mais em produções relevantes, de excelente nível cinematográfico. Não deixe de conhecer “A Informante” que mostra que de boas intenções o inferno realmente está cheio!

A Informante (The Whistleblower, Estados Unidos, Canadá, Alemanha, 2010) Direção: Larysa Kondracki / Roteiro: Larysa Kondracki, Eilis Kirwan / Elenco: Rachel Weisz, Vanessa Redgrave, Monica Bellucci / Sinopse: Policial americana a serviço da ONU na Bósnia acaba descobrindo uma rede de tráfico humano e prostituição envolvendo membros da organização. Depois de revelar tudo acaba sofrendo todos os tipos de pressões para abafar o caso.

Pablo Aluísio.

Confusões em Família

Antes de mais nada é preciso ignorar o péssimo título nacional desse filme. O nome original é “City Island”, justamente a região onde o personagem principal mora, nos arredores de Nova Iorque, em uma antiga vila de pescadores. Ele é Vince Rizzo (Andy Garcia), um pai de família comum que ganha a vida como agente penitenciário. Casado com Joyce (Julianna Margulies), pai de dois filhos, ele seria como qualquer outro americano da classe trabalhadora daquele país se não fosse por um pequeno detalhe: fã do ator Marlon Brando ele sonha, em segredo, se tornar um ator profissional. Para isso freqüenta às escondidas um curso de teatro em Nova Iorque e se aventura a fazer testes pela cidade em busca de uma oportunidade. Com medo de sofrer reprimendas por parte de sua família, freqüenta as aulas sem falar nada para ninguém. Ao mesmo tempo tem que lidar com um filho adolescente desbocado e rebelde e uma filha, que ele pensa estar indo para a faculdade, mas que na realidade é uma stripper em um clube adulto de New Jersey.

Para piorar ainda mais sua conturbada vida familiar descobre que um dos novos detentos da prisão onde trabalha é seu filho bastardo, fruto de um antigo caso de juventude. Tentando ajudar o rapaz (que não sabe que ele é o seu pai verdadeiro) o leva para casa sob condicional. Não demora muito para aos poucos todos os segredos familiares sejam descobertos. “City Island” é um projeto bem pessoal do ator Andy Garcia que produziu o filme. Aqui ele presta uma homenagem às pessoas que mesmo diante de todas as dificuldades pessoais, familiares, etc não perdem a capacidade de sonhar e ir atrás de seus objetivos. A vida familiar de seu personagem é caótica mas no meio de tudo aquilo ele ainda, muito humildemente, tenta abrir caminho na complicada carreira de ator em Nova Iorque. No elenco um dos maiores destaques vem com a presença da atriz Julianna Margulies. Na série “The Good Wife” ela interpreta uma advogada de muita fibra e classe. Já aqui ela faz uma dona de casa suburbana sem nenhuma sofisticação, em um papel que realça seu grande talento dramático. Assim fica a dica desse pequeno filme que certamente vai agradar a muitos.

Confusões em Família (City Island, Estados Unidos, 2009) Direção: Raymond De Felitta / Roteiro: Raymond De Felitta / Elenco: Andy Garcia, Julianna Margulies, Steven Strait / Sinopse: Pai de família comum sonha em se tornar ator profissional como seu grande ídolo, Marlon Brando, ao mesmo tempo em que tem que lidar com sua família mais do que problemática.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Afinado no Amor

Alguns atores fazem sucesso na carreira e sinceramente não consigo entender a razão. Não tem carisma, não são bons intérpretes, não tem talento. Quando o assunto é humor então o que dizer de um comediante sem graça? É justamente o caso desse Adam Sandler. O sujeito basicamente só sabe fazer um tipo de papel, não é engraçado e nem muito menos talentoso, além de ter uma lista incrível de filmes simplesmente pavorosos no currículo mas.... mesmo assim lá está Sandler, ano após ano, lançando seus abacaxis no cinema. Provavelmente se formou naquela escola de “atores” onde quanto pior, melhor. Egresso da TV, mais precisando do Saturday Night Live, Sandler prova que o público americano de fato não é dos mais inteligentes, sofisticados e nem cultos do planeta, tamanha a atenção que lhe dão em todos os filmes bombas que lança!

Esse aqui foi um de seus primeiros sucessos no cinema. Ele interpreta um cantor de casamentos chamado Robbie que se apaixona pela gracinha Julia (Drew Barrymore). Ela é garçonete e está comprometida para desapontamento de Robbie. Ele por sua vez amarga uma fossa sem fim desde que levou um fora de sua ex-namorada. Dando vexames nos casamentos em que trabalha, por causa da depressão que se abate sobre ele, Robbie começa a ter dificuldades até para arranjar novos eventos. Sua salvação virá mesmo através de Julia, a garota de seus sonhos. Bom, se formos comparar “Afinado no Amor” com algumas porcarias que Sandler fez depois na carreira chegaremos na conclusão que esse é quase um “Cidadão Kane” de sua filmografia! Mesmo assim é bem fraco, muito meloso e apelativo – com a óbvia ajuda de uma trilha sonora escolhida justamente para isso. De bom mesmo apenas a simpática presença de Barrymore que ajuda a passar o tempo. Agora complicado mesmo é suportar o mala do Sandler mas aí vai depender da tolerância de cada um com a canastrice alheia.

Afinado no Amor (The Wedding Singer, Estados Unidos, 1998) Direção: Frank Coraci / Roteiro: Tim Herlihy / Elenco: Adam Sandler, Drew Barrymore, Christine Taylor / Sinopse: Cantor de casamentos de quinta categoria se apaixona por garçonete enquanto tenta curar a dor de cotovelo de um fora colossal que levou. O problema é que a garota está comprometida.

Pablo Aluísio.

Parker

Título no Brasil: Parker
Título Original: Parker
Ano de Produção: 2013
País: Estados Unidos
Estúdio: Sony Pictures
Direção: Taylor Hackford
Roteiro: John J. McLaughlin
Elenco: Jason Statham, Jennifer Lopez, Nick Nolte
  
Sinopse:
Com roteiro baseado no romance policial escrito por Donald E. Westlake, o filme "Parker" conta a estória nada convencional de Johnny Parker (Jason Statham), um criminoso e ladrão profissional de bancos que acaba sendo traído por seu grupo e deixado para morrer em uma estrada. Recuperado da traição que visava lhe matar ele decide retornar para um acerto de contas final e sangrento com todos os que quiseram sua morte. Filme indicado ao World Stunt Awards.

Comentários:
“Parker” é mais um filme de ação estrelado por Jason Statham que foi exibido nos cinemas brasileiros. A bilheteria foi muito boa, diga-se de passagem. Ao contrário de outras fitas de ação de rotina do ator esse aqui traz algumas novidades. A primeira delas – e mais visível – é a presença da atriz e cantora Jennifer Lopez que parece ter deixado as comédias românticas de lado para investir em mais filmes de ação como esse. Por mais incrível que possa parecer até que ela não se sai mal. A trama de Parker é relativamente simples. Baseado nos livros de grande sucesso Flashfire, de autoria do escritor Donald E. Westlake, o filme narra as estórias de Parker (Jason Statham), um ladrão profissional que a despeito de viver à margem da lei segue padrões de comportamento e códigos de ética que determinam que seus serviços devem ser limpos, sem morte ou danos a pessoas inocentes. O problema é que Parker se une a um grupo de assaltantes que não pensam da mesma forma e após um roubo em que tudo vai mal ele é traído, ferido e deixado para morrer no meio da estrada. Recuperado é hora de partir para o acerto de contas. Para conseguir seu objetivo Parker (Statham) resolve colocar então um plano em execução, se disfarçando de texano milionário, com a qual pretende se vingar daqueles que quase o mataram. O diretor que dirige Jason Statham dessa vez é o cineasta Taylor Hackford, profissional talentoso que entre outros filmes dirigiu “Advogado do Diabo”. O problema central que podemos perceber em “Parker” é que Hackford definitivamente não tem muita intimidade com os filmes de ação. Embora “Parker” vá por vários caminhos (é um thriller com pitadas de romance e comédia também) o fato é que em essência essa é uma fita de ação e o diretor comete um pecado mortal nesse tipo de filme: ele perde o pique em vários momentos, deixando a produção cair em um incomodo marasmo. De qualquer forma, no saldo final, fica a boa novidade de ver Jason Statham saindo um pouco de seu habitual, encarando um roteiro diferente (apesar dos furos). Para os fãs do ator certamente será uma boa opção. 

Pablo Aluísio.

A Morte do Demônio

E a onda de remakes continua. A bola da vez agora é “Evil Dead”, um dos clássicos de terror da década de 80. O filme original era quase amador, feito com recursos mínimos mas que caiu no gosto do público por causa de seu estilo cru e hardcore. O tempo passou, aquele jovem que filmou “Evil Dead”, chamado Sam Raimi, virou um sujeito rico e poderoso dentro da indústria e agora surge produzindo esse remake de sua própria obra. Para dirigir contratou outro jovem, tal como ele era na época, o cineasta Fede Alvarez. A trama continua a mesma: grupo de jovens resolve se isolar numa cabana no meio da floresta. Uma das garotas tem problemas com drogas e o local parece ser o adequado para ela superar seu vicio. Também é um lugar pacato, onde todos podem repensar sobre suas vidas. O cheiro de algo apodrecido porém logo chama a atenção deles. Descobrem que o cheiro ruim vem do porão e decidem investigar. Má idéia. Apesar da escuridão encontram vários objetos que parecem ser de feitiçaria e um livro, que não deve ser aberto e nem muito menos lido. Como não poderia deixar de ser é lógico que um deles se interessará pelo tal livro amaldiçoado.

A estranha obra literária acaba sendo aberta e lida por um dos membros do grupo que para piorar ainda evoca sem saber uma entidade maligna milenar, um “devorador de almas” que logo toma de possessão uma das jovens. A partir daí já sabemos bem o que acontece. Apesar do cinema atual ter muito mais recursos do que na época do “Evil Dead” original, o fato é que essa refilmagem não consegue repetir a qualidade do primeiro filme. Para os que já conhecem os filmes de Raimi não há muita serventia em rever tudo de novo sob a ótica de um cineasta novato. Talvez apenas o público mais jovem, que não viu e nem assistiu o primeiro “Evil Dead”, possa sentir algum impacto com o novo filme. Para quem não conhece e nunca viu nenhum “Evil Dead” é bom saber que se trata de um filme de terror sem concessões, sem piadinhas e nem alívios cômicos. É muito violento, barra pesada e cheio de cenas de revirar o estômago. Talvez por isso seja tão cultuado até hoje. Nessa nova versão sentimos bem o pesar do tempo. Acontece que “Evil Dead” foi tão copiado durante todos esses anos que sua estória acabou virando algo banal. Até porque esse enredo do tipo “grupo de jovens em cabana isolada” vem sendo copiado em centenas de produções. De tão usado acabou saturado. De qualquer maneira para os mais jovens, que nunca viram a trilogia original, o filme pode até mesmo funcionar. Claro que nada do que está em cena vai impressionar aos veteranos fãs de filmes de terror, mas para o público neófito a fita pode servir como introdução a esse universo aterrorizante. Para esses então fica a dica: Arrisque uma sessão e boa sorte! 

A Morte do Demônio (Evil Dead, Estados Unidos, 2013) Direção: Fede Alvarez / Roteiro: Fede Alvarez, Rodo Sayagues, baseados no filme “Evil Dead” dirigido e roteirizado por Sam Raimi / Elenco: Jane Levy, Shiloh Fernandez, Lou Taylor Pucci / Sinopse: Grupo de jovens em cabana isolada evoca sem querer a presença de um demônio, devorador de almas, que necessita de cinco almas para fazer o “céu sangrar”. Agora terão que sobreviver à presença da maligna entidade sobrenatural do mal.

Pablo Aluísio.

domingo, 19 de maio de 2013

Nixon

É bem complicado assistir a um filme como esse que, em uma análise mais profunda, foi realizado por um liberal de carteirinha (Oliver Stone) retratando um líder republicano, conservador (o presidente americano Richard Nixon). Não há a isenção e nem a imparcialidade necessárias para se realizar assim uma obra cinematográfica historicamente correta, livre de manipulações. Stone deveria se concentrar mais em aspectos mais periféricos da sociedade americana, como fez brilhantemente com os feridos em guerras (Nascido em 4 de Julho) ou os combatentes deixados ao acaso no meio da selva do Vietnã (como vimos em Platoon). Ao retratar um presidente que particularmente odeia o cineasta perde a compostura, se deixa dominar pela emoção. Esse é sem sombra de dúvida o ponto mais complicado desse filme “Nixon”. Stone despreza o biografado e não tem o menor pudor de esconder isso. Na pele do excelente e talentoso Anthony Hopkins, o ex-presidente americano virou praticamente uma caricatura de si mesmo, chegando ao ponto de até mesmo parecer um ser repulsivo e grotesco, lambendo os lábios, suando em profusão, quase um monstro shakesperiano.

Na verdade Nixon até que não foi um presidente tão ruim como se pensa. Claro que aconteceram fatos lamentáveis em sua trajetória, sendo o mais conhecido o escândalo Watergate, mas de uma maneira geral ele de certa forma tirou os Estados Unidos da lama do Vietnã e reatou laços diplomáticos com inimigos históricos, entre eles a China. Era um político experiente (muito mais do que JFK) e soube conduzir o país muito bem na política internacional. Infelizmente dentro de casa a coisa não foi tão bem sucedida. Tragado por uma burocracia que mal conseguia compreender, Nixon foi crucificado pela invasão a sede do partido democrata, onde homens de sua filiação política teriam ido em busca de informações sobre a campanha adversária. Em uma democracia como a americana isso certamente era algo inadmissível e assim Nixon perdeu não só sua credibilidade mas também sua presidência. Por fim quero destacar o confuso roteiro do filme. Para quem não é particularmente intimo de história americana a película certamente se mostrará confusa, desconexa, com idas e vindas no tempo, deixando o espectador comum simplesmente perdido. Assim Stone erra duplamente, ao enfocar um personagem histórico que simplesmente detesta e ao fazer um filme por demais fragmentário. Prefira assistir “Frost / Nixon” que sem dúvida é uma produção bem mais consistente.

Nixon (Nixon, Estados Unidos, 1995) Direção: Oliver Stone / Roteiro: Stephen J. Rivele, Christopher Wilkinson, Oliver Stone / Elenco: Anthony Hopkins, Joan Allen, Powers Boothe, Ed Harris, Bob Hoskins, E.G. Marshall, David Paymer, David Hyde Pierce, Paul Sorvino, Mary Steenburgen, J.T. Walsh, James Woods, Brian Bedford, Kevin Dunn, Fyvush Finkel, Annabeth Gish, Tom Bower, Tony Goldwyn, Larry Hagman / Sinopse: Cinebiografia do presidente Americano Richard Nixon. Indicado aos Oscars de Melhor Ator (Anthony Hopkin), Melhor Atriz Coadjuvante (Joan Allen), Melhor Trilha Sonora e Melhor Roteiro.

Pablo Aluísio.

sábado, 18 de maio de 2013

Cassino

Embora seja um dos mais talentosos cineastas vivos, com uma rica filmografia, de encher os olhos, Martin Scorsese se saí muito melhor quando explora aspectos de sua própria etnia, de sua própria origem. Nenhum diretor conseguiu até hoje capturar a cultura ítalo-americana como ele. Talvez apenas Francis Ford Coppola (outro descendente de italianos) tenha chegado perto. E sem querer parecer preconceituoso o fato é que não há como falar em descendentes de italianos nos EUA sem falar na máfia. Esse aliás é o ponto central dos melhores filmes dirigidos por Scorsese. “Cassino” é um deles. A trama se passa em Las Vegas, durante a década de 1970. É lá que vive "Ace" Rothstein (Robert De Niro). Ele é gerente de um dos principais cassinos da cidade. Casado com uma ex-prostituta, viciada em cocaína, chamada Ginger McKenna (Sharon Stone), ele tenta colocar ordem no caos que sua vida se transforma. Seu melhor amigo é o baixinho valentão Nicky Santoro (em mais uma inspirada interpretação de Joe Pesci), que tem fortes ligações com a máfia que controla o jogo na cidade.

Como se sabe Vegas foi erguida com o dinheiro da máfia do leste, principalmente Chicago e Nova Iorque. Muitos descendentes de italianos foram para lá para controlar e administrar grandes hotéis e cassinos. Fizeram riqueza mas o ritmo estonteante e alucinado da cidade também cobrou seu preço. Robert De Niro esbanja talento em cena. Sua interpretação não se torna superior a que realizou em “Os Bons Companheiros” (que sempre é comparado com esse “Cassino”) mas mantém um nível excelente. Em termos de elenco quem acaba roubando o show é exatamente Sharon Stone. No auge da beleza ele se despiu de maiores vaidades para personificar uma mulher excessiva, com muita volúpia de experimentar de tudo, inclusive de drogas pesadas. Infiel, brega, desbocada e desnorteada com a própria vida, Stone mostra um excelente domínio dramático de seu personagem. De personalidade fraca ela logo se torna presa fácil de todos os vícios que a cidade tem a oferecer. Scorsese imprimiu um ritmo que lembra a própria Las Vegas e por isso o filme deixa a sensação de ser brilhante, esfuziante, mas também vulgar ao extremo, haja visto o palavreado pesado que sai da boca de seus personagens. Apesar de tudo não há de fato como negar que seja um grande filme no final das contas. Um dos melhores já assinados por Martin Scorsese.

Cassino (Casino, Estados Unidos, 1995) Direção: Martin Scorsese / Roteiro: Nicholas Pileggi, Martin Scorsese / Elenco: Robert De Niro, Sharon Stone, Joe Pesci, James Woods, Frank Vincent, Pasquale Cajano, Kevin Pollak, Don Rickles, Vinny Vella, Alan King, L. Q. Jones, Dick Smothers / Sinopse: Durante a década de 70 um cassino de Las Vegas se torna palco de traições, decepções e muita violência.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Maré Negra

A bióloga marinha e pesquisadora Kate Mathieson (Halle Berry) resolve aceitar a proposta de um milionário para mergulhar ao lado de tubarões brancos na costa da África do Sul. A expedição é obviamente uma temeridade uma vez que tais animais são considerados selvagens e geralmente atacam seres humanos em alto mar. Embora ciente disso a cientista aceita o acordo pois o ricaço quer mergulhar ao lado do filho para conhecer esse monstro dos mares. Inicialmente ela tenta convencer o mergulho com uso de gaiolas mas o seu cliente se torna inflexível pois quer saborear o gosto da aventura de nadar livremente ao lado desses predadores marítimos. Seu turismo ecológico porém sairá completamente do planejado, colocando todos os envolvidos em um sério perigo.

Hollywood realmente não desiste. Esse gênero de filmes sobre tubarões assassinos já está completamente esgotado mas o cinema americano não se cansa de lançar ano após ano novos filmes sobre o mesmo tema. Esse “Maré Negra” até que não é dos piores pois foi salvo por um roteiro que tenta o tempo todo ter os pés no chão (ou na água, como queiram). Os animais mostrados no filme são críveis, nada sobrenaturais (como alguns filmes exploraram recentemente) e investem em uma trama verossímil, embora seu final revele suas verdadeiras pretensões. Tirando Halle Berry não há nenhum ator mais conhecido em cena. As cenas submarinas misturam tubarões digitais com reais, sendo bem realizadas como um todo. Apenas em ataques noturnos das feras a técnica deixa um pouco a desejar. O saldo final é de um filme mediano, embora lidando com um tema que já deu o que tinha de dar.

Maré Negra (Dark Tide, Estados Unidos, 2012) Direção: John Stockwell / Roteiro: Ronnie Christensen, Amy Sorlie / Elenco: Halle Berry, Olivier Martinez, Ralph Brown / Sinopse: Pesquisadora especializada em tubarões brancos na costa da África do Sul decide aceitar a proposta de um milionário para mergulhar sem gaiolas ao lado desses animais selvagens. O turismo ecológico se revelará uma má idéia.

Pablo Aluísio.

O Último Exorcismo 2

O primeiro “O Último Exorcismo” (que curiosamente não foi o último!) era um mockumentary que reciclava antigos filmes de terror (a referencia mais óbvia era “O Exorcista”) que acabou caindo nas graças do grande público, rendendo uma bilheteria muito boa para seu orçamento modesto. Na época de seu lançamento chamei a atenção para o fato do material promocional do filme ser muito bem feito – com imagens nos cartazes que jamais fizeram parte do filme em si. Como em Hollywood não se perde a chance de ir atrás de boas bilheterias o filme agora rende essa continuação. Curiosamente o formato do primeiro filme é deixado de lado. Agora os produtores optaram por uma narrativa mais tradicional. O roteiro como não poderia deixar de ser é cheio de furos e não explica como a garota sobreviveu ao final do filme anterior. Clímax aliás que foi severamente criticado em seu lançamento por ser muito exagerado e sem noção. Depois de tudo aquilo que aconteceu é muito complicado aceitar uma continuação na estória, afinal tudo parecia soar como definitivo.

Assim como acontecia no filme “O Exorcista” aqui a protagonista também é uma jovem que é atormentada por um demônio (e imitando os passos do filme clássico também temos aqui uma entidade do mal que atende por um nome bizarro, Abalam). Pois bem, o filme começa mostrando a jovem Nell (Ashley Bell), que após os acontecimentos do primeiro filme tenta reconstruir sua vida. Ela é enviada para um abrigo de jovens e começa a ter uma nova perspectiva de vida, levando uma vida normal, longe da visão fatalista religiosa em que cresceu. Sua vida caminha relativamente bem, e ela pela primeira vez experimenta uma existência normal quando do nada recomeçam as manifestações demoníacas. A partir daí o filme mostra toda a sua fragilidade. O roteiro é um festival de clichês sem nenhuma originalidade. O uso de recursos fáceis para assustar o público também mostra o esgotamento do filão. De certa forma esse filme me lembrou bastante de “O Exorcista 2” outra produção que não tinha mais o que contar pois esse é o tipo de enredo que só admite uma adaptação para o cinema pois a estória se fecha em si mesmo, não havendo qualquer justificativa para uma continuação, a não ser render uns trocados a mais nas bilheterias. Melhor ignorar.

O Último Exorcismo 2 (The Last Exorcism 2: The Beginning of the End, Estados Unidos, 2013) Direção: Ed Gass-Donnelly / Roteiro: Damien Chazelle, Ed Gass-Donnelly / Elenco: Ashley Bell, Andrew Sensenig, Spencer Treat Clark, Judd Lormand, Raeden Greer / Sinopse: A garota Nell (Ashley Bell) volta a ser atormentada por manifestações demoníacas. Continuação de “O Último Exorcismo”.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

O Reino

Talvez o público não agüente mais falar nas intervenções americanas no Oriente Médio ou talvez o roteiro maniqueísta e manipulador tenha ultrapassado o limite do bom senso, não se sabe ao certo, mas o fato desse filme ter sido tão pouco visto talvez demonstre o esgotamento e saturação do tema no cinema. Afinal se todos os dias vemos na TV os equívocos americanos nos países árabes porque pagaríamos para ver a mesma coisa no cinema? O enredo mostra os esforços do agente do FBI Ronald Fluery (Jamie Foxx) em investigar um grave atentado promovido contra cidadãos americanos no Oriente Médio. Atuando em outro país, tendo que lidar com outra cultura e leis, o obstinado agente federal não mede esforços para chegar nos verdadeiros culpados dos atos terroristas. Jamie Foxx teve aqui a chance de demonstrar aos estúdios que poderia arcar com a responsabilidade de estrelar um sucesso, baseado apenas em sua presença do elenco, sem qualquer outro nome por trás. Infelizmente não deu muito certo pois o filme foi mal nas bilheterias.

Atribuo isso ao roteiro que não se exime de passar ao espectador uma visão muito preconceituosa, diria até mesmo racista, contra os árabes em geral. Os agentes americanos em ação, por exemplo, não procuram se dar ao trabalho de conhecer as leis e a cultura do país onde atuam. Passam por cima de tudo com a truculência que lhes é habitual. Além disso cometem o grave erro de generalizar a situação, a ponto de tornar qualquer um suspeito, pelo simples fato de ser árabe. De certa forma o filme não parece estar preocupado em discutir os grandes temas que envolvem as intervenções militares americanas naqueles países. Ao invés disso investe em cenas de ação, nem sempre com bons resultados. Sendo assim o filme acaba virando um belo retrato da forma como muitos americanos encaram esses conflitos. Para eles os terroristas estão em todas as partes e praticamente todos os árabes são suspeitos em potencial. No final da exibição a única certeza que tiramos é que de fato os americanos não parecem ter a menor noção da raiz dos problemas políticos e sociais do Oriente Médio.

O Reino (The Kingdom, Estados Unidos, 2007) Direção: Peter Berg / Roteiro: Matthew Michael Carnahan / Elenco: Jamie Foxx, Jennifer Garner, Jason Bateman, Chris Cooper, Andrew Espósito / Sinopse: Agente federal do FBI investiga um atentado terrorista contra americanos em um distante país árabe.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Se Beber Não Case

É bem complicado entender o gosto do grande público. Algumas superproduções acabam não fazendo sucesso nenhum enquanto outros filmes que ninguém apostava se tornam grandes sucessos de bilheteria. Esse último caso parece ser o de “Se Beber Não Case”, comédia que chegou aos cinemas sem nenhum alarde e começou a crescer assim que se espalhou a chamada “propaganda boca a boca”. Agora complicado mesmo é entender o que tanta gente viu de especial nessa comédia. A estória se passa em Las Vegas, a cidade do pecado, no dia seguinte a uma despedida de solteiro que ao que tudo indica saiu do controle. São três amigos, que seriam os padrinhos de casamento do noivo mas que acabam acordando com uma tremenda ressaca em um quarto de hotel da cidade. Para piorar eles não tem a menor idéia do que aconteceu na noite anterior.

O roteiro assim começa a desvendar os acontecimentos, seguindo determinadas “pistas” que vão surgindo pelo caminho, inclusive com a presença de um tigre, isso mesmo, um tigre do boxeador Mike Tyson. Em minha opinião são dois os problemas básicos de “Se Beber Não Case”. O primeiro e mais evidente é o fato de ser uma comédia de uma piada só. Os caras beberam além da conta, ficaram chapados e amanhecem arrasados, tentando entender o que aconteceu. E é só isso o que acontece. O segundo problema do filme é seu ritmo irregular, que perde o timing necessário para comédias desse estilo. Basta lembrar de “A Última Festa de Solteiro”, clássico do humor dos anos 80, para perceber isso. De positivo apenas a sempre divertida presença do ator Zach Galifianakis. Fora isso nada mais digno de nota – a não ser que você ache realmente engraçado ficar por quase duas horas vendo um bando de marmanjos de ressaca!

Se Beber Não Case (The Hangover, Estados Unidos, 2009) Direção: Todd Phillips / Roteiro: Jon Lucas, Scott Moore / Elenco:  Bradley Cooper, Ed Helms, Zach Galifianakis, Justin Bartha, Heather Graham, Mike Tyson / Sinopse: Um grupo de caras acordam com uma grande ressaca em Las Vegas. Eles não lembram exatamente o que aconteceu na noite anterior e começam a se surpreender com o que encontram no quarto de hotel onde estão.

Pablo Aluísio.

Recontagem

Provavelmente muita gente que acompanha política internacional se recorda dos problemas envolvendo a disputa presidencial americana durante as eleições de 2000 entre George W. Bush e Al Gore. Na época houve uma disputa acirrada entre os dois candidatos, praticamente lutando voto a voto. Depois das urnas terem sido cerradas começou um grande impasse no estado da Flórida após se descobrir que as cédulas de votação eram confusas, complicadas de se votar e completamente ultrapassadas em sua técnica. Pois é, a nação mais desenvolvida e tecnológica do planeta ainda faz eleição com votos de papel, onde o eleitor tem que fazer vários furinhos para escolher seus candidatos preferidos. Na Flórida a situação ainda era pior porque grande parte do eleitorado era composta de pessoas idosas que não conseguiam compreender o sistema adotado de votação. Muitos eleitores se confundiram ou não conseguiram fazer os tais furinhos nas cédulas. O que se seguiu foi uma verdadeira guerra jurídica entre Republicanos e Democratas, pois o vencedor na Flórida seria também o novo presidente dos Estados Unidos.

E é justamente em cima desse quadro caótico que o filme “Recontagem” se passa. Kevin Spacey, ótimo como sempre, interpreta Ron Klain, o advogado do Partido Democrata que tentará de todas as formas promover uma recontagem dos votos da Flórida. Já Tom Wilkinson vive o advogado do Partido Republicano, James Baker, que tentará impedir esse procedimento. Na época me recordo muito bem desse impasse, que não saiu dos noticiários. De fato foi bem constrangedor perceber como o sistema eleitoral dos Estados Unidos era falho, arcaico e propenso a ter inúmeros erros. Nesse quesito o Brasil com suas urnas eletrônicas está muitos anos a frente dos americanos. Em relação ao filme em si o recomendo apenas para quem gosta de acompanhar os bastidores da política de uma das maiores eleições do planeta – aquela que escolhe o presidente americano. Embora seja um filme que todos saibam o final (George W. Bush se sagrou vitorioso) o fato é que “Recontagem” se torna muito instrutivo por apresentar as manipulações que certamente surgem em situações onde o poder supremo de uma nação está em jogo. Nesse quadro não há vilões e nem mocinhos mas apenas interesses, muitos deles acima dos ideais de democracia e verdade.

Recontagem (Recount, Estados Unidos, 2008) Direção: Jay Roach / Roteiro: Danny Strong / Elenco: Kevin Spacey,  Tom Wilkinson, Laura Dern, John Hurt, Bruce Altman, Bob Balaban, Ed Begley Jr / Sinopse: Durante as eleições presidenciais de 2000 um erro no sistema eleitoral da Flórida coloca em um grande impasse a escolha do novo presidente dos Estados Unidos.

Pablo Aluísio.