terça-feira, 12 de março de 2013

Brubaker

O sistema penitenciário é certamente um dos grandes problemas enfrentados pelos Estados nacionais ao redor do mundo. As condições degradantes em nosso país já são bem conhecidas mas nos Estados Unidos o problema sempre foi escondido da opinião pública. Um dos filmes mais interessantes sobre esse tema é justamente esse “Brubaker”, cujo enredo é baseado em fatos reais. A estória conta as agruras do prisioneiro Henry Brubaker (Robert Redford) que vai parar em uma penitenciária de segurança máxima do Arkansas. Torturas, violência e ofensa aos direitos humanos eram comuns naquela prisão, tudo feito em um ambiente sem a menor condição de abrigar prisioneiros. Para piorar dentro da prisão há um verdadeiro esquadrão da morte, especializado em matar os prisioneiros que não mais interessavam ao sistema. Diante de tantas barbaridades cometidas ao seu redor o detento Brubaker resolve então denunciar tudo o que está acontecendo, mesmo sabendo que ao fazer isso ele está colocando em risco sua própria vida dentro daquele presidio perigoso e desumano.

O roteiro de “Brubaker” foi baseado na história real de Tom Murton, um diretor de presídio do Estado do Arkansas que resolveu denunciar as péssimas condições dos presos na década de 50. Sua denúncia surtiu efeitos e ecoou em todo o sistema prisional americano, dando origem assim a melhorias e regras que até hoje são seguidas nos Estados Unidos. O filme foi inicialmente rodado pelo diretor Bob Rafelson que depois de poucas cenas gravadas teve que deixar a produção por motivos de saúde. Em seu lugar o estúdio escalou o ótimo Stuart Rosenberg, diretor de “Rebeldia Indomável”, “A Piscina Mortal” e “Horror em Amytville”. Seu toque mais realista trouxe muita qualidade ao filme em si, narrando tudo sem medo de expor as mais abertas feridas do sistema penal de seu país. No elenco, como não poderia deixar de ser, se destaca o ator Robert Redford, cujo personagem guarda uma bela surpresa para o público em seu final. Aliás essa reviravolta final – muito bem explorada pelo texto do filme – rendeu a “Brubaker” uma indicação ao Oscar de Melhor roteiro. Outro destaque no elenco vem com Morgan Freeman, fazendo um prisioneiro veterano que vai aos poucos perdendo a sanidade diante daquela realidade dura e sem esperanças. Em suma, fica a recomendação de “Brubaker”, um dos melhores filmes de prisão já feitos na história do cinema americano.

Brubaker (Brubaker, Estados Unidos, 1980) Direção: Stuart Rosemberg / Roteiro: W.D. Richter, Arthur A. Ross baseados no livro de autoria de Joe Hyams e Thomas O. Murton / Elenco: Robert Redford, Yaphet Kotto, Morgan Freeman, Murray Hamilton / Sinopse: O prisioneiro Brubaker (Robert Redford) chega para cumprir sua pena numa das piores prisões do Arkansas onde vivencia todos os tipos de barbaridades cometidas contra os demais detentos. Mesmo contra tudo e contra todos ele finalmente resolve denunciar os crimes cometidos dentro da penitenciaria.

Pablo Aluísio.

Sorte no Amor

Depois do sucesso em “Os Intocáveis” o ator Kevin Costner se tornou o astro mais quente em Hollywood. Vários papéis em filmes de destaque lhe foram oferecidos nesse período mas ele os recusou em série. Na verdade Costner queria algo menos pretensioso, um filme pequeno, menor, mas com bom roteiro. Curiosamente ele voltaria ao tema do beisebol (que iria explorar mais uma vez na carreira em “Campo dos Sonhos”). O filme “Sorte no Amor” é exatamente isso. Uma comédia romântica sem qualquer pretensão, ambientada no mundo do beisebol. Na verdade era um projeto bem pessoal do casal Susan Sarandon e Tim Robbins que começou bem pequeno mas que ganhou ares de grande produção com a entrada de Costner no projeto. O filme narra a chegada de um jogador veterano, Crash Davis (Kevin Costner), em uma pequena cidade da Carolina do Norte para integrar o modesto time local. Lá ele entra em contato com Annie (Susan Sarandon) uma grande fã do esporte que logo se sente atraída pelo novo membro da equipe. A partir daí já sabemos de antemão o que vai acontecer.

O roteiro brinca com a mitologia de um dos esportes mais queridos dos americanos, fazendo uma ponte entre o sentimento religioso do povo americano com a paixão de alguns devotam pelo beisebol. Kevin Costner está completamente à vontade no papel. Esse de fato foi seu primeiro filme nesse estilo, onde ele basicamente interpretava um personagem galã e bonitão. Com figurino estilizado o ator realmente surpreende e se dá muito bem com sua parceira em cena, Susan Sarandon, aqui investindo sem pudores em seu lado mais sensual. A fita foi extremamente barata (orçamento de meros sete milhões de dólares) e rendeu mais de 50 milhões no mercado interno, um ótimo resultado. Tudo fruto do crescente interesse do público americano pelo ator Kevin Costner. O bom resultado garantiu inclusive o lançamento da película nos cinemas brasileiros, algo raro de acontecer em filmes sobre beisebol pois o público brasileiro sempre pareceu ter aversão a produções sobre esse esporte. Mas não se preocupe sobre isso. Quem não entende nada do beisebol pode ficar tranqüilo pois ele aqui funciona apenas como pano de fundo. O tema central é realmente o relacionamento entre os personagens principais. Como romance o filme se sai muito bem e por isso deixo a recomendação. “Sorte no Amor”, uma bela produção da década de 80 com Kevin Costner no auge de sua popularidade.

Sorte no Amor (Bull Durham, Estados Unidos, 1988) Direção: Ron Shelton / Roteiro: Ron Shelton / Elenco: Kevin Costner, Susan Sarandon, Tim Robbins / Sinopse: jogador veterano chega em pequena cidadezinha da Carolina do Norte para participar da modesta equipe local de beisebol. De quebra acaba se apaixonando por uma fã do esporte.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Trocando as Bolas

Esse foi o segundo filme da carreira do comediante Eddie Murphy (ele havia estreado no cinema com o policial “48 Horas” ao lado do ator Nick Nolte). Na época Murphy era muito conhecido do público americano por causa de seu trabalho no programa de TV “Saturday Night Live”, um dos mais populares dos Estados Unidos. Já no Brasil quase ninguém o conhecia uma vez que o SNL não era exibido em nosso país. Assim Murphy pelo menos por aqui se tornou conhecido mesmo por causa de seus filmes. “Trocando as Bolas” é um dos mais curiosos filmes de toda a sua carreira. O roteiro é todo construído apenas em torno de uma pergunta: Seria o homem fruto apenas de seu meio social? Em outras palavras, seria o sucesso ou o fracasso pessoal apenas o resultado do lugar onde se teria nascido? Para testar a veracidade da tese dois milionários excêntricos (interpretados com muita elegância por Dom Ameche e Ralph Bellamy) resolvem fazer um teste com duas pessoas completamente diferentes. Um bem nascido, filho de família bem situada, formado em uma das melhores universidades do país, com bom emprego e freqüentador dos melhores círculos sociais. O outro um vagabundo de rua, criado na malandragem dos bairros da periferia, formado e educado na escola da vida.

O que aconteceria se o grã-fino perdesse absolutamente tudo e fosse jogado nas ruas e o malandro fosse agraciado com todas as oportunidades de sucesso, dinheiro e posição social? O personagem das ruas é Billy Ray Valentine (Eddie Murphy) e o esnobe da alta classe é Louis Winthorpe III (Dan Aykroyd). Da noite para o dia um perde tudo e o outro é alçado a executivo de Wall Street. Os papéis são literalmente trocados. Fazia muitos anos que tinha assistido essa comédia e nessa revisão pude perceber que embora não soe mais tão engraçado como antes ainda é um roteiro muito bem conectado, inteligente, bem escrito. De certa forma os dois milionários que trocam as bolas dos personagens principais estão na realidade testando, entre outras coisas, as bases do chamado Darwinismo social, teoria muito polêmica e controvertida que até hoje é motivo de debates no meio acadêmico. Claro que o filme não avança a fundo nesse ponto, preferindo apenas trazer diversão com uma pequena lição de moral em seu final. Mesmo assim ainda é uma diversão válida que a despeito de ter envelhecido um pouco ainda faz pensar – algo que definitivamente não se encontra mais em comédias como essa. Assim fica a dica de “Trocando as Bolas”, comédia dos anos 80 que diverte mas que consegue também intrigar ao mesmo tempo.

Trocando as Bolas (Trading Places, Estados Unidos, 1983) Direção: John Landis / Roteiro: Timothy Harris, Herschel Weingrod / Elenco: Eddie Murphy, Dan Aykroyd, Ralph Bellamy, Dom Ameche, Denholm Elliott / Sinopse: Dois milionários resolvem mudar as posições sociais de duas pessoas completamente diferentes. A um grã-fino esnobe resolvem lhe tirar o emprego, o trabalho e a posição social. A um malandro de rua resolvem lhe arranjar uma posição de executivo em Wall Street. No fundo tudo não passa de uma aposta para saber com certeza se o homem é realmente apenas fruto de seu meio social.

Pablo Aluísio.

Estrada Para Perdição

Muito provavelmente o melhor filme da carreira de Sam Mendes (embora “Beleza Americana” costumeiramente ostente esse título). “Estrada Para a Perdição” é uma homenagem ao cinema clássico, mais particularmente aos chamados filmes noir, com suas sombras e personagens fatais. O clima de nostalgia se reflete inclusive na estrutura do roteiro que foi escrito em cima das memórias de um homem adulto que relembra sua conturbada infância. A estória se passa na década de 1930 no auge da era dos gangsters. Michael Sullivam Jr (Tyler Hoechlin) relembra os poucos momentos que conviveu ao lado do pai, Michael Sullivan (Tom Hanks). Ele é homem de confiança de um irlandês poderoso e ameaçador, John Rooney (Paul Newman em atuação primorosa) que manda Sullivan realizar alguns serviços sujos para ele. O problema é que o garotinho acaba descobrindo toda a verdade desencadeando uma série de problemas envolvendo inclusive a chamada “queima de arquivo” pois ele agora se torna um alvo em potencial uma vez que testemunhas de crimes não vivem de acordo com a lei imposta pelo chefão Rooney. Para liquidar o jovem é enviado então Connor (Daniel Graig) mas tudo acaba saindo muito errado.

No fundo o roteiro lida com aquela situação tão comum no mundo do crime, conhecida popularmente como “acerto de contas”. Em um ambiente tão brutal poucos acabam sobrevivendo às regras impostas pelo crime organizado. Além da direção excepcional de Sam Mendes o filme “Estrada da Perdição” se destaca ainda por dois aspectos que logo chamam a atenção. O primeiro é o elenco simplesmente primoroso. Tom Hanks e Paul Newman brilham intensamente. Hanks consegue captar todo o conflito psicológico de seu personagem pois de uma hora para outra ele se vê entre a lealdade ao seu chefe e a proteção ao seu próprio filho. Já Paul Newman, o mito, se despede do cinema com uma obra digna de seu talento. Seu papel é intenso, sem concessões e o ator, mesmo com a idade já bem avançada, esbanja sofisticação e elegância, mesmo em um personagem tão brutal e violento. Coisa que só grandes mestres conseguem. O elenco principal é completado ainda por Daniel Graig (antes de virar Bond) e Jude Law (perfeito como um matador da máfia com ares de psicopata cruel). A segunda grande característica que salta aos olhos aqui é a linda direção de arte que recria o clima da década de 1930 com extremo bom gosto. Tudo é perfeitamente recriado nos mínimos detalhes, carros, utensílios, armas, moveis, figurinos, um primor transformando “Estrada Para Perdição” em um filme bonito de se assistir, realmente belo e bem fotografado. Em suma, uma obra prima moderna com o sabor dos antigos filmes de gangster. Quem precisa de mais alguma coisa? Simplesmente imperdível.

Estrada Para Perdição (Road to Perdition, Estados Unidos, 2002) Direção: Sam Mendes / Roteiro: David Self baseado na graphic novel de Max Allan Collins e Richard Piers Rayner / Elenco: Tom Hanks, Paul Newman, Jude Law, Daniel Craig, Jennifer Jason Leigh, Tyler Hoechlin, Rob Maxey / Sinopse: Garoto, filho de um assassino da máfia, se vê em perigo de vida após presenciar um crime dentro da organização da qual seu pai faz parte.

Pablo Aluísio.

domingo, 10 de março de 2013

Detona Ralph

Até agora nenhuma união entre o cinema e o mundo dos games havia dado muito certo. Até mesmo os mais famosos videogames deram origem a filmes simplesmente horrorosos. A boa notícia é que embora não seja propriamente uma adaptação de nenhum game, essa animação “Detona Ralph” conseguiu unir os dois universos de forma excepcionalmente bem. Na trama conhecemos o personagem Ralph (voz no original do ator John C Reilly) que há 30 anos participa de um game onde ele faz o vilão do enredo (um sujeito durão que destrói tudo por onde passa). Cansado de fazer sempre o papel de vilão ele decide mudar sua vida, ganhando reconhecimento. E em sua opinião isso virá a partir do dia em que ele ganhar uma medalha de herói tal como Felix, o sujeito bonzinho de seu jogo. Assim Ralph resolve invadir um outro game em busca da tal medalha. O problema é que o lugar é infestado de insetos (tal como vemos em “Tropas Estelares”) e na ânsia de conseguir seu objetivo ele acaba criando uma grande confusão não apenas nesse jogo mas em outros também, inclusive no infantil chamado Sugar Rush, onde conhece uma garotinha que parece ser apenas um “bug” do programa!

O roteiro de “Detona Ralph” é muito bem escrito e divertido. Além disso suas inúmeras referencias ao mundo dos jogos irão agradar desde as crianças até os mais velhos (quarentões que jogavam por exemplo o clássico Pac Man em sua infância). O filme tem um grande mérito de não cair na armadilha de tentar imitar um jogo em seu enredo (algo que aconteceu por exemplo em filmes como Mortal  Kombat, Speed Racer, etc). Ao contrário disso o que vemos é uma estória muito bem contada, original e com ótimas cenas animadas. O mundo de Sugar Rush, por exemplo, é muito bem idealizado e atraente, um cenário de algodão doce que certamente vai agradar em cheio as crianças pequenas pois as personagens são ao estilo fofinhas, como a rebelde Vanellope von Schweetz, que só quer ter a chance de correr e se tornar uma vencedora em seu próprio jogo. Seu design é claramente inspirado em Boo, a menininha de “Monstros S.A” o que não é complicado de explicar uma vez que ambas as animações são do mesmo estúdio Disney. Esse é o primeiro grande filme no cinema do diretor Rich Moore que trabalhou anos nas séries televisivas “Os Simpsons” e “Futurama”. Seu trabalho se revela excepcional para alguém que está entrando em outro meio como ele. Mostrou talento e segurança na condução da animação. Desse modo fica a recomendação: “Detona Ralph”, uma animação acima da média que consegue divertir unindo esses dois universos (cinema e games) que até o momento nunca tinham se dado muito bem nas telas. 

Detona Ralph (Wreck-It Ralph, Estados Unidos, 2012) Direção: Rich Moore / Roteiro: Jennifer Lee, Phil Johnston /  Elenco: John C. Reilly, Jane Lynch, Sarah Silverman, Stefanie Scott, Jack McBrayer, Jamie Elman, Gerald C. Rivers, Brandon T. Jackson, Jack Angel, George Kotsiopoulos / Sinopse: Vilão de um jogo decide ganhar reconhecimento. Assim ele resolve invadir um outro game para tentar ganhar uma medalha de herói, algo que irá dar origem a várias confusões.

Pablo Aluísio.

A Fuga

Título no Brasil: A Fuga
Título Original: Deadfall
Ano de Produção: 2012
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Stefan Ruzowitzky
Roteiro: Zach Dean
Elenco: Eric Bana, Olivia Wilde, Charlie Hunnam, Sissy Spacek, Kris Kristofferson
  
Sinopse:
Dois irmãos, Addison (Eric Bana) e Liza (Olivia Wilde), decidem entrar no mundo do crime. Eles estão cansados do fracasso e da falta de esperanças de um futuro melhor. Assim resolvem agir, mesmo sem pensar muito nas consequências. Dessa forma eles colocam em execução um assalto. As coisas porém não saem como eles pensavam e acabam tendo que fugir para sobreviver. Em fuga após esse roubo em um cassino, eles partem em direções opostas com consequências graves para todos os que cruzam seus caminhos.

Comentários:
Tentativa de transformar o ator Eric Bana em herói de ação ou algo nesse sentido. A trama de “A Fuga” é, em muitos momentos, confusa e inverossímil, mas vamos a ela: Dois irmãos, Addison (Eric Bana) e Liza (Olivia Wilde), assaltam um cassino indígena (muito comum nos EUA) e fogem logo em seguida. Para azar deles, acabam sofrendo um acidente na fuga. Após Addison matar um policial a dupla se separa. Addison tenta escapar a todo custo e Liza acaba pegando carona com um boxeador, Jay (Charlie Hunnam), que está a caminho da casa dos pais para passar o dia de ação de graças (popular feriado americano). Na viagem acabam descobrindo que estão se apaixonando um pelo outro. A partir daí Addison vai se tornando cada vez mais violento enquanto Liza vai ficando cada mais envolvida com o boxeador Jay. “A Fuga” tem alguns problemas básicos. Algumas situações soam forçadas demais: o envolvimento de Jay, o boxeador, com a caronista e criminosa Liza, não consegue convencer muito, mais parecendo uma armação para uma apoteose violenta e irascível. O personagem Addison de Eric Bana vai aos poucos se tornando um psicopata sedento de sangue, sem qualquer motivo aparente que justifique esses atos. Ao que parece tudo não passa de um artifício do roteiro para agradar ao público de produções gore. Referencias a filmes noir e de western surgem aqui e acolá, mas também não conseguem empolgar. De bom apenas aquele clima decadente que sempre ronda as famílias mais pobres dos EUA, aquelas que vivem no limite da sobrevivência em estados nevados e esquecidos. Outro ponto positivo é a chance de rever os veteranos Sissy Spacek e Kris Kristofferson, produtivos e atuando com dignidade. No mais fica aquele gostinho de leve decepção. O filme não conseguiu mesmo ser tão bom quanto poderia.

Pablo Aluísio.

sábado, 9 de março de 2013

Dezesseis Luas

Rei morto, rei posto! Já que a franquia “Crepúsculo” chegou ao seu final Hollywood tratou de adaptar outra obra literária para tentar repetir as maravilhosas bilheterias dos vampiros que brilham ao sol. Aqui temos novamente um casal improvável que tem que cultivar seu romance no meio de questões sobrenaturais. Se em “Crepúsculo” tínhamos o amor adolescente de uma humana com um vampiro aqui em “Dezesseis Luas” temos a paixão brotando entre um garoto humano e uma jovem pertencente a um clã de poderes sensitivos que transita entre a luz e as trevas. A cada nova geração os novos membros precisam se decidir se vão abraçar o lado bom ou não de seus poderes transcendentais. Embora o estúdio tenha nos últimos meses se esforçado para esclarecer que “Dezesseis Luas” nada tem a ver com a saga “Crepúsculo” a verdade é que há mais semelhanças do que diferenças entre os dois filmes. Esse aqui inclusive se propõe a ser uma nova franquia milionária – isso se conseguir se destacar nas bilheterias com sucesso, é óbvio.

O curioso é que tal como acontecia em “Crepúsculo” aqui também temos uma atriz principal que se destaca por ser muito apática e sem carisma. Estou falando de Alice Englert que não consegue passar uma grande atuação no filme. Ela é filha da diretora de “O Piano”, Jane Campion, mas parece não ter herdado muito talento da mãe e não diz a que veio. O seu par romântico também não é grande coisa pois Alden Ehrenreich faz Robert Pattinson parecer Laurence Olivier tamanha sua falta de jeito nas cenas mais emblemáticas do longa. Se o filme não vale pelas atuações pelo menos a trilha sonora é boa, recheada de boas canções, algumas inclusive pequenos clássicos da música americana. Outro ponto positivo é a coleção de citações literárias que desfilam pela tela o que cria uma situação mais do que curiosa.  Apesar da atriz ser fraca seu personagem tem boas falas e diálogos o que salva de certo o filme de cair no marasmo constrangedor de se acompanhar apenas mais um romance adolescente em um universo de realismo sobrenatural fantástico. Enfim é isso. Eu aconselho o filme às fãs de “Crepúsculo”, pois como elas agora estão órfãs de sua franquia preferida possa ser que venham a gostar desse novo “Dezesseis Luas”. Na dúvida arrisquem meninas!

Dezesseis Luas (Beautiful Creatures, Estados Unidos, 2013) Direção: Richard LaGravenese / Roteiro: Richard LaGravenese / Elenco: Alden Ehrenreich, Alice Englert, Susan Lynch, Iain Glen, Jake D'Arcy, Rachel Weisz, Tom Mannion, Maurice Roëves / Sinopse: Garoto excluído em sua escola acaba se apaixonando por uma novata muito especial que aparenta ter poderes sobrenaturais!

Pablo Aluísio.

Desejo e Reparação

Uma boa crônica sobre o poder do equívoco e da mentira. Tudo camuflado em uma neblina de preconceito social. Assim podemos definir “Desejo e Reparação”. Na estória uma jovem de 13 anos chamada Briony (Saoirse Ronan, sempre expressiva) acusa um rapaz de ter cometido um estupro contra sua própria prima! Não há provas disso e tudo é fruto de mera presunção e suposição, sem qualquer base na realidade. Nem é preciso esclarecer os inúmeros problemas que isso causa dentro do meio social uma vez que a trama se passa na Inglaterra aristocrática da década de 1930. “Desejo e Reparação” faz parte daquele estilo de filme que explora os costumes da sociedade extremamente rígida daquele país. Como se sabe na Inglaterra as chamadas castas sociais são bem definidas. Existe a nobreza e a aristocracia no topo da sociedade e a classe trabalhadora bem abaixo. Embora convivam quase nunca se tocam de maneira mais privada. O filme explora muito bem esse aspecto ao colocar uma jovem da classe mais abastada acusando um rapaz da classe trabalhadora de um crime infame, mesmo sem qualquer meio de prova consistente. Ele é filho da governanta da casa e só conta com o apoio da irmã mais velha da acusadora, Cecília (Keira Knightley, em boa atuação), que acredita em sua inocência. 

“Desejo e Reparação” é uma ótima adaptação do best seller “Reparação” escrito pelo autor Ian McEwan. O texto procura desvendar as grandes e pequenas hipocrisias que geralmente se formam em sociedades de castas como a inglesa. A justiça e a lei tratam de forma diversa o acusado conforme sua origem, sua casta de nascimento. Aos ricos e bem nascidos a lei disponibiliza todas as benesses existentes, aos pobres e membros das castas inferiores só resta a dura repressão legal. Assim que é acusado o jovem Robbie é imediatamente encarcerado sem direito a apelação. A palavra da garota rica vale como verdade absoluta embora fique longe de ser. Joe Wright, o diretor, já havia mostrado boa sensibilidade em temas assim com o excelente “Orgulho e Preconceito” em 2006 e volta a mostrar habilidade aqui. Ele prioriza o poder da sugestão, nunca caindo no lugar comum ou na vulgaridade. Também mostra grande talento na direção de atores arrancando ótimas atuações, principalmente do trio principal que consegue manter o interesse do espectador do começo ao fim do filme. A sofisticação e elegância arrancaram elogias da crítica mundo afora e “Desejo e Reparação” logo ganhou status de grande arte. A produção foi indicada a sete prêmios da Academia, entre eles melhor Filme, melhor atriz coadjuvante (Saoirse Ronan), melhor fotografia (Seamus McGarvey) e melhor roteiro adaptado (escrito por Christopher Hampton e baseado no livro de Ian McEwan). Acabou vencendo apenas o Oscar de melhor trilha sonora (Dario Marianelli). Já no Globo de Ouro se saiu melhor sendo premiado como Melhor Filme Dramático do ano. Prêmio mais do que merecido.

Desejo e Reparação (Atonement, Estados Unidos, 2007) Direção: Joe Wright / Roteiro: Christopher Hampton / Elenco: Keira Knightley, James McAvoy, Romola Garai, Saoirse Ronan, Brenda Blethyn, Vanessa Redgrave, Juno Temple / Sinopse: Garota de família rica acusa jovem filho da governanta de ter cometido um estupro o que o coloca em uma situação extremamente delicada, mesmo sendo inocente das acusações.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Duro de Matar: Um Bom Dia Para Morrer

Sempre que a carreira começa a declinar o ator Bruce Willis tira seu grande trunfo da manga e começa a se envolver em mais um filme da franquia Duro de Matar. Esse aqui é o quinto da série que definitivamente já teve dias melhores. O roteiro é bem fraco e a tentativa de usar os russos como vilões soa datada e fora de propósito (alguém por favor deveria avisar a esses roteiristas que a Guerra Fria acabou há muito tempo!). Para piorar a trama também não é das mais inspiradas e deixa muito a desejar. No filme o tira John McClane (Bruce Willis) descobre que seu filho está em apuros no outro lado do mundo, na gelada e distante Rússia! Jack (Jai Courteney) está em uma prisão que parece ter saído dos tempos de Stalin. Para piorar há toda uma disputa para se colocar as mãos em armas nucleares que mais cedo ou mais tarde poderiam ser comercializadas para terroristas internacionais. A solução? Muita ação e pancadaria ministradas por McClane e seu filho problema.

Agora a constatação mais surpreendente dessa produção: apesar das inúmeras explosões, apesar das cenas de ação sem freios e tudo mais o filme não consegue escapar do tédio absoluto. É a tal coisa, filmes de ação para funcionarem bem precisam ter um certo recheio, personagens que realmente nos façam se importar com eles. Não é o caso do filho de John McClane. Em certo momento deixamos simplesmente de torcer por ele pois tanto faz que sobreviva ou não. Até mesmo Bruce Willis demonstra uma certa expressão de enfadonho no meio das cenas impossíveis de ação. Ao que parece esse foi mesmo um roteiro que não empolgou ninguém – embora o filme mais uma vez tenha alcançado uma boa bilheteria que em última análise é fruto direto da força do nome comercial da franquia e nada mais. Assim é impossível não ficar com gostinho de decepção no final da sessão pois não é um filme marcante e nem muito menos inteligente. É ação requentada dos filmes mais simplórios da década de 80. O problema é que não estamos mais nos anos 80 e Bruce Willis já não soa como um ator tão bacana como era há 30 anos atrás. Já está na hora de pendurar as metralhadoras.

Duro de Matar: Um Bom Dia Para Morrer (A Good Day to Die Hard, EUA, 2013) Direção: John Moore / Roteiro: Roderick Thorp, Skip Woods / Elenco: Bruce Willis, Patrick Stewart, Jai Courtney, Cole Hauser, Amaury Nolasco, Megalyn Echikunwoke,/ Sinopse: O policial americano John McClane (Bruce Willis) vai até Moscou para resgater seu filho Jack (Jai Courteney) que se encontra prisioneiro de um grupo de terroristas internacionais.

Pablo Aluísio.

Lolita

Sempre foi muito polêmica a obra Lolita. O livro de autoria do escritor Vladimir Nabokov sempre despertou reações extremas. Acusado de ser pornográfico e incentivador da pedofilia, o texto causou reações quando foi publicado e continuou a causar debates acalorados quando foi adaptado para as telas. A primeira adaptação para o cinema foi realizada em 1961 e foi dirigida pelo mestre Stanley Kubrick. Desnecessário dizer que o cineasta foi acusado de praticamente tudo com seu lançamento. Na época o estúdio foi bombardeado com uma avalanche de cartas de protestos pelo fato de ter sido produzido um filme em cima do livro “maldito” de Nabokov. A bilheteria não foi expressiva e por muitos anos “Lolita” ficou de lado. Até que em 1997 o diretor Adrian Lyne resolveu se unir ao produtor de “Rambo”, Mario Kassar, para trazer de volta o livro às telas. Apesar de tanto tempo ter passado as reações contra o filme não se apaziguaram. O tema continua tão explosivo quanto antes e o filme novamente enfrentou protestos e boicotes, tanto que acabou indo parar diretamente na TV nos Estados Unidos (o circuito comercial não resolveu arriscar a exibição do filme em cinemas convencionais).

E afinal porque tanta celeuma? Do que afinal se trata “Lolita”? Bom, o enredo é relativamente muito simples e direto: Mr. Humbert (Jeremy Irons) é um escritor em crise, que enfrenta as desilusões da meia-idade chegando. Sua melancolia porém chega ao fim quando algo extraordinário ocorre em sua vida. Sem idéias novas para seu novo livro ele acaba prestando atenção numa garota de 12 anos (interpretada por Dominique Swain) que está chegando na puberdade. No começo Humbert resiste aos pensamentos mais ardentes em relação à garota mas aos poucos começa a perceber que ela não só começou a perceber suas reais intenções como também passou discretamente a incentivar seu flerte inconseqüente. É óbvio que um enredo desses pode perturbar uma boa parcela da sociedade mas de maneira em geral o diretor Lyne criou um filme nada ofensivo, baseado muito mais na sugestão do que na vulgaridade. A garota, como não poderia deixar de ser, tem pensamentos bobos e infantis o que acaba despertando ainda mais o desejo do escritor mais velho. O elenco é liderado por Jeremy Irons, ator de muitos recursos que prefere aqui a sutileza, a discrição em cada momento. Outro excelente ator em cena é Frank Langella, novamente em bom momento na carreira. “Lolita” é interpretada pela jovem Dominique Swain que apesar de pouca idade não compromete. O tom é de erotismo leve, por essa razão não há motivos para se sentir ofendido. O filme seguindo a tradição do original de Kubrick tem bela e sofisticada direção de arte que ajuda a suavizar o tema central da obra. No fundo “Lolita” é mais uma produção romântica do que qualquer outra coisa. A paixão do escritor é praticamente toda platônica e sem se preocupar com julgamentos morais ele vai expondo seu ponto de vista no decorrer do filme. De qualquer modo, e apesar da polemica, vale a recomendação.

Lolita (Lolita, Estados Unidos, 1997) Direção: Adrian Lyne / Roteiro: Stephen Schiff baseado na obra de Vladmir Nabokov / Elenco: Jeremy Irons, Melanie Griffith, Frank Langella, Dominique Swain, Suzanne Shepherd, Keith Reddin / Sinopse: O filme narra a complicada atração de um escritor mais velho, em plena meia-idade, que começa a se sentir atraído por uma ninfeta de apenas 12 anos, a doce e inocente Lolita!

Pablo Aluísio.