segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Histórias Assustadoras para Contar no Escuro

Esse filme de terror foi lançado recentemente nos cinemas brasileiros e até fez uma carreira bem sucedida no circuito comercial. Assim que comecei a assistir ao filme pude perceber duas influências bem óbvias. A primeira vem em relação ao próprio "It" de Stephen King. Assim como no filme do palhaço temos aqui um grupo de adolescentes que começam a lidar com uma força sobrenatural poderosa. E tudo se passa numa pequena cidadezinha do interior. Numa noite de Halloween eles decidem entrar numa velha casa assombrada. Ali viveu uma rica família no passado, dona de uma fábrica da região. A filha do industrial era trancada em seu quarto, dada como louca. Enclausurada ela passou a escrever histórias de terror em um caderno e essas histórias acabaram saindo das páginas de papel para o mundo real. A jovem garota do grupo de adolescentes acaba encontrando esse manuscrito e abre uma maldição que vai atingir a todos.

Inicialmente pensei que o filme iria ter várias histórias relativamente independentes, como era comum em produções de terror dos anos 70 e 80, mas o diretor André Øvredal optou por uma linha narrativa mais tradicional, com um gancho central puxando todos os acontecimentos. A segunda semelhança com o sucesso de Stephen King vem do uso de criaturas sobrenaturais. Só que aqui devo confessar que fiquei um pouco decepcionado pois em se tratando de um filme que tem Guillermo del Toro como um dos roteiristas era de se esperar por algo mais criativo. Assim temos um espantalho que ganha vida no meio do milharal (e que não é nenhuma novidade em filmes de terror), um ser disforme que perde partes do seu corpo enquanto persegue suas vítimas e até uma estranha mulher gorda que absorve literalmente suas presas. Não é nada muito impactante. Por fim no quesito propriamente dito de dar sustos na plateia, devo dizer que não existe nada de muito assustador aqui. E isso não é uma boa notícia para um filme que se chama "Histórias Assustadoras para Contar no Escuro".

Histórias Assustadoras para Contar no Escuro (Scary Stories to Tell in the Dark, Estados Unidos, Canadá, China, 2019) Direção: André Øvredal / Roteiro: Guillermo del Toro, Dan Hageman, Kevin Hageman / Elenco: Zoe Margaret Colletti, Michael Garza, Gabriel Rush / Sinopse: Garota colegial e seus amigos de escola acabam achando um livro amaldiçoado numa velha casa assombrada. Nas páginas desse manuscrito todas as histórias de terror que são lidas acabam acontecendo no mundo real, trazendo horror e desespero para os moradores de uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos.

Pablo Aluísio. 

domingo, 13 de outubro de 2019

Jogo Entre Ladrões

Mais um filme sobre roubo de joias. Esse é um nicho ainda bem popular no cinema. Aqui dois ladrões profissionais interpretados por Morgan Freeman e Antonio Banderas, resolvem unir forças para roubar as milionárias joias que um dia pertenceram à dinastia Romanov da Rússia. O principal alvo vai para os famosos ovos Fabergé, maravilhosas peças cravejadas dos mais caros e finos diamantes. Cada uma valendo algo em torno de 20 milhões de dólares. O problema passa a ser colocar as mãos nessas peças, uma vez que elas ficam em um cofre com os mais modernos e rígidos esquemas de segurança. Para piorar a máfia russa entra na jogada e começa a chantagear os dois ladrões, pois caso eles não consigam roubar os ovos, a bela namorada de Banderas no filme será executada. 

Bom, considerei um filme bem na média. É uma fita rápida, com pouco mais de 90 minutos de duração. Não se perde muito tempo tentando desenvolver os personagens principais. Tudo é posto com uma relativa pressa em meu ponto de vista. Há uma ou outra cena mais sensual entre Banderas e a linda atriz australiana  Radha Mitchell (uma tremenda gata!) com cenas moderadas de nudez e sexo, mas fora disso tudo se concentra mesmo nos preparativos do roubo e na execução final dos planos. Nessas cenas do roubo propriamente dito é que está o calcanhar de Aquiles desse filme pois não vi nada de muito original ou criativo. Fica na média mesmo, mais do mesmo. Teria sido interessante ao roteiro desenvolver melhor a história das joias, como elas foram feitas, etc, mas como já escrevi o filme foi feito mesmo para ser algo rápido, sem delongas. No geral é apenas mediano. Uma dessas produções de roubos mirabolantes que apenas cumpre tabela, sendo de rotina. Nada espetacular ou memorável. Dá para assistir... e é só!

Jogo Entre Ladrões (Thick as Thieves, Estados Unidos, 2009) Direção: Mimi Leder / Roteiro: Ted Humphrey / Elenco: Morgan Freeman, Antonio Banderas, Radha Mitchell, Robert Forster, Rade Serbedzija / Sinopse: Dois ladrões profissionais unem forças para roubar as joias da dinastia Romanov, peças históricas e de grande valor no mercado negro. O problema vai ser superar o mais moderno sistema de segurança do cofre onde elas se encontram.

Pablo Aluísio.

Os Quatro Heróis do Texas

Joe Jarrett (Dean Martin) rouba 100 mil dólares de Zach Thomas (Frank Sinatra) e com o dinheiro investe em um grande barco cassino, uma embarcação que era muito comum no século XIX nos grandes rios do sul dos EUA. "Os Quatro Heróis do Texas" é uma produção muito fraca estrelada pelos dois maiores nomes do chamado Rat Pack, Sinatra e Martin. Eles já estiveram bem melhores antes mas aqui não convencem, não fazem rir e nem divertem. O filme tem um timing de comédia pastelão que nunca encontra o tom certo. As piadas são fracas e as situações não agradam. Sinatra está particularmente antipático em um papel sem qualquer empatia. Martin está um pouco melhor mas seu personagem também não ajuda muito. O título nacional mais uma vez se mostra equivocado pois não há nenhum herói na estória. Os tais quatro citados são Sinatra, Martin e as atrizes beldades Ursula Andress e Anita Ekberg. Essa última já havia contracenado com Dean Martin numa comédia ao lado de Jerry Lewis chamada "Ou Vai Ou Racha". Aqui ela repete o mesmo papel de mulher deslumbrante, só que servindo de par romântico para o apático Sinatra. Já a Bond Girl Ursula Andress não mostra a que veio em um personagem de nome masculino (Max) que pouco acrescenta no resultado final.

O que mais me deixou surpreso aqui é que o filme não foi dirigido por um diretor medíocre mas sim pelo excelente cineasta Robert Aldrich de tantos títulos marcantes em seu filmografia. Ele não só dirigiu a fita como a produziu. O que deu errado dessa vez? Acredito que o problema central de "Os Quatro Heróis do Texas" seja seu roteiro tolo e abobado que não consegue convencer nem como western e nem como comédia. Nem a participação especial dos Três Patetas consegue levantar a bola do humor do filme. Tudo é muito frouxo e sem graça. As piadas não funcionam e definitivamente Sinatra não tinha talento para esse tipo de filme. Em suma, um grande desperdício no final das contas. "Os Quatros Heróis do Texas" pode ser resumido como um filme ruim que foi dirigido por um excelente diretor e com um bom elenco. Pena que deu tudo errado.

Os Quatro Heróis do Texas (4 For Texas, EUA, 1963) Direção: Robert Aldrich / Roteiro: Teddy Sherman, Robert Aldrich / Elenco: Frank Sinatra, Dean Martin, Ursula Andress, Anita Ekberg / Sinopse: Joe Jarrett (Dean Martin) rouba 100 mil dólares de Zach Thomas (Frank Sinatra) e com o dinheiro investe em um grande barco cassino, uma embarcação que era muito comum no século XIX nos grandes rios do sul dos EUA.

Pablo Aluísio. 

Sabrina

Sabrina Fairchild (Audrey Hepburn) é a filha do chofer de uma rica família de Long Island. Ela nutre por muito anos uma paixão indisfarçável por David Larrabee (William Holden) o irresponsável e playboy filho mais novo do rico patrão de seu pai. Tempos depois vai a Paris para aprender a arte culinária da cozinha francesa e retorna completamente mudada, fina e elegante. Não demora muito a despertar a atenção dos irmãos Larrabee que agora irão disputar entre si o coração da bela jovem. "Sabrina" é o mais elegante filme da carreira de Billy Wilder. Tudo é de muito bom gosto na produção - roupas de grife, trilha sonora de alto nível e um clima de sofisticação que impera em todas as cenas. Audrey Hepburn encontra em Sabrina um papel bem adequado ao seu estilo de interpretação. Seus pretendentes em cena, Humphrey Bogart e William Holden, também estão muito bem em seus respectivos personagens, dois irmãos que são opostos entre si, o primeiro trabalhador e responsável e o segundo um playboy incorrigível.

Durante muitos anos "Sabrina" virou um ícone dos filmes românticos em Hollywood tanto que daria origem até mesmo a uma série de publicações de mesmo nome que exploravam bem um clima de romance idealizado, escrito e consumido por jovens que sonhavam com seu príncipe encantado. Curiosamente no filme Audrey acaba tendo que escolher entre a paixão platônica de sua adolescência ou a figura de um homem mais equilibrado e seguro de si o que demonstra que nem sempre o homem de seus sonhos é aquele que você pensava ser o ideal. Outro fato interessante é perceber como Audrey, mesmo no começo de sua carreira, não se mostra intimidada de contracenar com o mito Bogart que aqui deixa de lado seus personagens cínicos e perigosos que desempenhava em seus outros filmes. Na verdade ele entrou no elenco na última hora pois o ator que havia sido escalado inicialmente, Cary Grant, não se recuperou de um acidente que havia sofrido e por determinação médica foi afastado do filme. Já William Holden está bem diferente da imagem que estamos acostumados, ele surge em cena de cabelo pintado, um loiro falso que chama a atenção pelo exagero. "Sabrina" fez sucesso de público e crítica quando foi lançado. Concorreu a vários prêmios da Academia e levou o Oscar de Melhor Figurino (para Edith Head, uma veterana em Hollywood). Já o diretor Billy Wilder, que também assinava o roteiro, foi premiado pelo Globo de Ouro por seu belo texto. O filme ganharia uma nova versão na década de 90 com Harrison Ford mas esse remake era infinitamente inferior. Melhor ficar com o original mesmo, "Sabrina" é sem dúvidas uma ótima dica para o cinéfilo que procura um filme clássico com muita classe e elegância. Pode assistir sem receios que não vai se arrepender.

Sabrina (Sabrina, EUA, 1954) Direção: Billy Wilder / Roteiro: Billy Wilder, Samuel Taylor, Ermst Lehman / Elenco: Audrey Hepburn, Humphrey Bogart, William Holden / Sinopse: Sabrina Fairchild (Audrey Hepburn) é a filha do chofer de uma rica família de Long Island. Ela nutre por muito anos uma paixão indisfarçável por David Larrabee (William Holden) o irresponsável e playboy filho mais novo do rico patrão de seu pai. Tempos depois vai a Paris para aprender a arte culinária da cozinha francesa e retorna completamente mudada, fina e elegante. Não demora a despertar a atenção dos irmãos Larrabee que agora irão disputar entre si o coração da bela jovem.

Pablo Aluísio.

Justiceiro Implacável

Título no Brasil: Justiceiro Implacável
Título Original: Rooster Cogburn
Ano de Produção: 1975
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Stuart Millar
Roteiro: Charles Portis
Elenco: John Wayne, Katharine Hepburn, Anthony Zerbe, Richard Jordan, John McIntire, Paul Koslo
  
Sinopse:
Com roteiro escrito por Charles Portis, baseado em personagens da novela "True Grit" de Martha Hyer, o filme mostra a estória do velho xerife Rooster Cogburn (John Wayne) que resolve ajudar Eula Goodnight (Katharine Hepburn) na caça dos bandidos que assassinaram seu pai numa missão religiosa em um lugar remoto do Oregon. Juntos, eles precisam superar suas próprias diferenças pessoais para trazer um pouco de justiça ao velho oeste selvagem.

Comentários:
"Justiceiro Implacável" é uma espécie de continuação de "Bravura Indômita" com John Wayne retornando ao papel que lhe deu o Oscar. O interessante é que o roteiro é praticamente o mesmo do primeiro filme! Duvida disso? Então vejamos: Rooster Cogburn (John Wayne) é um Marshal beberrão e rabugento que vai em caça a um grupo de criminosos e a contragosto tem levar junto uma companheira cujo o pai foi morto por esses bandidos. O papel da vítima, que antes era da garotinha em "Bravura Indômita", agora é personificada pela grande dama do teatro e do cinema Katherine Hepburn em uma caracterização simpática e divertida. São personagens diferentes, mas que cumprem a mesma função nas duas produções. O único diferencial é que o humor está muito mais presente no roteiro desse filme. Se o anterior também tinha doses pontuais de humor, mas ao mesmo tempo mantinha uma postura mais séria e dramática, aqui o tom leve é muito mais acentuado. Katherine Hepburn e John Wayne parecem se divertir como nunca - levando pouca coisa è sério. Sua animação e clima ameno despontam em cada cena, em cada tomada.

É um western muito soft, sem qualquer carga dramática mais forte. A rabugice do personagem Rooster Cogburn, por exemplo, assume um tom frontalmente humorístico e cômico. Completando o clima bucólico, a produção ainda traz uma bela fotografia natural. O filme foi rodado numa reserva de preservação ambiental do Estado americano do Oregon e por isso há um farto aproveitamento das paisagens naturais do local, locações que realmente são de encher os olhos, com lindas florestas de pinheiros e longos rios de águas cristalinas. Destaque para as cenas filmadas em uma correnteza em um desses belos rios da região. Com tantos elementos suaves em cena a direção toma uma posição muito discreta. Confesso que obviamente minha preferência seria por Henry Hathaway, o diretor do primeiro filme. Em "Justiceiro Implacável" a direção ficou a cargo de Stuart Millar, um cineasta com pouca experiência para dirigir atores tão consagrados. Em conclusão, podemos dizer que "Rooster Cogburn" é bem inferior ao filme original, mas nem por isso é destituído de qualidades. No apagar das luzes só o fato de ver John Wayne contracenando ao lado de Katherine Hepburn, dois grandes mitos da história do cinema, já vale muito a pena para qualquer cinéfilo.

Pablo Aluísio.

sábado, 12 de outubro de 2019

Aeroporto

Um passageiro com problemas familiares e mentais resolve fazer um ato de terrorismo em um avião comercial. Para tentar controlar a situação de caos que se instala um experiente administrador de aviação civil e um especialista em situações de crise tentam manter o aeroporto em pleno funcionamento, mesmo com uma forte nevasca chegando no local. Aeroporto de 1970 foi um dos primeiros filmes catástrofe da história do cinema. O interessante é que tecnicamente ele até pode ser considerado um filme pipoca dos anos 70 por isso mas existe uma diferença muito grande entre os filmes desse tipo daquela época e os filmes de hoje que seguem a mesma linha. O roteiro tem um cuidado todo especial em desenvolver os personagens. O diretor do aeroporto, interpretado por Burt Lancaster, por exemplo, é mostrado em suas relações familiares, os problemas com sua esposa e o reflexo de toda essa situação em sua vida profissional. Quantos filmes pipocas de hoje em dia tem esse tipo de preocupação? Nenhum, os personagens são todos vazios, ralos, sem profundidade. Vide os filmes de James Cameron, Michael Bay e Roland Emmerich; todos eles filhos bastardos de filmes como Aeroporto.

Também gostei de rever o carismático Dean Martin. Além de ótimo cantor ele, apesar de não ser um grande ator, tinha uma persona em cena que sempre me agradou. A franquia Aeroporto ficaria conhecida depois por trazer de volta ao cinema vários veteranos das telas. Nesse temos além de Dean Martin, o sempre simpático e bom ator Burt Lancaster e George Kennedy, em um bom papel. A linda Jacqueline Bisset também está no elenco. Na continuação, Aeroporto 75 os produtores trariam de volta Charlton Heston. No terceiro filme seria a vez de Jack Lemmon e por fim no último filme da série, chamado Aeroporto, o Concorde, os espectadores teriam de presente as atuações de Alain Delon e Robert Vagner. Em termos técnicos temos que concordar que os efeitos desse primeiro Aeroporto envelheceram mas de certo modo são tão discretos que não comprometem o resultado final. Enfim, pensei que o filme fosse bem mais fraco mas me enganei, tem seu charme, tem seus momentos. Vale a pena conferir.

Aeroporto (Airport, EUA, 1970) Direção: George Seaton / Roteiro: George Seaton baseado na novela de Arthur Hailey / Elenco: Burt Lancaster, Dean Martin, George Kennedy, Jean Seberg, Jacqueline Bisset / Sinopse: Um passageiro com problemas familiares e mentais resolve fazer um ato de terrorismo em um avião comercial. Para tentar controlar a situação de caos que se instala um experiente administrador de aviação civil e um especialista em situações de crise tentam manter o aeroporto em pleno funcionamento, mesmo com uma forte nevasca chegando no local.

Pablo Aluísio.

O Estranho Sem Nome

Título no Brasil: O Estranho Sem Nome
Título Original: High Plains Drifter
Ano de Produção: 1973
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Tidyman, Dean Riesner
Elenco: Clint Eastwood, Verna Bloom, Marianna Hill, Geofrey Lewis, Mitchell Ryan, Stefan Gierasch
  
Sinopse:
Um estranho e misterioso pistoleiro errante (Clint Eastwood) chega na pequenina cidade de Lago. Hostilizado por alguns moradores locais, acaba tendo que usar de sua habilidade no gatilho. Após matar três deles é convidado para defender a cidade de um grupo de malfeitores que, ao saírem da prisão, tinham jurado vingança contra todos àqueles que os mandaram para atrás das grades. O estranho aceita defender Lago desses bandidos, mas começa a abusar de sua nova posição, enfrentando as autoridades locais e exigindo que se cumpra suas ordens, algumas delas bem absurdas, como pintar toda a cidade de vermelho, por exemplo.

Comentários:
Clint Eastwood estrelou alguns dos filmes de faroeste mais famosos da história do cinema. Aqui ele investe em uma trama com toques sobrenaturais, por mais fora do comum que isso possa parecer. “O Estranho Sem Nome” é um belo registro do talento de Eastwood como cineasta. Assumindo a direção pela terceira vez em sua carreira, ele mostra muita firmeza no desenrolar da história, criando inclusive todo um clima misterioso e enigmático sobre a verdadeira identidade de seu personagem, novamente um pistoleiro sem nome, sem passado e sem destino. Clint Eastwood se mostra muito habilidoso ao manipular e tirar o melhor proveito de alguns dos símbolos mais caros à mitologia do western. Por exemplo a figura do cavaleiro errante, solitário, que chega num pequeno local para impor justiça, promovendo sua própria vingança pessoal. O pistoleiro rápido e invencível no gatilho também está presente, além do suspense e tensão que rondam a chegada de um bando de facínoras na cidadela. Clint usa de todos esses elementos com elegância e nunca perde a mão no filme. Alguns poderiam até dizer que são meros clichês, alguns bem conhecidos, mas o fato é que sob o comando de Eastwood tudo soa como novo e impactante. Tem que realmente ser muito inventivo para conseguir algo assim – e Clint certamente conseguiu. “O Estranho Sem Nome”, um faroeste de primeira linha, merece ser revisto sempre que possível e mais ainda pelos fãs de Eastwood, aqui em plena forma.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Babel

Título no Brasil: Babel
Título Original: Babel
Ano de Produção: 2006
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Alejandro G. Iñárritu
Roteiro: Guillermo Arriaga
Elenco: Brad Pitt, Cate Blanchett, Adriana Barraza, Rinko Kikuchi, Gael García Bernal, Peter Wight,

Sinopse:
Um atentado terrorista atinge a vida de vários turistas estrangeiros no Marrocos, colocando em evidência o caos político e social daquele país. São quatro histórias que se encontram nesse trágico acontecimento. Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor filme, roteiro, direção, atriz coadjuvante (Adriana Barraza e  Rinko Kikuchi) e edição.

Comentários:
O roteiro segue o estilo mosaico, ou seja, vários personagens com histórias diferentes e independentes são contadas ao longo do filme, para depois todos se encontrarem numa mesma situação limite, criando assim o clímax do filme. O ator Brad Pitt decidiu apoiar o projeto do diretor Alejandro G. Iñárritu, nesse que pode ser considerado seu primeiro grande filme em Hollywood. O resultado ficou interessante, diria regular, mas não excepcional. Roteiros que seguem essa linha podem deixar o enredo tão fluido que pode despertar a falta de interesse no público. O ponto que une todos os personagens é um ônibus cheio de turistas no Marrocos. Um tiro é disparado, pessoas se ferem, o veículo sai da estrada. Dentro há um grupo de pessoas cujas histórias o roteiro vai contar aos poucos. Tive a oportunidade de assistir no cinema e embora seja um bom filme, não me empolgou muito. Concorreu ao Oscar de melhor filme do ano (o que me pareceu um exagero), mas não venceu. Com sete indicações acabou levando uma estatueta por uma categoria dita secundária, melhor trilha sonora incidental, para o maestro Gustavo Santaolalla. Brad Pitt ficou um pouco decepcionado porque foi indicado ao Globo de Ouro de melhor ator. Ele tinha chances de vencer, mas saiu de mãos vazias. De qualquer maneira é um filme que merece ser conhecido e assistido, nem que seja pelo menos uma vez.

Pablo Aluísio.

Os Que Chegam Com a Noite

Esse foi o último filme que Brando fez antes de sua consagração em "O Poderoso Chefão". Ele foi filmado na Inglaterra o que levou muitos jornalistas a decretarem o fim de sua carreira na época! Muitos diziam que nenhum estúdio de Hollywood bancaria mais filmes com o ator não apenas por seu terrível temperamento nas filmagens mas também porque Brando não significava mais retorno imediato nas bilheterias uma vez que seus últimos lançamentos se tornaram fracassos comerciais. Processado por ex-mulheres, sendo perseguido pela imprensa por causa de sua disfuncional vida familiar o ator não viu outra saída senão trocar de ares - o que fez muito bem. "Os Que Chegam Com a Noite" é um filme por demais interessante. Todo rodado na Inglaterra rural a produção se apresenta como um prequel do famoso livro de Henry James, "Turn of the Screw" (no Brasil, "A Volta do Parafuso").

Certamente eu já tinha propensão a gostar desse estilo de filme por dois motivos: gosto de tramas passadas na Inglaterra rural (sou fã de cineastas como James Ivory) e tenho a tendência de sempre gostar das atuações de Marlon Brando, mesmo quando ele não está particularmente inspirado. Aqui o ator se apresenta de forma natural, sem exageros à la Actors Studio. O personagem simplista, um trabalhador comum chamado Peter Quint, caiu como uma luva para a personalidade do ator. Cabelos grisalhos, grandes e despenteados Brando dá um tom selvagem e indomado ao criado da bela mansão do filme e mais uma vez rouba as atenções para si. Também gostei do clima bucólico que reina em praticamente todo o filme. O que acaba enganando o espectador pois por baixo dessa normalidade se esconde uma situação terrível, o que desencadeará eventos macabros. Inclusive para uma experiência cultural plena aconselho não apenas assistir a esse "The Nightcomers" mas também a leitura do livro, seguida da exibição de outra produção inspirada na mesma obra, o muito bem sucedido "Os Inocentes", um marco do terror psicológico.

Os Que Chegam Com a Noite (The Nightcomers, EUA, 1971) Direção: Michael Winner / Roteiro: Michael Hastings inspirado na obra de Henry James, "A Volta do Parafuso" / Elenco: Marlon Brando, Stephanie Beacham, Thora Hird / Sinopse: O filme mostra os acontecimentos que antecedem a trama do livro "A Volta do Parafuso" do consagrado escritor Henry James.

Pablo Aluísio.

Flechas de Fogo

Cowboy (James Stewart) encontra jovem índio agonizando no meio do deserto após ser atacado por tropas americanas. O socorre e acaba se tornando amigo da nação Apache liderada pelo chefe Cochise (Jeff Chandler). O problema é que o mesmo grupo está em guerra contra o exército americano pela posse do selvagem território do Arizona. Ciente da situação o personagem de James Stewart se coloca a disposição para servir de intermediário em um tratado de paz entre as nações indígenas e o governo dos Estados Unidos sob a presidência do general Grant. Muito curioso esse western que décadas antes de "Dança com Lobos" tratou a questão indígena de forma muito correta e realista. Há uma preocupação do roteiro em mostrar aspectos da cultura dos Apaches, suas danças, festejos. O filme chega ao ponto de mostrar um homem branco se apaixonando por uma jovem índia, algo bem ousado para os anos 50.

James Steward apresenta sua personagem habitual: homem virtuoso, honesto, de boa índole. O único problema mais visível de Flechas de Fogo é a escalação de Jeff Chandler como o chefe da nação Apache. Chandler tinha traços bem americanos e nem a maquiagem forte ameniza esse aspecto. Curiosamente tirando ele e a jovem índia que se apaixona por Stewart nenhum dos demais indígenas do filme apresentam traços de homem branco - são índios ou descendentes mesmo, puro sangue. O filme foi dirigido pelo veterano cineasta Delmer Daves que faria pelo menos mais dois clássicos de western nos anos seguintes: "A Lei do Bravo" (outro western respeitoso com a causa do nativo americano) e "A Última Carroça". Seu maior sucesso comercial viria como roteirista ainda na década de 50 com o famoso "Tarde Demais Para Esquecer". Enfim, "Flechas de Fogo" (cujo título original é flecha quebrada - símbolo de paz entre os Apaches) vale a pena por ser socialmente consciente e à frente de seu tempo

Flechas de Fogo (Broken Arrow, EUA, 1950) Direção de Delmer Daves / Roteiro de Elliott Arnold (novela), Albert Maltz / Com James Stewart, Jeff Chandler e Debra Paget / Sinopse: Cowboy (James Stewart) encontra jovem índio agonizando no meio do deserto após ser atacado por tropas americanas. O socorre e acaba se tornando amigo da nação Apache liderada pelo chefe Cochise (Jeff Chandler). O problema é que o mesmo grupo está em guerra contra o exército americano pela posse do selvagem território do Arizona.

Pablo Aluísio.