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segunda-feira, 11 de março de 2013

Estrada Para Perdição

Muito provavelmente o melhor filme da carreira de Sam Mendes (embora “Beleza Americana” costumeiramente ostente esse título). “Estrada Para a Perdição” é uma homenagem ao cinema clássico, mais particularmente aos chamados filmes noir, com suas sombras e personagens fatais. O clima de nostalgia se reflete inclusive na estrutura do roteiro que foi escrito em cima das memórias de um homem adulto que relembra sua conturbada infância. A estória se passa na década de 1930 no auge da era dos gangsters. Michael Sullivam Jr (Tyler Hoechlin) relembra os poucos momentos que conviveu ao lado do pai, Michael Sullivan (Tom Hanks). Ele é homem de confiança de um irlandês poderoso e ameaçador, John Rooney (Paul Newman em atuação primorosa) que manda Sullivan realizar alguns serviços sujos para ele. O problema é que o garotinho acaba descobrindo toda a verdade desencadeando uma série de problemas envolvendo inclusive a chamada “queima de arquivo” pois ele agora se torna um alvo em potencial uma vez que testemunhas de crimes não vivem de acordo com a lei imposta pelo chefão Rooney. Para liquidar o jovem é enviado então Connor (Daniel Graig) mas tudo acaba saindo muito errado.

No fundo o roteiro lida com aquela situação tão comum no mundo do crime, conhecida popularmente como “acerto de contas”. Em um ambiente tão brutal poucos acabam sobrevivendo às regras impostas pelo crime organizado. Além da direção excepcional de Sam Mendes o filme “Estrada da Perdição” se destaca ainda por dois aspectos que logo chamam a atenção. O primeiro é o elenco simplesmente primoroso. Tom Hanks e Paul Newman brilham intensamente. Hanks consegue captar todo o conflito psicológico de seu personagem pois de uma hora para outra ele se vê entre a lealdade ao seu chefe e a proteção ao seu próprio filho. Já Paul Newman, o mito, se despede do cinema com uma obra digna de seu talento. Seu papel é intenso, sem concessões e o ator, mesmo com a idade já bem avançada, esbanja sofisticação e elegância, mesmo em um personagem tão brutal e violento. Coisa que só grandes mestres conseguem. O elenco principal é completado ainda por Daniel Graig (antes de virar Bond) e Jude Law (perfeito como um matador da máfia com ares de psicopata cruel). A segunda grande característica que salta aos olhos aqui é a linda direção de arte que recria o clima da década de 1930 com extremo bom gosto. Tudo é perfeitamente recriado nos mínimos detalhes, carros, utensílios, armas, moveis, figurinos, um primor transformando “Estrada Para Perdição” em um filme bonito de se assistir, realmente belo e bem fotografado. Em suma, uma obra prima moderna com o sabor dos antigos filmes de gangster. Quem precisa de mais alguma coisa? Simplesmente imperdível.

Estrada Para Perdição (Road to Perdition, Estados Unidos, 2002) Direção: Sam Mendes / Roteiro: David Self baseado na graphic novel de Max Allan Collins e Richard Piers Rayner / Elenco: Tom Hanks, Paul Newman, Jude Law, Daniel Craig, Jennifer Jason Leigh, Tyler Hoechlin, Rob Maxey / Sinopse: Garoto, filho de um assassino da máfia, se vê em perigo de vida após presenciar um crime dentro da organização da qual seu pai faz parte.

Pablo Aluísio.

sábado, 25 de agosto de 2012

Desafio à Corrupção

"Desafio à Corrupção" é uma crônica sobre o fracasso pessoal. O personagem principal, Eddie Felson (Paul Newman), é em essência um pequeno golpista que leva sua vida em espeluncas de sinuca onde engana os desavisados. Ele se faz passar por um idiota que não sabe jogar, perdendo algumas partidas fáceis. Seu papel de "pato" atrai outros jogadores que aceitam apostar quantias vultuosas pensando ganhar um dinheiro fácil. Uma vez apostado somas altas Eddie finalmente se revela mostrando toda sua grande habilidade no jogo. Sem emprego, casa ou destino, Eddie vai levando sua vida partida após partida, até enfrentar um grande jogador como ele, Minnesota Fats (Jackie Gleason) . O destino desse confronto vai mudar os rumos de sua vida. Eddie pretende vencer o grande mestre para provar a si mesmo que é um vencedor e não um fracassado como foi definido por Bert Gordon (George C. Scott), um agenciador de apostas e escroque local. 

É impressionante a quantidade de grandes filmes na carreira de Paul Newman. Aqui ele realiza uma de suas atuações mais brilhantes, tanto que foi indicado ao Oscar de Melhor ator. Injustamente não venceu o prêmio mas a justiça se faria anos depois quando Newman retornaria ao mesmo personagem em "A Cor do Dinheiro" ao lado de Tom Cruise. Após tanto tempo Paul Newman finalmente sairia vencedor na categoria. Justiça tardia mas bem-vinda certamente. Outro atrativo do elenco é a presença de Jackie Gleason como Minnesota Fats. O comediante se revela um ator dramático de mão cheia. "Desafio à Corrupção" foi indicado a vários prêmios, inclusive Melhor Filme, mostrando sua imensa qualidade cinematográfica. O roteiro, muito bem escrito, disseca a tênue linha existente entre a vitória e a derrota. A vida é representada pela mesa de bilhar, onde destinos parecem fluir ao sabor das tacadas, resultando numa excelente metáfora sobre a vida e morte dos personagens. "The Hustler" é uma obra prima do cinema. Simplesmente obrigatório.  

Desafio à Corrupção (The Hustler, Estados Unidos, 1961) Direção: Robert Rossen / Roteiro: Sidney Carroll, Robert Rosset baseado na obra de Walter Tevis / Elenco: Paul Newman, Jackie Gleason, Piper Laurie, George C. Scott, Murray Hamilton / Sinopse: Eddie Felson (Paul Newman) é um "Hustler", um enganador de mesas de sinuca. Se fazendo passar por um "pato" ele leva pessoas a apostarem grandes somas de dinheiro com ele. Após apostado todo o dinheiro ele finalmente se revela como o grande jogador que é, ganhando a aposta.  

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O Cálice Sagrado

Esse é o primeiro filme da carreira de Paul Newman. Isso por si só já basta para atiçar a curiosidade de qualquer cinéfilo. Além de Newman há no elenco atores e atrizes que de uma forma ou outra entraram na história do cinema como Jack Palance (como Simão, o Mago) e Pier Angeli (a namoradinha e grande amor da vida de James Dean). Pois bem, a primeira coisa que chama a atenção de quem assiste "O Cálice Sagrado" é sua estranha direção de arte. Tudo soa estilizado no filme, principalmente os cenários que são pouco realistas, parecendo até mesmo ambientações para peças de teatro. Cheguei a pensar que se tratava de uma produção pobre mesmo mas depois em uma cena de crucificação coletiva entendi finalmente a intenção do diretor. Não é que o filme seja mal feito mas se trata realmente de uma opção artística do cineasta Victor Saville (um veterano da época do cinema mudo).

O roteiro mistura ficção com realidade histórica (pelo menos para os que aceitam o conteúdo bíblico como fato histórico). Personagens que na Bíblia são secundários aqui ganham bastante atenção como José de Arimatéia e Simão, o Mago. Esse último é citado no novo testamento como um mágico que desafiou Pedro publicamente. Ofereceu dinheiro pelo poder de realizar milagres e foi repelido pelo principal apóstolo de Cristo. A cena final com Simão tentando provar ao imperador Nero que poderia voar (algo que nem Jesus conseguiu em vida) é muito divertida mesmo. Enfim, apesar de Newman ter odiado sua atuação aqui (chegou a publicar um pedido de desculpas em um jornal americano por sua fraca atuação) não posso dizer que o resultado final seja ruim. "O Cálice Sagrado" é um épico diferente, estranho até em certas passagens, mas que tenta ser inteligente e instigante. Isso já justifica sua existência.

O Cálice Sagrado (The Silver Chalice, Estados Unidos, 1954) Direção: Victor Saville / Roteiro: Thomas B. Costain, Lesser Samuels / Elenco: Paul Newman, Virginia Mayo, Pier Angeli, Jack Palance / Sinopse: Escravo de nome Basilio (Paul Newman) é designado para a confecção daquele que teria sido o último cálice usado por Jesus Cristo na última ceia.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Exodus

O filme Exodus, lançado em 1960, trata da delicada questão da criação do Estado de Israel. É uma obra cinematográfica de fôlego com três horas e trinta minutos de duração, dividida em três atos distintos que tentam no fundo dar um rosto (ou rostos) ao povo judeu no momento de nascimento de sua nação. No primeiro ato somos apresentados a um campo de refugiados (na realidade prisioneiros) administrado pelos britânicos na ilha de Chipre. O local era utilizado pelos ingleses para abrigar temporariamente grupos de judeus que tentavam chegar até a Palestina de navio.

Nesse primeiro ato logo somos apresentados ao personagem Ari Ben Canaan (interpretado por Paul Newman), cuja principal função na ilha é retirar uma parcela desses judeus em cativeiro para levá-los até a Palestina, para que com isso crie pressão sobre a ONU na aprovação da criação de Israel. O segundo ato já se desenvolve nos assentamentos judeus na Palestina e tenta mostrar o cotidiano dessas famílias empenhadas em ficar no país e assim começar uma nova nação. Finalmente no terceiro ato temos a criação de Israel e as reações (algumas vezes violentas) que esse fato gerou, principalmente por parte da população palestina, que naquela altura sentiu que simplesmente estavam tomando sua nação e seu país e a entregando aos recém chegados judeus. O tema é melindroso e até hoje repercute. O filme, é claro, toma partido ao lado do povo judeu e sua causa, até porque não seria diferente haja visto que os grandes estúdios de Hollywood são administrados e comandados por judeus.

E justamente por isso talvez Exodus não seja uma obra completa. O ponto de vista é unilateral, focado apenas na visão judia da questão. Tirando um único personagem (um palestino que nutre amizade e simpatia por um personagem judeu) nada mais nos é mostrado sobre o outro lado da questão, sobre a forma de agir e pensar do povo palestino naquele momento. O roteiro não esconde e nem tenta disfarçar de que lado realmente está. Como a questão Israel - Palestina é muito mais complexa do que isso ficamos com a sensação pouco confortável de estarmos assistindo na realidade um grande e pomposo manifesto político em prol de Israel.

Já sobre o filme em si, tecnicamente falando, a produção apresenta alguns problemas. O maior deles talvez seja a duração excessiva. O filme em alguns momentos se arrasta, cenas sem grande importância ganham um destaque desproporcional. O filme poderia sem problemas ter duas horas de duração sem perda de conteúdo. A direção de Otto Preminger por sua vez comete alguns erros primários (em certos momentos podemos perceber a sombra da câmera e do cameraman se projetando sobre os atores). São coisas menores mas que em certos momentos incomodam. Já a trilha sonora, ainda hoje lembrada, é um destaque. O compositor Ernest Gold foi inclusive premiado com o Oscar por seu trabalho. Enfim, Exodus é um bom filme e só peca pela tentativa de fazer propaganda política sem dar chance à outra parte de se manifestar, fora isso é um bom passatempo, isso claro se você tiver disposição de assistir uma película com uma duração tão excessiva como essa.

Exodus (Exodus, Estados Unidos, 1960) / Direção: Otto Preminger / Roteiro: Dalton Trumbo / Elenco: Paul Newman, Eva Marie Saint, Ralph Richardson, Peter Lawford, Lee J. Cobb / Sinopse: O filme mostra diversos eventos que deram origem à criação do Estado de Israel ao mesmo tempo em que o mesmo luta para sobreviver diante da hostilidade das nações vizinhas.

Pablo Aluísio.

domingo, 11 de novembro de 2007

Paul Newman e o seu Tempo

Quando Paul Newman surgiu no mundo do cinema muitos o compararam com James Dean, o ídolo rebelde. Afinal eles tiveram praticamente as mesmas origens, estudaram nas mesmas escolas, moraram nos mesmos lugares e até mesmo se conheceram pessoalmente, se tornando amigos. Dean gostava de Newman e acreditava que ele um dia iria se tornar um astro. Estava mais do que certo. Havia um espírito de camaradagem e amizade entre eles porque afinal de contas ambos eram ex-alunos da principal escola de arte dramática de Nova Iorque: o Actors Studio. 

Fundado por Elia Kazan, essa pequena escola fincada no 44th Street do bairro de Hell's Kitchen, formou uma geração de grandes atores como Marlon Brando, Al Pacino e os próprios James Dean e Paul Newman. Kazan queria que a arte dramática atingisse um novo patamar de excelência, tanto nos palcos como nas telas de cinemas. Paul Newman acreditava nesse ideal e seus primeiros trabalhos nos palcos de Nova Iorque foram maravilhosos. Ele surpreendeu a crítica não apenas por causa de seu ótimo visual, mas também pelo talento que demonstrava ao interpretar seus personagens. 

Como Paul Newman estava se destacando nas peças teatrais e também em aparições na TV americana, onde interpretava personagens épicos em grandes adaptações de autores consagrados para o mundo da televisão, ele logo chamou a atenção dos grandes estúdios de Hollywood. Era o mais forte candidato a substituir James Dean. Claro que o tempo iria demonstrar que Paul Newman não era apenas o sucessor de Dean. Ele era um artista completo, com suas próprias peculiaridades, qualidades e personalidade. E Newman também não queria ser visto apenas como uma espécie de herdeiro de James Dean. Isso o limitaria demais como ator. Ele obviamente queria ter o seu próprio espaço. 

A estreia de Newman em Hollywood porém foi bem decepcionante. Sem ter experiência, ele sucumbiu aos interesses dos executivos da Warner Bros. Ele imediatamente foi escalado para atuar na produção "O Cálice Sagrado", filme dirigido pelo cineasta Victor Saville. Era um épico sobre as origens do cristianismo. Um filme de época, que para falar a verdade não era o mais adequado para Newman naquele momento de começo em sua carreira no cinema. O roteiro tinha problemas, sendo reescrito a todo tempo, enquanto se filmava às pressas. A direção de arte também era bem estranha, com cenários e ambientação fugindo demais do que era esperado de um filme como aquele. O clima de tensão e stress não ajudou em nada e anos depois o próprio Paul Newman reconheceu que sua atuação havia deixado muito a desejar. Logo ele, que tanto primava por atuar bem. Quando o filme surgiu nas telas, Newman decidiu fazer algo inédito na história de Hollywood, publicando uma carta nos jornais pedindo desculpas por sua fraca atuação. Ele prometia melhorar nos próximos filmes em que iria atuar. 

Pablo Aluísio.

sábado, 10 de novembro de 2007

Paul Newman

Quando Paul Newman faleceu em setembro do ano passado muitos jornalistas escreveram que ele seria o último membro da geração de Marlon Brando e James Dean. Não era bem assim. Newman pode ser considerado no máximo uma espécie de caçula daquele grupo fantástico de atores que despontaram nas telas de cinema nos anos 50. Embora no começo de sua carreira o ator tenha sido fortemente influenciado pelo estilo de interpretação de Brando e cia, ele só se firmou e criou identidade na segunda metade daquela década. Foi com "Marcado pela Sarjeta" que Newman finalmente encontrou o seu próprio estilo, criando a imagem que todos conhecemos. Esse tenso drama havia sido escrito inicialmente para ser estrelado por James Dean, que chegou inclusive a elogiar o personagem em entrevistas antes do trágico acidente que o vitimou. Com o falecimento de Dean, o papel foi parar nas mãos de Newman que não desperdiçou a grande oportunidade.

Seu segundo grande papel porém só veio após três outros longas, em Mercador de Almas. Essa é a primeira grande interpretação do ator. O personagem em si é um presente, um sujeito sem qualquer tipo de valor moral, que quer apenas subir na vida, não importando em nenhum momento os meios para atingir seus objetivos. Com ele Newman foi premiado no prestigioso Festival de Cannes e consolidou-se como um dos mais talentosos astros de Hollywood. Depois disso foi uma sucessão de grandes momentos: Desafio a Corrupção, O Doce Pássaro da Juventude. Rebeldia Indomável e o famoso filme em que foi dirigido por Hitchcock, o drama de espionagem Cortina Rasgada. No final da década de 60 estrelou ainda o grande sucesso de toda a sua filmografia: Butch Cassidy, onde ao lado do parceiro Robert Redford recriou um dos grandes mitos da história do western americano. A parceria inclusive renderia outro grande sucesso, Golpe de Mestre, delicioso filme que foi merecidamente consagrado pelo Oscar.

Elencar a longa lista de grandes filmes soa desnecessário. Newman foi um caso raro de astro que não perdeu o pique ao longo dos anos. Mesmo quando já estava com uma certa idade nunca deixou de estrelar boas produções. Também foi singular em sua vida pessoal. Foi casado por longos anos com a atriz Joanne Woodward, tendo inclusive estrelado vários filmes ao seu lado ao longo da carreira. Quando perguntado como conseguia ser fiel em Hollywood, Newman se saía com uma tirada bem humorada: "Para que fazer besteira com hambúrgueres se tenho um filé de primeira em casa?" Porém como nenhuma história é perfeita, Newman também sofreu sua cota de tragédias pessoais, sendo a mais marcante a morte de seu filho Scott, por overdose de drogas, na década de 70.

No mês passado completou-se um ano de sua morte. Paul Newman deixou sua marca certamente. Ao contrário da introspecção de um Montgomery Clift, dos dramas pessoais de um James Dean ou da paixão de um Marlon Brando, Newman preferiu abraçar personagens menos profundos e atormentados, fazendo geralmente sobreviventes do dia a dia, pessoas que tentavam vencer as adversidades da vida da melhor forma possível e com os meios que tinham ao alcance das mãos. Foi reconhecido tardiamente pela academia ao ganhar o Oscar por "A Cor do Dinheiro", filme que estrelou ao lado de Tom Cruise. De qualquer forma antes tarde do que nunca. No fim da vida anunciou sua aposentadoria com muita dignidade ao afirmar: "Eu não sou capaz de trabalhar mais, não no nível em que eu quero. Você começa a perder sua memória, você começa a perder sua confiança, você começa a perder sua invenção. Então eu acho que o livro fechou para mim". De qualquer forma uma coisa é certa, o ciclo de sua obra jamais se fechará pois certamente sempre será renovada no interesse das novas gerações de cinéfilos que conhecerão sua extensa e rica filmografia nos anos que virão.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

500 Milhas

Esse filme estrelado por Paul Newman é bem curioso. Passa longe de ser um de seus mais conhecidos trabalhos no cinema mas também tem curiosidades que o fazem único. A primeira delas é o fato do tema do filme ser uma das grandes paixões do ator em sua vida pessoal: o automobilismo. Apaixonado por carros de corrida, Newman nunca mais abandonou as pistas depois das filmagens desse longa, tanto que anos depois acabou fundando sua própria equipe, a Newman / Racing, que acabou se tornando uma das principais escuderias da Formula Indy. De fato, ao se assistir 500 milhas percebemos bem que estamos na presença de um astro que bancou uma produção complicada apenas para homenagear sua grande paixão.

O filme até tenta colocar uma certa profundidade em seu roteiro. O personagem de Newman, por exemplo, se envolve com uma mulher divorciada (interpretada por sua esposa na vida real, Joanne Woodward) mas esse lado do filme logo naufraga. Mesmo tentando o ator não consegue convencer nas cenas dramáticas. Newman aparece apático e sem empolgação nesses momentos, algo completamente diverso do que ocorre nas cenas em que corre nas pistas. No volante de um carro possante Newman se transforma completamente e aí entendemos a razão de ser da produção, pois no fundo tudo se resume ao fato do ator se divertir no circo da Indy. As próprias locações refletem isso. Não satisfeito em filmar no templo de Indianapolis, Paul Newman faz um verdadeiro tour pelas principais pistas e categorias da época. Obviamente para quem gosta do esporte certamente é um prato cheio.

O grande destaque fica mesmo nas cenas de corrida. Nesse ponto o diretor demonstra que as tomadas e os ângulos de câmera que foram produzidas justificaram plenamente a existência do filme. Realmente as cenas de competição estão entre as melhores já mostradas nas telas de cinema. São empolgantes e bem documentadas. O interessante é que além de extremamente bem fotografadas dentro dos circuitos, o filme mostra ainda um panorama bem abrangente de toda a movimentação que cercava todos esses grandes prêmios. Enfim, Winning jamais será mais lembrado que os grandes clássicos da carreira de Newman, mas certamente mostra um dos aspectos mais curiosos e interessantes da personalidade do ator. Não vai mudar sua vida mas também não será nada penoso se divertir por duas horas no volante ao lado de Paul Newman.

500 Milhas (Winning, Estados Unidos, 1969) Estúdio: Universal Pictures / Direção: James Goldstone / Produção: John Foreman / Roteiro: Howard Rodman / Elenco: Paul Newman, Joanne Woodward, Robert Wagner, Richard Thomas Jr, David Sheiner / Sinopse: Capua (Paul Newman) é um piloto de corridas tenta se tornar o campeão em uma das corridas mais importantes do automobilismo americano, as 500 milhas de Indianapolis.

Pablo Aluísio. 


sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Gata em Teto de Zinco Quente

Gata em Teto de Zinco Quente
Foto de recordação do elenco de um filme "Gata em Teto de Zinco Quente". Baseado na peça escrita por Tennessee Williams, que escreveu a peça "Cat on a Hot Tin Roof" para o teatro, a história era uma maneira do autor atingir o coração daquelas velhas famílias dita tradicionais, muito comuns no sul do país, onde imperava realmente a pura hipocrisia sulista. Isso sem falar no passado vergonhoso ligado à escravidão, afinal a grande maioria das riquezas dessas famílias tradicionais tinham nascido com o uso intensivo de mão de obra escrava nas grandes plantações de algodão.

O filme foi dirigido por Richard Brooks e foi bastante elogiado pela crítica da época. Para muitos esse seguiu sendo o melhor filme da carreira da atriz Elizabeth Taylor que teve a chance de contracenar com o ídolo e astro Paul Newman (que passava quase todo o filme com um gesso na perna, pois isso fazia parte do seu papel no roteiro). Paul Newman inclusive sempre elogiava o filme, dizendo que ele havia se tornado superior ao próprio texto original, da peça teatral. Será mesmo?

Lançado em 1958 a versão cinematográfica causou sensação, sendo indicado a seis categorias no Oscar. Paul Newman foi indicado ao Oscar de melhor ator. Elizabeth Taylor também teve sua indicação. Ela inclusive foi apontada na época como uma das favoritas a levar o prêmio. O roteiro a cargo do diretor Richard Brooks (em parceria com James Poe) também foi lembrado. Melhor filme e melhor direção de fotografia (para William H. Daniels) completaram a lista de indicações.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Paul Newman - Em busca de novos rumos

Depois da péssima estréia no cinema com "O Cálice Sagrado", Newman resolveu esperar por algo melhor. Afinal não adiantava voltar ao cinema em qualquer produção pois o que seria arranhada no final seria sua imagem e principalmente seu prestígio. Sem pressa para retornar às salas de cinema Paul Newman resolveu aparecer em algumas séries e programas de TV. Ainda em 1955 interpretou o personagem Mack na série "Appointment with Adventure" da CBS. Acabou trabalhando em dois episódios desse programa que acabou se tornando bem recebido por parte do público e crítica. Além dos elogios achou muito positivo sua exposição perante o grande número de telespectadores. Era uma forma de se tornar mais familiar e conhecido da população em geral.

Também participou do "The Philco Television Playhouse" da NBC. Esse programa era muito interessante pois adaptava peças teatrais, novelas e romances para serem exibidos na televisão. Tanto sucesso fez que ficou por longas oito temporadas no ar, de 1948 até 1955. A proposta inteligente e inovadora atraiu muitos astros e estrelas do cinema na época, entre elas Grace Kelly, Walter Matthau e Rod Steiger. Paul Newman apareceu no episódio chamado "The Death of Billy the Kid" onde interpretava o próprio Billy The Kid, papel que repetiria anos depois no cinema no filme "Um de Nós Morrerá" de 1958.

E a TV continuou sendo um bom palco para Paul Newman se tornar mais conhecido do público em geral. No final de 55 ainda surgiu sorridente no programa de variedades "Producers' Showcase" da CBS e encerrou seu ciclo na TV em "Playwrights '56" no episódio chamado "The Battler", até hoje lembrado pelos especialistas em momentos marcantes da história televisiva dos Estados Unidos. Sua carreira prometia encontrar novos rumos pois Newman foi convidado para atuar em "Marcado pela Sarjeta", filme que deveria ter sido estrelado por James Dean mas que com sua morte ficou em aberto. Era a grande chance que Newman há tanto esperava...

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Paul Newman e Joanne Woodward

Paul Newman e Joanne Woodward
Eles se conheceram em 1953, e após trabalharem juntos em "The Long Hot Summer" de 1957 decidiram que não poderiam viver um sem o outro. Um ano depois resolveram se casar. Ao contrário de muitos em Hollywood, que se casavam várias vezes ao longo da vida, eles ficaram juntos por muitas décadas, até o fim da vida. Poucos meses antes da morte de Paul Newman celebraram juntos bodas de ouro em 2008, comemorando 50 anos de um casamento feliz e duradouro. Quem disse que em Hollywood não existem finais felizes para o casamento dos grandes astros e estrelas?

Para o ator esse casamento foi fruto de muita dedicação e paciência. Em uma época em que os astros de Hollywood casavam e se separavam na mesma rapidez, eles foram um casal diferente. Recentemente uma biografia do ator foi lançada jogando um pouco de terra em cima dessa imagem de casamento ideal. Segundo o autor dessa biografia Paul Newman também pulou a cerca durante seu casamento, mantendo uma amante por longos anos. Só que isso não foi o suficiente para destruir seu casamento oficial e eles ficaram juntos até o fim, apesar dos pesares.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Paul Newman - The United States Steel Hour

Depois do sucesso de "Marcado pela Sarjeta" o ator Paul Newman voltou para a TV. Ele foi convidado para participar de "The United States Steel Hour", uma série semanal que trazia para os telespectadores adaptações de peças teatrais que eram apresentadas ao vivo.

O formato era muito interessante para Newman pois o deixava afiado, atuando em peças que eram levadas para um enorme público. Além de ser culturalmente relevante ainda o tornava cada vez mais popular. Newman acabou participando de três adaptações: "Bang the Drum Slowly", "The Five Fathers of Pepi" e "The Rise and Fall of Silas Lapham", todos com ótimos resultados de audiência. Abaixo uma pequena sinopse sobre cada participação de Paul Newman.

Bang the Drum Slowly
Direção: Daniel Petrie / Roteiro: Mark Harris, Arnold Schulman / Elenco: Barbara Babcock, Rudy Bond, Paul Newman / Clu Gulager / Sinopse: Um técnico de um time de beisebol da liga principal do esporte, descobre que seu apanhador está desesperadamente tentando esconder alguma coisa e depois descobre que ele está morrendo de uma doença terminal e não quer que o proprietário descubra pois tem receios de ser demitido.  

The Five Fathers of Pepi
Direção: Daniel Petrie / Roteiro: Arnold Schulman / Elenco: Ben Astar, Phyllis Hill, Paul Newman / Sinopse: Paul Newman interpreta Giorgio, o filho mais jovem de uma família de imigrantes italianos em Nova Iorque. A vida, ele logo descobrirá, não será nada fácil para uma pessoa de sua origem.

The Rise and Fall of Silas Lapham
Direção: Daniel Petrie / Roteiro: William Dean Howells, Robert Wallstens / Elenco: Dorothy Gish, Colin Keith-Johnston, Paul Newman, Thomas Mitchell / Sinopse: Drama sobre a queda de um homem ambicioso. Adaptação da peça teatral escrita por William Dean Howells (1837 - 1920).

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Paul Newman

Nascido em 26 de janeiro de 1925 na pequena cidade de Shaker Heights, no Ohio, Paul Newman foi um dos mais populares atores da história do cinema americano, estrelando ao longo de uma longa carreira alguns dos grandes clássicos da sétima arte. Ao contrário de outros ícones de sua época conseguiu sobreviver e desfrutar de uma longa e produtiva vida. Bem humorado resumia tudo no seguinte pensamento: "Não se pode ser tão velho como eu, sem acordar todas as manhãs com um belo sorriso no rosto. Afinal de contas consegui sobreviver a tudo, ao cigarro, a todos os carros e a todos os filmes da minha carreira“.

Outro fato curioso é que o ator, ao contrário de outros famosos de Hollywood, conseguiu manter por longos anos um casamento estável e aparentemente feliz. Ele foi casado com a atriz Joanne Woodward. Apesar dos problemas e até mesmo de uma grande tragédia pessoal, quando um de seus filhos sucumbiu ao mundo das drogas, morrendo de uma overdose, o casamento seguiu firme e forte ao longo das décadas.

Recentemente porém um autor desvendou um dos segredos mais bem guardados de Hollywood. Ao contrário do que muitos pensavam Paul Newman não era um homem fiel com sua esposa. Na biografia intitulada "Paul Newman: Uma Vida" de Shawn Levy, os seus fãs e admiradores descobriram que o ator era infiel, tinha amantes e até mesmo um relacionamento fixo fora do casamento que durou anos. Até sua morte se pensou que ele era um homem casado exemplar, que nunca tivera romances extraconjugais em sua vida. Era considerado um exemplo dentro da comunidade de Hollywood.

De qualquer forma, se estivesse vivo, o ator certamente estaria contente com as eleições americanas realizadas nesse ano. Ele foi um ativista do Partido Democrata nos Estados Unidos, sempre levantando bandeiras contra o preconceito racial, em favor dos direitos das minorias, dos homossexuais, imigrantes, etc. Certamente, se ainda fosse vivo, ele teria atuado de forma positiva em todos esses movimentos políticos até os dias de hoje. O ator, infelizmente, nos deixou em 2008, vítima de um câncer de pulmão.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Paul Newman - O Doce Pássaro da Juventude

Interpretar uma espécie de gigolô de luxo e ainda se sair bem em cena, criando um vínculo com o espectador não era para qualquer um. Pois Paul Newman conseguiu esse feito no filme "O Doce Pássaro da Juventude" em 1962; O roteiro era baseado em texto de Tennessee Williams, um autor especializado em mostrar o lado mais sórdido do ser humano. Geralmente em suas peças teatrais havia uma enorme galeria de personagens que fugiam completamente do convencional.

Aqui Newman faz uma excelente parceria com a atriz Geraldine Page. Eles formam um casal que retorna para uma cidadezinha lazarenta dos rincões, onde ela pretende ajustar contas com seu passado. Atriz de cinema decadente, completamente dominada pela bebida, ele vê uma última chance de passar seu suposto sucesso na cara de todas aquelas pessoas que a deseprezaram.

O roteiro foi adaptado para o cinema para ser estrelado por Marlon Brando, mas ele na última hora resolveu pular fora do projeto. Brando passava por uma época estranha e complicada de sua vida pessoal e profissional. Ao se envolver com mulheres erradas acabou se envolvendo em inúmeros problemas jurídicos, processos e até tentativas de assassinato. Com isso meio que jogou sua carreira no cinema na lata de lixo. Desprezou bons filmes e excelentes roteiros para atuar em filmes menores - alguns bem ruins - apenas por ser amigo de seus diretores.

Coube então a Newman pegar a vaga. Foi ótimo para ele que já vinha se destacando cada vez mais. Ao contrário de Brando, sempre rebelde e avesso às regras da sociedade, Paul Newman levava muito à sério seu trabalho como ator. Por isso sempre que aparecia uma boa oportunidade como essa, de estrelar um filme baseado em Tennessee Williams, ele corria atrás. Considerado pelos estúdios como bom profissional, correto e sério nas filmagens, acabou herdando muitos papéis que eram inicialmente destinados a Brando, sempre tão complicado de se lidar durante uma filmagem.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

James Dean e Paul Newman

No começo de sua carreira, quando era apenas um jovem ator tentando descolar algum trabalho, Paul Newman conheceu James Dean, o ator rebelde que estava virando um mito em Hollywood. Ambos se encontraram por acaso no Actors Studio em Nova York. Dean nunca fora conhecido por ser um sujeito simpático fora das telas mas na ocasião pareceu ser educado com o novo colega. Em plena aula eles tinham que improvisar uma cena de amor ou ódio. James Dean brincou dizendo que deveriam fazer uma cena de duas pessoas que se amavam muito, o que era estranho para Paul Newman naquela ocasião. Dean então virou-se para ele e sugeriu que fizessem algo que colocasse a sala "em chamas"! Newman se assustou com aquele tipo de proposta e brincou rebatendo: "Hey amigo, vamos com calma! De onde eu venho nós gostamos de trabalhar melhor as coisas...".

Anos mais tarde Newman admitiu que aquele primeiro encontro com James Dean o havia deixado preocupado. Dean tinha deixado meio claramente que se relacionava tanto com homens como com mulheres, e que era um sujeito aberto a todos os tipos de relacionamentos. Na época Paul Newman era casado, tinha filhos e não tinha entendido ainda muito bem como a comunidade gay dava as cartas no mundo do teatro e do cinema americanos. Ele era um hétero convicto e ficou com um pé atrás sobre o que ouvia de seus colegas de Actors Studio. Numa conversa trivial entre as aulas, Jimmy Dean confidenciou para Newman que estava tendo um caso amoroso com um grã-fino chamado Rogers Brackett que o estava bancando em Nova Iorque. Aquilo certamente foi meio chocante para Newman. Ali Dean havia admitido não apenas que era gay, mas que também era sustentado por um homem rico. Duas revelações bombásticas para Newman.

Ao que tudo indica James Dean acabou desenvolvendo alguma queda por Paul Newman. Tempos depois durante um teste de câmera para um filme - um trecho que sobreviveu ao tempo - Newman e Dean surgem juntos na tela. Newman parece pouco à vontade, dando risinhos nervosos. Já Dean é todo presunção. Após trocarem olhares suspeitos, Dean não se contém mais e diz para Paul: "Vamos lá, me beije!". Newman cai na gargalhada logo em seguida. Dean sabia que Newman era um sujeito quadrado, que tinha filhos, obrigações de pai de família e tudo mais e por isso não levou adiante seus ataques! O máximo que conseguiu de Paul Newman foi levá-lo ao apartamento onde morava, onde passaram à tarde de bobeira. Dean deu a Paul um boné de presente, todo vermelho, que ele depois usaria em um jogo de beisebol.

Alguns escritores acreditam que Dean e Newman acabaram tendo um caso passageiro, nada importante ou marcante. A professora de dança de James Dean na época, Eartha Kitt, disse que que eles tiveram sim uma ligação debaixo dos lençóis. Aliás ela chegou inclusive a ir além em suas confidências, dizendo que havia transado com os dois no apartamento de James Dean. Ela afirmou que aquilo havia sido "uma das experiências mais celestiais da minha vida. Essas duas beldades me transportando para o céu. Eu nunca soube que o ato sexual podia ser tão bonito." Verdade ou apenas fantasia de alguém que procurava notoriedade com a imprensa?

Amigos ou amantes, o fato é que as coisas ficariam ruins entre eles pouco tempo depois. James Dean venceu a disputa por um papel importante e Paul Newman foi até ele pedir que Dean falasse com o diretor para que lhe arranjasse um personagem coadjuvante para trabalhar. Dean disse que não o ajudaria.

Newman ficaria ainda mais chateado depois quando perderia mais um papel, só que dessa vez para o atlético Tab Hunter, um ator que nunca fora conhecido por ser um grande talento. Anos depois ele confessaria sua frustração ao afirmar: ""Perder para James Dean era uma coisa, mas como eu poderia viver após perder um papel para Tab Hunter?" Nesse meio tempo James Dean se espatifou em um terrível acidente na estrada de Salinas. Paul Newman ficou bem triste, não apenas por sua morte, mas também por nunca ter tido a oportunidade de reatar sua amizade com Dean. Ele jamais confirmou que tinha tido um namoro com Dean, dizia apenas que tinham sido colegas de estudos em Nova Iorque. "Era um bom sujeito", finalizou ao resumir James Dean.

Pablo Aluísio.

domingo, 9 de setembro de 2007

Paul Newman - O Cálice Sagrado


O Cálice Sagrado (The Silver Chalice, EUA, 1954) Direção: Victor Saville / Roteiro: Lesser Samuels, baseado na novela de Thomas B. Costain / Elenco: Virginia Mayo, Pier Angeli, Jack Palance, Paul Newman.

Pablo Aluísio.      

terça-feira, 29 de maio de 2007

Audrey Hepburn / Paul Newman / Jean Simmons


Audrey Hepburn - Bonequinha de Luxo
Uma das imagens mais populares da época, Audrey Hepburn no papel de Holly Golightly no clássico Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany's, EUA, 1961) dirigido por Blake Edwards. O autor Truman Capote, que escreveu o roteiro baseado em seu próprio texto original, entendia que Hollywood jamais faria o filme. O teor era considerado muito ousado para aqueles tempos moralistas e conservadores. Curiosamente para Capote o segredo da boa aceitação do filme veio da presença de Audrey Hepburn como a protagonista, uma atriz tão sofisticada, elegante e fina, que tudo o que poderia ser considerado vulgar seria facilmente digerido pelo público em geral. Ele estava certo. O filme logo se tornou sucesso de público e crítica, sendo vencedor de dois Oscars, todos na categoria musical, fruto do maravilhoso trabalho do maestro e compositor Henry Mancini. Também levou indicações importantes, como Melhor Filme, Roteiro e Direção de Arte. Já a diva Audrey Hepburn teve também seu excelente trabalho reconhecido, sendo indicada ao Oscar e ao Globo de Ouro. Atualmente Bonequinha de Luxo é considerado um dos grandes clássicos do cinema americano em sua era de ouro, merecidamente aliás.


Paul Newman
Paul Newman não foi apenas um grande ator, estrelando filmes inesquecíveis. Ele também cultivou a imagem de ser um exemplo de bom cidadão e marido. Casado por 50 anos com a mesma mulher, Joanne Woodward, ele teve esse aspecto de sua biografia um pouco abalado com o lançamento do livro "Paul Newman: Uma Vida" do jornalista americano Shawn Levy. Durante pesquisas para a elaboração da biografia o autor descobriu que Newman teve um caso extraconjugal com a jornalista Nancy Bacon durante um ano e meio. Eles se conheceram durante as filmagens do clássico Butch Cassidy. Outro aspecto pouco conhecido do grande público era o alcoolismo de Newman, algo que o assombrou por toda a sua vida.


Paul Newman - Newman´s Own
O ator Paul Newman não era apenas um bom ator, mas também um astuto homem de negócios. Nos anos 60 ele resolveu investir parte do dinheiro ganho na profissão de ator no mundo concorrido dos alimentos. Fundou sua própria marca de produtos e ganhou uma fortuna com as vendas. A empresa Newman´s Own virou uma febre nos Estados Unidos, vendendo todos os tipos de produtos alimentícios. Em pouco tempo o ator estava fazendo uma fortuna com os números do sucesso de seus produtos. Curiosamente embora não precisasse mais atuar Paul decidiu continuar no cinema, por pura paixão pela sétima arte.


Paul Newman e Joanne Woodward 
Paul Newman e a esposa Joanne Woodward estudam um script em seu camarim nos estúdios da MGM em Hollywood. Esse foi um casal sui generis na capital do cinema. Em uma profissão onde casamentos duravam poucos anos, algumas vezes até poucos meses, eles continuaram juntos por décadas, quebrando o velho estigma que casamentos de pessoas famosas simplesmente não duravam. Observador da vida a dois, Paul Newman costumava resumir seu pensamento na seguinte frase: "A felicidade no casamento não é algo que simplesmente acontece, um bom casamento deve ser criado. Na arte do casamento, as coisas grandes são as coisas pequenas. É lembrar de dizer um “eu te amo” uma vez ao dia pelo menos. É ter um sentimento mútuo de valores comuns. É enfrentar o mundo lado a lado."


Jean Simmons
Pelo visto o cão não é apenas o melhor amigo do homem, mas das mulheres também. A linda atriz Jean Simmons posa na foto ao lado de seu cãozinho de estimação, eterno amigo que ela fazia questão de levar para todos os lados. Um caso de amor entre dono e animalzinho de estimação para nos inspirar nesse fim de noite. 

segunda-feira, 21 de maio de 2007

O Veredito

O Veredito é um dos filmes mais humanos que já assisti. Isso porque ele não é apenas um filme sobre um julgamento que coloca de um lado uma pessoa vitima de negligência médica e do outro instituições ricas e poderosas. Ele é muito mais. O argumento toca em valores como dignidade e respeito ao próximo, mostrando toda a hipocrisia existente em certos setores que deveriam lutar por eles e não combatê-los. A dignidade do advogado vivido brilhantemente por Paul Newman é um dos destaques do roteiro. Todos o rebaixam, todos o humilham, tudo porque ele é um profissional em um momento complicado de sua vida, sem clientes e com problemas de alcoolismo. A postura dele lutando contra tudo e contra todos (mesmo mostrando sua própria fraqueza como ser humano) é uma das coisas mais dignas que já vi no cinema.

Por fim temos a direção de Sidney Lumet, que é maravilhosa. O diretor não apenas mostra mas sugere, insinua. Um exemplo é mostrada numa cena em plena rua onde Newman vem a saber de um fato perturbador através de seu amigo e assistente. Veja que o diálogo não é mostrado na tela, a cena é captada por uma visão do alto, que mostra como somos pequenos diante de situações limites como essa, que afinal podem acontecer com qualquer um de nós. Simplesmente brilhante. Eu sinto falta de filmes assim, que foquem em temas sérios e consistentes e que não vivem de escapismos bobos. Nesse aspecto "O Veredito" é simplesmente uma grande obra prima da história do cinema.

O Veredito (The Veredict, Estados Unidos, 1982) Direção: Sidney Lumet / Elenco: Paul Newman, James Mason, Charlotte Rampling, Jack Warden / Sinopse: Frank Galvin (Paul Newman), advogado alcoólatra e decadente, vê a chance de recuperar a sua auto-estima quando lhe é dado um caso sobre um erro médico. Mesmo quando uma quantia razoável é oferecida para se chegar a um acordo e o caso não ir a julgamento, ele não concorda e decide enfrentar um poderoso grupo, que é defendido por um renomado e ardiloso advogado.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 15 de maio de 2007

Gata Em Teto de Zinco Quente

Produção: Elegante, acima de tudo. O enredo se passa todo dentro de um grande casarão que é sede de uma fazendo de algodão no sul dos EUA. Embora isso possa parecer tedioso, não é. Hoje a MGM está à beira da falência mas naquela época não economizava no bom gosto, como bem podemos comprovar aqui. A fazenda tipicamente sulista, o bonito figurino (especialmente de Liz Taylor) e a fotografia inspirada confirmam a elegância da película.

Direção: Eu considero o cineasta Richard Brooks, que dirigiu esse filme, muito mais um roteirista do que um diretor propriamente dito. Sua carreira como diretor é um pouco irregular, onde se mesclam filmes bons e ruins na mesma proporção. Mas aqui seu talento de bom escritor foi conveniente pois ele não promove alterações substanciais no texto de Tennessee Williams e consegue transmitir sem problemas tudo que o dramaturgo queria passar ao público. No fundo o Brooks não complicou e isso já é um mérito e tanto.

Elenco: Ótimo. Elizabeth Taylor, linda e talentosa, mostra serviço e esbanja naturalidade e carisma. Paul Newman, que passa o tempo todo de muletas e engessado, mostra muito talento no papel de Brick Pollitt, talvez o único personagem que valha realmente alguma coisa dentro daquela casa. O curioso é que mesmo atores com escolas diferentes (Newman do teatro e Liz basicamente uma atriz de cinema) conseguem se entender extremamente bem em cena. Sua química salta aos olhos, mesmo Paul Newman interpretando um marido que diante de tantos problemas negligencia sua bela e jovem esposa. Do elenco de apoio tenho que destacar primeiramente Burl Ives (Big Daddy, ótimo em sua caracterização de um homem que não conseguiu passar afeto aos seus familiares) e Madeleine Sherwood (que faz a insuportável Mae Pollitt). Dentre as cenas a que destaco como a melhor na minha opinião é aquela que se passa entre Newman e Ives no porão quando em tom de nostalgia Big Daddy se recorda de seu falecido pai, um mero vagabundo. Ótimo momento no quesito atuação.

Roteiro e argumento: O filme foi roteirizado pelo diretor Richard Brooks. Como eu disse antes, ele era mais roteirista do que diretor. Pois bem, embora Tennessee Williams tenha reclamado de algumas mudanças em seu texto original, temos que convir que o roteiro em si é muito bem escrito e trabalhado, deixando o filme com ótimo ritmo, fugindo da armadilha de o deixar teatral demais.. Penso que os textos de autoria do grande Tennessee Williams eram perigosos ao serem adaptados ao cinema, pois poderiam deixar qualquer filme pesado ou com aspecto de teatro filmado, o que não seria adequado pois artes diferenciadas exigem também adaptações diferentes. Nem sempre o que é adequado ao teatro consegue ser satisfatório na tela. Em "Gata em Teto de Zinco Quente" isso definitivamente não acontece e o espectador ao final da exibição terá a certeza de que assistiu a um grande filme, cinema puro.

Gata em Teto de Zinco Quente (Cat on a Hot Tin Roof,Estados Unidos, 1958) Diretor: Richard Brooks / Roteiro: James Poe e Richard Brooks baseado na peça "Cat on a Hot Tin Roof" de Tennessee Williams / Elenco: Elizabeth Taylor, Paul Newman, Burl Ives, Jack Carson, Judith Anderson./ Sinopse: Jovem esposa (Elizabeth Taylor) não consegue entender o que se passa com seu marido (Paul Newman), um homem em constante crise existencial.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Filmografia Comentada: Paul Newman

Paul Newman surgiu no rastro deixado por James Dean. Seu primeiro grande filme foi justamente aquele que deveria ser o próximo de Dean, "Marcado Pela Sarjeta". Infelizmente não houve tempo para o ator estrelar pois morreu pouco antes do começo das filmagens e assim Newman herdou o papel. A partir daí Paul Newman se tornou um ícone em Hollywood, não apenas no aspecto relativo à fama mas também por seu grande humanismo. Dedicou grande parte de lucros que obteve com uma bem sucedida marca de produtos alimentícios para a caridade. Também apoiou e defendeu causas de direitos humanos ao longo de sua vida. Sua filmografia é extensa e importante. Segue aqui alguns comentários sobre alguns de seus filmes.

O Doce Pássaro da Juventude
Mais uma brilhante adaptação de um texto de Tennessee Williams. Aqui somos apresentados ao casal formado por Chance Wayne (Paul Newman) e Alexandra Del Lago (Geraldine Page). Eles chegam numa pequena cidade chamada St Cloud e se hospedam num hotel barato. Ela está totalmente embriagada e ele a trata publicamente como uma princesa estrangeira. No decorrer do filme vamos entendendo aos poucos quem realmente são e porque estão ali. A trama é tecida gradativamente, em camadas, com uso extremamente inteligente de flashbacks contando todo o passado deles - que serve para situar o espectador. Nem é preciso dizer que o roteiro tem excelentes diálogos e é excepcionalmente bem interpretado por Newman (em grande forma) e Page (maravilhosa em cena, conseguindo imprimir em sua personagem doses exatas de sensibilidade, humanidade e crueldade psicológica). Na realidade o texto tem um tema central: A extrema dificuldade que certas pessoas possuem em lidar com o fim da juventude e de encarar os fracassos pessoais. Alexandra Del Lago (Page) retrata muito bem isso. Uma antiga diva do cinema que vê seu mundo desmoronar após perder o encanto e a jovialidade. Já Chance (Newman) é muito mais interessante. Correndo atrás de um sonho que jamais se realizará ele vê seus anos (e sua juventude) passarem em branco, sem conseguir tornar realidade os objetivos que ele próprio determinou a si mesmo. O texto é um dos melhores de Williams, embora não seja tão pesado como o que vimos em outras obras dele como "Gata em Teto de Zinco Quente". Além disso "O Doce Pássaro da Juventude" tem mais clima de cinema, deixando o aspecto teatral da obra original em segundo plano. Enfim, gostei muito e recomendo bastante. Obra prima.

As Quatro Confissões
Versão americana do clássico "Rashomon" de Akira Kurosawa (inclusive ele está creditado como um dos roteiristas). Eu gostei bastante do resultado final embora realmente não se possa comparar com o original. O filme bebe bastante da fonte não do filme de Kurosawa mas sim da peça japonesa original. Isso é bem notado durante a projeção, uma vez que o estilo realmente é bem teatral, fortemente baseado no talento dos atores em cena. Dentre eles obviamente se destaca Paul Newman. Numa das caracterizações mais incomuns de sua carreira o ator se sai excepcionalmente bem como "Carrasco", bandoleiro, ladrão, pistoleiro e estuprador mexicano. Como o filme é baseado no que relembram as testemunhas sobre a morte de um ex Coronel, e como esses depoimentos são diferentes entre si, nos deparamos no filme com quatro caracterizações diferentes de cada personagem. Carrasco, por exemplo, surge como valente, herói, covarde, mentiroso ou estuprador - de acordo com cada testemunha. Agora imaginem ter que interpretar tantas nuances diferentes assim! Pois Newman, e o elenco de apoio, conseguem passar por esse teste de fogo. A atriz Claire Bloom também está excelente - pois seu personagem rapidamente passa de jovem donzela em perigo a vagabunda de plantão. O mais interessante em "Quatro Confissões" é que ao final do filme, após todos darem seu testemunho sobre o que teria acontecido entre o bandido Carrasco e o casal, saímos sem saber exatamente o que aconteceu! Isso mesmo, o filme é totalmente livre na interpretação do espectador que assim vai escolher (ou tentar escolher) em qual versão irá acreditar. O diretor Martin Ritt (parceiro de Paul Newman em várias produções) conseguiu algo muito valioso: fazer um filme ágil com roteiro bem elaborado, de bastante conteúdo. Tanto que recomendo que se assista mais de uma vez para destrinchar todos os detalhes que ocorrem durante o filme. Recomendo sem receios - inclusive para estudantes de direito pois é muito curioso acompanhar como uma mesma história pode ter tantas versões diferentes entre si, dependendo de quem as conta.

Paris Vive à Noite
"Paris Vive à Noite" foi feito especialmente para o casal sensação dos anos 60, Paul Newman e Joanne Woodward. Produzido pela cia de Marlon Brando o filme foi rodado em locações na famosa cidade francesa. O roteiro é simples, dois casais se conhecem lá e ficam em um dilema pois as garotas, meras turistas, terão que voltar logo aos EUA enquanto os rapazes (Paul Newman e Sidney Poitier) tem planos de continuar na capital francesa para despontarem para a carreira artística (são músicos de jazz). Para falar a verdade o grande atrativo desse filme é sua música. A trilha sonora foi escrita por Duke Ellington e no filme somos brindados com uma ótima participação especial de Louis Armstrong. Para os fãs do Jazz americano não poderia haver nada melhor do que isso. Já para os fãs de cinema o filme se resume a interpretações corretas e nada mais. O roteiro não desenvolve nenhuma grande situação dramática e assim tudo se resume a ver os pombinhos andando de mãos dadas pelos pontos mais famosos de Paris. Obviamente que a fotografia em preto e branco é muito bonita e o clima de romance no ar vai agradar as mulheres sonhadoras com romances de cartão postal. Para os cuecas vale a pena conferir a beleza discreta e elegante de Joanne Woodward. O diretor Martin Ritt já havia trabalhado ao lado de Paul Newman em "O Mercador de Almas", um filme bem superior a esse. A parceria continuaria depois com filmes como "O Indomado" e "Hombre". Enfim, "Paris Vive á Noite" é um romance ao velho estilo com muita música de qualidade e paisagens famosas, se faz seu estilo não deixe de conferir.

Harper, O Caçador de Aventuras
Sabe aqueles filmes de detetives dos anos 40? Com todas aquelas mulheres fatais, personagens dúbios e tramas de rocambole? Pois bem, Harper é um filme desses. A diferença é que ele foi rodado nos anos 60 mas em essência é aquilo mesmo. Paul Newman interpreta um detetive particular cínico que é contratado pela esposa de um milionário desaparecido para encontrá-lo. Como sempre acontecia nos antigos roteiros da década de 40 aqui também temos muitas reviravoltas, muitas surpresas. Nenhum personagem é totalmente bom ou mal. Todos tem algo a esconder e a solução final desvenda todos os mistérios. Paul Newman está muito à vontade no papel de Harper. Mascando um chiclete atrás do outro ele se mostra bem cool e parece se divertir no papel. O elenco de apoio é todo bom. Lauren Bacall que interpreta a esposa do milionário desaparecido está especialmente cínica e mordaz. A personificação que me causou mais surpresa foi a de Shelley Winters. Antigo sex symbol da década de 40 e 50 aqui ela aparece como atriz decadente e gorda, cujos tempos de fama há muito foram deixados para trás. Enfim, Harper é bem interessante e bem desenvolvido. É um tipo de filme onde a ação é mais intelectual (fica-se o tempo todo tentando descobrir o paradeiro do desaparecido) mas que vale a pena assistir, principalmente para quem gosta de desvendar charadas nesse tipo de filme.

O Cálice Sagrado
Esse é o primeiro filme da carreira de Paul Newman. Isso por si só já basta para atiçar a curiosidade de qualquer cinéfilo. Além de Newman há no elenco atores e atrizes que de uma forma ou outra entraram na história do cinema como Jack Palance (como Simão, o Mago) e Pier Angeli (a namoradinha e grande amor da vida de James Dean). Pois bem, a primeira coisa que chama a atenção de quem assiste "O Cálice Sagrado" é sua estranha direção de arte. Tudo soa estilizado no filme, principalmente os cenários que são pouco realistas, parecendo até mesmo ambientações para peças de teatro. Cheguei a pensar que se tratava de uma produção pobre mesmo mas depois em uma cena de crucificação coletiva entendi finalmente a intenção do diretor. Não é que o filme seja mal feito mas se trata realmente de uma opção artística do cineasta Victor Saville (um veterano da época do cinema mudo). O roteiro mistura ficção com realidade histórica (pelo menos para os que aceitam o conteúdo bíblico como fato histórico). Personagens que na Bíblia são secundários aqui ganham bastante atenção como José de Arimatéia e Simão, o Mago. Esse último é citado no novo testamento como um mágico que desafiou Pedro publicamente. Ofereceu dinheiro pelo poder de realizar milagres e foi repelido pelo principal apóstolo de Cristo. A cena final com Simão tentando provar ao imperador Nero que poderia voar (algo que nem Jesus conseguiu em vida) é muito divertida mesmo. Enfim, apesar de Newman ter odiado sua atuação aqui (chegou a publicar um pedido de desculpas em um jornal americano por sua fraca atuação) não posso dizer que o resultado final seja ruim. "O Cálice Sagrado" é um épico diferente, estranho até em certas passagens, mas que tenta ser inteligente e instigante. Isso já justifica sua existência.

O Mercador de Almas
Em "O Mercador de Almas" temos várias características que fizeram o cinema americano se tornar o melhor do mundo durante a década de 1950 . O elenco é fenomenal. Além de Paul Newman em ótima forma (tanto do ponto de vista de talento como de presença) temos um personagem à prova de falhas interpretado pelo, ora vejam só, mito do cinema Orson Welles. Nem precisa dizer que ele é realmente a alma de todo o filme. Gorducho, malvado, esbanjando rabugice em cada cena, Welles toma conta de tudo, literalmente. Com filmes como esse percebemos que além de grande cineasta ele também era um ator fantástico. Sua voz de trovão ecoa em cada cena, fazendo os atores que contracenaram com ele sumirem lentamente. Em termos de roteiro e argumento o filme se parece bastante com outro clássico da filmografia de Newman, "Gata em Teto de Zinco Quente". Esse, assim como aquele, também é ambientado numa típica fazenda do Sul dos EUA. O enredo também gira em torno dos filhos de um rico fazendeiro, seus problemas familiares e as complicações cotidianas dessas famílias. Para completar o "Mercador de Almas" também é inspirado na obra de um grande autor, a novela "The Hamlet" de William Faulkner. A única diferença mais nítida é que "Gata em Teto de Zinco Quente" é bem mais teatral do que esse, mas fora isso são extremamente parecidos. De qualquer forma uma coisa é certa: Ambos os filmes são fundados em excelentes diálogos e interpretações inspiradas. Por essa época Paul Newman havia se tornado um dos grandes atores do cinema, mostrando de forma excepcional que passava muito longe do rótulo vazio de galã, muito pelo contrário, Newman estava sempre se arriscando em personagens com muita profundidade psicológica, complexos, muitas vezes anti-heróis, crápulas, sem o menor remorso moral. Nesse "Mercador de Almas" ele novamente encontra um papel à sua altura. Uma obra cinematográfica do mais alto nível que merece ser redescoberta.

O Veredito
O Veredito é um dos filmes mais humanos que já assisti. Isso porque ele não é apenas um filme sobre um julgamento que coloca de um lado uma pessoa vitima de negligência médica e do outro instituições ricas e poderosas. Ele é muito mais. O argumento toca em valores como dignidade e respeito ao próximo, mostrando toda a hipocrisia existente em certos setores que deveriam lutar por eles e não combatê-los como a "Santa" Igreja Católica. A dignidade do advogado vivido brilhantemente por Paul Newman é um dos destaques do roteiro. Todos o rebaixam, todos o humilham, tudo porque ele é um profissional em um momento complicado de sua vida, sem clientes e com problemas de alcoolismo. A postura dele lutando contra tudo e contra todos (mesmo mostrando sua própria fraqueza como ser humano) é uma das coisas mais dignas que já vi no cinema. Por fim temos a direção de Sidney Lumet, que é maravilhosa. O diretor não apenas mostra mas sugere, insinua. Um exemplo é mostrada numa cena em plena rua onde Newman vem a saber de um fato perturbador através de seu amigo e assistente. Veja que o diálogo não é mostrado na tela, a cena é captada por uma visão do alto, que mostra como somos pequenos diante de situações limites como essa, que afinal podem acontecer com qualquer um de nós. Simplesmente brilhante. Eu sinto falta de filmes assim, que foquem em temas sérios e consistentes e que não vivem de escapismos bobos. Nesse aspecto "O Veredito" é simplesmente uma grande obra prima da história do cinema.

Gata em Teto de Zinco Quente
Produção: Elegante, acima de tudo. O enredo se passa todo dentro de uma grande casarão que é sede de uma fazendo de algodão no sul dos EUA. Embora isso possa parecer tedioso, não é. Hoje a MGM está à beira da falência mas naquela época não economizava no bom gosto, como bem podemos comprovar aqui. / Direção: Eu considero o Richard Brooks, que dirigiu esse filme, muito mais um roteirista do que um diretor propriamente dito. Sua carreira como diretor é um pouco irregular, onde se mesclam filmes bons e ruins na mesma proporção. Mas aqui seu talento de bom escritor foi conveniente pois ele não força a barra em cima do texto de Tennessee Williams, que transmite sem problemas tudo que o dramaturgo queria para o público. No fundo o Brooks não complicou e isso já é um mérito e tanto. / Elenco: Ótimo. Elizabeth Taylor, linda e talentosa, mostra serviço e esbanja naturalidade e carisma. Paul Newman, que passa o tempo todo de muletas e engessado, mostra muito talento no papel de Brick Pollitt, talvez o único personagem que vale alguma coisa dentro daquela casa. Do elenco de apoio tenho que destacar primeiramente Burl Ives (Big Daddy, ótimo em sua caracterização de um homem que não conseguiu passar afeto aos seus familiares) e Madeleine Sherwood (que faz a insuportável Mae Pollitt). Dentre as cenas a que destaco como a melhor na minha opinião é aquela que se passa entre Newman e Ives no porão quando em tom de nostalgia Big Daddy se recorda de seu falecido pai, um mero vagabundo. Ótimo momento do filme. / Roteiro e argumento: O filme foi roteirizado pelo diretor Richard Brooks. Como eu disse antes, ele era mais roteirista do que diretor. Pois bem, embora o Tennessee tenha reclamado temos que convir que o roteiro em si é muito bem escrito e trabalhado, deixando o filme com ótimo ritmo. Penso que os textos do Tennessee Williams eram perigosos pois poderiam deixar qualquer filme pesado ou meloso demais. Em "Gata em Teto de Zinco Quente" isso definitivamente não acontece.

Roy Bean - O Homem da Lei
Roy Bean (Paul Newman) é um pistoleiro e ladrão que chega numa região remota do Texas. Na ausência de qualquer lei ou autoridade judicial no local o bandoleiro resolve se auto intitular "juiz" e começa a impor aos moradores locais sua inusitada versão da lei e da ordem. A história do filme foi baseada na vida real do juiz Roy Bean, um fora da lei que chegou numa região inóspita do Texas, depois do Rio Pacos (considerado a fronteira entre o mundo civilizado e a terra sem lei) e lá se auto proclamou "juiz" mandando os foras da lei para a forca, sem nem pensar duas vezes. De posse de um velho livro empoeirado de direito ele tentou trazer sua visão muito particular de justiça a todos os que cruzassem seu caminho. John Huston mais uma vez se mostra genial na direção, isso porque ao longo de todo o filme ele imprime um tom de fino humor e ironia que cai muito bem na bizarra história. Paul Newman, mais uma vez, dá show ao interpretar o personagem principal. Seguro de si, cínico, o ator domina todas as cenas, mesmo quando contracena com o ótimo elenco de apoio (com direito a participação especial do próprio John Huston, interpretando um caçador de ursos que chega na distante localidade). Depois que vi o filme ficou a curiosidade de saber mais sobre o verdadeiro Roy Bean. Para minha surpresa descobri que seu saloon tribunal ainda existe no Texas e virou ponto turístico. Seu nome é bem reverenciado naquele Estado e ele goza de uma reputação de fazer inveja a outros grandes nomes do western como Billy The Kid e Jesse James. Talvez por representar a famosa "justiça pelas próprias mãos", Roy Bean acabou virando um símbolo de uma era há muito perdida. Se você gosta da história do faroeste americano, então o filme é obrigatório.

Exodus
O filme Exodus, lançado em 1960, trata da delicada questão da criação do Estado de Israel. É uma obra cinematográfica de fôlego com três horas e trinta minutos de duração, dividida em três atos distintos que tentam no fundo dar um rosto (ou rostos) ao povo judeu no momento de nascimento de sua nação. No primeiro ato somos apresentados a um campo de refugiados (na realidade prisioneiros) administrado pelos britânicos na ilha de Chipre. O local era utilizado pelos ingleses para abrigar temporariamente grupos de judeus que tentavam chegar até a Palestina de navio. Nesse primeiro ato logo somos apresentados ao personagem Ari Ben Canaan (interpretado por Paul Newman), cuja principal função na ilha é retirar uma parcela desses judeus em cativeiro para levá-los até a Palestina, para que com isso crie pressão sobre a ONU na aprovação da criação de Israel. O segundo ato já se desenvolve nos assentamentos judeus na Palestina e tenta mostrar o cotidiano dessas famílias empenhadas em ficar no país e assim começar uma nova nação. Finalmente no terceiro ato temos a criação de Israel e as reações (algumas vezes violentas) que esse fato gerou, principalmente por parte da população palestina, que naquela altura sentiu que simplesmente estavam tomando sua nação e seu país e a entregando aos recém chegados judeus. O tema é melindroso e até hoje repercute. O filme, é claro, toma partido ao lado do povo judeu e sua causa, até porque não seria diferente haja visto que os grandes estúdios de Hollywood são administrados e comandados por judeus. E justamente por isso talvez Exodus não seja uma obra completa. O ponto de vista é unilateral, focado apenas na visão judia da questão. Tirando um único personagem (um palestino que nutre amizade e simpatia por um personagem judeu) nada mais nos é mostrado sobre o outro lado da questão, sobre a forma de agir e pensar do povo palestino naquele momento. O roteiro não esconde e nem tenta disfarçar de que lado realmente está. Como a questão Israel - Palestina é muito mais complexa do que isso ficamos com a sensação pouco confortável de estarmos assistindo na realidade um grande e pomposo manifesto político em prol de Israel. Já sobre o filme em si, tecnicamente falando, a produção apresenta alguns problemas. O maior deles talvez seja a duração excessiva. O filme em alguns momentos se arrasta, cenas sem grande importância ganham um destaque desproporcional. O filme poderia sem problemas ter duas horas de duração sem perda de conteúdo. A direção de Otto Preminger por sua vez comete alguns erros primários (em certos momentos podemos perceber a sombra da câmera e do cameraman se projetando sobre os atores). São coisas menores, mas que em certos momentos incomodam. Já a trilha sonora, ainda hoje lembrada, é um destaque. O compositor Ernest Gold foi inclusive premiado com o Oscar por seu trabalho. Enfim, Exodus é um bom filme e só peca pela tentativa de fazer propaganda política sem dar chance à outra parte de se manifestar, fora isso é um bom passatempo, isso claro se você tiver disposição de assistir uma película com uma duração tão excessiva como essa.

Buffalo Bill e o Oeste Selvagem
Buffalo Bill and the Indians (no brasil, O Oeste Selvagem) é um inteligentissimo filme do aclamado diretor Robert Altman que aqui prova mais uma vez seu grande talento como cineasta. O roteiro conta a histórica verídica do grande mito do western americano Buffalo Bill. O personagem por si só já era extremamente rico em detalhes e nuances e caiu como uma luva nessa película que brinca com o imaginário popular ianque. Para quem não sabe Buffalo Bill (nome artistico de William Cody) foi um verdadeiro Barão de Munchausen da história dos Estados Unidos. Pródigo em contar lorotas e inventar histórias sobre si mesmo que nunca aconteceram na vida real, Bill criou toda uma mitologia em torno de si. Um dia teve a brilhante idéia de criar todo um show em cima de suas fantasias e acabou criando um espetáculo com alto teor circense composto por cowboys falsos, índios de araque e bandidos de mentirinha. Era denominado Oeste Selvagem e foi uma mina de ouro para seu criador, o tornando extremamente rico e bem sucedido. Embora fosse um mentiroso contumaz Bill acabou criando, sem querer, todos os clichês que até hoje conhecemos da mitologia do western. Os filmes mudos, surgidos no nascimento do cinema, eram claramente inspirados nas encenações do espetáculo de Buffalo, que também teve sua mitológica figura explorada por vários filmes do gênero nos anos seguintes à sua morte. Em Buffalo Bill and the Indians, somos levados a conhecer um período bem interessante da vida de Bill, quando ele contratou um mito de verdade do velho oeste para estrelar seu show, o cacique Touro Sentado, famoso por seus feitos contra o exército americano. As cenas em que ambos contracenam mostram verdadeiros duelos entre o personagem de ficção auto inventado e o homem que realmente vivenciou toda a luta pela conquista do oeste selvagem (Touro Sentado). O farsante e o real em lados opostos. Enquanto um vive de contar mentiras sobre si mesmo o outro tenta apenas sobreviver com o pouco de dignidade que ainda lhe resta e de quebra tenta ajudar seu povo, nessa altura da história completamente subjugado pelos brancos. O choque entre a dura realidade e a mais pura fantasia escapista é o grande mérito dessa brilhante e ácida crítica em cima da construção de mitos irreais, que é bem típica da sociedade consumista e vazia dos norte-americanos. Paul Newman na pele do deslumbrado ídolo está perfeito, numa daquelas atuações que dificilmente esquecemos. A própria surrealidade do cotidiano de Bill (que gostava de namorar cantoras de óperas fracassadas), reforça e torna ainda mais forte sua caracterização. Por fim temos uma participação extremamente inspiradora do grande mito Burt Lancaster. Fazendo o papel de uma pessoa do passado de Bill (que obviamente conhece todas as suas invencionices), Lancaster empresta uma dignidade ímpar a essa película. Sem dúvida Buffalo Bill and the Indians é um excelente filme que nos leva a pensar em vários temas relevantes, como a própria destruição da cultura indígena e a dignidade desse povo que foi massacrado impiedosamente pelos colonos americanos. Um libero que merece ser conhecido por todos.

500 Milhas
Esse filme estrelado por Paul Newman é bem curioso. Passa longe de ser um de seus mais conhecidos trabalhos no cinema mas também tem curiosidades que o fazem único. A primeira delas é o fato do tema do filme ser uma das grandes paixões do ator em sua vida pessoal: o automobilismo. Apaixonado por carros de corrida, Newman nunca mais abandonou as pistas depois das filmagens desse longa, tanto que anos depois acabou fundando sua própria equipe, a Newman / Racing, que acabou se tornando uma das principais escuderias da Formula Indy. De fato, ao se assistir 500 milhas percebemos bem que estamos na presença de um astro que bancou uma produção complicada apenas para homenagear sua grande paixão. O filme até tenta colocar uma certa profundidade em seu roteiro. O personagem de Newman, por exemplo, se envolve com uma mulher divorciada (interpretada por sua esposa na vida real, Joanne Woodward) mas esse lado do filme logo naufraga. Mesmo tentando o ator não consegue convencer nas cenas dramáticas. Newman aparece apático e sem empolgação nesses momentos, algo completamente diverso do que ocorre nas cenas em que corre nas pistas. No volante de um carro possante Newman se transforma completamente e aí entendemos a razão de ser da produção, pois no fundo tudo se resume ao fato do ator se divertir no circo da Indy. As próprias locações refletem isso. Não satisfeito em filmar no templo de Indianapolis, Paul Newman faz um verdadeiro tour pelas principais pistas e categorias da época. Obviamente para quem gosta do esporte certamente é um prato cheio. O grande destaque fica mesmo nas cenas de corrida. Nesse ponto o diretor demonstra que as tomadas e os ângulos de câmera que foram produzidas justificaram plenamente a existência do filme. Realmente as cenas de competição estão entre as melhores já mostradas nas telas de cinema. São empolgantes e bem documentadas. O interessante é que além de extremamente bem fotografadas dentro dos circuitos, o filme mostra ainda um panorama bem abrangente de toda a movimentação que cercava todos esses grandes prêmios. Enfim, Winning jamais será mais lembrado que os grandes clássicos da carreira de Newman, mas certamente mostra um dos aspectos mais curiosos e interessantes da personalidade do ator. Não vai mudar sua vida mas também não será nada penoso se divertir por duas horas no volante ao lado de Paul Newman.

Desafio à Corrupção
"Desafio à Corrupção" é uma crônica sobre o fracasso pessoal. O personagem principal, Eddie Felson (Paul Newman), é em essência um pequeno golpista que leva sua vida em espeluncas de sinuca onde engana os desavisados. Ele se faz passar por um idiota que não sabe jogar, perdendo algumas partidas fáceis. Seu papel de "pato" atrai outros jogadores que aceitam apostar quantias vultuosas pensando ganhar um dinheiro fácil. Uma vez apostado somas altas Eddie finalmente se revela mostrando toda sua grande habilidade no jogo. Sem emprego, casa ou destino, Eddie vai levando sua vida partida após partida, até enfrentar um grande jogador como ele, Minnesota Fats (Jackie Gleason) . O destino desse confronto vai mudar os rumos de sua vida. Eddie pretende vencer o grande mestre para provar a si mesmo que é um vencedor e não um fracassado como foi definido por Bert Gordon (George C. Scott), um agenciador de apostas e escroque local. É impressionante a quantidade de grandes filmes na carreira de Paul Newman. Aqui ele realiza uma de suas atuações mais brilhantes, tanto que foi indicado ao Oscar de Melhor ator. Injustamente não venceu o prêmio mas a justiça se faria anos depois quando Newman retornaria ao mesmo personagem em "A Cor do Dinheiro" ao lado de Tom Cruise. Após tanto tempo Paul Newman finalmente sairia vencedor na categoria. Justiça tardia mas bem-vinda certamente. Outro atrativo do elenco é a presença de Jackie Gleason como Minnesota Fats. O comediante se revela um ator dramático de mão cheia. "Desafio à Corrupção" foi indicado a vários prêmios, inclusive Melhor Filme, mostrando sua imensa qualidade cinematográfica. O roteiro, muito bem escrito, disseca a tênue linha existente entre a vitória e a derrota. A vida é representada pela mesa de bilhar, onde destinos parecem fluir ao sabor das tacadas, resultado numa excelente metáfora sobre a vida e morte dos personagens. "The Hustler" é uma obra prima do cinema. Simplesmente obrigatório.

Pablo Aluísio.