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domingo, 31 de maio de 2020

Casablanca

Casablanca é certamente o filme clássico mais cultuado da história do cinema. Casablanca é uma cidade situada no Marrocos. Também foi um local vital para os refugiados europeus que fugiam do regime nazista. De Casablanca era possível pegar um avião rumo a Lisboa e de lá fugir para os Estados Unidos. E é nesse local que vive Rick Blaine (Humphrey Bogart), um americano cínico, sempre com uma ironia na ponta de língua. Se dizendo “neutro” em relação a tudo que acontece na Europa, ainda que nas vésperas da entrada dos Estados Unidos no conflito, ele angaria simpatia de todos os lados, dos membros do regime entreguista francês aos integrantes da famosa resistência francesa. Dono de um bar muito procurado na região, que acaba funcionando como ponto de encontro de refugiados em busca de uma saída dos horrores da guerra na Europa, o lugar vira uma espécie de ponto de partida rumo à liberdade. Os problemas para Rick começam a surgir quando um conhecido lhe pede que fique de posse de dois salvo-conduto, documentos que garantem a quem os possuir livre passagem rumo à Lisboa. Para completar o intrigado jogo de xadrez, ele ainda tem que lidar com a volta de Ilsa (Ingrid Bergman) uma antiga paixão dos tempos em que morava em Paris.

“Casablanca” assim tece a teia de sua trama que envolve romance, espionagem, política e amores impossíveis de se concretizarem. O filme virou símbolo de toda uma era. Ao longo dos anos ganhou uma áurea e um status que o coloca lado a lado a outros grandes filmes como “E o Vento Levou”, "Lawrence da Arábia" e “Cidadão Kane”. O curioso é que não foi recebido com todo essa consagração em sua época. Embora tenha sido o grande vencedor do Oscar em seu ano de estreia, o filme era visto apenas como uma produção um pouco acima da média, com produção do conhecido Hal B. Wallis. Não era considerada uma obra prima e nem um marco da história do cinema americano em seu tempo. De fato “Casablanca” só adquiriu todo essa importância nos anos seguintes. Mas afinal o que tornou esse filme o cult que conhecemos hoje em dia? E por que foi elevado à posição de produção símbolo da época de ouro de Hollywood? Responder a essas perguntas não é nada fácil. O que parece ter acontecido é que “Casablanca” por ter vários elementos cruciais do cinema clássico tal como o entendemos na atualidade, acabou ganhando a posição de símbolo daqueles anos, daquela era dourada do cinema americano.

Temos que reconhecer que o filme em si ainda é muito bem realizado, muito bem roteirizado e tem os elementos certos bem encaixados. A Academia reconheceu esse aspecto e premiou "Casablanca" com o  Oscar nas principais categorias, entre elas a de melhor direção (Michael Curtiz), filme e roteiro. A trilha sonora, sempre lembrada, leva o espectador de forma imediata ao conturbado mundo político da II Guerra. Não há batalhas e nem combates em cena, pois é um filme de bastidores do que acontecia na guerra, que mostra a luta de quem apenas desejava acima de tudo sobreviver. O personagem interpretado por Bogart também era um sobrevivente. Sob uma postura de cinismo e frieza a tudo o que acontece ao redor, existia ali também um idealista que lutou contra o regime ditatorial na Espanha. Além disso embaixo da fachada de fria indiferença com as mulheres surgia também um homem apaixonado e magoado por ter sido abandonado pela mulher que amava. Nem é necessário elogiar a grande interpretação de Bogart. Com eterno cigarro na boca, rosto de tédio e expressão cool, o ator arrasou em sua caracterização. De fato o personagem reuniu tudo o que faria de Bogart um mito eterno do cinema. Foi a cristalização de sua imagem no cinema, definindo toda a sua carreira.

A atriz sueca Ingrid Bergman impressionava pela beleza, pelos olhos sempre cheios de lágrimas e pela sensualidade á flor da pele. O curioso é que sua personagem nem deveria despertar tanto carisma assim no espectador, uma vez que era uma mulher casada que se envolvia com um outro homem em Paris. O público porém ignorou tal fato e ela surgiu suprema em cena, despertando suspiros em cada momento que aparecia. Assim temos em “Casablanca” um filme nostálgico que conseguia trazer em seu roteiro  conspirações, conchavos e romance, tudo na medida certa. Além disso os personagens eram modelos de uma época do cinema americano que já não existe mais. Muito provavelmente por isso o filme seja tão cultuado. É uma símbolo do que se produzia em sua época. Por todas essas razões é até desnecessário falar mais sobre o filme. “Casablanca” é um clássico para se rever sempre, de tempos em tempos. Um filme realmente atemporal e eterno. Item essencial na sua coleção de filmes.

Casablanca (Casablanca, Estados Unidos, 1942) Direção: Michael Curtiz / Roteiro: Julius J. Epstein, Philip G. Epstein, Howard Koch, Murray Burnett, Joan Alison / Elenco: Humphrey Bogart, Ingrid Bergman, Paul Henreid, Claude Rains, Conrad Veidt, Sydney Greenstreet, Peter Lorre, S. Z. Sakall, Madeleine Lebeau / Sinopse: Após ser perseguido pelos nazistas um atravessador entrega a Rick Blaine (Bogart), dono de um bar cassino em Casablanca, dois documentos que garantem passe livre a quem os possuir. Ao mesmo tempo Rick reencontra Ilsa Lund (Bergman), uma antiga paixão dos tempos em que morava em Paris. Após ser abandonado sem razão, ela agora está de volta e pretende fugir com o marido rumo aos Estados Unidos, para fugir dos nazistas. Apenas Rick possui a chance de lhe dar os salvo-condutos. Será que fará isso pelo amor de sua vida?

Pablo Aluísio.

 

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

A Estranha Passageira

O filme mostra, acima de tudo, como uma mãe dominadora e opressora pode influenciar negativamente na personalidade de uma filha. Charlotte Vale (Bette Davis) é a filha da matriarca de uma das famílias mais aristocratas e milionárias de Boston. A mãe a reprime de todas as formas, seja na forma de se vestir, seja na forma de se comportar. Com isso Charlotte acaba desenvolvendo uma personalidade tímida, medrosa em excesso. Depois de um colapso nervoso ele é internada em uma instituição psiquiátrica. Aos poucos ela vai melhorando. O psiquiatra então sugere que ela faça um grande cruzeiro em direção ao Rio de Janeiro. País tropical, cheio de belezas naturais, certamente a mudança de clima iria melhorar sua saúde mental. E assim Charlotte embarca em um belo navio transatlântico. Na viagem acaba se apaixonando por um homem chamado Jerry Durrance (Paul Henreid). Tudo seria maravilhoso, uma grande história de amor se não fosse por um detalhe crucial: ele já era casado, pai de um casal de filhos.

De volta aos Estados Unidos Charlotte então precisa defender suas novas posições diante da vida. Ela está bem vestida, com roupas modernas, dona de si, interagindo muito bem com as pessoas e apaixonada. Mudanças que sua mãe não encara com bons olhos, claro! Será que ela resistirá novamente aos atos de opressão de sua própria mãe? Esse filme é muito bem escrito e atuado. Valeu uma indicação ao Oscar para Bette Davis. Mais do que merecido. Afinal ela interpreta sua personagem em dois momentos bem diferentes da vida. No primeiro surge oprimida e triste, no segundo finalmente se liberta, sendo uma mulher de verdade, vivendo a vida, amando e sendo feliz. Só uma grande atriz como Davis poderia tornar crível esse tipo de mudança comportamental. Em termos gerais é um bom drama romântico com nuances psicológicas. Algo cada vez mais raro de encontrar nos dias de hoje.

A Estranha Passageira (Now, Voyager, Estados Unidos, 1942) Direção: Irving Rapper / Roteiro: Casey Robinson, baseado na peça escrita por Olive Higgins Prouty / Elenco: Bette Davis, Paul Henreid, Claude Rains, Gladys Cooper / Sinopse: Charlotte Vale (Bette Davis) é uma mulher com muitos problemas psicológicos e emocionais. Por recomendação médica acaba embarcando em um cruzeiro rumo ao Rio de Janeiro. Durante a viagem acaba se apaixonado por Jerry Durrance (Paul Henreid), um homem casado. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Música (Max Steiner). Também indicado nas categorias de Melhor Atriz (Bette Davis) e Melhor Atriz Coadjuvante (Gladys Cooper).

Pablo Aluísio.