Eu assisti a esse filme quando ele foi lançado, nos anos 80. Nesta semana, resolvi rever em uma exibição na TV a cabo. Eu me recordo muito bem que o filme foi extremamente criticado por fundamentalistas cristãos. A polêmica girava em torno de um suposto desrespeito em relação a figura de Cristo. Nada poderia ser mais equivocado. Não existe desrespeito no roteiro desse filme. Ao contrário disso, o que se vê no filme é uma discussão bem interessante e muito complexa sobre o lado humano de Jesus. E se ele tivesse negado o destino na cruz? E se ao invés disso, ele preferisse viver uma vida normal de um homem comum de seu tempo? E se ele escolhesse ter uma família, uma esposa, filhos e viver até a velhice? São questões que o filme aborda de forma inteligente e muito sutil.
Até porque vamos refletir. O significado do destino na cruz é uma criação teológica, feita por teólogos após a morte de Jesus. Não é algo que se possa dizer que seja historicamente preciso. O que pensou Jesus, sobretudo sobre o que estava acontecendo em seus momentos finais? Ele realmente, no momento em que subiu à cruz, pensou estar, de alguma forma, cumprindo a vontade de Deus? Um questionamento no mínimo interessante. O filme mostra justamente esse dualismo entre o Jesus divino, com destino para salvar a humanidade e o Jesus humano, temeroso pelos acontecimentos. Nenhum ser humano quer ser pregado em uma cruz. Historicamente foi uma das formas de execução e tortura mais bárbaras e desumanas que já existiram na humanidade.
Muitos ficaram revoltados contra o filme em relação a pequenos detalhes sobre a vida desse Jesus de Scorsese. Em determinado momento ele surge construindo cruzes para o Império Romano. Historicamente essa hipótese não é absolutamente absurda. Se ele era carpinteiro, é normal que em algum momento tenha trabalhado ou prestado serviços para os romanos. No filme, ele é xingado de traidor por fazer esse tipo de trabalho. Eu penso que a situação historicamente seria muito mais precisa do que algumas pessoas poderiam pensar. Há um fundo de verdade histórica e plausibilidade nesse tipo de situação. Ele era um homem da classe trabalhadora e precisava ganhar o pão de cada dia.
Apesar disso temos aqui um roteiro essencialmente teológico. É um Jesus fragilizado que treme diante da cruz. Jesus realmente quis morrer na cruz para ser o salvador do mundo? Ou ele queria mesmo ser o Messias para expulsar os romanos de sua terra para assim assumir o poder político? Seu plano deu certo ou errado? Se ele pensava ser um revolucionário político, deu errado. Se pensava ser o salvador, deu certo, pelo menos no plano da pura teologia. Para os romanos, no final das contas, ele era apenas um terrorista que ameaçava a dominação do Império naquela região. A morte pela aruz era a morte mais infame que existia, reservada aos piores criminosos do Império Romano. Não deixa de ser uma ironia triste e trágica do destino que Jesus tenha morrido dessa maneira. E assim Scorsese fecha as cortinas de uma de suas mais relevantes obras cinematográficas. Aplausos para o mestre!
Pablo Aluísio.
Drama Histórico
ResponderExcluirPablo Aluísio.
"Ele realmente, no momento em que subiu à cruz, pensou estar, de alguma forma, cumprindo a vontade de Deus?"
ResponderExcluirTanto que ele mesmo fraqueja e diz: "senhor, por que me abandonaste?".
E realmente, pra um homem que só pregava a paz, ser morto crucificado como um "Bin Laden" do seu tempo, chega a ser incoerente; está faltando muita história aí.
A teologia cristã montou um ser humano pronto e acabado para.viver tudo aquilo que sofreu. É a figura do Messias, do filho de Deus. Só que, ao pensarmos bem sobre esse tema, ficamos com dúvida: Ele tinha plena consciência de tudo isso? Nunca saberemos...
ResponderExcluirO que mais incomodou os carolas americanos foi o delírio de Jesus na cruz, imaginando um vida normal, sexual, com a Maria Magdalena. Americano e assim. Pode-se matar 500, mas falou em sexo, ficam todos melindrados.
ResponderExcluirHerança do puritanismo hipócrita
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