quinta-feira, 24 de novembro de 2022

A História de Rock Hudson - Parte 14

Embora fosse gay, Rock Hudson não gostava de homens afeminados. Na verdade, tinha uma certa aversão a eles. Sempre que estava assistindo a um programa de TV e esse começasse a exibir um comediante imitando os gestos de um gay afeminado, exagerado, desmunhecando, Rock mudava de canal. Achava que esse tipo de comportamento transformava todos os gays em piada. Ele não via a menor graça nisso. Rock também jamais se relacionava com homossexuais que tinham esse jeito de ser. Todos os seus romances eram com homens que tinham a mesma postura do que ele. Eram sujeitos másculos, com imagens de homens heterossexuais. Seu tipo preferido eram homens altos, fortes, loiros, de olhos azuis. Muitos dos namorados de Rock também levavam uma vida dupla, tinham namoradas, noivas e alguns eram até casados. Esses jamais despertavam a curiosidade sobre suas sexualidades. Pareciam homens exclusivamente heterossexuais.

Rock Hudson tinha hábitos puramente associados aos hetéros. Ele era aquele tipo que gostava de se vestir com ternos elegantes, da melhor linha masculina do mercado. Suas casas tinham decorações fortes, em que um homem heterossexual se sentiria confortável. Nenhum sinal de cultura gay em seus móveis ou quadros. Ele também gostava muito de fumar. Nos anos 1950 isso ainda era considerado algo charmoso e elegante e o cigarro não era visto como algo negativo, pelo contrário, fazia parte do charme de ser uma estrela de cinema. Aliás os grandes astros de Hollywood faziam peças publicitárias de marcas de cigarro, algo que seria bem comum e encarado como normal até meados dos anos 1980. O próprio Rock costumava brincar dizendo: "Espero que os cientistas descubram logo que o cigarro faz muito bem à saúde, que mata todos os germes do corpo, pois adoro fumar". Era normal em sua vida o consumo de dois a três maços de cigarro por dia - um tipo de hábito que levou muitas pessoas à morte ao longo de todos esses anos. O próprio Rock seria diagnosticado com câncer em seus últimos meses de vida.

Outro problema que seguiu Rock Hudson por toda a vida foi a bebida. Rock foi um sujeito bom de copo. No começo da carreira ele ainda não tinha tomado tanto gosto pela coisa, mas conforme foi virando um astro de cinema, participando das muitas festas que Hollywood ia promovendo, seu consumo de álcool foi ficando fora de controle. Gostava de beber whisky puro, sem gelo, estilo conhecido como "cowboy". Entre as obrigações que um ator de sucesso tinha que cumprir na capital do cinema estava a de ser extremamente sociável, e isso significava participar de muitos jantares e festas com os donos de estúdios, premiações e banquetes. E nesse processo a bebida estava sempre presente. Fazia parte. Rock não se fez de tímido e se entregou de corpo e alma ao copo. O problema é que em pouco tempo isso se tornou um hábito que que ele não conseguia mais abandonar. Acabou se tornando alcoólatra.

Após uma viagem ao Brasil ao lado do diretor de publicidade da MGM, Tom Clark, Rock decidiu convidá-lo para ir morar ao seu lado no "Castelo" (o nome pelo qual sua mansão nas colinas de Hollywood era conhecida). Isso só fez aumentar seu consumo de bebidas diariamente. Clark era tão beberrão como Rock e tudo virava pretexto para que eles, todos os dias, ficassem bêbados. Tom Clark também entendeu que Rock estava com a carreira declinando. Para conseguir novos papéis era importante ele reviver sua intensa vida social. Deveria promover jantares e encontros em sua casa. Assim encontraria diretores e produtores nas festas. Isso foi bom, mas também trouxe mais uma desculpa para Rock encher a cara todas as noites.

Rock também se aventurava de vez em quando na cozinha, inventando de preparar jantares gourmets para seus amigos e amantes. Quase sempre dava errado, mas o importante era a diversão. O amigo George Nader relembrou em entrevistas que Rock gostava muito de preparar pratos diferentes, exóticos, mas sua vontade de fazer jantares com pratos finos esbarrava em sua própria falta de jeito para cozinhar! Além disso Rock era conhecido por queimar todos os pratos - dias de churrasco então era um terror! Rock gostava de beber antes de jantar e por isso atrasava o máximo possível o começo de suas refeições. O reflexo disso é que tudo terminava queimado e até pegando fogo! Certa vez durante um churrasco com amigos Rock teve que jogar um balde de água em cima da carne que estava literalmente pegando fogo!!!

Rock Hudson costumava dizer que três coisas lhe faziam feliz: O trabalho, a bebida e o sexo! Curiosamente não foi o trabalho, nem o cigarro e muito menos a bebida que iria destruir com sua vida, mas o sexo! Rock era gay e isso em uma época extremamente perigosa pois a AIDS ainda era uma doença desconhecida da medicina. O sexo era praticado sem proteção, e ninguém estava preocupado com DSTs. Como era rico e famoso, Rock teve muitos parceiros ao longo de sua vida, inclusive pessoas de San Francisco, a capital gay dos EUA, a primeira cidade onde o vírus realmente se espalhou, principalmente entre a comunidade gay local. Naquela época ser diagnosticado com AIDS era o mesmo que receber uma sentença de morte. Rock não conseguiu escapar da rápida proliferação da doença e menos de um ano depois de descobrir que tinha o vírus HIV estava morto. Seu legado foi ter assumido pouco antes de sua morte que era homossexual e que estava com AIDS. O escândalo criado fez a festa dos jornais sensacionalistas, mas também alertou as pessoas e fez com que autoridades públicas tomassem as devidas providências para que a nova doença fosse combatida. Um ato de coragem final que ajudou muitas pessoas ao redor do mundo, seja de forma direta ou indireta.

Pablo Aluísio.

3 comentários:

  1. Cinema Clássico
    Rock Hudson - Os Prazeres da Vida
    Pablo Aluísio.

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  2. Que o Rock Hudson não gostava de gays desmunhecados é muito óbvio. Ele próprio parecia um Tarzan. Daí a surpresa quando a verdade veio a tona.

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  3. Ele não gostava de gays que davam pinta de serem gays. Era um cara bem mais discreto, até pela profissão. Afinal nas telas ele era o galã perfeito.

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