quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Crônicas de Marlon Brando - Parte 28

E assim, contra todas as expectativas, Marlon Brando aceitou fazer um teste de câmera para o papel de Vito Corleone no filme "O Poderoso Chefão". O ator só fez uma exigência: o teste deveria ser feito em sua própria casa em Los Angeles. Quando a equipe da Paramount chegou em sua mansão para instalar os equipamentos, Brando surgiu do alto da escada, vestindo um kimono japonês, comprado quando ele estava no Oriente filmando "Casa de Chá do Luar de Agosto". Parecia tranquilo e bem humorado, mesmo sabendo que aquele era um momento crucial em sua carreira.

Para ajudar na caracterização Brando resolveu colocar pequenas almofadas em sua boca, para da a impressão de que seu personagem tinha grandes bochechas, como um bondoso pai pois era justamente esse tipo de caracterização que o ator estava construindo. Para Brando o chefe do clã Corleone não poderia se parecer com um gângster comum, como aqueles que o cinema havia retratado nos anos 1940. Para Brando o importante era humanizar o velho Corleone, o mostrando na tela como um bom pai de família que precisou entrar para o mundo do crime justamente para proteger os seus entes queridos.

O teste foi um sucesso. Ninguém mais poderia atuar daquela forma. Mesmo estando em baixa, comercialmente falando, em Hollywood o talento inigualável continuava lá. Brando ainda era um monstro na arte da atuação, um verdadeiro gênio. Houve uma certa apreensão por parte do estúdio em relação à máfia italiana real. O centro dos negócios das grandes famílias mafiosas em Nova Iorque era situado no bairro de Little Italy. Alguns diziam que a máfia poderia causar problemas durante as filmagens. O medo era real na Paramount. Brando não se intimidou. Durante as filmagens resolveu ir lá, in loco, para testar o clima de tensão que poderia estar se formando entre a comunidade italiana. Para sua surpresa Brando foi recebido como um herói por parte dos membros reais da cosa nostra. Todos entenderam perfeitamente que Brando estava interpretando o chefão da máfia de forma muito respeitosa e coerente com a própria história de muitos dos primeiros imigrantes italianos que chegaram em Nova Iorque no começo do século.

Brando até mesmo ficou bastante admirado pois ao sentar-se em um pequeno restaurante em Little Italy, logo foi recebido com honras pelos donos da cantina, tão tipicamente siciliana. Mais do que isso, todos já sabiam de antemão os pratos favoritos do ator, seus hábitos à mesa, etc. Certamente Brando havia sido cuidadosamente estudado pela máfia italiana. Quando chegou a hora de pagar a conta o dono do restaurante foi claro: "Senhor Brando, seu dinheiro não tem valor aqui no bairro - ninguém teria coragem de cobrar de uma figura tão ilustre!". Marlon ficou envaidecido e procurou dar ainda mais o melhor de si no filme que no final das contas mudaria sua carreira para sempre. Embora tivesse uma filmografia incomparável até aquele momento, nada conseguiria superar a repercussão desse novo filme, que em breve seria considerado um dos maiores de todos os tempos.

Pablo Aluísio.

4 comentários:

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  2. O mafioso real fisicamente mais parecido com o Don Corleone, foi o Joseph Bonano (Joe Bananas). Era considerado um homem de belas feições, elegante e sobrio no vestir, gentil no trato e um negociador antes de usar a violência. Quando, depois de um levante, Salvatore (Luck) Luciano estabeleceu o regime das "cinco famiglias" na Máfia de Nova York, o Joe Bonano foi o mais jovem, 26 anos, a ser nomeado como chefe de uma dessas cinco familias e assim permaneceu até a sua morte em 2002, já com idade avançada de 97 anos.

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  3. Sem dúvida. O próprio título, O Padrinho do original inglês, reflete esses laços familiares envolvendo os membros da máfia.

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