segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Crônicas de Marlon Brando - Parte 26

Apesar de tudo o filme "Sindicato de Ladrões" se transformou em um dos maiores êxitos da carreira de Marlon Brando. Depois da realização desse filme começaram os problemas do ator com a Twentieth Century Fox. Ele havia assinado um contrato milionário com a Fox, com um salário surpreendente para a realização de apenas três filmes. O estúdio queria que Brando estrelasse "O Egípcio", épico dirigido pelo conceituado diretor Michael Curtiz. Seria o primeiro filme após o acordo. Brando leu o roteiro e detestou tudo, desde a falta de fidelidade histórica até o romance piegas em que seu personagem se envolvia durante a trama. 

Em uma época em que atores faziam os filmes que os chefões das grandes companhias determinavam o ator teve a ousadia de dizer em alto e bom som um grande "não" para a famosa produtora. Sua recusa em fazer "um filme ruim de doer" segundo suas próprias palavras, soou como alerta para a Fox que imediatamente resolveu processar o ator por quebra de contrato. Para piorar ainda mais Brando saiu dando entrevistas sobre a megaprodução dizendo que era "um lixo" e que "Hollywood deveria se envergonhar de investir dinheiro em uma porcaria dessas!". O comportamento rebelde de Brando deixou o produtor Darryl F. Zanuck possesso de raiva. O ator não apenas se recusava a fazer filme como promovia uma intensa publicidade negativa para a imprensa, dizendo a todos que o roteiro era péssimo e os personagens uma piada.

Na guerra de egos Hollywoodiana o fato era que Brando detestava o todo poderoso chefão Zanuck. Considerava ele um sujeito medíocre que não entendia nada da arte de atuar. Também achava ridículo seu hábito de sempre estar cercado de mulheres loiras e burras que ele tentava promover em vão como grandes estrelas de cinema. Para uma jornalista fofoqueira de Los Angeles Brando soltou a seguinte piada que foi publicada em todos os jornais no dia seguinte: "Zanuck tem os dentes tão tortos que eles chegam dois minutos antes dele quando ele atravessa uma porta!". Depois disso o produtor da Fox entrou com uma pesada ação contra Brando pedindo vinte milhões de dólares de indenização por perdas e danos e quebra de contrato. Ora, na época Brando nem sonhava em ter tanto dinheiro assim. Dessa maneira assim que foi citado pegou o primeiro avião para Nova Iorque. Estava decidido a nunca mais fazer um filme na vida. Queria voltar para o teatro e esquecer as futilidades da costa oeste. Em sua cidade querida Brando retomou sua rotina, andando de moto por toda a cidade, algumas vezes dormindo nas praças públicas após mais uma noite de farras. Ele não estava nem aí para Zanuck e a Fox.

A questão é que o processo seguiu em revelia e Brando foi condenado. Isso seria sua ruína financeira para todo o sempre. O advogado então propôs que Brando considerasse uma nova proposta da Fox. Ele estrelaria um outro filme, "Désirée, O Amor de Napoleão" e a Fox perdoaria a imensa quantia que havia ganho nos tribunais. Marlon achou simplesmente patética a possibilidade de vir a interpretar o imperador Napoleão Bonaparte no cinema, mas pressionado por uma dívida que jamais poderia pagar ele acabou engolindo seu orgulho e de repente se viu aceitando os termos da nova proposta. Três meses depois lá estava Brando desembarcando em Los Angeles, uma cidade que abertamente detestava para o começo das filmagens. Os problemas, porém, não pararam por aí. Com poucos dias de trabalho Brando chegou na conclusão de que o diretor Henry Koster era um completo imbecil. Ao invés de se preocupar com as cenas e a atuação do elenco ele passava horas discutindo sobre o figurino de Napoleão e os membros da corte francesa. Ao invés de se importar com o roteiro Koster parece mais interessado no tipo de botão certo que as roupas deveriam ter. Brando deu um basta para aquela patetice.

Assim como aconteceu com "O Egípcio" Brando também achou o roteiro de "Désirée" um lixo. Para sabotar o filme ele começou a mudar seu sotaque de cena para cena. Em certas ocasiões falava com sotaque britânico, para depois puxar as falas como se fosse um prussiano. Como estava frustrado e entediado com o material também começou a fazer arruaças no set. Em certa ocasião pegou uma mangueira de incêndio e alagou todo o cenário. O comportamento de Brando assim começou a ser comentado em todos os jornais e ele foi considerado um profissional fora de controle, cheio de estrelismos. Não era verdade, Brando apenas queria se vingar ao seu modo do produtor Zanuck. De uma maneira ou outra e aos trancos e barrancos o filme finalmente ficou pronto e para surpresa de todos acabou se tornando um sucesso de público e crítica. Brando por sua vez foi aconselhado pelo estúdio a não dar entrevistas pois temia-se que ele começasse a falar mal do filme como havia feito com o projeto de "O Egípcio". Muitos anos depois Brando culparia a falta de sofisticação e cultura do povo americano pelo sucesso do filme. Em uma frase decretou: "Nunca ninguém perdeu dinheiro subestimando a imbecilidade dos americanos. São realmente uns ignorantes!".

Pablo Aluísio.

3 comentários:

  1. "Muitos anos depois Brando culparia a falta de sofisticação e cultura do povo americano pelo sucesso do filme. Em uma frase decretou: "Nunca ninguém perdeu dinheiro subestimando a imbecilidade dos americanos. São uns ignorantes"
    Pois é. Sem dívida, "Desiré, O Amor de Napoleão" que eu assisti a força, deveria ser pior que "O Egípcio", que pelo menos seria dirigido pelo competente Michael Curtiz.

    ResponderExcluir