Logo no começo de 1964 Marlon Brando voltou a Hollywood para fazer mais um filme para a Twentieth Century Fox. O produtor seria o poderoso Darryl Zanuck, um sujeito que Brando particularmente detestava, mas que havia lhe oferecido um bom cachê para estrelar o filme "Morituri". Marlon então engoliu seu orgulho e resolveu trabalhar na película.
O fato é que ele estava desesperadamente precisando de dinheiro. Brando havia comprado uma ilha isolada no Pacífico Sul e tinha planos de construir um grande hotel no local. O filme também contaria no elenco com a presença de seu grande amigo pessoal, Wally Cox, que interpretaria um médico viciado em morfina. Anos depois, relembrando a época em que fez "Morituri", Brando afirmou: “Fiz esse filme por causa do dinheiro. Também aceitei trabalhar por causa de Wally Cox, o melhor amigo que tive em minha vida”. Talvez por ter entrado no projeto pelas razões erradas, talvez por não gostar muito do material, a questão é que assim que pisou no set de filmagens Brando começou a criar problemas com o diretor e o resto da equipe do filme.
O roteiro foi escrito pelo talentoso Daniel Taradash, o mesmo roteirista do aclamado “A Um Passo da Eternidade”. A história era bem interessante. Robert Gray (Marlon Brando) era um agente duplo do serviço de inteligência britânico. Durante a II Guerra Mundial ele se fazia passar por oficial nazista em um cargueiro em alto-mar que transportava uma preciosa carga para o esforço de guerra alemão. Seu objetivo era facilitar a captura do cargueiro pela marinha inglesa antes que ele chegasse em seu porto de descarga. Era em suma um agente de espionagem, um sabotador.
O roteiro original estava muito bem escrito, mas Brando detestou o que leu. Passou por cima do texto original e disse que iria fazer modificações. Ignorando completamente o livro que deu origem ao roteiro, Brando saiu cortando trechos inteiros da estória ao seu bel prazer. Na verdade, o ator destruiu o roteiro original e passou a reescrever tudo no meio das filmagens, um ato temerário uma vez que ele nunca fora roteirista na vida. Sua intromissão foi tão grande que em pouco tempo ele estava cortando personagens inteiros da trama. Mesmo agindo assim, de forma completamente arbitrária, não foi impedido pois afinal de contas ainda era considerado um grande astro do cinema americano.
O resultado final se mostrou desastroso. O roteiro ficou completamente truncado, mal desenvolvido e com uma trama até mesmo confusa. O filme acabou indo muito mal nas bilheterias, se tornando mais um grande fracasso comercial do ator nessa fase em baixa de sua carreira, piorando ainda mais seu prestígio dentro dos estúdios de cinema. Brando, porém, não pareceu se importar muito com isso, pois assim que as filmagens acabaram foi embora para sua ilha tropical nos mares do sul.
Depois confidenciou a pessoas próximas que até tinha gostado do fato do filme não ter tido sucesso, pois o prejuízo cairia no colo de Zanuck. Brando esqueceu, porém, que um filme malsucedido não atingia apenas os produtores, mas os atores também. Ele seria o maior prejudicado no final das contas. Por essa época ele começou a ser descartado das escolhas de elenco por ser um ator muito complicado de se lidar no set. Também deixou de ser visto como um astro campeão de bilheteria. Era o começo da pior fase de sua carreira.
Pablo Aluísio.
Cinema Clássico
ResponderExcluirMarlon Brando - Afundando com Morituri
Pablo Aluísio.
Pablo:
ResponderExcluirSe pensarmos bem, a carreira de sucesso do Marlon Brando durou pouco em relação a reputação de grande astro que ele adquiriu. Se não fosse pelo O Poderoso Chefão a carreira dele teria minguado antes da década de setenta.
E pra mim, depois de O Poderoso Chefão ele não fez nada muito relevante, já que eu não gosto do que ele fez em Apocalipse Now.
Esse é o tal do ego. Marlon Brando estava afundado em seu próprio ego. Ele se via como um gênio do cinema, que podia fazer tudo maravilhosamente bem, escrevendo roteiros, dirigindo filmes, só que isso era uma ilusão. Ele era apenas um ator talentoso. Só isso.
ResponderExcluirPerfeito, Lord Erick!
ResponderExcluirIsso se chama falsa percepção de si mesmo e atinge muitos atores famosos de Hollywood até hoje. O sucesso acaba convencendo eles de que são especiais, que sabem de tudo, de todos os assuntos. Mas é apenas egolatria de si mesmo.
Serge,
ResponderExcluirMarlon Brando teve seu auge na década de 1950. Um sucesso atrás do outro, depois nos anos 60 decaiu muito. O retorno ao topo veio nos anos 70 com "O Poderoso Chefão", "Apocalypse Now" e "O Último Tango em Paris". Depois disso, já nos anos 80, ele não fez mais nada de espetacular. Velho, perdeu o interesse pela própria carreira e pelo cinema, o que não deixou de ser algo trágico.
Não deixa de ser estranho o que você citou sobre o Marlon Brando ter contribuído com o Beatlemania por conta do seu filme O Selvagem. Ao contrario do Elvis, e tão difícil unir a persona do Marlon Brando com a revolução com o rock e da juventude daquela época. Parece que não combina.
ResponderExcluirPS. Não estou acentuando algumas letra como ´´e, por exemplo, porque meu teclado est´´a fazendo isso ´´ e não consigo consertar.
ExcluirSim, exato, mas na cultura pop todos influenciam e são influenciados. A cultura é como um rio, que vai numa correnteza e ninguém consegue parar.
ResponderExcluir