terça-feira, 19 de dezembro de 2017

O Trem do Diabo

Título no Brasil: O Trem do Diabo
Título Original: Grand Central Murder
Ano de Produção: 1942
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: S. Sylvan Simon
Roteiro: Peter Ruric, Sue MacVeigh
Elenco: Van Heflin, Patricia Dane, Cecilia Parker
  
Sinopse:
Baseado no romance de suspense e mistério escrito pela autora Sue MacVeigh, "Grand Central Murder" explora a figura do detetive particular 'Rocky' Custer (Van Heflin) que deverá usar de toda a sua técnica, intuição e perspicácia investigativa para descobrir quem teria sido o autor de um assassinato durante uma longa e obscura viagem de trem. A vítima é uma jovem mulher, que parece ter tido problemas no passado com vários dos passageiros, incluindo aí um foragido e diversos homens que, de uma forma ou outra, tinham contas a acertar com ela. Todos são suspeitos no final das contas.

Comentários:
Esse enredo me lembrou muito do clássico de Agatha Christie "Assassinato no Expresso do Oriente". Não precisa ir muito longe para perceber que o argumento é extremamente parecido. A premissa é a mesma, coloca-se um grupo de personagens em um trem, durante uma viagem, explora-se o assassinato de alguém e depois insere-se um detetive no meio para descobrir quem seria o autor do crime. Para complicar ainda mais o mistério, cada passageiro parece ter sua própria motivação para ter cometido o crime. É o tipo ideal de filme para o espectador que gosta de desvendar crimes misteriosos. Deixando isso de lado o que mais se sobressai nessa produção é sua inegável linguagem noir, usando e abusando das sombras, dos personagens dúbios e do lado mais sórdido da natureza humana. Praticamente não existem personagens completamente íntegros pois cada um parece esconder um aspecto desprezível em sua própria personalidade. As mulheres são fatais e os homens se movem por motivos sombrios e inconfessáveis. Resumindo, todos os ingredientes que fizeram do cinema noir uma preciosidade da sétima arte estão presentes. O diferencial vem também de um bem inserido humor negro em seu texto, que vai inclusive chocar os mais adeptos do politicamente correto que impera nos dias atuais. É realmente surpreendente que um filme que foi realizado em plena década de 1940 tenha tanta acidez e morbidez como esse, em seu roteiro. Um exemplo perfeito de uma era em que Hollywood conseguia ousar e ser realmente revolucionária em suas produções cinematográficas.

Pablo Aluísio.

A Mulher que Soube Amar

Título no Brasil: A Mulher que Soube Amar
Título Original: Alice Adams
Ano de Produção: 1935
País: Estados Unidos
Estúdio: RKO Radio Pictures
Direção: George Stevens
Roteiro: Dorothy Yost
Elenco: Katharine Hepburn, Fred MacMurray, Fred Stone
  
Sinopse:
Baseado no romance escrito por Booth Tarkington, o filme narra a história de Alice Adams (Katharine Hepburn), uma jovem pobre, de origem humilde, que se encanta com a vida dos ricos e famosos. Após ser convidada para uma festa de grã-finos de sua cidade, ela descobre que a barreira social pode ser tão complicada de se superar como qualquer outro preconceito existente na sociedade. Apaixonada pelo rico e bonitão Arthur Russell (Fred MacMurray), ela precisará superar várias barreiras para concretizar sua paixão. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme e Melhor Atriz (Katharine Hepburn).

Comentários:
Bom drama social que investe no problema sempre presente do chamado preconceito social. A personagem de Katharine Hepburn é filha de um simples trabalhador, que inclusive se encontra sem trabalhar por problemas de saúde. Ela sonha com a vida luxuosa dos ricos, mas não tem condições financeiras de viver no meio de todo daquele luxo e ostentação. Tão pobre é que precisa sempre reformar o mesmo vestido barato para frequentar as festas ricas às quais consegue ser convidada. Sem dinheiro para comprar um belo buquê de flores na floricultura da cidade precisa ir ao campo para colher ela mesma as flores que estarão em seu próprio arranjo floral feito de forma artesanal, em sua própria casa. Para piorar descobre da pior maneira possível que sua condição social também a impede de se entrosar completamente com as garotas ricas de sua idade, ficando geralmente escanteada e ignorada nos grandes bailes festivos. Sua roupa modesta, fruto de remendos e reformas, também não passa despercebida pelas meninas ricas, que não deixam de fazer comentários maldosos sobre isso. Apesar de toda essa situação desfavorável ela mantém uma personalidade feliz e vibrante, sempre falando muito para expressar seus sentimentos. Quando encontra com Arthur, um sujeito rico e elegante, acaba percebendo que finalmente pode ter encontrado a felicidade em sua vida. Duas coisas chamam a atenção nesse belo romance social. A primeira é a jovialidade de Katharine Hepburn como Alice Adams! Ela está esfuziante, com muita vontade de atuar bem. Isso transparece claramente na tela. A segunda é a presença do galã Fred MacMurray, também ainda bastante jovem, esbanjando olhares cândidos (e em certos aspectos bem canastrões também). E pensar que anos depois ele iria se especializar em filmes de faroeste e comédias da Disney. Enfim, um bom filme valorizado por um roteiro bem escrito e a sempre correta direção do mestre George Stevens, aqui já explorando o lado menos louvável do ser humano.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Montanhas Ardentes

Título no Brasil: Montanhas Ardentes
Título Original: Red Skies of Montana
Ano de Produção: 1952
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Joseph M. Newman
Roteiro: Harry Kleiner, Art Cohn
Elenco: Richard Widmark, Constance Smith, Jeffrey Hunter
  
Sinopse:
Quando um grande incêndio irrompe nas montanhas de Montana, um esquadrão de 'Smoke Jumpers' (grupo formado por pára-quedistas de elite do corpo de bombeiros do serviço florestal dos Estados Unidos) é levado para o centro do foco do desastre natural. A situação é desesperadora por causa da extensão do fogo que se alastra pela floresta com ferocidade, o que leva todos aqueles bravos homens ao limite de suas forças. Enquanto isso um dos membros é dado como morto pelo fogo, mas seu filho não se convence e tenta provar que ele foi vítima da covardia de um dos integrantes dos 'Smoke Jumpers'.

Comentários:
Uma aventura focando na vida dos bombeiros que foi muito complicada de se realizar. Nos anos 1950 a tecnologia dos efeitos especiais era ainda muito pouco sofisticada. Para se recriar um incêndio de grandes proporções no meio da floresta não havia outra maneira a não ser colocar fogo de verdade em grandes áreas florestais. Nem precisa dizer que isso era muito perigoso não apenas para a equipe como também para o meio ambiente. Mesmo assim o diretor Joseph M. Newman topou o desafio. O resultado é bem impactante na tela, com os atores literalmente exaustos pela complicada provação física a que foram submetidos. Por falar em elenco ele é de fato muito bom, valorizado pelas esforçadas presenças de Richard Widmark e Jeffrey Hunter (ainda muito jovem, em começo de carreira). O roteiro se desdobra em duas linhas narrativas básicas. Uma explorando a missão dos bombeiros na floresta em si e outra na questão envolvendo a morte de um dos membros da equipe - teria ele sido morto por omissão e covardia de seus próprios colegas de trabalho? A produção tem um estilo levemente documental, tentando recriar em detalhes a vida dos bombeiros do mundo real, mas isso não atrapalha em nada a diversão. Um filme realmente muito interessante, valorizado por um roteiro que mantém a atenção do começo ao fim. Um exemplo de aventura inteligente na era do cinema clássico americano.

Pablo Aluísio.

Mata Hari

Título no Brasil: Mata Hari
Título Original: Mata Hari
Ano de Produção: 1931
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: George Fitzmaurice
Roteiro: Benjamin Glazer, Leo Birinsky
Elenco: Greta Garbo, Ramon Novarro, Lionel Barrymore
  
Sinopse:
Durante a Primeira Guerra Mundial, a jovem cortesã holandesa Margaretha Gertruida Zelle (Greta Garbo) assume o nome artístico de Mata Hari. Divorciada e decepcionada com seu casamento anterior, ela resolve ir para Paris e cria uma identidade nova e própria para si. Usando de coreografias aprendidas enquanto morou no Oriente, Margaretha começa a encantar os homens durante suas sensuais apresentações de dança em teatros na capital francesa. Não tarda e ela acaba sendo procurada pelos principais órgãos de inteligência dos países envolvidos no conflito. Como tem livre passe tanto entre franceses, ingleses e alemães, ela logo se torna uma importante agente dupla de espionagem internacional.

Comentários:
Esse filme é historicamente importante porque traz uma lenda interpretando outra lenda. No papel principal temos uma das maiores atrizes e mitos da história de Hollywood, a imortal Greta Garbo, que interpreta uma das mulheres mais famosas (ou infames, dependendo do ponto de vista) da história da Primeira Guerra Mundial, a sensual e perigosa Mata Hari (1876 - 1917). Há duas maneiras de encarar a vida e a biografia de Hari, a primeira é abraçar a lenda, que a ajudou a ser extremamente conhecida, até mesmo nos dias de hoje. Sob esse ângulo ela era o que chamamos de mulher fatal. Em uma época em que as mulheres eram extremamente reprimidas, Mata Hari conseguia ser ao mesmo tempo independente e também perigosa, muito por causa de seu envolvimento com espionagem internacional  durante essa guerra que devastou a Europa. A outra forma de encarar sua vida é aquela do ponto de vista puramente histórico. Recentes biografias afirmam que Margaretha não foi tudo aquilo que disseram dela. Na realidade ela se aproximou mais de ser uma vítima de interesses políticos do que propriamente uma perigosa espiã que flertou perigosamente com os alemães, os inimigos. Executado por crimes de guerra em 1917, com apenas 41 anos de idade, Mata Hari virou um ícone, inclusive do movimento feminista, quem diria. Essa produção de 1931 abraça o mito e não a história. Garbo está maravilhosa em cena, esbanjando estilo e glamour. Obviamente que se trata de uma obra cinematográfica feita para o puro entretenimento, o que não o desqualifica como um dos grandes filmes da era do cinema clássico em Hollywood. Um filme que conseguiu unir duas grandes lendas do mundo das artes da primeira metade do século XX com raro brilhantismo.

Pablo Aluísio.

domingo, 17 de dezembro de 2017

A Marca da Maldade

Título no Brasil: A Marca da Maldade
Título Original: Touch of Evil
Ano de Produção: 1958
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal International Pictures
Direção: Orson Welles
Roteiro: Orson Welles, Whit Masterson
Elenco: Charlton Heston, Orson Welles, Janet Leigh
  
Sinopse:
Mike Vargas (Charlton Heston) é um oficial do departamento de narcóticos que acaba tendo que interromper sua lua de mel na fronteira entre Estados Unidos e México, após um empreiteiro americano ser morto por uma bomba colocada em seu carro. Ao que tudo indica, embora a explosão tenha ocorrido dentro do território americano, ela foi plantada no México. As investigações do policial logo revelarão um sórdido caso envolvendo corrupção, tráfico de drogas e de influência nos altos escalões do poder. Filme vencedor do prêmio de Melhor Filme da Los Angeles Film Critics Association Awards. Também premiado pela National Society of Film Critics Awards e New York Film Critics Circle Awards.

Comentários:
"Touch of Evil" foi o último grande filme de Orson Welles para muitos especialistas em sua obra cinematográfica. Embora fosse um gênio da sétima arte, Welles era também um artista complicado de se lidar. Os estúdios não queriam mais bancar seus filmes e a simples menção de seu nome fazia com que muitos produtores fossem embora. O fato é que embora aclamado pela imprensa e pela crítica de sua época, os seus filmes geralmente se tornavam produções caras, problemáticas e mal sucedidas comercialmente. Welles também tinha fama de abandonar projetos no meio do caminho. Ele queimou sua reputação entre os grandes estúdios após entrar em vários filmes, para depois de algumas semanas os abandonarem, sem mais nem menos. Isso acabou destruindo sua carreira como cineasta em Hollywood, onde o profissionalismo exigido sempre veio em primeiro lugar. Assim Orson Welles precisou de muito jogo de cintura para realizar esse filme. Usando da boa vontade do ator Charlton Heston, que praticamente financiou o filme com seu próprio dinheiro, ele conseguiu acabar a película. É de fato uma obra prima, um de seus melhores trabalhos, só superado talvez pelo seu grande clássico "Cidadão Kane". Nele o diretor procurava mostrar toda a extensão do seu talento, uma tentativa de levantar sua reputação como realizador. Infelizmente, embora hoje seja realmente reconhecida como uma produção que marcou época, em seu lançamento não se tornou lucrativo a ponto de tornar Welles um nome novamente viável. Assim ele acabou de certa maneira se despedindo do cinema com essa jóia da sétima arte. Uma pena, pois ele de fato foi realmente um gênio incompreendido.

Pablo Aluísio.

O Beijo de Despedida

Título no Brasil: O Beijo de Despedida
Título Original: Kiss Them for Me
Ano de Produção: 1957
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Stanley Donen
Roteiro: Julius J. Epstein, Luther Davis
Elenco: Cary Grant, Jayne Mansfield, Leif Erickson, Suzy Parker
  
Sinopse:
Um grupo de pilotos da Marinha americanha consegue uma licença de quatro dias para passar em San Francisco. Em plena guerra o passe se torna um verdadeiro presente para aqueles combatentes. Uma vez na cidade o comandante Andy Crewson (Cary Grant) acaba se apaixonando pela bela Gwinneth Livingston (Suzy Parker), que infelizmente já está comprometida com Eddie Turnbill (Leif Erickson), um rico empresário, dono de estaleiros, que pretende contratar Andy para fazer uma palestra para seus trabalhadores, algo que ele definitivamente não tem a menor vontade de fazer.

Comentários:
Uma comédia romântica bem divertida estrelada pelo astro Cary Grant. O enredo se passa praticamente todo durante uma licença desses pilotos da marinha. Eles são considerados heróis pela imprensa, mas no fundo só querem mesmo se divertir na cidade. Conseguem se hospedar em uma luxuosa suíte de um hotel cinco estrelas e caem na farra, promovendo festas e aproveitando o máximo que podem do tempo livre de folga. O roteiro por tentar ser engraçado e leve acaba não trazendo nada de muito substancial em termos de trama. O mais importante é tentar fazer o espectador rir. No elenco o ator Cary Grant comparece com seu carisma habitual. Outro destaque vem da presença da atriz Jayne Mansfield, a mais célebre imitadora de Marilyn Monroe. Seu papel inclusive foi escrito para Marilyn que o recusou por ser mais uma tentativa de explorar o velho estigma da "loira burra". Jayne Mansfield assim tenta, sem muito sucesso, imitar nos mínimos detalhes a forma como Monroe se comportava quando interpretava esse tipo de personagem. Até a pinta perto dos lábios foi reproduzido no rosto de Jayne. O tom de voz, tudo, foi pensado para colocar uma "Marilyn Monroe genérica" no filme. Não deu muito certo. Então é isso, "Kiss Them for Me" é apenas um passatempo agradável, sem muitas novidades ou relevância cinematográfica. Sim, é divertido, mas nada muito além disso.

Pablo Aluísio.

sábado, 16 de dezembro de 2017

Funeral em Berlim

Título no Brasil: Funeral em Berlim
Título Original: Funeral in Berlin
Ano de Produção: 1966
País: Estados Unidos, Inglaterra
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Guy Hamilton
Roteiro: Evan Jones
Elenco: Michael Caine, Oskar Homolka, Paul Hubschmid
  
Sinopse:
Durante a guerra fria o agente inglês Harry Palmer (Michael Caine) é enviado para Berlim com a missão de ajudar na deserção de um importante coronel da KGB que decidiu pedir asilo político para a Inglaterra. Palmer deverá assim criar todo um plano para que o importante oficial russo possa atravessar a fronteira sem maiores problemas. A missão envolve espionagem e contra-espionagem e desde o começo se mostra extremamente perigosa para todos os envolvidos. Palmar porém não consegue, em nenhum momento, se convencer das sinceras razões do ex-chefe de espionagem soviético no lado oriental de Berlim. Para ele há algo mais envolvido em tudo isso e seu instinto sugere que tudo talvez não passe de uma grande armadilha montada pela famigerada KGB.

Comentários:
Os filmes de espionagem tiveram seu auge durante os anos 1960. O mundo vivia o ponto alto da guerra fria, das tensões entre o ocidente capitalista e o oriente comunista dominado por Moscou com mãos de ferro. E nenhum lugar do mundo retratava melhor essa tensão do que a Alemanha, em especial Berlim, dividida por um muro que separava os dois lados, com as ruas cheias de espiões de todos os países envolvidos nesse verdadeiro quebra-cabeças da diplomacia internacional. O roteiro baseado no romance escrito por Len Deighton se passa justamente no meio desse cenário. Isso porém não significa que você assistirá a um filme de James Bond ou algo parecido. O tom é bem mais realista. O espião interpretado por Michael Caine não tem nada de Bond, nenhum glamour e nenhum estilo. Com cara de nerd, de homem comum (como aliás é o mundo da espionagem verdadeira), ele chega em Berlim procurando não chamar a atenção de ninguém. Com nome e passaporte falsos, ele precisa contar até mesmo com a ajuda de um ladrão profissional e um sujeito misterioso, especialista em passar pessoas entre as fronteiras. Para levar o Coronel russo para o lado ocidental eles planejam literalmente colocar o velho em um caixão, montando-se um falso funeral para atravessar os postos de fronteira, sempre muito rigorosos e bem protegidos por tropas soviéticas. Para enrolar ainda mais o quadro geral ainda há a intervenção não prevista do serviço secreto de Israel que está em busca de criminosos de guerra nazistas. Enfim, um bom filme de espionagem rodado no tempo em que esse estilo cinematográfico estava mesmo em seu auge de sucesso de crítica e público. Uma boa dica para quem aprecia esse tipo de enredo.

Pablo Aluísio.

A Maldição do Espelho

Título no Brasil: A Maldição do Espelho
Título Original: The Mirror Crack'd
Ano de Produção: 1980
País: Inglaterra
Estúdio: G.W. Films, EMI Films
Direção: Guy Hamilton
Roteiro: Jonathan Hales, Barry Sandler
Elenco: Angela Lansbury, Rock Hudson, Elizabeth Taylor, Kim Novak, Geraldine Chaplin, Tony Curtis, Edward Fox
  
Sinopse:
Uma equipe de filmagem americana vai até a Inglaterra para produzir um filme. O diretor da produção caberá ao renomado cineasta Jason Rudd (Rock Hudson) que precisará lidar com vários problemas, entre eles duas estrelas que se odeiam (Taylor e Novak), um produtor inconsequente e irresponsável (Curtis) e um assassinato! Isso mesmo, durante a recepção para a equipe uma jovem inglesa aparece morta, ao que tudo indicado vítima de um envenenamento mortal! Mas afinal de contas, quais seriam as motivações para o crime e quem teria sido o autor da morte? Miss Marple (Lansbury) parece ter a chave para a solução do mistério.

Comentários:
Para quem aprecia cinema clássico esse filme é uma pequena preciosidade histórica. Se formos analisar o elenco perceberemos facilmente que a produção foi praticamente uma despedida de astros e estrelas que foram ícones do cinema americano nas décadas de 1950 e 1960 e que depois não voltariam a trabalhar juntos novamente. Assim temos os dois grandes galãs da era de ouro da Universal (Rock Hudson e Tony Curtis) ao lado de uma dupla de grandes estrelas do cinema americano (as maravilhosas Elizabeth Taylor e Kim Novak) que na tela representam... isso mesmo, duas grandes estrelas do passado que nutrem uma antipatia mútua! Como se trata de uma adaptação de um livro de Agatha Christie intitulado "The Mirror Crack'd from Side to Side" já podemos antever o que iremos encontrar pela frente: um mistério a ser desvendado, onde existem inúmeros suspeitos, todos com motivos suficientes fortes para cometerem um crime. Quem deverá descobrir a identidade do verdadeiro assassino é uma das personagens mais queridas do universo da escritora: a simpática velhinha Miss Marple (interpretada pela carismática Angela Lansbury, curiosamente usando maquiagem para parecer mais velha do que era na época). O resultado de tudo isso é um filme bem cuidado, bem produzido e com inegável sabor nostálgico para quem adora o cinema do passado. Rever todos esses grandes nomes sempre é um prazer renovado para o cinéfilo mais tradicionalista. A aparência de alguns desses mitos pode, em um primeiro momento, chocar o espectador. Todos, sem maiores exceções, mostram as marcas do tempo. Isso porém deve ser visto com elegância e sabedoria, afinal de contas eles envelheceram sim, mas também sobreviveram, mostrando que foram vencedores em suas respectivas carreiras. Assim temos um ótimo programa, a que eu particularmente recomendo bastante.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Chisum - O Senhor do Oeste

Pelo que eu me lembre esse foi o único filme da carreira de John Wayne que retratou a famosa guerra do condado de Lincoln, o que não deixa de ser curioso porque Wayne foi um dos maiores mitos dos filmes de western e nunca antes havia interpretado nenhum personagem desse famoso evento da mitologia do oeste americano. O projeto foi de certa forma uma escolha pessoal de Wayne justamente para sanar essa lacuna em sua extensa filmografia. Obviamente que John Wayne naquela altura de sua vida não iria mais interpretar Billy The Kid ou Pat Garrett, então a solução foi colocar o velho cowboy para fazer John Simpson Chisum. Esse era um grande latifundiário da região que no meio do caos do conflito em Lincoln se posicionou ao lado do bando de Kid, o apoiando em vários momentos. Foi justamente nas vastas terras de Chisum que Billy The Kid e seu bando se esconderam quando a coisa ficou feia para o lado dele.

Claro que o personagem real Chisum não era o pistoleiro intrépido mostrado no filme. Ele, por exemplo, nunca se envolveu naqueles tiroteios todos que vimos na fita mas de qualquer maneira não deixa de ser uma escolha inteligente para inserir o duke no meio da história de Kid. Nesse aspecto tenho que confessar que o filme fica um pouco truncado. Como realizar um filme sobre a guerra do condado de Lincoln colocando Billy The Kid e Pat Garrett como coadjuvantes? E como inserir Chisum, uma peça secundária naquele conflito como o personagem principal? Basicamente é isso o que descobrimos ao assistir "O Senhor do Oeste". De qualquer forma, apesar disso, recomendo bastante esse "Chisum", que conseguiu finalmente reunir Billy The Kid e John Wayne num mesmo filme. Só isso já basta para demonstrar a importância dessa produção.

Chisum - O Senhor do Oeste / Chisum - Uma Lenda Americana (Chisum, EUA, 1970) Direção: Andrew V. McLaglen / Roteiro: Andrew J. Fenady / Elenco: John Wayne, Forrest Tucker, Christopher George / Sinopse: John Chisum (John Wayne) é um velho cowboy e proprietário de terras que se vê envolvido até involuntariamente na chamada Guerra do condado de Lincoln, um evento histórico que imortalizou os nomes de figuras lendárias do velho oeste como Billy The Kid e Pat Garrett. Roteiro parcialmente inspirado em fatos reais.

Pablo Aluísio.

O Mundo do Circo

Título no Brasil: O Mundo do Circo
Título Original: Circus World
Ano de Produção: 1964
País: Estados Unidos, Espanha
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Henry Hathaway
Roteiro: Ben Hecht, Julian Zimet
Elenco: John Wayne, Rita Hayworth, Claudia Cardinale, Richard Conte
  
Sinopse:
Depois de viver anos como cowboy de rodeios o veterano Matt Masters (John Wayne) decide abrir sua própria companhia circense. Por um bom tempo o empreendimento vai muito bem até o dia em que Masters decide realizar uma turnê na Europa. Circos americanos quase sempre fracassaram no velho continente, onde aliás nasceu a cultura desse tipo de diversão, mas Masters decide arriscar. Logo na chegada em um porto da Espanha as coisas começam a dar errado, um acidente faz com que a lona de seu circo desapareça sob as águas. Agora ao lado de seus artistas, Masters terá que levantar o dinheiro necessário para reerguer seu tão amado espetáculo, até porque o show definitivamente não pode parar! Filme vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Canção Original ("Circus World" de Dimitri Tiomkin e Ned Washington). Também indicado ao Laurel Awards na categoria de Melhor Ator (John Wayne). 

Comentários:
Tecnicamente ficaria até complicado catalogar "Circus World" apenas na categoria Western. O filme é muito mais, pois explora também um drama sobre relações familiares e traumas do passado. Isso porém é um mero detalhe. Lá está o maior ídolo do gênero, John Wayne, interpretando um velho cowboy que agora ganha a vida em apresentações em circo no estilo Velho Oeste Selvagem. Isso significa tentar recriar sob o picadeiro as perseguições de bandidos em diligências, as guerras entre a cavalaria e guerreiros apaches e tudo o mais que ficou imortalizado na mitologia do oeste americano. Se o filme é muito bom em recriar na tela as performances daqueles artistas circenses também se revela muito bom ao retratar os dramas de todas aquelas pessoas. Masters (Wayne) é um empresário movido por sonhos. Seu problema é que quase sempre seu desejo de levar em frente seu circo esbarra em calamidades, como naufrágios e incêndios (há inclusive uma ótima sequência quando parte da grande lona de seu circo pega fogo em um incêndio). 

Rita Hayworth, sempre uma presença forte em cena, interpreta uma trapezista marcada por um grande tragédia em seu passado, quando seu marido, também um artista do trapézio, caiu para a morte em um de seus mais ousados números. Após muitos anos perdida, vagando pela Europa, ela resolve voltar ao circo onde agora vive sua filha Toni (Claudia Cardinale), que ela abandonou quando ainda era uma criança. A jovem acabou sendo criada por Masters, que também precisa esconder uma delicada questão pessoal em seu passado. A atriz Claudia Cardinale, ainda bastante jovem, se revela muito talentosa, não apenas quando atua nas apresentações do Oeste Selvagem ou em cima do trapézio, mas também quando participa de quadros com palhaços do circo - ali ela realmente demonstra todo o seu talento, principalmente teatral, com ótimo timing para comédia. Não é de se admirar que tenha se tornado tão popular na década de 1960. Bonita e talentosa. Ela era realmente uma graça. No final de tudo ficamos com a impressão que a produção é na realidade uma grande e sincera homenagem à cultura do circo. O diretor Henry Hathaway deixa claro em cada sequência seu amor por aquela arte. O resultado é dos melhores, um excelente momento da filmografia do mito John Wayne em um dos seus filmes mais simpáticos e carismáticos.

Pablo Aluísio.

Olhando a Morte de Frente

Título no Brasil: Olhando a Morte de Frente
Título Original: Rocky Mountain
Ano de Produção: 1950
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: William Keighley
Roteiro: Winston Miller, Alan Le May
Elenco: Errol Flynn, Patrice Wymore, Scott Forbes
  
Sinopse:
O capitão confederado Lafe Barstow (Errol Flynn) é enviado até a distante fronteira entre o Arizona e a Califórnia para reunir um novo exército que venha em socorro à luta das tropas do sul, durante a guerra civil americana. Na jornada acaba salvando uma diligência que estava sendo atacada por nativos selvagens. Entre os passageiros se encontra Johanna Carter (Patrice Wymore), uma jovem idealista e romântica. Juntos precisarão sobreviver ao hostil território deserto, cheio de perigos e ameaças de novos ataques das nações guerreiras indígenas que habitam por toda a região. 

Comentários:
Mais uma boa tentativa de transformar o ator Errol Flynn em um astro dos filmes de western. Flynn era mais associado a filmes de aventura, capa e espada, ao estilo "Robin Hood" ou "Capitão Blood". Aqui ele encarna a figura de um galante capitão confederado. Sua missão é recrutar jovens da costa oeste para serem levados até o sul rebelde que naquele momento lutava a mais sangrenta guerra da história dos Estados Unidos. É curioso rever esse tipo de produção atualmente porque recentemente há um debate ferrenho dentro dos EUA sobre a velha bandeira confederada. Para muitos ela representaria os valores equivocados dos sulistas, entre eles a supremacia branca e a continuidade da escravidão de negros das grandes fazendas de algodão. Esse filme, feito há tanto tempo, não se preocupa em ser politicamente correto. Os valores sulistas - incluindo aí sua bandeira - são louvados a todo momento, com sentimento e orgulho. Nada de discursos modernos pedindo por uma revisão histórica. Tanto o oficial interpretado por Flynn quanto os homens de seu regimento, são pessoas honradas com uma grande preocupação de serem justos, éticos, bravos e valentes. É certamente um bom filme, embora temos que reconhecer, há uma quebra de ritmo no segundo ato. Fica aquela sensação de que o filme poderia ser mais agitado, mais movimentado, aproveitando melhor a grandiosidade da região onde foi filmado. Pena que a produção não foi dirigida por um John Ford, pois tenho certeza que seria uma obra prima do gênero. Como está, temos apenas um western mediano, que perde por causa de seu ritmo vacilante.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Embrutecido Pela Violência

Título no Brasil: Embrutecido Pela Violência
Título Original: Along the Great Divide
Ano de Produção: 1951
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Raoul Walsh
Roteiro: Walter Doniger, Lewis Meltzer
Elenco: Kirk Douglas, Virginia Mayo, John Agar, Walter Brennan
  
Sinopse:
Len Merrick (Kirk Douglas) é um orgulhoso Marshal federal que evita um enforcamento numa cidade do velho oeste. O acusado, Timothy 'Pop' Keith (Walter Brennan), está para ser enforcado por supostamente ter roubado gado e assassinado o filho de um rico e influente rancheiro da região. Para Len sua execução é completamente ilegal e por essa razão ele se compromete a levar Keith até um tribunal do júri na cidade de Santa Loma onde finalmente será devidamente julgado, perante um juiz de direito e um corpo de jurados, tudo como manda a lei. A jornada até lá porém não será tranquila e nem pacífica pois a família Roden está disposta a vingar a morte de um de seus membros.

Comentários:
Esse western dirigido pelo mestre Raoul Walsh tem um argumento muito mais sofisticado do que pode parecer à primeira vista. A história não foge muito do que vemos na tela, com um obcecado homem da lei tentando seguir os trâmites legais a todo custo, mesmo sendo ameaçado e perseguido por um bando de justiceiros pelo deserto afora. A questão é que uma vez em Santa Loma - para onde está levando um acusado - ele descobre que nem sempre a justiça é devidamente feita pelos tribunais. Há uma série de influências econômicas, sociais e extra jurídicas que determinam se alguém é considerado culpado ou não. Durante a jornada até lá ele vai colhendo impressões e verdades sobre o homem que tem sob custódia e descobre que seu próprio julgamento pessoal, criado na convivência com o suposto criminoso, tem mais validade do que um apressado e mal feito julgamento na calada da noite. Só esse aspecto já tornaria o filme bem acima da média dos demais faroestes da época, mas há outras qualidades dignas de nota. Walsh rodou um filme enxuto, diria até econômico, porém muito bonito, em bela fotografia em preto e branco. Rodado no deserto da Califórnia, em belas locações com penhascos e rochas enormes, o filme se valoriza enormemente por causa desse cenário natural rico em bonitas paisagens. 

O elenco também é outro ponto forte. Kirk Douglas está de certo modo em seu tipo habitual, a do xerife durão, até insensível que carrega velhos traumas do passado, em especial uma certa culpa pelo que aconteceu ao seu pai anos atrás (ele também era um homem da lei íntegro que acabou sendo linchado por tentar cumprir o que dizia a letra fria do devido processo legal). Agora, firme em suas convicções, ele precisa levar o acusado perante um juiz para que seja devidamente julgado. A questão é que a filha do homem preso, interpretada pela linda atriz Virginia Mayo, também quer justiça, mas ao seu modo. Douglas e Mayo inclusive soltam faíscas de atração no meio do deserto. Uma dupla que deu muito certo e que trouxe muita paixão reprimida para a tela. Com cabelos curtinhos e jeito até bem rude, Mayo acaba roubando todas as atenções por causa de sua personalidade ao mesmo tempo geniosa e sensual. Então é isso. "Embrutecidos Pela Violência" é muito mais do que aparenta ser. Um bom argumento, bem sólido e coerente, apoiado por um enredo que não nega os mais tradicionais cânones do western americano.

Pablo Aluísio.

...E o Bravo Ficou Só

Título no Brasil: ...E o Bravo Ficou Só
Título Original: Will Penny
Ano de Produção: 1967
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Tom Gries
Roteiro: Tom Gries
Elenco: Charlton Heston, Joan Hackett, Donald Pleasence, Lee Majors
  
Sinopse:
Durante toda a sua vida Will Penny (Charlton Heston) trabalhou como cowboy. Após levar uma grande rebanho de gado para o Arizona ele finalmente se vê sem trabalho e assim decide rumar em direção ao Kansas. Antes de ir embora porém uma disputa por um alce acaba terminando em morte quando um de seus colegas de trabalho mata o filho de um homem desequilibrado, que se diz pastor. Jurando vingança o suposto sacerdote chamado Quint (Donald Pleasence) começa a caçar Penny e todos os envolvidos na morte do jovem. Gritando versos bíblicos ele parte em busca de revanche. Filme vencedor do Western Heritage Awards na categoria de Melhor Filme de western.

Comentários:
No final dos anos 1960 o faroeste já dava sinais de desgaste. Isso porém não significava que excelentes obras primas não estavam mais sendo realizadas. Um exemplo de ótimo western desse período é esse "...E o Bravo Ficou Só". O roteiro traz um realismo surpreendente para uma produção daquela época. Ao invés de explorar a figura mitológica do cowboy, o colocando como um ser acima do bem e do mal, o texto valoriza o aspecto mais realista da profissão e do dia a dia daqueles homens. Assim o vaqueiro interpretado por Charlton Heston não é uma figura épica ou heroica, mas sim apenas um trabalhador tentando sobreviver com a força de seu trabalho que era muito duro e penoso. Em determinada cena fica claro também que ele seria analfabeto, uma maneira do roteiro mostrar o nível educacional daqueles cowboys da vida real no século XVIII. Após vagar em busca de serviço Will acaba indo parar numa fazenda do Kansas onde é contratado como vigia de um posto avançado, na realidade uma cabana perdida na montanha. Lá ele acaba encontrando a jovem senhora Catherine Allen (Joan Hackett) e seu filho. Um homem solitário, que vive de longas jornadas pelo velho oeste, ele acaba se apaixonando por ela - mas será que um romance assim daria frutos? 

Para piorar ainda há a quadrilha do velho pastor enlouquecido (interpretado pelo ótimo Donald Pleasence, completamente alucinado em cena). Filmado nas montanhas geladas do Arizona o filme tem uma bela fotografia, o que deixa ainda mais claro a dureza da vida daqueles pioneiros. O elenco é todo bom, com destaque para Joan Hackett, em delicada atuação que valoriza bastante a timidez a fragilidade de uma mulher no meio daquele ambiente rústico e selvagem. Lee Majors, na época apenas um coadjuvante desconhecido, iria se tornar um astro na TV alguns anos depois com a série de grande sucesso "O Homem de Seis Milhões de Dólares". Então é isso. Um bom faroeste valorizado por seu lado mais humano e realista. Uma pequena obra prima do gênero que merece ser redescoberta nos dias de hoje.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Vingança em Deliverance Creek

Depois do fim da guerra civil americana o confederado Jasper Gatlin (Christopher Backus) volta para sua terra natal. Ele cavalga ao lado de um bando de veteranos que no passado pertenceram à temida quadrilha de William Quantrill, que aterrorizava as cidades por onde passava. Agora, de volta para a vida civil, Jasper precisa encontrar um novo modo de vida. Ele reencontra sua irmã Belle Gatlin Barlow (Lauren Ambrose) que está tentando tocar a vida ao lado de seus filhos em um rancho em decadência. Viúva e tentando superar suas dívidas com o banco, ela vê sua propriedade rural prestes a ser vendida pela justiça para o pagamento de suas contas vencidas. Jasper então lhe propõe algo ousado e ilegal. Ela lhe ajudará no roubo do banco da cidade, que em poucos dias terá em seus cofres uma enorme soma em dinheiro e ouro trazido por tropas da União e em troca ele lhe dará parte do ouro roubado para que Belle consiga quitar todas as suas dívidas. Inicialmente o plano seria o bando de Jasper ir para o confronto direto, tentando matar todos os soldados ianques da guarda da fortuna assim que ela chegasse na pequenina agência de Deliverance Creek, mas Belle propõe algo mais sutil e inteligente, um roubo mais sofisticado, com a ajuda de uma ladra especialista, a escrava fugida Kessie (Yaani King), que inclusive acabou de roubar todo o dinheiro de seu antigo senhor, um homem violento e abusivo do qual ela conseguiu se livrar.

"Vingança em Deliverance Creek" é um telefilme produzido pelo canal a cabo Lifetime. No meio de tantos telefilmes insossos que passam na TV esse aqui até que se sobressai em alguns aspectos. A história é muito boa e mostra as dificuldades que os sulistas, principalmente pequenos rancheiros, enfrentaram após o fim da guerra. Com a economia do Sul destruída, não sobrava muitas alternativas para homens que haviam lutado sob a bandeira confederada. O mundo do crime assim surgia como uma opção na vida desses homens. A produção é modesta, mas digna. O roteiro surge em algumas ocasiões bem truncado, mas sinceramente falando se você levar em conta que está diante de um telefilme isso se torna pouco relevante. O grande destaque vem da atuação da ruivinha atriz Lauren Ambrose. Achei ela uma graça. Seu papel não é do tipo "heroína romântica", longe disso, porém mesmo interpretando uma mulher que cede à tentação de virar uma criminosa ela se mostra completamente cativante e carismática. Em suma, em tempos tão áridos no que se trata a faroestes, esse aqui surge como uma opção razoável de diversão para o fim de noite. Vale a pena conferir.

Vingança em Deliverance Creek (Deliverance Creek, EUA, 2014) Direção: Jon Amiel / Roteiro: Melissa Carter / Elenco: Lauren Ambrose, Wes Ramsey, Christopher Backus / Sinopse: O veterano confederado Jasper Gatlin (Christopher Backus) e sua irmã Belle Gatlin Barlow (Lauren Ambrose) decidem roubar um banco da pequenina cidade de Deliverance Creek, que em poucos dias estará abarrotado de dinheiro e ouro das tropas ianques, da União. Para isso eles contam com a preciosa ajuda de uma escrava fugida, Kessie (Yaani King), que tem grande talento para abrir cofres, algo que aprendeu com seu antigo senhor. Filme indicado aos prêmios American Society of Cinematographers, Motion Picture Sound Editors e Writers Guild of America.

Pablo Aluísio.

Bone Tomahawk

Dois ladrões e assassinos invadem um cemitério sagrado de uma desconhecida tribo de homens selvagens que vivem nas montanhas. Pela ofensa os nativos imediatamente matam um dos criminosos, porém o outro consegue escapar, indo parar em uma cidadezinha do velho oeste. Lá a lei e a ordem é mantida pelo honesto xerife Franklin Hunt (Kurt Russell). Como é um forasteiro, o tal criminoso, ainda sem identidade definida, logo chama a atenção do xerife. Hunt o interroga no saloon, porém esse se mostra pouco colaborativo. Depois de uma discussão o ladrão é baleado e levado para a cadeia local. O que Hunt não desconfia é que os selvagens estão na caça do sujeito. Durante a madrugada conseguem entrar na delegacia e terminam sequestrando não apenas o desconhecido, mas também o auxiliar de Hunt e Samantha O'Dwyer (Lili Simmons) que estava cuidando dos ferimentos do prisioneiro. O xerife, sem outra alternativa, resolve então ir atrás dos selvagens e para isso forma um grupo de quatro homens corajosos que deverão enfrentar todas as dificuldades para libertarem os cativos daquele bando de nativos sanguinários. Mal sabem o terror que os aguarda.

Quando "Bone Tomahawk" começa você pensa estar prestes a assistir um bom filme de faroeste contemporâneo, com um claro respeito por parte de seu roteiro em relação às mitologias do western dos filmes do passado. Isso porém é verdade apenas em termos. Embora a estrutura da narrativa siga um estilo mais tradicional, mostrando a jornada dos homens em tentar localizar o paradeiro dos sequestrados para salvar suas vidas, há também também nuances que fogem dessa linha tradicionalista. Os grandes vilões do filme são os próprios selvagens, chamados pelos moradores locais de "trogloditas". Eles vivem nas cavernas montanhosas do deserto, não possuem qualquer tipo de civilidade e são canibais. Nem os próprios indígenas que lutam contra a presença do homem branco na região desejam qualquer tipo de contato com aqueles verdadeiros animais. Vivem como verdadeiros bichos irracionais. Também apreciam muito a carne humana como alimento. O fato de canibalizarem suas vítimas acaba abrindo margem para cenas extremamente violentas, como quando abrem ao meio (literalmente falando) um homem para comerem suas vísceras. Esse tipo de cena certamente vai desagradar bastante aos fãs mais tradicionais de filmes de western pois são mais presentes e costumeiras em filmes de terror do estilo Gore. Isso porém deve ser deixado de lado. Mesmo com pequenos deslizes ao velho estilo trash, com muito sangue e carnificina, "Bone Tomahawk" ainda pode ser considerado um dos melhores faroestes de 2015. Certamente há uma certa apelação no quesito sangue e tripas, mas vamos convir que isso definitivamente não tira seus méritos como um bom filme que é. Além disso é sempre um prazer renovado encontrar novamente Kurt Russell como xerife do velho oeste. Sua presença praticamente vale pelo filme inteiro.

Bone Tomahawk (Bone Tomahawk, EUA, 2015) Direção: S. Craig Zahler / Roteiro: S. Craig Zahler / Elenco: Kurt Russell, Patrick Wilson, Matthew Fox, David Arquette, Lili Simmons, Sean Young, Richard Jenkins / Sinopse: Um grupo de quatro homens fortemente armados partem rumo ao deserto para salvar a vida de três pessoas sequestradas por uma tribo de selvagens canibais que vivem em cavernas nas montanhas. Filme indicado ao Independent Spirit Awards nas categorias de Melhor Roteiro e Melhor Ator Coadjuvante (Richard Jenkins). Vencedor do Sitges - Catalonian International Film Festival nas categorias de Melhor Direção e Melhor Roteiro (S. Craig Zahler).

Pablo Aluísio.