segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Frank Sinatra - Só Ficou a Saudade

O filme em questão se chama "Kings Go Forth" (no Brasil recebeu o título de "Só Ficou a Saudade"). Durante muitos anos Hollywood se perguntou quando Sinatra retornaria aos filmes de guerra, ou melhor colocando, aos dramas de guerra. Isso porque o cantor havia sido laureado com o Oscar por "A Um Passo da Eternidade", filme que se notabilizou justamente por consagrar esse gênero. Assim todos esperavam pelo aguardado retorno de Sinatra a esse tipo de produção.

A espera acabou em 1958 com essa fita dirigida pelo cineasta Delmer Daves. Embora fosse mesmo especialista em faroestes, Daves aceitou o convite de Sinatra para dirigir essa adaptação da novela de Joe David Brown. As comparações com "A Um Passo da Eternidade" embora óbvias, são também injustas. Fica claro desde o começo que Sinatra está apenas preocupado em atuar bem, contar uma boa história (que foi parcialmente inspirada em fatos reais) e nada muito além disso. Para elevar um pouco as pretensões um ótimo elenco de apoio foi formado, mas mesmo assim podemos perceber bem que Sinatra não está pretendendo ganhar outro Oscar ou nada parecido com isso. Se sua intenção era apenas estrelar um bom filme de guerra, com toques dramáticos e romance, bom, ele certamente cumpriu aquilo que pretendia.

Quando o filme começa já encontramos o tenente Sam Loggins (Sinatra) e seus homens andando pelo interior da França que naquele momento estava sendo ocupada por forças aliadas após a dominação nazista. Eram soldados de libertação e por isso por onde passavam eram saudados pela população. A sorte para aqueles soldados era que eles foram designados para ocupar o sul do território francês, uma região em que já não havia mais tropas alemãs para combater. Um lugar realmente paradisíaco, com lindas praias e mulheres bonitas, todas prontas para se relacionarem com os militares americanos. Para Sam não poderia existir lugar melhor para se estar numa guerra daquelas. Entre uma volta e outra pelas bonitas paisagens ele acaba encontrando a bela Monique Blair (Natalie Wood), filha de pai americano, mas que mora na França desde que nasceu. 

Não demora muito e o tenente interpretado por Sinatra logo se apaixona por ela. O romance porém terá suas dificuldades, principalmente por causa das origens da garota (algo que vai deixar muita gente de cabelo em pé nos dias de hoje) e uma insuspeita antipatia entre ele e o cabo Britt Harris (Tony Curtis), filho de um rico empresário, boa pinta e metido a galã, conquistando as garotas francesas locais por onde passa. Ele vem para ser o operador de rádio, mas isso não faz com que Sinatra tenha maiores simpatias por ele, muito pelo contrário. 

Enfim, é justamente em cima desse trio de protagonistas que o roteiro se desenvolve. Tudo muito bem realizado, com ótimo entrosamento de todo o elenco. Sinatra, com seu estilo natural de interpretação, se encaixa muito bem na proposta do filme. Uma produção de sua carreira que prova mais uma vez que se ele não era um ator grandioso, pelo menos tinha o talento inegável de saber escolher bem os roteiros nos quais iria trabalhar. 

Pablo Aluísio.

domingo, 31 de janeiro de 2016

Batman: Sangue Ruim

Nova animação da DC e Warner que está chegando direto em DVD no Brasil e Estados Unidos. Já está virando uma tradição esse tipo de lançamento, uma vez que se vai preparando o terreno para a chegada do blockbuster "Superman Vs Batman" nos cinemas. Enquanto o tão aguardado lançamento não chega os fãs do Batman vão se divertindo com esse tipo de animação de venda direta ao consumidor. Nessa trama Batman enfrenta uma nova geração de vilões liderados por um estranho sujeito que responde pelo nome de "O Herege". Na verdade ele não passa de um projeto de clonagem mal sucedido que resultou em um indivíduo extremamente forte e poderoso, mas completamente desprovido de qualquer tipo de valor moral. Logo na primeira cena ele enfrenta o Batman e depois dessa luta feroz o Homem-Morcego desaparece de circulação. Logo boatos se espalham de que ele teria sido morto, principalmente após a própria Batwoman testemunhar o local onde ele estava ser destruído completamente. Para evitar que todos realmente comecem a pensar que Batman estaria realmente morto, Dick Grayson, seu antigo Robin, resolve assumir seu uniforme. O problema é que com o sumiço do herói todos os vilões começam a encher as ruas de Gotham City para dominar a cidade.

Uma boa animação, ao estilo tradicional, que traz toda uma nova galeria de vilões que eu não conhecia (não sei ao certo informar se são realmente novos ou se nos quadrinhos já são figurinhas fáceis e banais de encontrar, já que não leio quadrinhos). De qualquer maneira o que mais chama a atenção nesse desenho é a fartura de personagens secundários dentro do universo Batman, com destaque para Katherine Kane, a filha de um militar que desenvolve uma série de traumas psicológicos em sua vida por causa do passado (tal como Bruce Wayne). Em busca de alguma paz ela resolve assumir a identidade da Batwoman para também livrar as ruas dos criminosas. Essa personagem aliás nunca foi tão popular como a Batgirl ou qualquer outro vilão das histórias do Batman, mas ultimamente tem sido feito um esforço da DC Comics em revitalizar sua popularidade, aumentando sua participação em quadrinhos e animações (nos EUA ela inclusive ganhou um novo título mensal na editora). O resultado é bem divertido, nada que vá se tornar memorável, mas que cumpre sua promessa de entreter o espectador com um produto no mínimo bem feito.

Batman: Sangue Ruim (Batman: Bad Blood, Estados Unidos, 2016) Direção: Jay Oliva / Roteiro:  J.M. DeMatteis, Grant Morrison / Elenco:  Jason O'Mara, Yvonne Strahovski, Stuart Allan / Sinopse: Após ser encurralado por um novo grupo de vilões, o herói Batman é levado prisioneiro para passar por uma série de torturas físicas e psicológicas, desaparecendo das ruas, o que faz aumentar os boatos e as desconfianças de que na verdade estaria morto. Para manter a criminalidade sob controle, o antigo Robin Dick Grayson (atualmente usando a identidade do Asa Noturna) resolve usar o uniforme do Batman para tentar descobrir seu paradeiro.

Pablo Aluísio.

sábado, 30 de janeiro de 2016

Deadpool

Título no Brasil: Deadpool
Título Original: Deadpool
Ano de Produção: 2016
País: Estados Unidos, Canadá
Estúdio: 20th Century Fox
Direção: Tim Miller 
Roteiro: Tim Miller, Rhett Reese, Paul Wernick
Elenco: Ryan Reynolds, Morena Baccarin, T.J. Miller
  
Sinopse:
Wade Wilson (Ryan Reynolds) é um veterano das forças armadas que agora ganha a vida como mercenário. Quando descobre que está sofrendo de um câncer agressivo resolve arriscar tudo, entrando numa pesquisa científica de efeitos imprevisíveis. Após ser submetido ao "tratamento" ele se recupera, mas com efeitos inesperados, apresentando poderes que jamais tinha experimentado antes. Agora, adotando o nome de Deadpool, ele parte para a vingança contra aqueles que ele entende destruiram sua vida. Adaptação do personagem criado por Rob Liefeld e Fabian Niciesa para a Marvel Comics em 1991.

Comentários:
A demanda por personagens em quadrinhos anda tão grande que até mesmo heróis secundários andam sendo adaptados. A bola da vez agora é o mercenário Deadpool. Ele não é muito popular fora do universo de leitores desse tipo de publicação (algo que provavelmente mudará daqui pra frente), por isso o estúdio precisou planejar uma campanha de marketing mais agressiva para divulgar o filme. Conseguiu seus objetivos. A produção já é um dos grandes sucessos de bilheteria do ano. Eu fico com um pé atrás em relação a filmes como esse porque (aqui vai minha opinião pessoal) essas adaptações andam bem saturadas. Talvez o fato do Deadpool ser um falastrão, cheio de piadas e brincadeiras, disfarce um pouco esse aspecto. No geral porém, se você for analisar estrutura de roteiro, efeitos visuais e desenvolvimento da trama, não existem muitas diferenças com muitos outros filmes de heróis, sejam da Marvel, sejam da DC Comics. Em termos de elenco é interessante ver como Ryan Reynolds acabou se achando nesse filme, algo que não aconteceu com Lanterna Verde (um personagem muito mais conhecido do que o quase desconhecido Deadpool). É até complicado de entender porque ele deu tão errado naquele filme e aqui se deu tão bem! Mistérios que apenas os deuses da sétima arte poderiam decifrar. Assim deixo as minhas impressões. Não é a maravilha que andam dizendo por aí, porém é bem feito e eficiente - o que talvez já seja muita coisa em termos de adaptações recentes de quadrinhos. Vale uma sessão de cinema com muita pipoca para descontrair.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Renée Zellweger

Eu estava relembrando por aqui. Nos anos 90 eu tive uma paixonite pela atriz Renée Zellweger! Sim, eu sei, isso é uma tremenda bobagem, mas quem nunca teve uma paixão bobinha por uma atriz (ou um ator no caso das mulheres)... Quem nunca? Obviamente que nunca foi algo doentio, é uma daquelas besteirinhas que de vez em quando é legal sentir. Eu então procurei por vários filmes dela, inclusive os mais obscuros e em todos eles eela surgia com esse mesmo carisma. 

O interessante é que a  Renée Zellweger nunca foi uma atriz do tipo gostosona ou glamorosa demais. Ela se parecia mais com aquilo que os americanos gostam de chamar de "Girl Next Door", ou seja, a menina bonitinha que mora ao lado, na casa vizinha. E ela realmente era uma graça, com uma certa timidez no olhar, um sorrisinho meio torto, meio constrangido. E depois de várias comédias românticas pouco conhecidas ela finalmente alcançou o sucesso (merecido) com aquela série de filmes da Bridget Jones - que sinceramente falando nem são os meus preferidos, já que quando esses filmes chegaram no cinema eu já curtia a Renée Zellweger há anos. 

Infelizmente como nada é para sempre ela perdeu esse frescor dos primeiros anos. Com a fama em Hollywood ela se rendeu perigosamente para o mundo das intervenções plásticas extremas. Para que isso? Era uma loirinha das mais graciosas, para que mexer na estética facial que era justamente um de seus maiores atrativos? E eu fui percebendo essas mudanças justamente pelos filmes. Pior é que foram tantas cirurgias que em uma de suas últimas aparições as pessoas nem a reconheceram direito. Que pecado! Ela também emagreceu demais, tentando se adaptar as medidas de vestidos dos tapetes vermelhos, em números impossíveis. Gostava muito mais quando era aquela loira até bochechuda do Texas. Perdeu muito de seus belos atributos físicos dos tempos em que era a melhor "Girl Next Door" do cinema. 

Pablo Aluísio.

The Time of My Life - Patrick Swayze

The Time of My Life - Patrick Swayze
Esse foi o livro escrito pela esposa do ator Patrick Swayze após sua morte. Ela resolveu creditar como co-autor o próprio Swayze, mas sabemos que ele já não tinha condições de saúde para realizar um trabalho como esse. Assim Lisa Niemi resolveu prestar essa sua última e singela homenagem ao marido. Sinceramente falando ele deixa um pouco a desejar em certos aspectos. Por exemplo, se você é acima de tudo um fã de cinema que está em busca de detalhes sobre todos os filmes e a carreira de Patrick Swayze aconselho a não adquirir o livro. Esse texto certamente não foi feito ou pensado sobre essa ótica. Isso porque Lisa não está em nenhum momento preocupada em fazer de sua obra literária um imenso review de seus filmes. Longe disso. Como era de se esperar ela optou por contar sua vida amorosa e sentimental ao lado do ator falecido. Sob esse ponto de vista se trata de um texto muito humano e tocante que traz em si uma história trágica porém ao mesmo tempo bela, mostrando as mudanças de personalidade de um ator famoso de cinema que a despeito de seu grande ego precisou rever todos os princípios que norteavam sua auto imagem para finalmente encarar a mortalidade após descobrir que estaria sofrendo de um câncer incurável de pâncreas. Lisa é muito honesta em seu retrato do marido. O próprio Swayze teria pedido a ela que não contasse ou inventasse um conto de fadas, mas sim uma obra real, mostrando os altos e baixos de um relacionamento turbulento de duas pessoas reais, que sofreram e amaram juntas por longos anos.

Os filmes estão lá, porém como pano de fundo da vida a dois do casal. No começo do relacionamento entre eles o ator ainda estava embriagado pela juventude e por sonhos de que um dia seria um grande astro. Jovem, bonito e bem sucedido nas telas, ele aparece como um ególatra de si mesmo. Um Narciso cheio de si! Nas décadas de 1980 e 1990 Patrick Swayze foi um dos principais galãs do cinema americano. Assediado pelas fãs, ele demorou bastante para colocar os pés finalmente no chão. Envaidecido de seus sucessos, vaidoso e até narcisista, foi muito complicado para Lisa chegar até o seu coração. Ela afirma no livro que uma de suas maiores surpresas ao conhecer o ator foi perceber que ele tinha uma profundidade admirável para um homem tão bonito! Ela até assume um certo preconceito contra homens belos em geral ao dizer que eles geralmente não costumam possuir muito conteúdo ou inteligência. Swayze era uma exceção, pois aliava um bom visual com uma vida espiritual rica e interesses múltiplos pelas artes, cultura e literatura. Sua grande paixão porém era a dança, algo que abriria as portas do sucesso com o musical "Dirty Dancing". Em entrevista Lisa chegou a confessar: "Um homem bonito e inteligente como aquele?! Nenhuma mulher com juízo pode deixar um homem daqueles passar em branco em sua vida! Tem que lutar muito por esse amor".

Ela também resolveu não poupar o lado menos glamoroso do marido. Patrick Swayze tinha um sério problema com bebidas, algo que chegou quase a destruir o relacionamento com a esposa. O ator só teria reconhecido que tinha algo muito errado com ele quando quebrou todo um quarto de hotel em San Francisco. Estava completamente embriagado. Nesse dia ele finalmente reconheceu que era um alcoólatra e que precisava de ajuda. O apoio, como sempre, veio com Lisa, que como todas as grandes mulheres estava sempre disposta para salvar sua vida mais uma vez. Não se sabe ao certo se o abuso por anos e anos teve alguma influência sobre o câncer que o matou, porém quando recebeu a terrível notícia que iria morrer em pouco tempo ele demonstrou grande coragem com o que o destino lhe reservara, olhando fixamente para Lisa, dizendo com todas as palavras que não tinha medo de morrer. O livro vai por esse lado mais privado, diria até íntimo. Há uma sincera disposição de Lisa em mostrar todos os ângulos da personalidade de Swayze, tanto os positivos como os negativos. Para quem chegou a curtir os filmes de Swayze a leitura se torna muito prazerosa por revelar aspectos de sua intimidade. Já para os que apenas querem conhecer uma bela história de amor o livro se torna mais do que recompensador.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Vingadores: Era de Ultron

Eu assisti há pouco tempo o segundo filme dos Vingadores chamado "A Era de Ultron". O filme é interessante, porém vou me concentrar na participação do Homem de Ferro nele. Toda produção da Marvel com os Vingadores apresenta problemas. São muitos personagens importantes em um só filme. Arranjar um espaço certo para todos eles é que se torna o problema. Um ou outro será deixado de lado.

Nesse aqui eu considerei o Iron Man colocado para escanteio. Sua participação não é muito importante. Outro problema é o ego e a vaidade do ator Robert Downey Jr. Ele sempre tem que aparecer, seu rosto, e por isso as cenas em que vemos o Homem de Ferro mesmo, com o uniforme inteiro, com viseira abaixada, são cada vez mais raros. Nem no poster do filme usam a imagem clássica do personagem. É sempre Robert sem seu capacete. Cansa!

No filme o Tony Stark é mal aproveitado. Ele basicamente se interessa pela inteligência artificial de Ultron e começa a ficar fascinado com todas as possibilidade de levar aquela tecnologia em frente. Claro que acaba sendo o responsável por uma grande lambança quando tudo sai do controle e Ultron decide que o ser humano é um erro, uma falha, e precisa ser eliminado. A partir daí o bicho pega. A outra excelente cena - talvez a única - ocorre também quando Stark enfrenta Hulk em sua roupa especial, a Hulkbuster. Realmente o quebra pau entre eles vale pelo filme inteiro. Tudo muito fiel ao que estamos acostumados a ver nos quadrinhos. Fantástico.


Depois disso a alegria dos fãs do Homem de Ferro vai acabando porque ele vai virando um coadjuvante de luxo. Ele tenta evitar que a cidade venha abaixo e para isso usa toda a força de sua armadura, mas nada de muito marcante. Eu vou dizer uma verdade: O Robert Downey Jr muitas vezes enche o saco, já que ele sempre quer aparecer mais do que o próprio personagem que interpreta. É quase sempre ele fazendo piadinhas e não Tony Stark. É justo isso? Fica aí uma pergunta para os produtores dos próximos filmes.

Pablo Aluísio. 

Mark Hamill - Star Wars: Episode VII

Interpretar um personagem muito marcante pode ser desastroso na carreira de um ator. Que o diga Mark Hamill. Ainda bastante jovem ele foi escolhido por George Lucas para interpretar Luke Skywalker no filme "Guerra nas Estrelas" de 1977. Conforme disse em entrevistas, nem ele e nem o resto do elenco tinham sequer ideia, naquela altura das filmagens, do fenômeno que "Star Wars" iria se transformar nas décadas seguintes. Na verdade os atores até brincavam no set sobre o roteiro de Lucas, que muitos sequer conseguiam entender direito. Os diálogos eram estranhos demais para serem levados à sério. Para o veterano Alec Guinness estrelar aquele "filme espacial" era o fim da picada, uma amostra de que sua outrora maravilhosa carreira tinha realmente chegado ao fim. Durante o trabalho ele chegou a dizer para Hamill que o filme era um lixo.

Só depois quando tudo ficou pronto e Lucas e sua equipe técnica colocaram todos os maravilhosos efeitos especiais é que finalmente Hamill descobriu que havia trabalhado em um filme realmente fenomenal. Depois do estrondoso sucesso de bilheteria veio a fama, a consagração e o sentimento de ser um verdadeiro popstar do mundo do cinema, pelo menos até o lançamento de "O Retorno de Jedi" em 1983. Só a partir desse ponto o ator entendeu o que havia acontecido. Nenhum estúdio de cinema o contratava mais, simplesmente porque ele ficara tão associado ao Jedi Luke Skywalker que nenhum produtor conseguia enxergar nele um bom ator. Muitos acreditavam que o público não iria conseguir mais dissociar sua imagem de "Star Wars". Excelentes filmes lhe foram negados porque o estúdio acreditava que ele não seria convincente atuando em outros papéis. Nem mesmo quando conseguiu atuar no hoje clássico "Agonia e Glória" escapou do veneno da crítica. Em uma delas, publicada no New York Times na época de lançamento do filme, tudo o que se disse de seu trabalho de atuação foi  que "Luke Skywalker poderia agora ser encontrado em um filme da II Guerra Mundial". Isso claro magoou bastante Hamill que a partir dali passou por uma fase complicada, ficando praticamente no ostracismo.

Como George Lucas queria contar as origens da saga nos outros três filmes seguintes, Hamill foi deixado de lado na nova trilogia. Essa, apesar de ter alguns poucos bons momentos, nunca conseguiu convencer os fãs. O próprio George Lucas passou por aborrecimentos enormes, justamente por causa da péssima recepção da nova trilogia. Olhando para trás realmente não foram filmes marcantes, pior do que isso, nem foram filmes bons. Os efeitos digitais envelheceram mais do que os analógicos da primeira trilogia e bobagens como o insuportável Jar Jar Binks acabaram virando uma (péssima) marca registrada dessas produções. Enquanto "Star Wars" afundava entre público e crítica, o ator fez o possível para ficar vivo artisticamente. Desceu do cavalo e foi atrás de trabalho como muitos outros atores desempregados. Sem medo de ser ridicularizado pela classe ou sofrer algum tipo de preconceito dos colegas de profissão ele topou participar das primeiras convenções de quadrinhos e cultura pop, falando com os fãs de "Star Wars" nos encontros, fazendo palestras, dando entrevistas, sendo realmente um colega nerd de todo aquele público que lotava esse tipo de evento. Ele havia recuperado a humildade e isso o deixou bem mais próximo dos fãs da saga.

Também encarou a dublagem, algo que o manteve sempre em evidência dentro do mundo mais nerd. Dublou desenhos do "Incrível Hulk" e "Homem-Aranha" nos anos 90 e acabou criando a voz definitiva do Coringa na série animada do Batman na Warner, papel que repetiu em vários outros desenhos com os famosos personagens da DC Comics. Também aceitou convites para dublar inúmeros games, rompendo um velho preconceito de que esse seria um trabalho indigno para um astro de cinema. Depois dele várias outras estrelas aceitaram trabalhar na indústria de games dos Estados Unidos. Enquanto Harrison Ford ia estrelando um grande sucesso de bilheteria atrás do outro, Mark foi se destacando no mundo das animações de TV, nos videogames e nos quadrinhos também. Tudo cultura pop, mundo nerd. Infelizmente tão marcado ficou como Luke que parecia haver pouco (ou nenhum) espaço para ele no mundo do cinema novamente. Quando surgia alguma oportunidade era quase sempre para interpretar uma paródia de si mesmo como em "O Império (do Besteirol) Contra-Ataca" de Kevin Smith. Agora em 2015 o injustiçado Mark Hamill finalmente retorna ao sucesso com o mega lançamento de "Star Wars: O Despertar da Força". Sob direção de J.J. Abrams ele tem recebido alguns dos melhores elogios de toda a sua longa carreira. Um reconhecimento tardio, porém muito bem-vindo. A redenção só poderia ter vindo mesmo através do grande personagem que o consagrou no passado. O mundo dá voltas.

Pablo Aluísio.

domingo, 24 de janeiro de 2016

Fim da linha para Jack Nicholson?

Soube na semana passada que Jack Nicholson, ao que tudo indica, se aposentará definitivamente. Que grande perda para o mundo do cinema! Jack Nicholson foi durante muitos anos um dos maiores atores em atividade. Nada mal para um sujeito que chegou em Hollywood sem muito incentivo mas que conseguiu vencer por causa de sua força de vontade e talento. O curioso também é saber que Nicholson despontou para o sucesso já bem mais velho do que os demais. Na verdade ele tinha muita estrada quando as pessoas começaram a prestar atenção em sua presença nos filmes (para ser mais exato foi em "Sem Destino" que pela primeira vez a crítica norte-americana começou a enxergar em Jack Nicholson um grande ator). Antes disso ele era apenas mais um na multidão, um profissional até interessante mas que também não era nada demais. Depois veio a década de 70 e então Jack teve sem dúvida o auge de sua carreira. "Chinatown", "Um Estranho no Ninho" e "Duelo de Gigantes" são dessa fase. Nos anos 80 Jack já era reverenciado como um deus da sétima arte. Foi uma década também muito produtiva onde se destacaram pequenos e grandes clássicos como por exemplo "O Iluminado", "O Destino Bate à sua Porta", "Laços de Ternura" e "A Honra do Poderoso Prizzi". Até filmes menores como "As Bruxas de Eastwick" eram excelentes uma vez que capturavam a essência da personalidade do ator nas telas.

A década de 90 trouxe o auge comercial para o ator, principalmente com o grande sucesso de "Batman" onde interpretando o Coringa o ator levou uma bolada milionária para casa - mais de 50 milhões de dólares por sua participação nos lucros do filme. Depois vieram filmes interessantes ("Melhor é Impossível", "Alguém Tem Que Ceder"), medianos ("Hoffa - Um Homem, Uma Lenda", "Questão de Honra") e até alguns desastres ("Lobo", "Marte Ataca" e "A Chave do Enigma"). Seu último grande momento no cinema veio com o Oscarizado "Os Infiltrados". Se Jack realmente pendurar o script, seus dois últimos filmes são bem fracos para falar a verdade pois nem "Antes de Partir" e nem "Como você Sabe" conseguem ficar à altura do grande gênio. Segundo pessoas próximas Jack teria tomado essa decisão por não conseguir mais memorizar suas falas - algo comum em pessoas de sua idade. Teria sido algo parecido com o que aconteceu com Paul Newman que abandonou também a atuação após afirmar que não conseguia mais manter o padrão que desejava em seus trabalhos. Parece que Jack vai sair de mansinho, sem nenhum tipo de anúncio. Espero que ele volte pelo menos para uma despedida final, até porque um talento desse porte não pode simplesmente sair sem ao menos deixar um adeus aos cinéfilos que acompanharam toda a sua carreira, como eu.

Pablo Aluísio.

Emilia Clarke - O Exterminador do Futuro: Gênesis

Emilia Clarke
Infelizmente temos que reconhecer que esse novo filme da franquia Terminator intitulado no Brasil de O Exterminador do Futuro: Gênesis decepcionou muita gente - inclusive esse que lhes escreve. Tudo bem que a série já vinha deixando a desejar há bastante tempo, mas tinha que ser tão fraco em termos de enredo e roteiro? Nem a volta de Arnold Schwarzenegger ajudou no resultado final. Filmes de ficção precisam ter boa fluência pois quando a trama se torna complexa a ponto de a cada momento um personagem ter que vir em cena para explicar o que esta ocorrendo você já sabe que algo está errado. O primeiro Exterminador do Futuro se sobressaía justamente nisso, em seu enredo simples porém extremamente bem bolado. Esse novo filme só não foi um desastre maior por causa da participação de Emilia Clarke. Ela também foi uma unanimidade, mas sob um aspecto positivo.

Se quase todos não gostaram do filme, quase todos também tinham algum elogia para Emilia Clarke. Ela é uma espécie de alívio pois conseguia nos deixar atentos em todas as cenas que aparecia. Claro que para a turma que curte cultura pop em geral ela passava longe de ser desconhecida por causa de sua atuação como a rainha dos dragões Daenerys Targaryen de Game of Thrones. Só que no novo filme do Terminator ela consegue estar ainda melhor, com um belo visual, mais natural, cabelos negros que lhe caem muito bem. Embora seja atraente em Game of Thronnes por causa da personalidade forte de seu personagem, ela conseguiu se destacar muito bem como Sarah Connor também. Enfim, Emilia Clarke no final das contas conseguiu uma boa presença em um filme ruim. Provavelmente essa produção no futuro só seja lembrada por causa dela mesma, pois todo o resto deixou aquele incômodo gostinho de decepção no ar.

Pablo Aluísio.

sábado, 23 de janeiro de 2016

A História de Nós Dois

Esse drama melancólico foi uma tentativa do astro Bruce Willis em ser levado mais a sério como ator. Ao invés de estrelar a centésima continuação da franquia "Duro de Matar" ele preferiu atuar nesse filme bem dramático e sensível que mostra o esfacelamento de um casamento. Após muitos anos de casada Katie Jordan (Michelle Pfeiffer), a esposa de Ben (Bruce Willis), começa a questionar as escolhas que fez no passado. Ela olha para trás e sente uma sensação de que se casou com a pessoa errada, que não o amava tanto quanto pensava e o pior de tudo, que teria desperdiçado grande parte de sua vida tentando fazer funcionar um relacionamento que no fundo não tem grande profundidade. O vazio existencial logo se instala em sua alma. Muitos casais só continuam juntos por causa das pressões sociais ou financeiras, onde não parece haver muito espaço para o amor verdadeiro, que deveria ser o ponto principal em todo relacionamento duradouro.

Esse sentimento de frustração emocional e sentimental é passado para o espectador sem tentativas de amenizar o mal estar reinante entre os personagens principais. Por essa razão a história vai se desenvolvendo de forma pesada, triste e sem esperanças. Uma verdadeira armadilha que parece prender o casal, que no fundo pensa mesmo em acabar com tudo, para procurar quem sabe a verdadeira felicidade, caso ela realmente exista em algum outro lugar. Definitivamente não é um passatempo leve e divertido, mas certamente levanta questões importantes. Um bom filme que vale a pena assistir e quem sabe talvez se identificar.

A História de Nós Dois (The Story of Us, Estados Unidos, 1999) Direção: Rob Reiner / Roteiro: Alan Zweibel, Jessie Nelson / Elenco: Bruce Willis, Michelle Pfeiffer, Colleen Rennison / Sinopse: A história das crises na vida de um casal. Filme vencedor do Santa Barbara International Film Festival na categoria de Melhor Direção (Rob Reiner).

Pablo Aluísio.

Quiz Show - A Verdade dos Bastidores

Sempre achei muito superestimado. O filme passa longe de ser ruim, mas também não é tudo aquilo que a crítica elogiou na época de seu lançamento. O roteiro é interessante porque mostra o momento em que os executivos da televisão americana começaram a entender que o público poderia ser facilmente manipulado (algo que aliás acontece até hoje!). Valia tudo para aumentar a audiência e se fosse necessário criar uma grande farsa para que esse objetivo fosse atingido então que fosse assim. O enredo mostra os bastidores de um popular programa de TV onde os participantes tinham que responder perguntas dos mais diversos assuntos. Um deles acaba virando ídolo nacional, por causa da grande inteligência em dar respostas para as mais complicadas questões. Depois descobre-se que tudo não passava de uma enorme enganação.

Dirigido por Robert Redford, que tem grande influência dentro da indústria cinematográfica, o filme acabou tendo chances reais de vencer o Oscar de melhor filme naquele ano. Ainda bem que o bom senso prevaleceu. Temos um bom roteiro e uma direção eficiente e muito profissional de Redford, isso porém não transformou "Quiz Show" em uma obra prima. Seu estilo quase documental acabou me desagradando em certos aspectos. Redford foi de certa maneira bem frio em sua forma de contar a história (que é baseada em fatos reais). Provavelmente se tivesse colocado um pouco mais de cor e coração na realização de sua obra as coisas teriam se tornado melhores do que realmente foram.

Quiz Show - A Verdade dos Bastidores (Quiz Show, Estados Unidos, 1994) Direção:/ Roteiro: Paul Attanasio, baseado no livro escrito por Richard N. Goodwin / Elenco: Ralph Fiennes, John Turturro, Rob Morrow / Sinopse: Uma programa de televisão, de perguntas e respostas, toma um caminho totalmente diferente. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Direção, Roteiro Adaptado e Ator (Paul Scofield). Também indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Drama, Direção, Roteiro e Ator Coadjuvante (John Turturro).

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Elvis Presley - Lindas Encrencas, as Garotas

Ontem tive a oportunidade de rever o filme "Lindas Encrencas, as Garotas" (The Trouble With Girls, EUA, 1969) com Elvis Presley. Quando ele rodou essa produção pela MGM já tinha decidido cair fora de Hollywood. Era o fim de uma carreira de ator que não deu muito certo. Elvis tinha um velho sonho de seguir os passos de seu ídolo James Dean ou então Marlon Brando, mas as coisas não saíram muito bem como ele pensava. Os produtores não conseguiam enxergar em Elvis um potencial ator dramático, só um cantor boa pinta cheio de fãs adolescentes platonicamente apaixonadas por ele. Dessa maneira ano após ano Elvis foi estrelando aquelas comédias românticas sem muita consistência onde ele cantava uma música aqui, outra acolá, sem muita razão de ser. Os roteiros eram quase sempre vazios e os enredos bobos demais para atrair a atenção de alguém com mais de 20 anos de idade.

Imerso nesse mar de mediocridade ele foi perdendo a vontade de continuar secando como uma flor no deserto da Califórnia. Por volta de 1968 ele e o Coronel Parker finalmente entenderam que era hora de ir embora. E foi o que fizeram, mas antes havia alguns contratos a cumprir e entre as obrigações de Elvis estava a realização de mais alguns filmes pela MGM (ele havia assinado um contrato longo de sete anos com a empresa, algo que depois se arrependeria). É nesse contexto que surge a realização desse "The Trouble With Girls" (que para variar recebeu um título bem ridículo no Brasil). Revendo hoje em dia até que o filme não é de todo mal. Claro, não estamos falando de algo substancial ou artisticamente relevante, porém há coisas boas nessa produção.

Uma delas vem do próprio visual de Elvis. Ele está de costeletas, já com aquela imagem que iria trazer tanto impacto no seu retorno aos palcos em Las Vegas naquele mesmo ano. O roteiro embora seja uma bagunça até que traz momentos verdadeiramente divertidos. Em um deles Elvis e a atriz Marlyn Mason trocam sopapos e beijos numa tenda circense enquanto tudo vai pelos ares por causa da explosão de fogos de artifícios. Por falar em Mason é interessante notar que pela primeira vez em muitos anos um personagem interpretado por Elvis finalmente se relacionava com alguém de sua idade. Marlyn já é uma mulher adulta, cheia de problemas, com muito stress, bem longe das garotas de biquínis que Elvis perseguia nos filmes anteriores. Nada é muito aprofundado, é claro, até porque o filme é uma comédia musical, porém já era um pequeno sinal positivo de mudanças.

Interessante notar que os dois últimos filmes de Elvis em Hollywood como ator até que são bons, comparados com algumas porcarias que ele andava rodando, principalmente após 1964. O seguinte que Elvis iria filmar e que marcaria sua despedida de Hollywood, "Change of Habit" era até muito bom, bastante superior a qualquer coisa que ele havia feito nos últimos anos. Ele se dava até a ousadias impensáveis antes como desfilar um certo mau-caratismo, com charuto na boca. E como até já afirmei antes em outro texto o filme "The Trouble With Girls" também acabou se salvando na parte musical. Há boas músicas na trilha, embora sejam poucas. Enfim, prestes a colocar os pés fora da capital do cinema Elvis ainda respirou bons ares antes de dizer adeus. Pena que essa mudança tenha vindo tarde demais para salvar sua carreira como ator de cinema.

Pablo Aluísio.

Randolph Scott - Domador de Motin

Mais um bom faroeste com o astro do western Randolph Scott. Aqui ele interpreta um tipo incomum em sua filmografia. Scott é Ned Britt. No passado ele fora um pistoleiro temido no velho oeste, principalmente no norte do Texas. Com o tempo ele passou a entender que seria morto mais cedo ou mais tarde pois sempre haveria alguém tentando ter a honra de ter matado o mais rápido do gatilho. Assim ele decide abandonar as armas, se dedicando a ser um jornalista. Isso mesmo. Com uma prensa mecânica em uma carruagem, Ned e sua pequena equipe se tornam jornalistas itinerantes, indo de cidade em cidade para publicar seu pequeno diário.

Depois de muito rodar ele acaba parando em sua terra natal, a pequena Fort Worth, no mesmo Texas que um dia deixou para tentar o começo de uma nova vida. Seu retorno acaba também trazendo problemas. Sua antiga namorada (e amor de sua vida) está para casar com o seu melhor amigo. Para piorar tudo, a presença de alguém disposto a publicar um jornal na cidade logo desperta ódios, principalmente dos bandidos e malfeitores da região. A liberdade de imprensa já existia nos Estados Unidos naqueles tempos pioneiros, porém não eram poucos os jornalistas que acabavam sendo mortos por aquilo que escreviam. Afinal de contas o oeste ainda era selvagem.

O interessante é que o personagem de Scott evita a todo custo em voltar a usar as armas. Ele acredita sinceramente que o poder das palavras é mais forte e imponente do que o poder das armas de fogo. Sua relutância em voltar ao velho estilo - de acertar todas as rivalidades com um cano fumegante - logo o deixa vulnerável contra os facínoras de Fort Worth. Ele só muda de ideia mesmo quando seu sócio é morto covardemente na própria sede do jornal Fort Worth Star que dirige. A partir daí não sobra outra alternativa. O velho e bom Randolph Scott então resolve acertar as contas ao velho estilo, em duelos face a face (algo que certamente fez a festa dos fãs do ator na época).

Embora seja um western bem na média do que Scott era acostumado a estrelar - ou seja, uma fita B, mas com muito bom gosto e com todos os elementos necessários presentes - o que mais me chamou a atenção nesse filme foi o bom roteiro, com inúmeras reviravoltas envolvendo todos os personagens. Ora Scott pensa contar com seu velho amigo, ora descobre que está entrando em uma verdadeira cilada, com traição à vista. E para não faltar nada mesmo, o filme ainda traz ótimas sequências de ação, como a corrida em direção a uma locomotiva em chamas e uma grande sequência de acerto de contas de Scott com todos os vilões do filme. Em suma, um faroeste para fã do gênero nenhum colocar defeito. Scott era realmente muito eficiente nesse tipo de produção. Bons tempos aqueles.

Domador de Motins (Fort Worth, EUA, 1951) Direção: Edwin L. Marin / Roteiro: John Twist / Elenco: Randolph Scott, David Brian, Phyllis Thaxter / Sinopse: Após viajar numa caravana em que um garotinho morre esmagado depois do estouro incontrolável de uma manada, o cowboy e jornalista Ned Britt (Scott) decide voltar para sua terra natal, Fort Worth. Lá reencontra o grande amor de seu passado e seu antigo melhor amigo,  Blair Lunsford (David Brian), um homem que se tornou extremamente rico, com ambições políticas. O problema é que ele parece ter enriquecido através de métodos ilegais e ilícitos. Será que a amizade entre Ned e Blair sobreviverá agora que tudo parece ter mudado na velha cidade?

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Gary Cooper - A Casa das Amarguras

Muito bem, se você é fã de cinema e procura conhecer a era de ouro de Hollywood é importante fugir do lugar comum. Veja o caso do ícone Gary Cooper. Muitos o conhecem por obras primas como "Por Quem os Sinos Dobram", "Sargento York" ou "Matar ou Morrer". São filmes maravilhosos, não restam dúvidas sobre isso, porém Cooper foi muito além desses filmes mais conhecidos. Ao longo da carreira ele desfilou seu talento em 119 filmes! Infelizmente a maioria deles esquecidos hoje em dia. Assim abro um pequeno espaço aqui para escrever sobre um drama familiar da filmografia de Cooper que poucos comentam, mesmo em fóruns de cinema. Estou me referindo ao drama familiar "Ten North Frederick" (que no Brasil recebeu o título de "A Casa das Amarguras").

Gary Cooper interpreta Joe Chapin. Aparentemente um homem bem sucedido. O roteiro começa a contar sua vida  justamente pelo seu funeral. Os familiares e amigos vão chegando em sua bonita mansão enquanto a imprensa cobre todos os eventos. Os elogios a ele são os melhores possíveis, porém dentro de sua família, entre quatro paredes, todos lamentam alguns aspectos sobre o verdadeiro Chapin. Ele deixou esposa e um casal de filhos. Ao que tudo indica, por baixo da fachada de família rica, bonita e feliz, existe uma série de traumas psicológicos, amarguras e tristezas. A partir do momento que sua filha começa a relembrar o passado, em seu quarto, ao lado do irmão, o roteiro recua no tempo, em um grande flashback, para mostrar os cinco últimos anos da vida de Chapin e todos os acontecimentos que o levaram a ter uma morte relativamente precoce.

Nesse caso o título nacional até que foi bem adequado. Realmente aquela seria uma casa de amarguras. Embaixo da hipocrisia reinante do funeral vamos entendendo os erros e tropeços de Chapin, tanto em sua vida pública como na familiar. Ele tem aspirações políticas e impulsionado pela esposa, uma mulher fria, calculista e ambiciosa, entra no jogo partidário para conseguir a nomeação a uma disputa por um importante cargo público. Para ser escolhido vale tudo, até subornos e propinas (pelo visto a corrupção não é exclusividade tão brasileira como muitos pensam!). Nesse processo o próprio Chapin vai perdendo sua honra e sua dignidade. Em pouco tempo perceberá que está entrando em um jogo extremamente sujo.

Dentro de casa, na vida familiar, tudo também começa a ruir. A filha mais velha, sua preferida, se apaixona por um músico pobre, de origem italiana. Ele certamente não cumpre os requisitos para fazer parte da família Chapin. Joe usa da pior artimanha para afastá-lo de sua filha, o comprando para ficar longe. Pior é que ela está grávida e Joe precisa evitar o escândalo a qualquer preço. Um aborto seria bem-vindo, apesar da degradação moral que traria. O outro filho também tem problemas. Ele sonha ser músico, entrar para a prestigiada Juilliard School em Nova Iorque, algo que Chapin abomina. Ele acaba colocando o filho em Yale para estudar Direito para se tornar advogado no futuro (embora o rapaz odeie essa ideia). Enfim, muitos problemas causados principalmente pelo excessivo controle dos pais sobre a vida dos filhos, praticamente os sufocando, o que só resulta no final das contas em suas próprias infelicidades. Aliás a grande lição do roteiro é justamente essa: há limites para a interferência dos pais sobre a vida dos filhos. O excessivo controle, a opressão e a imposição de vontades só levam a família para o choque e o confronto, nada de bom saindo de tudo isso.

Com a vida ruindo sobra a bebida. Joe Chapin (Cooper) começa a beber excessivamente para afogar as mágoas, ainda mais depois que se apaixona por uma jovem que teria a idade para ser sua filha! Como se pode perceber esse é um drama ao velho estilo, como já não se faz mais como antigamente. Parece que Hollywood perdeu a sensibilidade e o bom gosto para produzir filmes desse estilo. Em termos de elenco todos estão muito bem, mas como não poderia deixar de ser o destaque vai mesmo para Cooper. Bastante envelhecido, com cabelos grisalhos e costas arreadas pelo peso dos problemas da vida, o ator dá um show de interpretação. Seus momentos finais, com a mão trêmula e o aspecto doentio, deveriam ter lhe dado um Oscar pelo precioso trabalho de atuação. Definitivamente Cooper deixou um vazio no cinema americano que jamais foi ocupado depois.

Pablo Aluísio.

Espionagem Internacional

Ontem assisti "Espionagem Internacional" (Triple Cross, França, Inglaterra, 1966). Aqui temos um filme que se passa na II Guerra Mundial, mas que deixa as grandes batalhas épicas de lado para se concentrar no intenso jogo de espionagem existente entre países aliados (Estados Unidos, Inglaterra e Rússia) e países do Eixo (Alemanha, Japão e Itália). O protagonista é interpretado por Christopher Plummer (sempre excelente) que dá vida ao personagem Eddie Chapman. No começo do filme, logo nas primeiras cenas, somos apresentados a ele e descobrimos do que vive. É um ladrão de cofres inglês que usa de todas as artimanhas para escapar das garras da polícia. Depois de mais um roubo ele finalmente é preso na França. Acaba condenado a uma dura pena de 14 anos de reclusão.

Sua sorte muda quando o país é invadido pela Alemanha. A chegada dos nazistas se mostra uma excelente oportunidade para Chapman finalmente sair da prisão. Ele prontamente se oferece para se tornar espião dos alemães. Já que é inglês e tem talentos de arrombamento e assalto, algo que bem poderia ser aproveitado pelo serviço secreto do Reich. A ideia, que inicialmente parece um tanto absurda, acaba sendo aprovada pelo exército de Hitler. Chapman é liberado e começa um treinamento com outros agentes nazistas. Antes porém que entre em campo para começar os serviços de espionagem ele é colocado à prova, como um teste, para que se saiba se realmente suas intenções são verdadeiras. Poderia um traidor inglês ser leal ao Partido Nazista?

Há dois personagens bem interessantes no filme, na verdade os dois superiores na hierarquia alemã que comandam e coordenam as ações de Chapman. O primeiro deles é o Barão Von Grunen, Coronel do Exército, de origem prussiana, um membro da velha aristocracia alemã. Quem o interpreta é o ator Yul Brynner. De monóculos e trajes militares ele mais se parece com um fanático nazista que não aceita erros ou indisciplina de seus subordinados. No decorrer da história ficaremos sabendo que ele seria mais equilibrado do que se pensava inicialmente, principalmente após se envolver em um atentado contra o próprio Hitler, o que também acaba lhe custando a própria vida e sua honra perante o Terceiro Reich. Sua frase final é das mais interessantes: "Se um exército não consegue nem ao menos explodir direito um quarto onde Hitler estava, então não merece mesmo vencer essa guerra!". A morte por cápsulas de cianureto vem então quase como uma celebração. 

Outra personagem muito interessante é interpretada pela linda atriz (e ícone do cinema) Romy Schneider. Sim, a eterna Sissi de tantos filmes glamorosos. Aqui ela já estava um pouco longe daquela imagem que a consagrou, pois já não era mais tão jovem, mas mesmo assim ainda continuava belíssima. Na verdade sua atuação aqui não faz mesmo tanto jus à sua importância para o cinema da época. Ela está obviamente em um papel secundário, uma Condessa envolvida com espionagem que acaba se interessando romanticamente pelo espião de Plummer. Nada muito convincente, apenas um alívio romântico em um filme de cartas marcadas. Pois bem, nesse ponto você pode pensar que realmente não seria uma boa ideia realizar um filme sobre um traidor (o roteiro aliás é baseado em fatos reais), mas isso é uma visão puramente simplista pois há contornos mais interessante sobre ele do que se possa imaginar. De modo em geral foi um filme que me agradou. Poderia ter sido melhor, com uma edição mais ágil e um ritmo menos lento (o que era comum no cinema inglês da década de 1960), porém nada muito prejudicial. Assim deixo a recomendação para esse filme de espionagem que pelo menos tentou ser diferente e mais original do que os demais, do que era costumeiramente realizado na época.

Pablo Aluísio.