segunda-feira, 20 de maio de 2019

Confidências à Meia Noite

Infelizmente Doris Day se foi nessa semana, deixando muitas saudades naqueles que assistiram aos seus filmes ao longo de todos esses anos. Esse "Confidências à meia noite" foi um dos mais lembrados em artigos e matérias comentando sua morte. Não é para menos, sem dúvida é um de seus filmes mais populares, aquele que de certa forma definiu sua carreira no cinema. "Pillow Talk" é certamente um dos melhores filmes de sua filmografia (se não for o melhor). Essa é uma simples constatação para quem gosta de cinema clássico. A primeira parceria com Rock Hudson (faria mais dois filmes ao lado dele) rendeu ótimas cenas de humor. Considerado ousado e sofisticado demais para os anos 50, o filme fez um tremendo sucesso. Rock em sua biografia afirmou que esse foi um dos trabalhos que mais gostou de fazer, pois o clima no set era o melhor possível, muito descontraído e alegre. Além disso ele criou uma ótima química com Doris nas cenas. Foram amigos até o fim de suas vidas. Amizade verdadeira, pouco comum em Hollywood.

Hudson havia recentemente se separado da esposa e procurava por novos caminhos em sua carreira. Depois de estrelar faroestes e dramas com Douglas Sirk e George Stevens, Rock tinha dúvidas se poderia fazer bem um papel de playboy numa comédia romântica sofisticada como essa. Depois de pensar por um tempo resolveu arriscar. O interessante é que o sucesso de "Confidências à Meia Noite" acabou significando uma mudança completa nos rumos de sua filmografia. A partir daqui ele deixaria definitivamente os dramas pesados de lado para se dedicar a filmes bem mais leves, divertidos como "Volta meu Amor", "Não me Mandem Flores", "O Esporte Favorito do Homem" e "Quando Setembro Vier". Ele mudou seu estilo, mudou sua carreira a partir desse ponto.

Já Doris Day atribuiu ao filme à sua fama de "virgem profissional" e disse não ter entendido a razão de ter recebido esse "rótulo" por parte da imprensa. No filme sua personagem se recusava a ceder ao conquistador barato interpretado por Rock. Além disso a personagem era dona de si, profissional e no comando de sua vida. Nada parecida com uma dondoca.  Segundo Doris Day aqui ela não interpretava uma "virgem" mas sim uma mulher independente, inserida no mercado de trabalho, profissional, que pela primeira vez tinha o direito de escolher o homem com quem queria se casar - ou não casar, de acordo única e exclusivamente com sua consciência. O filme foi divisor de águas também porque acabou criando um dos filões mais usados em Hollywood - o da comédia romântica com roteiros mais picantes. Antes de Pillow Talk ("conversa de Travesseiro", seu título original) os estúdios não prestavam muito atenção nesse estilo. Com o sucesso do filme eles começaram a investir mais no gênero - que atingiria seu auge vinte anos depois, nos anos 80. Uma fórmula que até hoje não demonstra sinais de desgaste perante o público, principalmente feminino.

Confidências à Meia Noite (Pillow Talk, EUA, 1959) Direção de Michael Gordon / Roteiro de Stanley Shapiro e Maurice Richlin / Elenco: Rock Hudson, Doris Day, Tony Randall, Thelma Ritter  / Sinopse: Jovem playboy (Rock Hudson) se faz passar por uma caipirão para conquistar sua vizinha (Doris Day) que implica com ele por causa da linha de telefone que ambos dividem. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Roteiro Original. Também indicado nas categorias de Melhor Atriz (Doris Day), Melhor Atriz Coadjuvante (Thelma Ritter), Melhor Direção de Arte e Melhor Música. Indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Comédia ou Musical, Melhor Atriz (Doris Day) e Melhor Ator Coadjuvante (Tony Randall).

Pablo Aluísio.

Moby Dick

O livro original foi escrito por Herman Melville em 1851. Curiosamente não foi um grande sucesso de vendas em seu lançamento, mas ao longo dos anos foi sendo redescoberto pelos estudiosos de literatura. Hoje é considerada uma obra prima. O filme nasceu da insistência pessoal de John Huston que viu no texto várias características com as quais ele próprio se identificava. A adaptação para as telas realmente ficou excelente, fruto de seu trabalho como grande cineasta que sempre foi. Muita gente pensa que se trata apenas de um filme de aventura que mostra um capitão alucinado na caça de uma baleia cachalote albina. Não é bem isso. Bom, isso é a superfície, na realidade Moby Dick é uma grande metáfora sobre a obsessão que corrói a mente dos homens. Basta trocarmos a baleia por qualquer outra coisa que cause a obsessão ao ser humano para entendermos muito bem o que o autor do livro quis passar. No fundo é a história de um homem disposto a sacrificar tudo (até sua vida) para ir atrás de um objetivo, nem que isso leve ele e seus tripulantes à ruína completa.

Existem outras versões de Moby Dick, mas nenhuma delas sequer conseguem chegar ao nível dessa de 1956 que foi dirigida por John Huston. Não é surpresa nenhuma que ele tenha feito esse filme. O tema era muito próximo a Huston que se empenhou em uma história parecida quando estava filmando na África (assistam “Coração de Caçador” de Clint Eastwood para entender). Outro ponto que conta muito a favor nessa versão é a dupla de atores: Gregory Peck (como o obcecado capitão e sua voz de trovão) e Orson Welles (em uma ótima cena passada num culto religioso). Os diálogos são ricos e declamados com eloquência, então é garantido o show de interpretação desses atores. Até os efeitos ainda são charmosos, mesmo com mais de 50 anos de sua realização. Enfim, Moby Dick é excelente, uma viagem em busca do monstro interior de cada um de nós.

Moby Dick (EUA, 1956) Direção: John Huston / Roteiro: John Huston, Ray Bradbury baseado na obra de Herman Mellvile / Elenco: Gregory Peck, Orson Welles, Richard Basehart, Leo Genn / Sinopse: O Capitão Ahab (Gregory Peck) é um velho homem do mar que se torna obcecado em encontrar e matar uma baleia branca cachalote conhecida como Moby Dick. Para isso não medirá esforços exigindo severamente o máximo dos homens de sua tripulação. A obsessão da caça se torna sua ruína pessoal.

Pablo Aluísio.

domingo, 19 de maio de 2019

O Destino Bate à Sua Porta

A grande maioria dos cinéfilos conhece essa estória através do remake que foi feito muitos anos depois com Jack Nicholson e Jessica Lange. Esse aqui é o filme original mostrando a trama de assassinato orquestrada por dois amantes contra o marido mais velho da garota. Na trama somos apresentados a um vagabundo errante, Frank Chambers (John Garfield), que chega até uma lanchonete de beira de estrada numa cidadezinha da Califórnia. O pequeno estabelecimento é tocado por Nick (Cecil Kellaway) e sua jovem esposa, a bela Cora (Lana Turner). Logo Frank cai nas graças de Nick e este o contrata para trabalhar no local. Não demora muito para que Frank e Cora se sintam atraídos um pelo outro. A partir daí tudo caminha para um desfecho trágico pois o casal de amantes começa a planejar um jeito de liquidar Nick para continuarem juntos sem o velho marido que agora se tornou um estorvo na vida deles. O roteiro chama atenção pela sordidez dos eventos. O casal age de forma natural mas planeja um assassinato com raro sangue frio. A personagem de Lana Turner (belíssima em cena) não parece ter maiores conflitos pelo que está fazendo, aliás é justamente ela que concebe a idéia e passa para o amante Frank Chambers. No fundo ela está de olho não apenas na lanchonete do marido mas também em um rico seguro de vida no nome dele (algo que negará depois).

A produção é a primeira em língua inglesa baseada no livro que lhe deu origem, escrito pelo autor James M. Cain. Hollywood só se interessou pela estória após ela ter sido filmada duas vezes, uma na França e outra na Itália. Esse pode ser considerado o primeiro grande papel de expressão de Lana Turner. Antes desse personagem amoral, Cora, ela apenas passeava sua beleza em cena sem grandes interpretações a tiracolo. Como era uma starlet apenas tirava proveito de sua beleza e nada mais. Aqui porém já foi exigida bem mais em seu papel, tanto que ganhou grandes elogios da crítica na época. Outro que também está muito bem é John Garfield, em um papel que ficaria melhor com Jack Nicholson décadas depois. A caracterização de Jack é muito mais rica pois expõe os motivos de Frank Chambers com mais intensidade. Na pele de Garfield não conseguimos entender muito bem suas motivações para um crime tão bárbaro. Em conclusão diria que "O Destino Bate à Sua Porta" vale por um direção segura e pela bela atuação de Lana Turner mas a despeito de tudo isso não consegue ser superior à versão de Bob Rafelson em um caso raro de remake superior ao original.

O Destino Bate à Sua Porta (The Postman Always Rings Twice. EUA, 1946) Direção: Tay Garmett / Roteiro: Harry Huskin, Niven Busch baseados no livro de James M. Cain / Elenco: Lana Turner, John Garfield, Cecil Kellaway / Sinopse: Jovem esposa com seu amante planejam a morte de seu marido mais velho para herdar sua lanchonete e um seguro de vida de 10 mil dólares.

Pablo Aluísio.

O Fantasma da Ópera

Título no Brasil: O Fantasma da Ópera
Título Original: The Phantom of the Opera
Ano de Produção: 1925
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Rupert Julian
Roteiro: Gaston Leroux
Elenco: Lon Chaney, Mary Philbin, Norman Kerry, Arthur Edmund Carewe, Gibson Gowland, John St. Polis

Sinopse:
No passado um homem aplaudido pelas massas, compositor de sucesso. No presente uma triste figura, desfigurado, se escondendo pelos porões da ópera. Uma ruína de si mesmo, conhecido como um fantasma, um ser que vive escondido nas trevas. Filme preservado como patrimônio cultural dos Estados Unidos pelo National Film Registry.

Comentários:
Essa foi uma das primeiras adaptações do Fantasma da Ópera no cinema americano. Filme muito bem produzido, com ótima fotografia e maquiagem. O clima soturno foi realmente fantástico, influenciando inúmeros filmes nos anos que viriam. Assim, mesmo sendo feito na era do cinema mudo, em nada se perdeu em termos de impacto e ambientação. Some tudo isso ao trabalho do ator Lon Chaney e você entenderá porque esse filme ainda é reverenciado. Não vá também confundir Lon Chaney com Lon Chaney Jr, que era seu filho. O primeiro Lon Chaney (pai) foi considerado um dos maiores atores de todos os tempos, tanto que passou a ser conhecido como "o homem das mil faces". Já Lon Chaney (seu filho) ficou famoso interpretando o lobisomem na primeira versão do estúdio, algumas décadas depois. De qualquer forma o talento parecia ser mesmo de família. Por fim uma curiosidade: esse filme foi dado como desaparecido por anos, pois não se conseguia encontrar uma cópia, até que a salvação veio de Paris. Um antigo colecionador tinha guardado uma cópia completa em sua coleção, salvando assim esse clássico do cinema do desaparecimento total.

Pablo Aluísio.

sábado, 18 de maio de 2019

O Homem das Mil Caras

Belo filme clássico. O que temos aqui é uma cinebiografia do ator Lon Chaney. É Hollywood olhando para si mesma, contando parte de sua história. Chaney não era um galã bonitão como Clark Gable e nem tampouco um comediante talentoso como Charles Chaplin. Fisicamente ele tinha a aparência de um homem comum, já entrando na velhice. Isso não o impediu de se tornar um dos atores mais populares de seu tempo. Para alcançar esse sucesso nas telas ele usava não apenas de seu talento dramático, mas também de seus talentos como maquiador, criando personagens apenas com suas ferramentas artísticas. Isso criou um estilo próprio de fazer cinema. Assim ele ficou muito popular interpretando figuras trágicas como o fantasma da ópera e o corcunda de Notre Dame. Tudo criado por ele mesmo, usando de figurinos e maquiagem em doses excessivas. Por isso os posters de seus filmes traziam o título de "O Homem das Mil Faces", já que ele conseguia se transformar em qualquer personagem, sejam piratas, orientais, palhaços sinistros, qualquer coisa que o roteiro de um filme pedisse. O filme assim celebra sua vida como ator, mas também mostrando muitos detalhes de sua vida pessoal, como o casamento conturbado e infeliz, a perda da guarda do seu filho e uma certa vergonha que tinha por causa de seus pais, que eram deficientes.

O roteiro que concorreu ao Oscar é primoroso. Consegue mesclar o lado profissional e pessoal desse ator de forma magistral. Não há espaços para vazios ou cenas gratuitas. Tudo tem uma razão de ser. E por falar em talento dramático uma das melhores coisas nesse clássico é o trabalho de James Cagney. Claro, se você gosta de cinema clássico imediatamente o associa a personagens de gangsters durões. Foi nesse tipo de filme que ele se tornou famoso no cinema. Só que aqui temos o ator em um papel dramático que exigiu muito dele em termos de dramaturgia. E ele se saiu excepcionalmente bem. Diria que ficou à altura do próprio personagem que retratou. Afinal de contas temos que salientar que apenas um grande ator conseguiria interpretar um grande ator do passado como Lon Chaney. Nesse aspecto James Cagney merece todos os nossos aplausos por seu brilhante trabalho nesse filme.

O Homem das Mil Caras (Man of a Thousand Faces, Estados Unidos, 1957) Direção: Joseph Pevney / Roteiro: Ralph Wheelwright, R. Wright Campbell / Elenco: James Cagney, Dorothy Malone, Jane Greer, Marjorie Rambeau / Sinopse: O filme conta a história do ator Lon Chaney, aqui interpretado pelo astro James Cagney. Um resgate histórico da obra e da vida desse grande ator da era de ouro do cinema mudo americano. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Roteiro Original.

Pablo Aluísio.

O Paraíso Infernal

Em um país da América do Sul, o aviador americano Geoff Carter (Cary Grant) administra uma pequena empresa de aviação, formada por pilotos destemidos que precisam levar cargas, pessoas e alimentos para regiões inóspitas e distantes do continente. Se utilizando de velhos aviões, em climas hostis, eles precisam levar em frente um negócio não apenas arriscado, mas muitas vezes mortal. Bonnie Lee (Jean Arthur) é uma viajante que acaba conhecendo o grupo durante uma parada de seu navio na região. Em pouco tempo ela se encanta por Geoff, embora ele não esteja muito interessado em realmente se apaixonar novamente por alguém. Indicado a dois Oscars (Melhor Fotografia e Melhores Efeitos Especiais) esse "Only Angels Have Wings" já traz todas as características que seriam muito presentes na obra do cineasta Howard Hawks. Um dos diretores mais ecléticos da história do cinema americano aqui ele procura mesclar aventura com romance, drama com humor. O resultado é muito bom, mesmo com algumas pequenas falhas de roteiro.

Como basicamente se trata de um enredo aventuresco o diretor precisou utilizar de duas técnicas básicas para contar sua estória. Na primeira ele se utilizou de maquetes de aviões (bem charmosas aliás) para reproduzir os momentos de maior perigo, principalmente em acidentes aéreos e pousos perigosos. Na segunda conseguiu ótimas sequências reais, usando aviões de verdade. Existe uma cena onde temos dois aviões - um de filmagem e outro em ação - que impressiona até hoje. As aeronaves sobrevoam montanhas íngremes e realizam verdadeiras manobras em sua encosta. Tudo realizado com extrema perícia e competência. Em termos de elenco o galã Grant interpreta um piloto durão que após uma decepção amorosa no passado (a sua ex-mulher não suportou sua vida de desafios e perigos no ar) decide que não mais irá se apaixonar. Isso se torna um problema para a personagem de Jean Arthur que fica caidinha por seus encantos. Para completar o triângulo amoroso surge uma jovem Rita Hayworth, esposa de um dos pilotos que trabalham para Grant, embora ela esteja interessada mesmo é nele! Enfim, como eu já frisei, Hawks conseguia mesclar vários gêneros em um só filme. Aqui ele conseguiu novamente, realizando assim um de seus melhores trabalhos na década de 1930. Diversão garantida, como bem queria o grande mestre.

O Paraíso Infernal (Only Angels Have Wings, Estados Unidos, 1939) Estúdio: Columbia Pictures / Direção: Howard Hawks / Roteiro: Jules Furthman / Elenco: Cary Grant, Jean Arthur, Rita Hayworth / Sinopse: Geoff Carter (Cary Grant) é um piloto de aviões comerciais que voam em regiões distantes e perigosas da América do Sul. Enquanto tenta sobreviver a cada voo vai se apaixonando por mulheres interessantes que vão cruzando seu caminho.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 17 de maio de 2019

As Oito Vítimas

Gostei bastante desse requintado filme inglês. O enredo se passa na década de 1940. Um conde está em sua cela, na noite anterior à execução de sua pena. Ele foi condenado à morte por diversos assassinatos. Um Duque, um dos maiores títulos dinásticos, agora se encontra na posição do mais bárbaro dos plebeus. O que aconteceu? Para tentar explicar as razões que o levaram até aquele lugar ele começa a escrever uma longa carta, revisitando seu passado. O filme então se torna um longo flashback de sua história pessoal, desde o seu nascimento até sua sentença final. Assim o espectador avança ao passado e descobre que o Duque foi fruto de um casamento entre sua mãe nobre e um cantor italiano sem qualquer título de nobreza.

Isso enfureceu sua família que a deserdou de sua herança. Sem recursos e vivendo na pobreza, o jovem foi criando um grande ressentimento com o que fizeram com sua mãe no passado. Depois de uma série de empregos como vendedor de roupas, Louis (Dennis Price) decide que é hora de se vingar da família D'Ascoyne. Estudando a linha de sucessão de seus parentes descobre que há oito pessoas entre ele e seu tão cobiçado título de Duque. Assim começa a planejar e executar seus crimes. Um detalhe interessante no elenco é que o grande ator Alec Guinness interpreta todas as pessoas da família de nobres D'Ascoyne; Até mesmo as damas são interpretadas por ele. Que grande talento! Apenas com a ajuda de uma maquiagem até discreta ele interpretou nesse filme tipos diversos, como o jovem nobre escapista, o banqueiro, o Duque rico e insensível, etc. Todas facetas de um mesmo ator, aqui esbanjado talento e naturalidade. O filme, como não poderia deixar de ser, tem também uma clara linha do típico humor negro inglês, o que só ajuda ainda mais em seu resultado final que considerei realmente ótimo. Assista se ainda não conhece a fita.

As Oito Vítimas (Kind Hearts and Coronets, Inglaterra, 1949) Direção: Robert Hamer / Roteiro: Robert Hamer, baseado na novela escrita por Roy Horniman / Elenco: Dennis Price, Alec Guinness, Valerie Hobson, Joan Greenwood / Sinopse: Rapaz pobre, mas descendente de uma família de nobres aristocratas, decide matar todos os familiares que estão em sua linha de sucessão ao título de Duque. Assim cada um membro da família D'Ascoyne que está em seu caminho passa a ser eliminado numa série de crimes bem planejados. Filme indicado ao BAFTA Awards na categoria de Melhor Filme inglês do ano.

Pablo Aluísio.

O Mundo em Perigo

Um filme da década de 1950 com formigas atômicas gigantes não parece ser muito promissor, eu sei, porém a despeito de tudo isso não deixa de ser uma das produções sci-fi mais curiosas que já assisti desse período do cinema americano. Como se sabe vivia-se na época a paranoia da guerra fria. Com o avanço da tecnologia nuclear surgiu também um grande medo em torno dela. Algo que piorou ainda mais quando os cientistas descobriram que a radioatividade poderia promover mutações genéticas nas estruturas de animais, insetos, etc. Assim não precisa ir muito longe para entender as origens do roteiro desse filme. O enredo é bem fruto da mentalidade da época em que o filme foi feito. Testes nucleares no deserto do Novo México logo desencadeiam diversas mutações em formigas. Ela ficam enormes - com dois metros e meio de altura - o que leva o pânico e o terror para aquela região. Para tentar exterminar essas novas espécies os militares começam a contar com a ajuda de um especialista nos insetos, que logo decreta o fim da humanidade se as formigas não forem mortas a tempo. Afinal uma rainha poderia dar origem a milhares de formigas, destruindo as cidades e a nossa civilização.

Eu chamo especialmente a atenção de quem é cinéfilo para uma cena em que militares e cientistas descem até as profundezas de um formigueiro e lá se deparam com ovos de uma rainha. O lugar é escuro e eles decidem queimar tudo. É impossível assistir a essa cena hoje em dia e não lembrar de "Aliens - O Resgate" que tem uma cena extremamente semelhante a essa, inclusive o design dos ovos é praticamente igual. Pelo visto James Cameron assistiu a esse filme antes de dirigir o famoso filme. Tudo o que ele fez foi trocar formigas por aliens, até porque eles são muito mais de acordo com a cultura pop atual. Além disso escondeu um pouco aquele cheirinho de plágio que alguns poderiam sentir.

O Mundo em Perigo (Them!, Estados Unidos, 1954) Direção: Gordon Douglas / Roteiro: Ted Sherdeman, Russell S. Hughes / Elenco: James Whitmore, Edmund Gwenn, Joan Weldon / Sinopse: Formigas gigantes mutantes invadem o deserto do Novo México. Militares e cientistas unem suas forças para exterminar esse novo perigo. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhores Efeitos Especiais.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Assalto ao Submarino Wayne

Título no Brasil: Assalto ao Submarino Wayne
Título Original: Assault on the Wayne
Ano de Produção: 1971
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Studios
Direção: Marvin J. Chomsky
Roteiro: Jackson Gillis
Elenco: Joseph Cotten, Leonard Nimoy, Lloyd Haynes, Dewey Martin, William Windom, Keenan Wynn

Sinopse:

Durante a guerra fria um submarino americano cruza o Atlântico com a missão de levar um armamento de alta tecnologia, misseís especiais da marinha. O que não se suspeita é que um dos tripulantes é na verdade um sabotador à bordo.

Comentários:
Esse é um filme bem raro de se encontrar hoje em dia. Originalmente o filme acabou sendo exibido na TV americana em 1971. Havia planos para seu lançamento nos cinemas, mas depois a Paramount decidiu que seria melhor exibi-lo no canal CBS. Era lucro certo e fácil já que o orçamento do filme foi restrito. Nos anos 80 ele chegou a ser lançado em nosso mercado de vídeo VHS pelo selo CIC. Nunca chamou muita atenção. O que vale a pena mesmo são os efeitos especiais, um pouco datados pelo tempo, é verdade, além da presença de um elenco bem interessante e esforçado. Entre os atores quem mais se destaca é Leonard Nimoy. Ele interpreta o comandante Phil Kettenring. Homem austero e disciplinador, que a despeito disso também apresenta uma personalidade nebulosa e misteriosa. A presença de Nimoy também serve como referência para provar que o ator foi muito além de seu personagem mais famoso, o Sr. Spock da série Jornada nas Estrelas. Quando a série de TV original acabou ele teve que partir para outros trabalhos, entre eles esse interessante filme de submarinos. Assim deixo a dica para quem admirava o trabalho desse ator. Ele faz o filme valer bastante a pena.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Sua Última Façanha

Excelente momento da filmografia do ator e astro Kirk Douglas. O roteiro foi baseado no livro "The Brave Cowboy", escrito por Edward Abbey e conta a estória de um velho cowboy chamado John W. "Jack" Burns (Kirk Douglas). Considerado um sujeito de um tempo que não existe mais, ele resolve enfrentar um policial veterano, o xerife Morey Johnson (Walter Matthau), após ser considerado um fugitivo da lei. Assim ficam lado a lado dois mundos diferentes, o velho oeste e o mundo moderno, com seus carros, helicópteros e tecnologia. Enquanto o velho cowboy luta para sobreviver com seu cavalo e seu antigo modo de vida. Sem dúvida é um grande filme! Resolvi assistir depois de tomar conhecimento de que esse era o filme preferido do próprio Kirk Douglas. Depois de conferir devo dizer que concordo com o ator em gênero, número e grau. Embora tenha estrelado vários e vários clássicos ao longo de uma das carreiras mais produtivas e bem sucedidas em Hollywood não há em sua extensa filmografia nenhum outro filme que tenha tanto coração e sentimento como esse. Um roteiro que lida de maneira primorosa com o fim de um amado estilo de vida que definiu vários dos grandes heróis da história dos EUA.

O grande mérito aqui é que Douglas, o diretor David Miller e principalmente o roteirista Dalton Trumbo, conseguiram reunir vários gêneros em um só filme, com resultado bem acima da média. Se pode pensar que "Lonely Are The Brave" é apenas um western temporão, de um estilo que já estava se tornando fora de moda, mas isso é uma visão simplista. O filme passeia tranquilamente por vários estilos e gêneros, tangenciando os filmes policiais, do tipo "on the road" e até mesmo os dramas românticos, isso sem perder a direção em momento algum. Passado no moderno oeste americano, somos apresentados ao personagem John W. "Jack" Burns (Kirk Douglas). Ele é um velho cowboy que tenta manter vivo seu estilo de vida em um mundo que definitivamente nada mais tem a ver com o passado. No meio de autoestradas, aviões a jato e carros modernos, Burns tenta manter de alguma forma intacta a figura mitológica do cowboy do velho oeste. Claro que agindo assim ele logo encontra problemas com a lei, com a sociedade e com a mentalidade moderna. Os jovens o acham uma peça de museu, mas ele insiste em manter sua dignidade intacta.

Duas coisas impressionam no filme: O lirismo subliminar do roteiro e a eficiente caçada final a Burns em uma montanha rochosa íngreme. Algumas cenas são as melhores que já vi. Fiquei imaginando como devem ter sido complicadas as filmagens naquela região no Novo México, até porque subir com um cavalo em um ambiente daqueles é quase impossível (em muitos momentos fiquei realmente receoso do cavalo e do dublê de Douglas caírem montanha abaixo, tal o perigo das tomadas feitas). Em conclusão podemos afirmar que "Sua Última Façanha" é uma excelente crônica sobre a mudança de costumes que se sucedem de uma época histórica para outra. O velho mito que se depara com os desafios da modernidade. Em vista de tudo isso certamente vai agradar aos fãs de western e também aos que querem conhecer melhor essa fase de mudanças profundas no modo de viver dos mitos do passado. Pura nostalgia, de grande qualidade artística. Vale muito a pena conhecer, certamente.

Sua Última Façanha (Lonely Are the Brave, Estados Unidos, 1962) Estúdio: Universal Pictures / Direção: David Miller / Roteiro: Dalton Trumbo / Elenco: Kirk Douglas, Gena Rowlands, Walter Matthau, George Kennedy / Sinopse: Velho cowboy, prestes a se aposentar, se recusa a abandonar seu amado estilo de vida do passado. Após problemas com um xerife ele precisa sobreviver a uma intensa caçada humana. Filme indicado ao BAFTA Awards na categoria de Melhor Ator (Kirk Douglas).

Pablo Aluísio.

Homens das Terras Bravas

Depois de trabalhar em “Os Brutos Também Amam” o ator Alan Ladd poderia ter se aposentado do gênero, afinal esse foi um dos mais marcantes filmes de western da história do cinema americano. Depois de fazer algo tão maravilhoso assim ele realmente não precisava mesmo fazer mais nada. Porém para a alegria de seu vasto fã clube o ator resolveu seguir em frente estrelando outros faroestes, mantendo-se fiel ao estilo até o fim de sua carreira. Entre os bons westerns que estrelou esse “Homens das Terras Bravas” é dos mais interessantes. O filme começa com os personagens interpretados por Alan Ladd e Ernest Borgnine presos na famosa prisão de Yuma (sempre citada em filmes de faroeste, basta lembrar do clássico de Glenn Ford). O personagem de Ladd é um engenheiro de minas que foi condenado por ter supostamente roubado uma pepita de ouro numa mina em que trabalhava. Ele alega inocência e diz que tudo foi armação do xerife da cidade que não gostava dele. Já Ernest Borgnine está preso por assassinato. Homem rude, não aceitou levar desaforos para casa. Depois de cumprirem suas penas são finalmente colocados em liberdade.

Peter Van Hoek, vulgo 'The Dutchman' (Alan Ladd) decide voltar então para a cidade onde foi preso. Alega que gosta do local mas na verdade ele tem um plano a seguir em sua mente. Inocente ou não, ele agora quer ir para a desforra e monta um grupo para assaltar a mesma mina em que foi acusado de roubo anos atrás. Para isso conta com a preciosa ajuda de John 'Mac' McBain (Ernest Borgnine), pois afinal já o conhecia da prisão. Completando o trio um especialista em dinamites também entra nos planos do roubo da mina. A idéia é colocar as mãos no ouro, vendê-lo a um homem poderoso da região e saír da cidade o mais rapidamente possível. O problema é que as coisas não saem exatamente conforme foram planejadas.

Filmes sobre roubos sempre mantém o interesse do espectador. Esse aqui se aproveita bem dessa situação. Há o planejamento inicial, a execução do plano e os problemas e adversidades que vão surgindo conforme eles colocam tudo em ação. O personagem de Alan Ladd tem também um atrativo a mais. No começo o espectador é levado a crer em sua inocência, afinal ele jura ser inocente de todas as acusações. Mas conforme o filme avança essa certeza dá lugar a dúvidas sobre seu real caráter. Ladd quase sempre interpretou papéis de homens íntegros, virtuosos nas telas e ver o ator em um personagem assim se torna muito interessante. No final das contas temos aqui uma excelente fusão de gêneros (western e aventura) que certamente não vai decepcionar nem o fã de Alan Ladd e nem muito menos os amantes do gênero. Está bem recomendado.

Homens das Terras Bravas (The Badlanders, EUA, 1958) Direção: Delmer Daves / Roteiro: Richard Collins, baseado na novela de W.R. Burnett / Elenco: Alan Ladd, Ernest Borgnine, Katy Jurado / Sinopse: Após sair da prisão por um crime que jura não ter cometido um engenheiro de minas (Alan Ladd) e um comparsa (Ernest Borgnine) decidem roubar o ouro de uma mina na região seguindo um elaborado plano de ação.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 14 de maio de 2019

Ardida como Pimenta

Com o recente falecimento da atriz Doris Day é sempre bom lembrar esse filme, um dos mais populares de sua carreira, uma espécie de "Faroeste Musical" que fez muito sucesso em seu lançamento. O enredo é bem interessante. Calamity Jane (Doris Day) é uma cowgirl durona em um oeste machista e cheio de bandidos, xerifes e cowboys que só pensam nela como uma garota para namorar. Ela então resolve abrir seu próprio negócio, um saloon, que logo se torna um dos mais movimentados da fronteira. Embora se faça o tempo todo de durona, ela acaba se apaixonando pelo famoso pistoleiro e às do gatilho Wild Bill Hickok (Howard Keel). Afinal embora seja uma garota forte e destemida, ela não consegue mesmo controlar seus sentimentos, o seu coração.

Inicialmente o projeto dos estúdios Warner era a de filmar a história da famosa Calamity Jane no estilo tradicional, com roteiro sério e tentando recriar os passos dela em sua vida. Os planos mudaram completamente quando Doris Day entrou no filme. Ela estava no auge de sua popularidade como cantora e atriz de sucesso, assim Jack Warner mudou de planos e mandou seu grupo de roteiristas criarem um musical em ritmo de divertida comédia para se adequar ao estilo de Doris. Acertou em sua decisão.

O público e a crítica adoraram o resultado e o filme, antes considerado até despretensioso, venceu um Oscar na categoria de melhor canção, com a linda "Secret Love" que até hoje comove quem gosta do estilo musical da época. Sempre gostei bastante do trabalho de Doris Day. Ao longo dos anos ela acabou virando uma piada nas mãos da imprensa progressista que implicava com seus personagens, chegando ao ponto de apelidar a atriz de "A Virgem Profissional" (isso quando já era casada e mãe!). Assim sua carreira aos poucos foi se apagando, mas nada tira o mérito dos excelentes filmes que fez ao longo da vida, principalmente suas comédias ao lado de Rock Hudson ou até mesmo sua excelente parceria com Alfred Hitchcock em "O Homem Que Sabia Demais". Por essas e outras esse simpático "Ardida Como Pimenta" é mais do que recomendado. Um western musical que respeita a mitologia do velho oeste. Pura diversão com excelente trilha sonora.

Ardida como Pimenta (Calamity Jane, Estados Unidos, 1953) Estúdio: Warner Bros / Direção: David Butler / Roteiro: James O'Hanlon / Elenco: Doris Day, Howard Keel, Allyn Ann McLerie / No velho oeste a garota Jane (Doris Day) não é uma mulher normal como todas as outras. Ela é dura na queda, domina muito bem um gatilho e está disposta a enfrentar todos os desafios. A única coisa que não consegue controlar são seus sentimentos, principalmente quando se apaixona por Wild Bill, um pistoleiro e jogador de cartas. 

Pablo Aluísio.

O Caminho do Diabo

Lance Poole (Robert Taylor) volta da guerra civil como oficial condecorado, inclusive com a mais alta honra militar, a medalha do congresso americano. Seu plano é retomar a administração do rancho de seu pai, que se encontra em seus últimos dias de vida. Tudo estaria muito bem se não fosse um detalhe mais do que importante: Lance Poole é na verdade um índio que lutou ao lado das tropas da União contra o exército confederado. Essa situação o coloca numa posição delicada pois existem muitas pessoas na cidade para onde ele retorna que lutaram ao lado da tropas do sul, entre eles um astuto advogado que tentará de tudo para tomar as terras de Lance, uma vez que a região agora faz parte do território do Wyoming, que em nova lei determina que todas as terras devem ser ocupadas por brancos, para colonização e pastoreio, o que retira de Lance, a posse de suas próprias terras. Procurando por uma saída jurídica ele contrata a jovem e idealista advogada Orrie Masters (Paula Raymond), mas uma solução pelas vias judiciais parece cada vez mais distante.

“O Caminho do Diabo” é um western que se propõe a discutir a situação dos índios dentro da sociedade americana durante a colonização do oeste. O preconceito racial ganha destaque uma vez que Lance Poole (Robert Taylor) é um indígena que a despeito de ter sido um herói de guerra tem todos os seus direitos negados. Infelizmente em meu ponto de vista o personagem de Taylor não é completamente defensável pois em determinado momento da trama ele começa a tomar posições radicais demais, mesmo com a possibilidade de entrar em um acordo com os brancos que desejam também desfrutar do vale onde se encontra seu rancho, o único local onde há pasto vasto e água para as criações. A atitude do indígena, negando completamente o acesso aos criadores brancos, acaba sendo o estopim de um grande conflito armado entre bancos e índios, algo que o roteiro deixa claro que poderia ser evitado facilmente. De uma maneira ou outra o argumento se torna bem intrigante. O elenco é liderado por Robert Taylor, o galã, que aqui aparece pintado para parecer um nativo americano. A direção é do grande mestre Anthony Mann, que mais uma vez prova seu grande talento em lidar com temas edificantes e de relevância social. “O Caminho do Diabo” assim se torna bem interessante para o fã de filmes de western pois mostra que acima de tudo radicalismos só geram mesmo mais violência e conflitos.

O Caminho do Diabo (Devil's Doorway, EUA,1950) Direção: Anthony Mann / Roteiro: Guy Trosper / Elenco: Robert Taylor, Louis Calhern, Paula Raymond / Sinopse: Após voltar da guerra civil um ex-oficial indígena  da cavalaria americana, Lance Poole (Robert Taylor), tem seus direitos de propriedade negados pelo simples fato de ser um índio. A situação acaba gerando um grande conflito com os criadores brancos da região.

 Pablo Aluísio.

segunda-feira, 13 de maio de 2019

Django

Não restam dúvidas que Django é um dos mais famosos faroestes do chamado Western Spaguetti. Na época de seu lançamento causou grande repercussão não apenas por algumas propostas que eram realmente inovadoras como também pela violência explícita. Por causa desse último fator o filme foi lançado em alguns países europeus com a mais rígida classificação etária, sendo proibido para menores de 18 anos. Um exagero obviamente. Django ainda hoje se mantém como um produto bem realizado. Claro que revisto atualmente muitas das seqüências vão soar fantasiosas demais ou exageradas, mas isso fazia parte de um estilo de fazer cinema que já não existe mais. Os faroestes macarrônicos eram assim mesmo. De positivo temos uma boa direção de arte – a cidade onde Django chega, por exemplo, é um lamaçal completo, suja, feia e abandonada. Sua imagem carregando um caixão, completamente enlameado, entrou na cultura pop e virou um ícone daquele estilo. O próprio Franco Nero, bronzeado, de olhos azuis, chegou até mesmo a virar símbolo sexual e sua interpretação se tornou um tipo de modelo a ser seguido em centenas e centenas de outros Spaguettis. Seu Django era um sujeito durão, de poucas palavras e capaz de grandes façanhas com seu revólver.

O diretor Sergio Corbucci tinha preferências por enredos desse tipo, bem crus, mas nunca se descuidava dos aspectos técnicos em seus filmes. Os cenários eram bem pensados, as tomadas de cena procuravam tirar o melhor proveito do momento e os roteiros, mesmo simples como eram, sempre procuravam fisgar o espectador com cenas marcantes. Django está repleto desses momentos. Logo na primeira cena o diretor procura mostrar todo o seu estilo. O pistoleiro Django surge bem no meio do nada, carregando um pesado caixão. Esse tipo de coisa fica marcada na mente do espectador, não tem jeito. Outra cena muito interessante é aquela em que Django finalmente revela o que traz dentro desse caixão que sempre o acompanha. É um impacto certamente. O enfrentamento contra os soldados sulistas mais lembram produções de ação dos anos 80 do que qualquer outra coisa.

De certa forma Django inspiraria aqueles filmes em que um homem conseguia liquidar todo um exército praticamente sozinho. É claro que é inverossímil, é claro que é exagerado, mas também é o tipo de seqüência estilizada que o público da época adorava! Franco Nero se consagrou no papel e praticamente nunca mais se livrou dele. Chegou a realizar alguns outros filmes como Django, com o mesmo Corbucci como roteirista, mas sem o mesmo impacto. Depois disso o personagem Django acabaria trilhando o mesmo caminho de outro personagem popular do cinema italiano, Maciste, aparecendo em dezenas e dezenas de outros filmes, muitos deles de baixíssimo orçamento e de qualidade técnica bem pobre. O excesso de exploração comercial acabou queimando o personagem que virou símbolo de cinema mal feito, vendido de qualquer jeito. O que vale a pena mesmo nesse mar de “Djangos” é realmente esse, o primeiro filme, o original, os demais são meras imitações baratas. Se você gostou de “Django Livre” de Tarantino não deixe de reservar um tempinho para assistir (ou redescobrir) o Django original de Franco Nero e Sergio Corbucci. Provavelmente você vai achar no mínimo bem interessante.
 
Django (Django, Itália, 1966) Direção: Sergio Corbucci / Roteiro: José Gutiérrez Maesso, Piero Vivarelli / Elenco: Franco Nero, Loredana Nusciak, Eduardo Fajardo, José Bódalo / Sinopse: Vagando pelo meio do deserto o pistoleiro Django (Franco Nero) acaba salvando a vida de uma mulher que está sendo chicoteada por bandidos. Juntos vão até uma cidade lamacenta e perdida no meio do nada que é disputada por dois grupos armados, o primeiro formado por revolucionários mexicanos e o segundo por confederados sulistas liderados por um corrupto oficial. Agora com sua chegada as coisas vão realmente mudar.

Pablo Aluísio.

Réquiem Para Matar

Título no Brasil: Réquiem Para Matar
Título Original: Requiescant
Ano de Produção: 1967
País: Itália
Estúdio: Accord-Film, Wild East Productions
Direção: Carlo Lizzani
Roteiro: Renato Izzo, Franco Bucceri
Elenco: Lou Castel, Mark Damon, Pier Paolo Pasolini, Barbara Frey, Mirella Maravidi, Franco Citti

Sinopse:
Filho adotivo de um pastor, em viagem, finalmente chega numa pequena cidade do velho oeste. Descobre que o lugar é aterrorizado por uma quadrilha comandada por um veterano da guerra civil, um ex oficial confederado que usa o medo e o terror para roubar as terras dos pequenos fazendeiros locais.

Comentários:
Mais um faroeste B filmado e produzido na Itália (com dinheiro em parte financiado pelo principado de Mônaco). O valor extra não me pareceu muito eficaz no que diz respeito à produção em si. O filme realmente não enche os olhos do espectador em termos de cenário, figurinos, etc. Tudo é meio precário, o que em se tratando de filmes como esse até que ajuda a entrar no clima de devastação. O enredo novamente serve como pano de fundo para as boas cenas de ação e duelos no meio da poeira do deserto. O protagonista - um pistoleiro bom de mira - usa uma bíblia numa das mãos e um colt na outra. São suas ferramentas de pregação e envio de almas imundas para as fossas do inferno. Um fato curioso é que o filme foi acusado de ser também uma propaganda esquerdista. Tanto o diretor como os roteiristas eram membros do PCI (Partido Comunista Italiano). Por isso houve uma certa má vontade da crítica na época de seu lançamento original. Penso que não é para tanto. Sim, há um toque de luta de classes na estória, mas isso acaba sendo tão periférico que não atrapalha o resultado final da película que dentro de seu sub-gênero de western até que funciona bem.

Pablo Aluísio.