quarta-feira, 5 de outubro de 2011

As Irmãs Romanov

As Irmãs Romanov
Depois de alguns meses lendo esse excelente livro histórico finalmente cheguei ao seu final. O título pode enganar, já que não é apenas a história das irmãs Olga, Tatiana, Maria e Anastásia, as filhas de Nicolau II. O livro traz uma visão bem mais ampla, mostrando em detalhes o casamento de seus pais, o problema de saúde do filho mais novo, herdeiro do trono, o pequeno Alexei e também o envolvimento do guru Raspudin dentro da corte imperial. Tudo muito bem escrito, em linguagem acessível e que prende realmente a atenção do leitor. É um livro agradável de se ler.

Essa família imperial Romanov provavelmente seria mais uma na longa história da dinastia que reinou na Rússia por mais de 300 anos. O problema é que eles seriam os últimos no poder. Foram engolidos em cheio pela revolução russa que não deixou pedra sobre pedra do antigo regime. A questão política obviamente é explorada, mas o foco do livro muitas vezes internaliza dentro da intimidade do núcleo familiar. A imperatriz era neta da grande rainha Vitória da Inglaterra. Alexandra era uma mulher tímida e muito reservada e isso não ajudou na manutenção do trono imperial russo. Ela isolou sua família da própria corte russa. Eles viviam nos palácios praticamente isolados e esse isolamento foi um fator de distanciamento do imperador dos demais nobres.

É um livro muito bom em minha opinião, que praticamente desvenda em detalhes a vida dessa última família imperial, entretanto não é isento de falhas. A maior falha, ao meu ver, vem do capítulo final. Como se sabe a família Romanov foi executada por fuzilamento. Talvez por ter sido algo brutal demais, a autora apenas cita indiretamente a morte deles. Há claramente um certo pudor em relatar aquele triste evento. De qualquer forma mesmo essa superficialidade final não atrapalha o livro em seu conjunto. Olhando para o todo, trata-se realmente de uma obra literária acima da média.

Pablo Aluísio.

Ditadura no Brasil: A ignorância política do povo brasileiro

Eu estou acompanhando os acontecimentos políticos no Brasil e fico abismado com a ignorância política que tenho visto, principalmente em redes sociais. Pessoas idosas, mais velhas, que deveriam ser mais sábias, ficam pedindo ditadura militar no Brasil! Pois é, cai o mito do velho sábio no Brasil. Sim, porque não há sabedoria nenhuma em se pedir ditadura, regimes de força. Isso é fascismo puro! E as pessoas que pedem por rupturas na democracia não pararam para pensar seriamente sobre o que pedem.

Ditadura é ditadura, seja de esquerda, seja de direita. O Ditador, assim que toma o poder supremo, logo manda matar seus próprios aliados, como fez Stálin, Hitler, etc. Essas pessoas que estão pedindo a ditadura seriam as primeiras a morrer em uma ditadura imposta. Lição de história para quem pensa que ditadura é algo bom para uma nação. Stálin, por exemplo, liquidou todos os fundadores da União Soviética. Hitler mandou executar os primeiros nacionalistas socialistas (nazistas) da Alemanha. Ditador não quer concorrência. O aliado só vale enquanto é útil a ele. A primeira palavra de oposição, de crítica, significa sentença de morte.

Todos aqueles que desejam se tornar ditadores usam do mesmo argumento. Que estão lutando pela liberdade, pelo bem do povo, etc. Conversa fiada. Hitler, Stálin, o "Duce", todos esses tiranos usaram da mesma retórica. Com o apoio de incultos e incautos assumem o poder e geralmente os primeiros a morrerem são seus antigos aliados.

Esses atos que estão querendo fazer no dia 7 de setembro nada tem a ver com democracia. Essas pessoas radicais e fanatizadas querem implantar uma ditadura no Brasil, destruindo os demais poderes. Não caia na mentira dessa gente! O que leva uma pessoa a defender uma ditadura militar? O que leva alguém a defender tiranias? O que leva alguém a torcer pelo fim de sua própria liberdade e direitos individuais? Em meu ponto de vista apenas a insensatez e uma profunda ignorância sobre conceitos básicos de ciência política justificam esse tipo de mentalidade!

Tenho visto também pastores defendendo armas, violência, fake news (mentiras) e golpe de Estado. Onde será que isso está no evangelho? Eu, pelo menos, nunca li nada na Bíblia sobre isso... O que esses pastores pensam? Que índole essa gente possui? Jesus então defendeu armas? Violência? Ditaduras? Eu pensei que ele pregava sobre paz, amor, piedade, ajuda ao próximo. Não, não existe "teologia da prosperidade" nas escrituras sagradas. Você está equivocado. Jesus não pregou sobre ter mais e mais bens materiais. Jesus pregou sobre desapegado, de que fortunas acumuladas no mundo material de nada valiam. Muitas igrejas evangélicas brasileiras pregam algo que nada tem a ver com Jesus. Na verdade a mensagem dessa gente é muitas vezes anti-Jesus.

Assim deixo minhas reflexões sobre o momento atual. O fim da democracia iria levar o Brasil para um abismo profundo. Penso inclusive que a nação não iria mais se recuperar. As grandes nações ocidentais democráticas iriam levantar sanções econômicas que o pais não iria suportar. Não descarto também intervenções militares estrangeiras no Brasil tendo em vista que a questão da preservação da Amazônia é algo sensível no cenário internacional. E esse governo já provou que não está preocupado com questões ambientais. Enfim, está se formando uma tempestade perfeita em nosso país. Tempestade essa que pode destruir de vez o Brasil.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Imperador Romano Calígula

Gaius Julius Caesar Augustus Germanicus se tornou imperador de Roma por um motivo simples. Por ser jovem ele foi praticamente o último membro na linha de sucessão que conseguiu sobreviver. Todos os demais, seus irmãos mais velhos, tios, primos, etc, foram assassinados. Era o governo do imperador Tibério, considerado pedófilo e assassino. Assim que percebia que algum parente estava com ambições ao seu trono, era logo passado na espada. Tibério não admitia qualquer ameaça ao seu poder sem limites. O jovem Calígula assim conseguiu se manter vivo, enquanto seus parentes mais velhos eram mortos em série. O apelido Calígula veio na infância. Ele era filho de um importante general romano chamado Germanicus. Quando ele era apenas um garotinho seu pai o levou em uma campanha militar. O pequeno garoto usava a mesma roupa dos legionários romanos, só que em tamanho reduzido para a sua idade, claro. Assim os soldados o apelidaram de Calígula, uma palavra em latim que significava "botinhas". O futuro imperador detestava o apelido e talvez por isso ficou sendo chamado por ele. Para um apelido pegar basta o apelidado odiar ele. Velha tradição.

Quando Tibério morreu, o trono foi por direito de sucessão para Calígula. E em seus primeiros meses como imperador tudo saiu muito bem. O novo imperador se mostrou sensível aos problemas dos pobres em Roma. Mandou distribuir alimentos, mandou prestar assistência médica de graça ao povo, ajudou os miseráveis. Por isso passou a ser um imperador muito adorado por seu povo. Foi um começo de governo impecável. As pessoas da plebe o amavam e tudo parecia levar a crer que ele seria um dos grandes imperadores de Roma. Só que o jovem imperador caiu doente de uma febre misteriosa. Ele ficou semanas entre a vida e a morte e quando voltou estava transformado... para pior! Historiadores acreditam que Calígula se levantou de sua cama com algum problema mental. Seus atos e atitudes passaram a sugerir que ele havia enlouquecido. Calígula começou a tomar atitudes bizarras. Afirmou que iria nomear seu cavalo senador ou cônsul de Roma. Determinou que as mulheres do senado se tornassem prostitutas em prol de império. Começou a ter um relacionamento escandaloso com suas próprias irmãs, sugerindo incesto abertamente. As orgias sexuais sem fim, os banquetes extravagantes, as violências diárias contra inocentes, tudo sugeria que Calígula havia mesmo perdido a razão, estava completamente insano.

O povo de Roma ficou alarmado ao ouvir certas histórias afirmando que o imperador havia estuprado mulheres, que tinha abusado de crianças, como seu tio Tibério havia feito no passado. O Imperador era um criminoso, um estuprador, um pedófilo, um pederasta e um assassino. Enquanto cometia crimes contra outras pessoas o exército manteve sua lealdade. O problema é que Calígula começou a punir e matar generais de alta patente. Então as legiões romanas se revoltaram contra ele. O imperador louco devia ser morto, gritavam os legionários. Com apenas 28 anos de idade, o jovem que era tão promissor foi morto por soldados romanos. Foi morto com golpes de espada. Sua morte colocou o império em um caos político sem precedentes e o próprio exército romano resolveu o problema elevando seu tio Cláudio ao posto de imperador. Foi o fim de um curto reinado de muitas mortes, loucuras e insanidade. A história de Calígula foi mais uma comprovação da famosa frase do jurista e filósofo Montesquieu. Séculos depois esse cientista político iria dizer que o homem sempre iria abusar do poder político caso o poder não tivesse mecanismos de frear esse mesmo poder, surgindo dai sua famosa teoria da separação dos poderes, sendo separados o poder executivo do poder legislativo e do poder judiciário. Uma lição de direito e política até hoje aplicada nas grandes democracias ao redor do mundo. O poder corrompe e enlouquece, eis a grande lição da história desse imperador romano da antiguidade.

Pablo Aluísio.

A Maldição do Rei

As dinastias da Europa eram tão sedentas por dinheiro e poder que geralmente mantinham os casamentos apenas entre parentes. Assim não era raro o casamento de tios com sobrinhas e primos de primeiro grau. A coisa toda foi péssima para os descendentes pois eles acabaram desenvolvendo uma série de doenças genéticas causadas pela consanguinidade. Os casamentos incestuosos não poderiam dar em algo bom. O resultado foram filhos com problemas genéticos e doenças recessivas.

O caso mais grave foi o de Carlos II. Ele era filho de um tio mais velho com sua sobrinha jovem. O rapaz nasceu cheio de problemas físicos e mentais. Tinha apenas um testículo, atrofiado e preto como carvão, a cabeça enorme era cheia de água, os pulmões atrofiados, o coração minúsculo e os intestinos apodrecidos. Carlos II tinha problemas para comer por causa da mandíbula deformada. Não conseguia falar direito. Era impotente e infértil, não podendo gerar filhos. O povo começou a dizer que o Rei era amaldiçoado e ele próprio, diante de tantos problemas, se convenceu disso.

Dito como muitas vezes como um monstro por cronistas da época, ele herdou o trono da poderosa Espanha aos 4 anos de idade, quando seu envelhecido pai morreu. A maioria das pessoas da corte sabiam que Carlos II não tinha condições físicas e nem mentais para reinar. Diziam que era retardado mental, que não conseguia aprender a ler e nem escrever. Porém o reino da Espanha tinha que seguir em frente de todo jeito. Assim ele acabou tendo que se casar para ao menos gerar um herdeiro. E toda essa crise aconteceu no momento em que a Espanha era uma potência mundial, com uma grande e poderosa marinha.

Os dois casamentos que teve foram casamentos infelizes. Primeiro com a sobrinha do rei francês Louis XIV. Quando ela soube que iria casar com o monstro espanhol caiu de joelhos pedindo ao tio que não fizesse isso. Porém o Rei Sol foi inflexível e ela foi mandada para a Espanha para um casamento infeliz e sem filhos. Morreu jovem, provavelmente envenenada. A segunda esposa foi Maria Ana de Neuburgo. Mulher vil e ambiciosa que só queria saber de poder e dinheiro. Geralmente dava surras no próprio marido e o chamava de cão deformado. Acabou também morrendo jovem, de forma misteriosa. O Rei Carlos II também não foi muito longe. Morreu aos 36 anos de idade, por causa das inúmeras doenças genéticas que tinha. Um monarca que chegou a ser taxado de enfeitiçado pelos seus próprios súditos teve uma existência infeliz e curta. Sua morte, no ano de 1700, sem herdeiros, colocou fim à dinastia Habsburgo na Espanha.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O Rei Franco e os Bárbaros

O Rei Franco e os Bárbaros
Com a queda do Império Romano do Ocidente ocorreu um fato historicamente curioso. Antigos grupos que eram considerados bárbaros pelos romanos, começaram a combater outros bárbaros invasores, se colocando na posição de civilizados (que Roma sempre se colocou) para destruir os bárbaros pagãos que desciam para o Sul da Europa, causando destruição e morte por onde passavam.

Quando os Francos surgiram, eles foram vistos pelos legionários romanos como bárbaros selvagens. Porém com o tempo esses grupos se uniram e formaram o Reino dos Francos. Eles também adotaram o cristianismo como religião. Assim surgiram os primeiros Reis Francos, em dinastias que posteriormente, no passar das gerações, iriam formar o moderno Estado da França, tal como conhecemos nos dias de hoje. E entre esses Reis pioneiros, que ficavam ali no limiar da transformação do Reino Franco na França medieval tivemos um que se destacou em guerras contra os bárbaros do Norte. 

O Rei Franco Quildeberto é considerado o segundo monarca da história da França, membro da dinastia Merovíngia, filho de Clóvis I, dado pelos historiadores como o primeiro Rei da França. Nasceu em 496 e viveu até 13 de dezembro de 558, quando faleceu de causas desconhecidas. Viveu por 62 anos e foi um autêntico rei medieval. Teve a boa sorte de herdar as melhores terras quando seu pai morreu. Como se sabe o Rei Clóvis I deixou suas terras para seus filhos. Quildeberto herdou Paris, a cidade que já se destacava dentro do reino, que em breve iria se tornar sua capital.

Esse monarca Franco teve dois grandes inimigos em sua vida. O primeiro era representado por reinos da península itálica, em especial o reino da Borgonha. Foi seu inimigo visceral. O próprio rei francês marchou sobre as terras desse reino e após uma campanha violenta conseguiu tomar suas principais vilas e cidades. Nessa mesma campanha militar tomou de assalto as cidades medievais de Mâcon, Genebra e Lyon. Depois executou o Rei de Borgonha com ares de sadismo. Mandou prender seu corpo em duas carroças e depois esquartejou seus membros quando os cavalos saíram em disparada.

Outro inimigo sempre presente era o Reino dos Visigodos. Povo bárbaro que havia contribuído pela queda de Roma, os Visigodos eram conhecidos pela violência no campo de batalha. Muitas cidades francesas eram atacadas por eles. Os Visigodos também não seguiam o cristianismo, o que os colocava em roda de colisão com o Reino Franco cristão. Assim o Rei Quildeberto decidiu enfrentar o problema de frente, vencendo esses povos bárbaros numa campanha que custou muito dinheiro aos cofres reais. Crônicas afirmam que em um só dia de batalha morreram mais de 40 mil soldados, o que se tratando da Idade Média era uma carnificina sem precedentes. 

Em uma dessas campanhas o Rei contraiu um mal desconhecido, que até hoje não é bem determinado pelos historiadores. Seus soldados diziam que era bruxaria feita por bruxas pagãs dos Visigodos. De uma maneira ou outra o Rei não resistiu. Morreu por causa dessa misteriosa doença, caindo de seu cavalo, ainda com uma espada na mão, indo parar direto na lama do campo de batalha. Seus oficiais acabaram levado seu corpo de volta a Paris para seu enterro. Seu corpo seria vilipendiado séculos mais tarde por membros da revolução francesa que profanaram e destruíram todos os corpos de reis da França que tinham sido sepultados na Basílica de Saint-Denis. Esse sim um ato de puro barbarismo.

Pablo Aluísio.

As Mentiras da Revolução Francesa

Maria Antonieta foi provavelmente a rainha mais difamada e caluniada da história da Europa. As mentiras ditas sobre ela ecoam até os dias atuais. Não se trata de uma defesa do absolutismo de seus dias, mas sim de denunciar as mentiras que foram levantadas contra ela. Maria Antonieta foi a primeira grande vítima de uma rede de fake news de seu tempo. Com o avanço da imprensa escrita diversos panfletos e textos eram escritos apenas com o objetivo de destruir sua imagem. E o pior de tudo é que a maioria desses textos eram pura mentira.

O material era tão vasto que até hoje historiadores encontram novos textos que desconheciam. E qual era o teor dessas publicações anônimas? Praticamente sempre os mesmos, atacando a rainha de todas as maneiras mais vis, a retratando como uma mulher sem valores morais, uma prostituta, uma devassa, uma mulher depravada em sua vida pessoal. Tudo mentira. Maria Antonieta era mais puritana que todos os que a ofendiam. Ela foi injustiçada sem dó e nem piedade por esses difamadores e caluniadores, muitos deles membros do que viria a ser a Revolução Francesa, mas também nobres nefastos, que jogavam contra a própria monarquia. A ironia histórica foi que muitos deles tiveram suas cabeças cortadas pela guilhotina na fase mais fanatizada da revolução francesa.

Alguns desses textos retratavam Maria Antonieta em gravuras. Essas gravuras eram pornográficas, mostrando a rainha fazendo sexo com vários homens, com criados e até com animais. Não havia limites para a baixaria. O pior de tudo é que muitos franceses do povo acreditaram nessa rede de difamação. Isso, penso, foi fruto de um sentimento de ressentimento contra a realeza. Afinal não era fácil passar fome enquanto uma nobreza completamente dada a excessos de pompa e riqueza desfrutava dos maiores luxos do Palácio de Versalhes. Porém nada disso justificaria a mentira que era levantada contra a rainha.

Provavelmente Maria Antonieta só traiu seu marido uma única vez e mesmo assim em uma situação sui generis. A rainha nunca teve a oportunidade de escolher com quem iria se relacionar, com quem se casaria. Ela de certa forma foi vítima de sua dinastia que a usou como mera peça do jogo político de sua época. Se apaixonar verdadeiramente pelo nobre Axel von Fersen foi certamente seu único pecado. O crime de amar alguém verdadeiramente. 

Até a famosa frase atribuída à rainha "Que comam brioches!" era uma mentira, uma fake news. Essa mesma frase já havia sido atribuída antes para a esposa de Luís XIV e para duas amantes de Luís XV e nenhuma delas havia dito nada nesse sentido. Era uma frase inventada por adversários políticos, tudo com o objetivo de atacar os membros da nobreza francesa. Esse aliás é um consenso entre historiadores, após consulta em milhares e milhares de documentos da época. Os revolucionários franceses chegaram ao absurdo de acusar Maria Antonieta de ter um caso com o próprio filho, um incesto na família real. Qual era a verdade sobre isso? Nada, uma mentira deslavada feita para impressionar opiniões mais bobas, mentes mais simples. Assim fica mais que claro que ela foi vítima, da mentira e da propaganda política de forma mais rasteira. Tudo fruto da mente dos revolucionários franceses.

Pablo Aluísio.

A Derrota de Napoleão Bonaparte

O marco final da derrota de Napoleão Bonaparte é colocada como sendo a Batalha de Waterloo. Uma visão de historiadores, não completamente equivocada. Porém se formos pensar bem, analisar de forma mais sensata os capítulos históricos, veremos que a verdadeira derrota de Napoleão Bonaparte se deu na Rússia, em solo russo, onde ele realmente, de fato, foi humilhado, derrotado e teve seu exército destroçado. Desse ponto em diante a Europa entendeu que Napoleão Bonaparte não era invencível. Longe disso, ele era tocável e podia ser derrotado.

Muito já foi escrito sobre a derrota de Napoleão Bonaparte na Rússia imperial do Tsar Alexandre I. Livros e mais livros foram elaborados, contando em suas páginas a derrota fulminante que os exércitos de Napoleão sofreram naquela ocasião. Porém dois fatos se sobressaem nesse campo. O primeiro é que o "General Inverno", como foi apelido o frio polar russo, foi deciisivo para que Napoleão saboreasse o gosto da derrota total. Seus homens não tinham uniformes adequados para aquele inverno - ou poderíamos dizer inferno? Sem comida, roupas adequadas, o soldado napoleônico simplesmente morreu de fome e frio nas terras sem fim da mãe Rússia. Foi, lamento dizer isso, uma morte justa. Os franceses eram invasores, não tinham que estar naquelas terras.

Outro fato histórico inegável que contribuiu para a destruição das tropas de Napoleão Bonaparte foi a estratégia de "Terra Arrasada", ou seja, os russos, antes da chegada dos franceses, queimaram tudo. Queimaram as casas, os prédios e o mais importante, as provisões. Sem ter o que comer, os soldados franceses sentiram fome como nunca tinham sentido antes. E aqui podemos notar que Napoleão Bonaparte não era o gênio militar que se dizia dele. Um fato que não pode faltar a tropas em guerra é justamente os provimentos, a comida para manter os homens lutando. Sem isso só há fome, morte e destruição. Uma guerra se perde por puro e simples despreparo do seu comando. 

Outro aspecto a se considerar sobre os erros de Napoleão Bonaparte é que ele fazia campanhas militares sem objetivos. Qual era o objetivo de invadir a Rússia? O que ele queria fazer em Moscou, por exemplo? Apenas encher seu próprio ego pessoal? Se foi isso se deu muito mal, pois a derrota no solo russo destruiu sua imagem como militar genial. Ele não era genial, vamos falar a verdade. O mesmo aconteceu no Egito. Sem planos de permanência as tropas franceses não suportaram ficar muito tempo na terra dos faraós. Napoleão Bonaparte também não tinha planos para a Rússia. Nada planejado para o dia após a invasão. Não havia plano político, nem nada. Era apenas invadir por invadiir, para mostrar ao resto da Europa que ele podia fazer isso. Só que não podia e foi solenemente derrotado por esse erro estratégico sem nenhum sentido concreto.

Outro fato é que Napoleão Bonaparte dava pouco ou nenhum valor para a vida humana. Quando ele fugiu da Rússia, dentro de um pequeno veículo puxado por cavalos, ele viu com os próprios olhos a desgraça que se abatia sobre os homens de seu exército. E segundo relatos da época, Napoleão não expressou qualquer sentimento de compaixão por aqueles soldados que estavam morrendo de fome e frio. Ao contrário disso mandava seu cocheiro bater mais e mais nos cavalos para ele sair o mais rapidamente possível da Rússia, alcançar a fronteira. E enquanto passava à toda velocidade, os homens ficavam caídos, mortos na neve.

Pablo Aluísio.

domingo, 2 de outubro de 2011

História & Literatura - Edição II

O Barqueiro do Inferno
Esse personagem, segundo historiadores, tem entre 7 a 6 mil anos, desde sua criação original. Ele já era citado no Livro dos Mortos do Egito Antigo. Seria o barqueiro que iria ajudar os falecidos a atravessarem o rio das almas perdidas que ficava entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos. Para realizar essa travessia ele cobrava o valor de duas moedas de prata. Por isso, durante séculos, as pessoas eram enterradas com duas moedas sobre os olhos ou então uma moeda dentro da boca. Era para pagar o barqueiro do inferno.

A mitologia grega deu novos contornos a esse personagem da literatura. Ele ganhou um nome, Caronte, e uma origem. Ele seria na verdade filho de dois deuses, sua mãe era a deusa do caos e seu pai era o deus da escuridão. Ao cair em desgraça com Zeus ele teria sido amaldiçoado. De jovem grego belo e vigoroso, seria transformado em um esqueleto ambulante que passaria a eternidade atravessando os mortos para seu destino final. Ganhou um capuz negro que esconderia sua verdadeira face horrivelmente macabra. Caronte na mitologia grega também ganhou um irmão, chamado Corante, a quem mataria, jogando nas águas vermelhas do rio que atravessava. Por isso se tornaria duplamente amaldiçoado, para todo o sempre.

Séculos depois de sua criação essa estranha figura ainda iria ganhar mais uma releitura, no clássico escrito por Dante Alighieri, A Divina Comédia. Ele seria um dos primeiros personagens a surgir na história do homem que iria até o inferno. Esse barqueiro do inferno, como descrito por Dante, iria entrar definitivamente no inconsciente coletivo da humanidade. E a visão do inferno por Dante também jamais seria esquecida,  a tal ponto que é quase impossível pensar no inferno hoje e não vir à mente as imagens de um lugar em chamas, povoado por demônios e almas em eterno sofrimento. Dante criou o inferno tal como pensamos hoje. E é curioso também perceber que o barqueiro atravessou três grandes religiões, a do Egito antigo, a da Grécia e finalmente a do mundo judaico cristão, sendo também uma das figuras de literatura mais conhecidas do mundo. De certa maneira, Caronte ganhou mesmo a imortalidade, tal como quis Zeus na mitologia grega.

O Faraó Akhenaton e o Deus único
O Faraó Akhenaton está presente, mesmo que de forma indireta, nas maiores religiões monoteístas do mundo em que vivemos. E poucos percebem isso. Ele foi o primeiro grande líder religioso da história - na época o Faraó era não apenas um líder político, mas igualmente um líder religioso - a sustentar a crença em apenas um único Deus. De certa maneira Akhenaton criou o monoteísmo, tal como conhecemos. Nesse aspecto concordam todos os historiadores e arqueólogos modernos. Ele foi, ao seu modo, um Faraó bastante revolucionário em seu tempo.

A religião antiga era povoada de muitos deuses e deusas. Dezenas deles, cada um com sua próprias características divinas. Algo que as religiões da Grécia e da Roma antiga iria herdar. Só que o Faraó Akhenaton pensava diferente. Ele acreditava que havia apenas um único Deus que havia criado todas as coisas e todo o universo. Em um tempo primitivo como aquele ele associou essa entidade divina única ao Sol. Sim, sem o Sol não haveria vida. As plantas não cresceriam, o Rio Nilo não teria suas temporadas de cheia, tornando fértil os campos ao seu redor. Assim se havia um deus apenas, esse seria o Deus Sol. Todos os demais deuses não existiam. Eram apenas criações humanas.

Claro que essas ideias escandalizaram a classe sacerdotal que basicamente vivia das ofertas aos muitos templos que existiam no Egito. Cada um templo era dedicado a um deus do Egito antigo. Com as novas crenças do novo Faraó todo esse sistema era colocado em dúvida. Não tardou para que o clero da época considerasse Akhenaton um maldito, um Faraó herege e amaldiçoado. Esse duelo de teologias levaria o Faraó e seu deus Sol ao banimento no Egito, porém as sementes estavam lançadas, para sempre na história da humanidade. O povo judeu, que vivia como escravo no Egito, adotou essa forma de pensar. E eles também passaram a acreditar na existência de apenas um Deus, claro o seu Deus e não o Deus Sol de Akhenaton. As bases da crença monoteísta, que faz parte da colunas das maiores religiões do mundo atual, foram erguidas por esse singular Faraó do mundo antigo. Quem diria...

Os Arquivos Secretos Russos sobre Hitler
Recentemente os russos admitiram que possuem dois fragmentos que são os últimos resquícios dos restos mortais do ditador nazista Adolf Hitler. Se trata de parte da mandíbula, com dentes preservados e um pequeno fragmento de seu crânio. Os russos investigaram a fundo os últimos momentos do ditador nazista e traçaram um quadro de seus últimos momentos de vida. Como se sabe Hitler se matou quando os Soviéticos invadiram Berlim.

Nos arquivos os agentes russos da época não chegaram a uma conclusão definitiva. Eles não souberam precisar como o líder nazista alemão havia morrido. Havia duas hipóteses. A primeira é que ele teria tomado uma cápsula de cianureto. A segunda dizia que ele teria dado um tiro na cabeça. Depois de morto seu corpo foi levado para fora do bunker onde ele se escondia. Alguns oficiais do exército jogaram gasolina em cima e tocaram fogo. Nesse mesmo lugar uma bomba cairia depois. Quando os russos chegaram havia pouco de seu corpo a recuperar.

Hitler não queria que seu corpo fosse exibido como um trófeu pelos russos. Por isso decidiu que não deveria sobrar nada. Porém sobrou pequenos vestígios de seus restos mortais. Esses foram levados para Moscou e ficaram anos classificados como "arquivo secreto", sem acesso por outras pessoas que não fossem autorizadas pelas autoridades soviéticas. Só em 2008 esses restos mortais foram disponibilizados a cientistas e pesquisadores internacionais. Os testes foram conclusivos. Eles pertenciam mesmo ao ditador nazista. Foi tudo o que sobrou de seu III Reich, que deveria, na visão dos seus seguidores, durar mil anos. 

Lilith, primeira esposa de Adão ou demônio?
Alguns textos antigos trazem a lenda de Lilith. E quem seria essa mulher? Para uma linha do judaísmo mais antigo e envolvido no misticismo, Lilith era na verdade a primeira mulher de Adão, anterior até mesmo ao surgimento de Eva. Lilith nasceu tal como Adão, foi criada da mesma forma que Adão. Já Eva teria nascido de sua costela. Por essa razão Adão teria usado a expressão "Essa sim é carne da minha carne e ossos dos meus ossos". Se Eva era carne de sua carne, então Lilith teria surgida de outra maneira. Criada tal como Adão no começo da humanidade, em seus primórdios.

Em textos judaicos surgidos por volta do século VII, Lilith tem sua história completa contada. Ela teria sido sim a mulher de Adão, a sua primeira mulher. Porém ela tinha uma personalidade rebelde. Quando ia fazer sexo com Adão só aceitava ficar por cima. Era desobediente e dona de si. Por essa razão Adão a baniu do paraíso. Lilith então teria se transformado em um demônio. Perceba que a história dessa personagem corrobora e muito com a visão de que Lilith teria sido a primeira feminista da história.

Já em sua segunda encarnação como demônio, Lilith passaria a matar crianças no berço, como uma forma de vingança, de ira com o que teria lhe acontecido no passado. Artefatos antigos encontrados em Israel, datando de séculos no passado confirma que o povo judeu antigo tinha essa crença. Eram objetos de natureza religiosa e mística, contra a presença de Lilith nos quartos das crianças de berço.

Hoje em dia historiadores da religião antiga acreditam que Lilith foi uma deusa antiga, provavelmente adorada por povos que viviam na Mesopotâmia. Sua tradição teria chegado ao povo hebreu e aí recebeu uma nova conotação, inclusive com novas origens, etc. E de fato antigos deuses geralmente acabavam virando demônios dentro da literatura produzida na religião judaica. Era uma forma de impedir que fossem adorados como deuses dentro seio do povo judeu. 

A batalha de Stalingrado
Recentemente assisti, pelo Youtube mesmo, um documentário sobre a sangrenta Batalha de Stalingrado. É um documentário em 3 partes, cuja oportunidade só tive de ver 2, logo a primeira e a última parte. Na parte 1 acompanhamos as ordens de Hitler para que o sexto exército alemão tomasse de todas as formas a cidade de Stalingrado. Qual seria a razão? Pelo simples motivo da cidade trazer o nome de Stálin. Sim, um mero capricho de Hitler. Ele acreditava que ao tomar a cidade a moral de suas tropas iriam elevar-se. Bobagem.

Os alemães chegaram com 300 mil militares nas portas da cidade soviética. Inicialmente acharam que seria uma vitória fácil. Em 1 semana tomariam a cidade. Erraram feio. Não apenas os soldados do exército vermelho que estavam na cidade lutaram bravamente, como também os civis. Foi uma batalha de muitas baixas de ambas as partes. Uma daquelas batalhas de se lutar porta a porta, casa a casa, ruela por ruela. Os russos colocaram franco atiradores nos altos dos prédios. Esses miravam nas cabeças dos militares do III Reich. Foi um massacre.

Os soldados nazistas tiveram uma péssima surpresa. Primeiro pela morte de 200 mil homens na luta de guerrilha violenta de Stalingrado. Depois quando os 100 mil sobreviventes do exército de Hitler descobriram que havia 1 milhão de soldados russos os cercando. Eles tinham chegado da Sibéria com gosto de gás. O resultado? Os alemães ficaram presos em um lugar que chamaram de "o caldeirão". Os russos vieram por trás e os dizimaram, sem dó e nem piedade. No final da batalha de Stalingrado, dos 300 mil homens da Alemanha, apenas seis mil retornaram para casa. 294 mil soldados e oficiais do III Reich foram mortos e jamais voltaram dessa sangrenta e inesquecível batalha que foi considerada a primeira grande derrota de Hitler na II Grande Guerra Mundial.

Pablo Aluísio.

sábado, 1 de outubro de 2011

História & Literatura - Edição I

A cabeça de Maria Antonieta
A revolução francesa foi extremamente violenta, com nuances de incivilidade e barbarismo. A Guilhotina virou símbolo daqueles tempos, uma máquina feita para decapitar os assim denominados "inimigos da revolução". Uma das pessoas que foram mortas pela guilhotina foi a Rainha Maria Antonieta. Ele era a filha austríaca da grande imperatriz Maria Teresa da Áustria. Numa série de acordos políticos acabou se casando com o futuro Rei Luís XVI. E morreu alguns dias após a morte do marido.

Maria Antonieta foi guilhotinada pela revolução francesa. Sua cabeça foi então enviada para Madame Anna Maria "Marie" Tussaud, que fez uma réplica perfeita dela, para exposição em seu museu de bonecos de cera. O curioso é que Madame tinha conhecido pessoalmente Maria Antonieta, gostava dela, achava uma pessoa agradável no convívio social. Ter que segurar a cabeça da monarca deposta em suas mãos e ainda ter que fazer uma réplica de cera foi um verdadeiro terror para ela. Porém Madame tinha medo de também ser morta pelos revolucionários, a tal ponto que ela fez várias réplicas de cabeças decapitadas, de vários nobre e até de revolucionários como Robespierre. Eram tempos de terror absoluto.

Os restos mortais da Rainha Maria Antonieta foram jogados em uma vala comum. O coverio jogou uma pá de cal sobre eles, para acelerar a decomposição e evitar contaminações. Foi um triste fim para uma das monarcas mais marcantes da história da Europa absolutista. Já a réplica da cabeça da monarca ficou com Madame Tussaud até o fim de seus dias. Infelizmente essa peça de arte histórica se perdeu em um incêndio de seu museu durante o começo do século XX. Só sobraram fotos da peça original. Uma pena, ainda hoje teria sido um artefato muito importante para historiadores em geral. 

Napoleão – Uma Biografia Literária
Que Alexandre Dumas foi um grande escritor, disso ninguém tem dúvidas. Porém esse livro, até bem pouco conhecido da bibliografia do autor, revela uma outra face, bem mais humana, mostrando um lado dele que não era necessário chegar ao conhecimento de seus leitores. Estou me referindo ao lado bajulador. Isso mesmo que você leu. Durante todos os capítulos, Dumas não esconde o que na realidade está fazendo. Ele escreveu um livro que é pura bajulação do imperador Napoleão Bonaparte.

E da essência do ser humano muitas vezes bajular algum homem poderoso para receber favores em troca. Ao que me pareceu, lendo esse livro, foi que Dumas exagerou na dose. Ficou parecendo um reles puxa-saco, algo que fica feio na biografia de alguém tão celebrado.

As páginas se enchem de elogios descabidos ao imperador, ora o retratando como um novo César, ora o pintando com cores exageradas, tentando convencer ao leitor que ninguém mais tinha tantas qualidades como Napoleão Bonaparte. Em alguns trechos chega a ser vergonhosa a bajulação do autor para com o imperador francês. Assim o livro como um todo perde em termos de qualidade literária pura. Do jeito que foi publicado mais se pareceu mesmo com um mera propaganda política. 

A filha do imperador
Ela foi filha do homem mais poderoso de seu tempo, o Imperador Augusto. Era uma jovem rica e mimada, tinha tudo o que queria em seus mãos, mas mesmo assim não conseguiu a felicidade. Estamos falando de Júlia que passaria a ser conhecida por historiadores como Júlia, a velha. Ela era a filha única do imperador Otávio, que passou para a história como o primeiro imperador romano. Augusto, título que lhe foi dado posteriormente, significando "divino" foi considerado um ótimo administrador do Império, aquele que organizou todas as fronteiras, o exército e a grande rede de funcionários imperiais.

Quando sua filha Júlia atingiu a idade de se casar Augusto começou a interferir pesadamente na vida de sua filha. Ele a fez se casar com Agripa, braço-direito e grande amigo de Augusto. O problema é que Agripa era um homem muito mais velho, um militar da velha escola. Com mais de 50 anos de idade não tinha nada a ver com a filha de seu amigo, que era uma jovem de apenas 16 anos de idade. Porém na cabeça de Augusto não poderia haver escolha melhor. Esses meninos, seus futuros netos, iriam se tornar os futuros imperadores do Império Romano. Era necessário que tivessem a mesma lealdade e prudência de seu amigo Agripa.

E assim foi feito. Júlia e Agripa tiveram dois filhos, só que por infortúnio do destino ambos morreram bem jovens. Augusto também viu sua filha se rebelar contra ele. Júlia acreditava que ter tido filhos com um homem de quem não gostava já bastava. Ela ainda se casaria com Tibério, futuro imperador, mas esse foi também outro casamento fracassado. Dizia-se que Tibério era homossexual e pedófilo. Júlia não tinha espaço em suas preferências sexuais fora do padrão. Em determinado momento de sua vida ela não queria mais nada. Queria apenas aproveitar o resto de sua vida. Acabou fazendo uma orgia em um dos lugares mais sagrados de Roma. Augusto que também era a maior autoridade religiosa do império ficou horrorizado com a heresia e o escândalo. Baniu sua filha de Roma, a expulsou do continente. Júlia acabou seus dias isolada e esquecida numa ilha distante. Morreu triste e infeliz, mesmo sendo a filha única de um dos homens mais poderosos da história.

O Faraó do Exodus
Quem era o Faraó durante o período histórico retratado na Bíblia, onde os judeus deixaram os anos de escravidão no Egito para trás? Eis uma pergunta que nem os historiadores e nem muito menos os arqueólogos sabem responder. Faltam evidências para determinar com precisão. Muitos acreditam que Ramsés II, o grande, provavelmente fosse o faraó do Egito antigo durante o exodus, mas isso não é confirmado nem pelo velho testamento e nem por inscrições do povo do Egito antigo.

Aliás é bom salientar que os hieróglifos nada dizem sobre o Exodus. Silencia completo. Moisés não é citado em lugar nenhum, embora na Bíblia ele fosse associado, no começo de sua juventude, a uma família nobre do Egito. Não há ou pelo menos até hoje, nunca foi encontrado nada sobre Moisés nos textos do Egito antigo. Isso, claro, levanta dúvidas. Seria Moisés apenas um personagem de literatura ou teria sido um homem que realmente existiu? Mais uma pergunta sem resposta precisa.

Se Ramsés II era o faraó do Egito antigo durante a era de Moisés ele teria presenciado a abertura do Mar Vermelho por Deus, ele teria ido atrás do povo judeu pelo deserto, tal como foi registrado no Velho Testamento. Porém nos milhares de hieróglifos escritos sobre Ramsés II em templos e palácios do Egito, nada foi encontrado sobre esses eventos. E se existissem tais inscrições elas seriam sem dúvida um dos maiores achados arqueológicos de toda a história. Algo comparado ao descobrimento da tumba do Rei Tutsi. Porém, infelizmente, nada nesse sentido foi encontrado até os dias atuais. Quem sabe esteja enterrado nas areias do deserto, esperando pelo dia de seu descobrimento. 

Morte na Cruz: Execução Romana
Os romanos provavelmente aprenderam a executar seus inimigos na cruz ao tomar conhecimento desse tipo de tortura e morte no norte da África, durante expedições de conquista. Depois disso os romanos copiaram esse tipo de execução para suas legiões. A morte na cruz era proibida para cidadãos de Roma, segundo as mais antigas leis da República e Império. Esse tipo de morte na cruz era reservada aos não romanos, aos escravos e aos condenados por rebelião contra o Estado romano e sua dominação.

Historicamente o mais conhecido crucificado pelo império romano foi Jesus de Nazaré. Judeu, de origem humilde, ele foi condenado à morte depois de problemas envolvendo seus seguidores e ele mesmo no Templo de Jerusalém. Jesus foi preso, torturado e depois crucificado fora dos portões da cidade. Segundo o texto do novo testamento ele foi sepultado e depois ressuscitou do mundo dos mortos, mostrando seu lado divino.

Para os historiadores essa é uma questão de fé. De modo em geral os que eram executados na cruz por Roma ali ficavam. Não eram sepultados. Possa ser que Jesus, por ser um líder religioso, tenha sido uma exceção. Porém para os demais não havia salvação. Eles morriam na cruz e ali ficavam por dias e dias. Aves de rapina comiam parte de seus corpos. Depois que os corpos entravam em decomposição e caíam da cruz, cães e outros animais famintos comiam os restos dos executados.

Era uma cena de puro barbarismo, violência e tortura extrema, mesmo para os padrões violentos do mundo antigo. Também era uma morte lenta e profundamente dolorosa. Segundo especialistas Jesus pode ter morrido de uma parada cardíaca ou então de uma hemorragia interna generalizada. A posição na cruz impedia a respiração, o que poderia ter causada sua morte também por essa razão. De uma forma ou outra a crucificação mostrava o lado mais opressar do mundo romano. Era uma forma vil de morrer e também uma maneira de passar uma mensagem para todos os que desafiavam o império romano.

Pablo Aluísio.

Beethoven - Bernard Fauconnier

Algumas vezes as pessoas se esquecem que até mesmo os maiores gênios da humanidade também foram seres humanos. Pessoas que tinham problemas com dívidas, brigas familiares, falta de emprego, incompreensão de seus financiadores, patrocinadores, etc. Por essa razão gostei bastante dessa biografia de Beethoven. Aqui surge seu lado mais humano, mais controverso. O músico que vemos nessas páginas não é o compositor magistral, genial, inalcançável. O que vemos aqui é acima de tudo uma história de um ser humano, com falhas, problemas, vitórias e derrotas, como todos nós.

E como Beethoven tinha problemas... Ele tinha problemas familiares, com um sobrinho que sempre estava lhe trazendo dores de cabeça. Tinha problemas financeiros pois nem sempre tinha dinheiro suficiente para saldar suas dívidas, afinal ele era um trabalhador como qualquer outro de seu tempo. Tinha problemas emocionais, pois não conseguia ter um relacionamento longo, firme e duradouro com nenhuma mulher e, como se tudo isso não fosse o bastante, ainda tinha problemas de saúde. O pior deles era a perda de sua audição. Criador de algumas das músicas mais belas de todos os tempos, em determinado momento de sua vida ele não conseguia mais ouvi-las.

Outro aspecto a se considerar é que o escritor Bernard Fauconnier escreveu uma biografia bem objetiva. Veja, não é um livro para se emocionar com o estilo da escrita. Não, longe disso. É um livro para reter informações sobre o compositor, tudo absorvido de forma rápida, sem maiores delongas. O conhecimento é passado ao leitor, mas sem rodeios, sem palavras desnecessárias. Assim se você estiver em busca de alguma biografia de Ludwig van Beethoven que vá direto ao ponto, não teria nenhuma outra recomendação melhor a lhe passar.

Por essa razão também sou defensor que biografias como essa sejam lançadas em formato de livro de bolso. Qualquer um, em seus pequenos momentos de folga, poderá folhear o livro, conhecendo sua história, absorvendo conhecimento histórico. Simples e prático. Por fim, uma pequena dica de leitura. Leia ao livro ouvindo a música de Beethoven em fones de ouvido. A imersão será muito boa e você irá receber cultura em dose dupla, tanto das páginas de literatura, como também da música clássica que estará absorvendo naquele momento. Algo muito gratificante, para engrandecer a alma.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Jim Morrison - Verdades e Mentiras

Como todo rockstar que se preze Jim Morrison, o vocalista do grupo The Doors, teve uma vida cheia de histórias mal contadas, fatos misturados com ficção e meias verdades. Visando separar o que realmente é verdade e o que é pura invenção resolvi escrever esse texto desmitificando algumas histórias que envolvem o nome de Jim Morrison.

Jim Morrison realmente mostrou seu pênis ao público?
Um dos fatos mais conhecidos da carreira de Morrison surgiu quando ele se apresentou escandalosamente em Miami na Flórida. Completamente narcotizado e alcoolizado o cantor subiu ao palco sem a menor condição de se apresentar ao vivo e no meio de várias frases desconexas e ofensivas dirigidos à plateia ele supostamente teria mostrado seu órgão sexual ao público. O fato escandalizou muito a sociedade americana e Morrison foi processado até seus últimos dias de vida por isso. Deixando todo o moralismo de lado ficou a pergunta: Houve mesmo exposição indevida por parte de Morrison? A resposta é não. Centenas de fotos foram tiradas naquele momento e nenhuma delas mostra o órgão sexual do cantor exposto ao público. O que existem são realmente poses provocativas por parte de Morrison, inclusive segurando seu pênis no palco mas esse estava devidamente dentro de suas calças. O fato de não se provar que Morrison mostrou sua genitália ou não acabou sendo deixado de lado já que se vivia naquela época uma verdadeira caça às bruxas contra grupos como The Doors. Morrison assim virou alvo fácil dos moralistas de plantão e bode expiatório para a camada mais conservadora da sociedade americana.

O Baterista dos Doors realmente odiava Morrison?
Certamente havia uma certa tensão entre Morrison e Densmore. A origem dos atritos não se resumiam apenas na irresponsabilidade por parte de Jim em relação aos compromissos do grupo mas também do ponto de vista musical. A tensão chegou ao auge durante as gravações do disco "LA Woman" quando o baterista qualificou as músicas do álbum como entediantes e sem pegada. Na ocasião ele afirmou: "Essas músicas de blues podem até ser interessantes para um vocalista como Jim, mas para um baterista como eu são entediantes demais". Depois que Jim se mandou para Paris, Densmore fo um dos principais incentivadores da gravação de um álbum completamente instrumental. Na ocasião chegou a dizer que os Doors não precisavam mais de Jim Morrison. Desnecessário lembrar que o tal disco instrumental foi um fracasso de crítica e de público.

Como era o relacionamento de Jim com sua família?
Jim sempre foi rebelde além do que seria tolerado dentro da família de um oficial da marinha dos EUA. Seu pai estava sempre em pé de guerra com Jim desde a adolescência. Não era para menos, uma vez que Morrison estava sempre envolvido em problemas (chegou inclusive a ser preso ainda na menoridade por um delito menor). Embora fosse considerado inteligente e bom aluno, Jim foi criando ao longo dos anos uma grande aversão à autoridade, principalmente em relação a seu pai. Quando foi para a universidade Morrison finalmente encontrou a liberdade que tanto buscava. Se matriculou em várias disciplinas no campus mas não mostrou qualquer interesse em levar adiante seu curso. Ao invés disso preferia ficar vagando pelas praias de Venice Beach, interagindo com a estranha fauna local. Depois que o grupo estourou nas paradas Jim chegou ao ponto de informar para a imprensa que seus pais estavam mortos. Mais tarde eles acabaram indo a um show do grupo mas Jim se recusou a encontrá-los nos bastidores. Depois disso nunca mais entrou em contato ou falou com eles novamente.

Morrison realmente virou um mendigo na Califórnia antes do sucesso?
Não, muito embora sua situação não fosse muito diferente da de um "sem teto" na época. Morrison foi morar em um depósito abandonado perto de Venice Beach mas só o usava esporadicamente. O resto do tempo passava como um errante nas praias da região. Sempre à vontade, sem camisa, Morrison vagava pelas redondezas atrás de drogas e qualquer tipo de diversão, seja na praia, seja fora dela. Foi sua fase de maior liberdade pessoal. Embora matriculado na universidade não frequentava as aulas e não demonstrava qualquer interesse em se formar em qualquer curso. Foi assim, andando a esmo, que ele acabou conhecendo Ray Manzarek, que iria formar ao seu lado o grupo The Doors. O resto é história.

Jim forjou sua própria morte?
Muito provavelmente não. O que existem são teorias da conspiração - cada uma mais imaginativa do que a outra. Para quem acredita a mais conhecida é a de que ele forjou sua própria morte em Paris e fugiu para a África por dois motivos: queria seguir os passos de seu ídolo, o poeta maldito Rimbaud e procurava também fugir da lei americana, pois estava condenado por atentado ao pudor e exibição indecorosa nas cortes daquele país após o infame show da Flórida. Muito provavelmente por causa dessas condenações não escaparia da prisão, mesmo que sua pena não fosse muito longa. Esse tipo de teoria não merece maior atenção. É por si só muito imaginativa e criativa mas longe da realidade dos fatos. O primeiro problema seria explicar como as autoridades francesas entrariam dentro da conspiração pois seu corpo seguiu todos os procedimentos burocráticos determinados por lei após sua morte (expedição de atestado de óbito, exame da causa mortis, etc). Assim seu falecimento foi atestado oficialmente, sem possibilidade de qualquer alteração. Além disso praticamente todas as mortes de pessoas famosas nos EUA acabam gerando algum tipo de teoria da conspiração como ocorreu com Elvis, JFK, Marilyn Monroe e James Dean. Com Morrison também não seria diferente o que tira qualquer credibilidade de histórias como essa.

Por que Morrison foi enterrado em Paris?
Ao falecer Jim estava em Paris com sua namorada Pam. Queria escrever e absorver o clima artístico local. Alguns autores afirmam que Jim estava em Paris com receio de ser decretada sua prisão definitiva nos EUA. Como a França não teria tratado de extradição com os EUA ele procurava uma forma legal de não ir parar atrás das grades. O fato é controverso e ainda paira muitas dúvidas sobre as reais intenções de Jim em relação a sua estadia em Paris. Muito provavelmente apenas sua namorada Pamela sabia o que ele realmente desejava com essa viagem.

O que aconteceu com Pamela Courson após a morte de Jim Morrison?
Pamela morreu de overdose de drogas em 25 de abril de 1974. Sobre as reais circunstâncias de sua morte paira uma série de dúvidas no ar. Sua família fez o possível para manter a imprensa longe dos acontecimentos mas pelo que se sabe (inclusive por relatórios oficiais da polícia) Pam teria morrido realmente de uma overdose de heroína no sofá de seu apartamento em Los Angeles. Na ocasião, sem muitos recursos financeiros, ela resolveu dividir os custos do aluguel com dois colegas que havia conhecido algum tempo antes. Ela foi sepultada em Santa Ana, Estado da Califórnia.

Como Jim Morrison é visto hoje pela crítica literária em relação aos seus poemas?
Jim não é unanimidade entre os críticos, principalmente aqueles especializados em poesia moderna e contemporânea. Muitos afirmam que Jim seria apenas um herdeiro tardio da geração beatnik e que teria herdado muito dos traços desses escritores e poetas. Dessa forma não haveria muita originalidade em seu trabalho literário.

Jim desertou da Guerra do Vietnã?
Filho de pai militar da marinha, Jim se matriculou em um número excessivo de cursos no semestre em que deveria se apresentar no serviço militar. Agindo assim conseguiu escapar de uma convocação para servir o exército, o que fatalmente lhe colocaria no front da guerra do Vietnã. Anos depois chegou a confidenciar a amigos mais próximos que teria até mesmo insinuado ao recrutador que era gay para fugir do serviço militar.

Morrison era satanista? Ele se casou em um culto de magia negra?
Jim Morrison chegou a se envolver com mulheres que gostavam desse tipo de seita mas para falar a verdade nunca levou nada muito à sério. Como certa vez disse Ray Manzarek, Jim era maconheiro e vivia rindo e se divertindo com as situações, assim muito provavelmente até mesmo seu suposto casamento em um culto de magia negra com uma de suas admiradoras não passou de uma grande piada pelo cantor.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

The Doors - When You're Strange: Um Filme sobre The Doors

Tive o prazer de assistir esse ótimo documentário ontem. Claro que não seria em apenas um filme que iriam esgotar o assunto, principalmente em se tratando de Jim Morrison, um artista que pode ser visto sob diversos pontos de vista (poeta, músico, popstar, louco, drogado, dândi etc). O que When You´re Strange consegue é dar uma ótima síntese sobre o cantor, algumas vezes de forma muito resumida e rápida, tenho que reconhecer, mas que serve como um válido ponto de introdução ao rockstar enfocado. Sempre é muito bem-vindo rever imagens históricas que capturaram Morrison nos palcos, nos bastidores e gravando em estúdio. Cantor e poeta, Morrison levava bem à sério a filosofia de viver com intensidade da geração sessentista. Aqui ele surge de forma visceral, alucinado, sem freios, tentando romper as portas da percepção.

Não gostei muito das cenas intercaladas com atores - como as sequências do suposto Jim dirigindo no deserto. Preferia que todas as imagens fossem genuínas, sem artifícios desse tipo até porque a simples presença de cenas reais com Jim já seriam mais do que suficientes. E são justamente essas imagens reais que fazem o documentário valer muito a pena. Algumas delas são bastante raras, como aquela em que Jim se junta aos fãs para comprar material promocional do The Who! Incrível esse tipo de coisa ter sobrevivido após tantos anos. Por fim, como bônus, temos a narração em off de Johnny Depp. Achei sua "atuação" um pouco sonolenta, mas nem isso prejudica o resultado final. Indico esse filme a todos os fãs dos Doors (e aos não fãs também, caso eles queiram saber um pouco mais sobre o rock dos anos 60).

When You're Strange: Um Filme Sobre The Doors (When You're Strange, Estados Unidos, 2009) / Direção de Tom DiCillo / Roteiro: Tom DiCillo / Elenco: Jim Morrison, John Desnmore, Robbie Krieger e Ray Manzarek./ Sinopse: Documentário sobre o grupo musical de rock The Doors. Liderados por Jim Morrison o grupo se tornou um dos mais importantes da segunda metade dos anos 1960 nos EUA.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Pink Floyd - Delicate Sound Of Thunder

Com o sucesso do disco A Momentary Lapse Of Reason, David Gilmour resolveu colocar o pé na estrada ao lado de seus companheiros de banda. Para fazer jus ao nome mitológico do Pink Floyd, Gilmour não mediu esforços e resolveu trazer para os shows ao vivo do grupo o que de melhor havia no mercado em termos de aparatos técnicos e sonoros. A volta do conjunto aos palcos deveria acontecer em grande estilo e ele estava completamente concentrado em provar que o Floyd funcionaria bem, mesmo sem a presença de Waters. A ideia ganhou grandes dimensões conforme as apresentações iam acontecendo e Gilmour então resolveu transformar tudo em um grande projeto multimídia trazendo os novos lançamentos do Pink Floyd ao mercado em todas os segmentos culturais possíveis (na época Delicate foi lançado não apenas como álbum duplo, mas também em filme VHS para venda direta e K7). A idéia era não só ressuscitar a banda mas também conquistar uma nova legião de fãs entre os mais jovens, que apenas conheciam o Floyd de nome. Para isso os concertos ao vivo deveriam ser marcantes. E acredite, Gilmour conseguiu alcançar todos os objetivos que havia traçado.

Delicate Sound of Thunder foi gravado em Long Island, Nova Iorque, numa série de cinco concertos que o grupo fez no Nassau Coliseum. No repertório David Gilmour resolveu não arriscar muito e investiu nos maiores sucessos do Pink Floyd da década anterior. Três das maiores obras do conjunto serviram de referência no projeto ao vivo: Dark Side Of The Moon, Wish You Were Here e The Wall. As novas canções do último disco também foram lembradas, para dar um toque de contemporaneidade aos shows em si. O álbum abre com uma das melhores versões ao vivo de Shine On You Crazy Diamond, canção do disco Wish You Were Here. Como todos sabem essa música havia sido composta em homenagem ao ex-líder Syd Barrett. Depois desse pequeno momento revival somos apresentados ao novo material do disco A Momentary Lapse of Reason. Interessante notar que Gilmour não se fez de rogado e levou as novas faixas em peso para os concertos. Isso prova que ele não teve nenhum receio ou medo com as críticas e comparações que poderiam ser feitas após a saída de Waters. Seguro de si, Gilmour apresentou com orgulho praticamente todo o repertório novo do recém lançado trabalho do Pink Floyd. O destaque fica mais uma vez com On The Turning Away, extremamente bem executada por Gilmour e o grupo de apoio (que contava não apenas com Wright e Mason, mas com uma verdadeira equipe de músicos talentosos que em muito acrescentaram na sonoridade dos novos arranjos).

O ciclo se fecha com as canções da época de ouro do Pink Floyd: Money e Time fazem uma dobradinha deliciosa, lembrando seu maior sucesso, Dark Side of The Moon (que depois seria levado na íntegra ao vivo no disco PULSE, outro marco da era David Gilmour). One of These Days por sua vez ganha um nova roupagem sonora, mudança que pode ser sentida também no hit Another Brick in the Wall (Part 2). De todas as releituras porém nenhuma se compara a Comfortably Numb, faixa impecável onde David Gilmour demonstra sem rodeios porque é considerado um dos maiores guitarristas da história do Rock. Um fantástico momento de êxtase sonoro. Delicate Sound of Thunder veio coroar o incrível trabalho de renascimento do Pink Floyd promovido por David Gilmour. Uma iniciativa que merece todos os nossos aplausos. Através de seu esforço pessoal Gilmour mostrou que o Pink Floyd não havia morrido e que ainda era capaz de emitir um delicado som de trovão por onde passasse.

Pink Floyd - A Momentary Lapse of Reason - Parte 1
Dos escombros de uma briga judicial que parecia nunca ter fim o Pink Floyd finalmente ressuscitou na segunda metade dos anos 80. Agora liderados única e exclusivamente por David Gilmour, o novo grupo tinha a proposta de levantar o nome da banda, tão desgastada por causa das brigas entre Gilmour e Roger Waters. Esse último tentou impedir nos tribunais ingleses o uso do nome "Pink Floyd" pelos demais membros do conjunto. Assim David Gilmour precisou lutar muito para que ele e seus companheiros Nick Mason e Richard Wright tivessem o direito de usar o nome em um novo álbum. Esse disco acabou sendo chamado de "A Momentary Lapse of Reason". Apesar de todas as críticas, inclusive de Waters que jamais reconheceu esse LP como sendo do Pink Floyd realmente, devo dizer que gostei bastante da nova proposta. David Gilmour, um dos maiores instrumentistas da história do rock, realmente realizou um trabalho bem sofisticado, muito bom de se ouvir. Não era em absoluto revolucionário, ou qualquer outra coisa do tipo, porém era digno de se usar o mitológico nome da maior banda de rock progressivo da história. O resto são lágrimas ao vento de um ressentido Roger Waters, que deveria ter ficado mesmo calado.

Pink Floyd - A Momentary Lapse of Reason - Parte 2
Poucas coisas podem ser mais chatas do que aquele grupo de fãs do Pink Floyd que vivem de ridicularizar a fase anos 80 de David Gilmour. Eu acho a opinião dessas pessoas completamente bizarra, uma vez que alguns dos meus discos preferidos da banda são dessa época. Aqueles que dizem não haver uma sonoridade genuína do Pink Floyd nesses discos precisa reavaliar urgentemente seus conceitos. "Signs of Life" que abre o álbum "A Momentary Lapse of Reason" é um exemplo disso. É uma música puramente instrumental, que começa com sons de um remo de barco. O que estaria por trás disso. Simples de explicar. Esse disco foi gravado em um estúdio flutuante mantido por Gilmour chamado Astoria. Foi uma forma que o guitarrista e novo líder do Pink Floyd encontrou de trabalhar em paz, longe das pressões do público e da crítica. A melodia foi escrita por Gilmour e o produtor Ezrin e as vozes ao fundo são as do baterista Nick Mason. A voz dele foi duplicada, como se ele estivesse conversando com ele mesmo. Essa faixa me lembra muito a sonoridade de "Atom Heart Mother". É uma lembrança óbvia dos tempos em que o Pink Floyd criava trilhas sonoras incidentais para filmes. Uma ligação com o passado mais do que pertinente.

"The Dogs of War" continuava dividindo opiniões. Eu pessoalmente considero uma faixa forte, lembrando os bons tempos do auge da criatividade do rock progressivo inglês. Muitos a consideram um momento de fragilidade de David Gilmour nesse álbum. Que tolice! A música se revelou ótima para ser tocada ao vivo por causa de sua introdução de impacto. Composta ao lado de Anthony Moore, a letra não era uma referência aos advogados que trabalharam nos inúmeros processos envolvendo Gilmour e Roger Waters como muitos disseram na época de lançamento. Na verdade os tais cães de guerra são os políticos ingleses envolvidos em casos de corrupção. É assim uma composição mais política por parte de Gilmour. Imaginem se ele conhecesse o nível de corrupção da política brasileira! Aí sim ele veria o que é de verdade um mundo cão! Para os que reclamavam dessa nova sonoridade da banda, provavelmente "One Slip" era um prato cheio! Lançada no último single extraído do disco "A Momentary Lapse of Reason" a canção nunca foi uma unanimidade. Já ouvi todo tipo de crítica contra essa música, desde que ela seria um popzinho safado dos anos 80, até que seria "latina demais", principalmente em sua introdução! Provavelmente resolveram pegar no pé do compositor Phil Manzanera, pensando se tratar de algum músico latino. Não é! Phil é inglês e escreveu a música ao lado de Gilmour durante a pré-produção do disco. Enfim, de bobagens e tolices esse mundo de fãs mais radicais do Pink Floyd está realmente bem cheio!

Pink Floyd - Delicate Sound of Thunder
Quando os primeiros acordes de "Shine on You Crazy Diamond" ecoam nesse álbum você fica até mesmo em dúvida se está mesmo ouvindo uma versão ao vivo do clássico absoluto do Pink Floyd lançado originalmente no disco "Wish You Were Here" de 1975. É tão perfeita que ficamos em dúvida se ela foi executada ao vivo. David Gilmour que nunca foi bobo nem nada, só levou feras ao palco dessa turnê. Juntando isso ao fato dele próprio ser um dos maiores guitarristas da história da música, não poderia dar em outra coisa. O registro é perfeito e arrebatador. Essa canção é uma das mais importantes da discografia do grupo. Durante anos a versão oficial foi que ela foi composta após uma visita inesperada de "Syd" Barrett ao estúdio onde os demais membros do grupo estavam gravando um novo disco. O estado de Barrett era tão ruim nesse momento, com cabelos escorrendo uma espécie de óleo, que Gilmour e Waters teriam ficado chocados com o que viram. O uso de ácido lisérgico (LSD) e outras drogas destruíram Syd do ponto de vista psicológico. Logo ele, o fundador do grupo, aquele que havia idealizado todas as bases e fundamentos do Pink Floyd, ia sendo engolido pela loucura. Uma bad trip sem volta, sem retorno. O resto do grupo sabia da sua dívida impagável com Syd e por essa razão resolveu lhe prestar essa homenagem, o que resultou em uma das músicas mais imortais do Pink Floyd. Depois desse apogeu sonoro, as coisas se acalmam um pouco e o Pink Floyd aproveita para mostrar uma música nova, "Learning to Fly" do disco "A Momentary Lapse of Reason". As viúvas de Roger Waters nunca perdoaram o fato de David Gilmour continuar com a banda após a saída de Waters. Por isso gostam de malhar todas as faixas de álbum, afirmando que o álbum nunca foi um legítimo LP do Pink Floyd, mas sim um disco solo de David Glimour que apenas usou o nome comercial do Pink Floyd. Acho essa visão tão provinciana e boboca que me recuso até mesmo a perder tempo argumentando. Esse disco é um legítimo trabalho do Pink Floyd. Estavam lá além de David Gilmour, o baterista Nick Mason e o tecladista Richard Wright. Do quinteto só faltava Syd Barret que havia enlouquecido e que não estava lá por motivos óbvios e Roger Waters, por ser um egocêntrico incurável. Por isso os fãs dessa linha mais radical deveriam baixar a bola antes de criticar um disco tão bom!

"The Dogs of War" foi lançada no disco "A Momentary Lapse of Reason". Como sabemos esse álbum foi severamente criticado pelos fãs de Roger Waters. Para eles esse não é um verdadeiro trabalho do Pink Floyd, mas sim uma picaretagem de David Gilmour que apenas usou o nome do grupo em um trabalho solo. Verdade? Não, pura bobagem. Além de ser realmente um trabalho do Pink Floyd (sem Waters, obviamente), também tem grande qualidade sonora e artística. A música foi composta como uma crítica contra determinados políticos britânicos, absurdamente submissos à política externa dos Estados Unidos. Clamando para que os cães de guerra entrem em campo sempre que Tio Sam ordenasse. Onde estaria o velho orgulho do povo inglês? Os arranjos da música também se destacam porque Gilmour trouxe um clima épico, como se você, ouvinte, estivesse dentro de um calabouço, onde monstros caninos estivessem prontos para o ataque. Talvez por forçar um pouco essa barra, parecendo em certos aspectos com uma trilha sonora, a canção tenha sido acusada de chata e pretensiosa demais. Só esqueceram esses críticos que o Pink Floyd, por muitos anos, também se especializou em compor trilhas sonoras. Eles não estavam fugindo muito do que sempre fizeram ao longo de todos esses anos. Menos criticada e muito mais bonita do ponto de vista melódico é a bela baladinha "On the Turning Away". OK, poderia certamente fazer parte de algum trabalho solo de David Gilmour, mas isso é um pouco óbvio demais. Opiniões banais devem ser descartadas. Não foi de um disco solo de David, mas sim parte de um bom LP do Pink Floyd, lançado em plenos anos 80. Por falar em anos 80... Admito que aquela sonoridade comprometeu um pouco (só um pouquinho) o resultado final desse já citado disco, o "A Momentary Lapse of Reason". Há intervenções de sax ao estilo Kenny G, que fez muitos fãs do Pink Floyd arrancarem os fios de cabelo da cabeça. O que tenho a dizer a essas pessoas é que elas precisam, acima de tudo, relaxarem para curtir melhor essa bela composição de David Gilmour. Só assim vão entender e apreciar a beleza da música como um todo. Que tal ser menos chato e apreciar uma música apenas pelas suas qualidades musicais, sem preconceitos ou visões cimentadas?

A música "Yet Another Movie" é muitas vezes criticada por não ser "uma autêntica música" do Pink Floyd! O que exatamente seria isso? Ninguém sabe responder ao certo. O que me parece é que essa má vontade vem do fato da canção ter sido parte do álbum "A Momentary Lapse of Reason", que como sabemos não contou com Roger Waters. Sem Waters, sem Pink Floyd autêntico. Essa parece ser a conclusão dessas pessoas. Em minha opinião esse pensamento é pura bobagem e até mesmo um tanto infantil. Grupos de rock se modificam ao longo dos anos. É natural que sua sonoridade também sofra mudanças, algumas vezes para melhor e outras para pior. Processo natural e completamente esperado. Essa crítica de que não faz parte do verdadeiro Pink Floyd já não pode ser dirigida para o clássico "One of These Days". Originalmente essa música fez parte do repertório consagrado do disco "Meddle". Não foi uma música que o grupo levou com frequência para os palcos nos tempos de Roger Waters, mas tem sua importância inegável dentro da discografia da banda. No vinil original do "Delicate Sound of Thunder" foi usada para abrir o disco 2 do pacote, mostrando a importância dela como mola propulsora dos shows do Pink Floyd nessa era quase que exclusivamente David Gilmour. Em relação a "Time" do "The Dark side of the Moon" já tive fases de gostar muito da música e fases de saturação dela. Também é inegável que sua harmonia pode causar um certo cansaço no ouvinte, depois de ouvi-la por anos e anos. Cansaço vai bater, seguramente. Porém, é a tal coisa, nada que tenha feito parte do "Dark Side" pode ser relegado a um segundo plano. Disco mais vendido da banda, é até hoje reverenciado como uma obra prima absoluta. De certa maneira temos que respeitar esse status das músicas desse LP.

Delicate Sound Of Thunder (1988)
01. Shine On You Crazy Diamond
02. Learning to Fly
03. Yet Another Movie
04. Round and Around
05. Sorrow
06. The Dogs of War
07. On the Turning Away
08. One of These Days
09. Time
10. Money
11. Another Brick in the Wall (Part 2)
12. Wish You Were Here
13. Comfortably Numb
14. Run Like Hell

Pablo Aluísio.

Pink Floyd - A Momentary Lapse of Reason

Quando o Pink Floyd lançou o disco The Final Cut muitos previram o seu fim. A obra não agradou ao público, encalhou nas lojas e foi impiedosamente criticada pela imprensa especializada. A mais pura verdade era que The Final Cut não era bem um projeto do Pink Floyd, mas sim de Roger Waters, naquela altura com a egomania completamente descontrolada. Com o sucesso de The Wall, Waters acreditou piamente que poderia fazer o que bem entendesse e que o restante do grupo deveria apenas seguir suas ordens cegamente. Demitiu Richard Wright do Floyd e levou até as últimas consequências sua megalomania galopante. Quando The Final Cut naufragou ele literalmente declarou à imprensa que o Pink Floyd havia chegado ao fim e ponto final.

Embora Roger Waters acreditasse nisso a ideia de colocar um fim na história do Floyd simplesmente não foi aceita pelos demais membros que começaram então uma longa batalha judicial pelo nome do grupo, para assim continuar o legado da banda britânica sozinhos, sem a presença egocêntrica de Roger Waters. Finalmente em 1987 eles conseguiram vencer a luta jurídica e liderados por David Gilmour resolveram arrumar a casa e retomar as redeas do Pink Floyd, sendo o primeiro projeto da era pós Roger Waters justamente a gravação desse belissimo LP, A Momentary Lapse of Reason. Antes de mais nada é bom avisar que Momentary não é unanimidade entre os fãs, muito menos entre as chamadas "viúvas" de Roger Waters. Para esse grupo o disco é totalmente ruim, falso, desprovido de alma, uma invenção completamente bastarda de David Gilmour para ganhar dinheiro em cima do nome mitológico do Pink Floyd. Besteira. Contando com três dos membros originais do grupo (Gilmour, Mason e Wright, reabilitado de seu vício em drogas e participante do disco como músico contratado) o LP é um sopro mais do que bem-vindo para o ressurgimento de um dos melhores conjuntos de rock da história.

Momentary Lapse or Reason abre com uma interessante colagem sonora na faixa Signs of Life. A tentativa aqui é óbvia. Gilmour tenta através de elaborada peça instrumental reviver os antigos bons momentos do Pink Floyd nos anos 70 (não faltou nem a parte de vozes ao fundo, como bem podemos ouvir em discos como Dark Side of The Moon). Learning To Fly mostra o que Gilmour tinha de melhor a oferecer ao grupo naquele momento: a sua tão conhecida habilidade em lidar com belas harmonias, fato amplamente consolidado na linda On The Turning Away. Claro que o disco não é isento de críticas: The Dogs of War, por exemplo, provavelmente não entraria nos melhores discos do Floyd na década de 70. De qualquer forma o disco conseguiu seu objetivo: fez sucesso e evitou que o Pink Floyd morresse após o lançamento de The Final Cut. Pela história e pela importância certamente o Floyd não merecia ter um fim tão inglório. Assim Momentary Lapse of Reason marca o nascimento da chamada fase Gilmour, com shows fantásticos ao redor do mundo, belos arranjos, revitalização do nome do grupo, muito sucesso comercial e consagração do grande público. Para ser sincero a única diferença realmente foi a ausência de Roger Waters, se bem que após The Final Cut poucos lamentaram sua saída. É isso, o momentâneo lapso de razão prevaleceu e nos legou mais um grande momento Floydiano. Obrigado por isso, David.
 
Pink Floyd - A Momentary Lapse of Reason - Parte 1
Dos escombros de uma briga judicial que parecia nunca ter fim o Pink Floyd finalmente ressuscitou na segunda metade dos anos 80. Agora liderados única e exclusivamente por David Gilmour, o novo grupo tinha a proposta de levantar o nome da banda, tão desgastada por causa das brigas entre Gilmour e Roger Waters. Esse último tentou impedir nos tribunais ingleses o uso do nome "Pink Floyd" pelos demais membros do conjunto. Assim David Gilmour precisou lutar muito para que ele e seus companheiros Nick Mason e Richard Wright tivessem o direito de usar o nome em um novo álbum. Esse disco acabou sendo chamado de "A Momentary Lapse of Reason". Apesar de todas as críticas, inclusive de Waters que jamais reconheceu esse LP como sendo do Pink Floyd realmente, devo dizer que gostei bastante da nova proposta. David Gilmour, um dos maiores instrumentistas da história do rock, realmente realizou um trabalho bem sofisticado, muito bom de se ouvir. Não era em absoluto revolucionário, ou qualquer outra coisa do tipo, porém era digno de se usar o mitológico nome da maior banda de rock progressivo da história. O resto são lágrimas ao vento de um ressentido Roger Waters, que deveria ter ficado mesmo calado.

Pink Floyd - A Momentary Lapse of Reason - Parte 2
Poucas coisas podem ser mais chatas do que aquele grupo de fãs do Pink Floyd que vivem de ridicularizar a fase anos 80 de David Gilmour. Eu acho a opinião dessas pessoas completamente bizarra, uma vez que alguns dos meus discos preferidos da banda são dessa época. Aqueles que dizem não haver uma sonoridade genuína do Pink Floyd nesses discos precisa reavaliar urgentemente seus conceitos. "Signs of Life" que abre o álbum "A Momentary Lapse of Reason" é um exemplo disso. É uma música puramente instrumental, que começa com sons de um remo de barco. O que estaria por trás disso. Simples de explicar. Esse disco foi gravado em um estúdio flutuante mantido por Gilmour chamado Astoria. Foi uma forma que o guitarrista e novo líder do Pink Floyd encontrou de trabalhar em paz, longe das pressões do público e da crítica. A melodia foi escrita por Gilmour e o produtor Ezrin e as vozes ao fundo são as do baterista Nick Mason. A voz dele foi duplicada, como se ele estivesse conversando com ele mesmo. Essa faixa me lembra muito a sonoridade de "Atom Heart Mother". É uma lembrança óbvia dos tempos em que o Pink Floyd criava trilhas sonoras incidentais para filmes. Uma ligação com o passado mais do que pertinente.

"The Dogs of War" continuava dividindo opiniões. Eu pessoalmente considero uma faixa forte, lembrando os bons tempos do auge da criatividade do rock progressivo inglês. Muitos a consideram um momento de fragilidade de David Gilmour nesse álbum. Que tolice! A música se revelou ótima para ser tocada ao vivo por causa de sua introdução de impacto. Composta ao lado de Anthony Moore, a letra não era uma referência aos advogados que trabalharam nos inúmeros processos envolvendo Gilmour e Roger Waters como muitos disseram na época de lançamento. Na verdade os tais cães de guerra são os políticos ingleses envolvidos em casos de corrupção. É assim uma composição mais política por parte de Gilmour. Imaginem se ele conhecesse o nível de corrupção da política brasileira! Aí sim ele veria o que é de verdade um mundo cão! Para os que reclamavam dessa nova sonoridade da banda, provavelmente "One Slip" era um prato cheio! Lançada no último single extraído do disco "A Momentary Lapse of Reason" a canção nunca foi uma unanimidade. Já ouvi todo tipo de crítica contra essa música, desde que ela seria um popzinho safado dos anos 80, até que seria "latina demais", principalmente em sua introdução! Provavelmente resolveram pegar no pé do compositor Phil Manzanera, pensando se tratar de algum músico latino. Não é! Phil é inglês e escreveu a música ao lado de Gilmour durante a pré-produção do disco. Enfim, de bobagens e tolices esse mundo de fãs mais radicais do Pink Floyd está realmente bem cheio!

Pink Floyd - A Momentary Lapse of Reason (1987)
01. Signs of Life
02. Learning to Fly
03. The Dogs of War
04. One Slip
05. On the Turning Away
06. Yet Another Movie" / "Round and Around
07. A New Machine (Part 1)
08. Terminal Frost
09. A New Machine (Part 2)
10. Sorrow

Pablo Aluísio.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Nirvana - Nevermind

O tempo passa rápido demais. Parece que foi ontem que "Nevermind" chegou nas lojas mas lá se vão 20 anos desde o seu lançamento. A data comemorativa não poderia passar em branco por aqui. O Rock na época vinha em longo declínio, sem inovação, com o cenário musical lotado das chamadas bandas farofas - ou seja, muita pose, muito laquê no cabelo e pouca relevância sonora. Era um ambiente tão medíocre que o jovem que gostava de rock no começo dos anos 90 tinha mesmo que buscar no passado cantores e grupos de qualidade para ouvir. Era exatamente o que eu mesmo fazia naquela época pois ouvia não só os grandes clássicos (Elvis, Beatles, etc) como os chamados dinossauros do rock, grupos dos anos 60 e 70 como Pink Floyd e The Doors. E então no meio dessa pasmaceira eis que surgiu um novo grupo, realmente inovador e com um som forte, de pegada genuinamente roqueira, o Nirvana.

Na época o grupo foi relacionado ao chamado som de Seattle, uma feia, cinza e chuvosa cidade americana que nunca antes tinha se destacado mundialmente do ponto de vista cultural. Até um termo foi criado, Grunge (a imprensa adora mesmo rótulos). O mais curioso de tudo é que a maioria dessas informações eram equivocadas. O Nirvana não era de Seattle, mas sim de uma cidadezinha chamada Aberdeen e não fazia parte de movimento nenhum. Kurt Cobain, o vocalista, compositor e líder do grupo, não era e nunca foi parte de qualquer movimento cultural. Ele fazia uma música muito pessoal, refletindo aspectos de sua vida, sem se importar em fazer parte de qualquer tipo de rótulo inventado pela imprensa americana. "Nevermind" é a obra prima desse grupo que queiram ou não marcou época. Embora a frase possa causar polêmica o fato é que o Nirvana em essência foi uma banda de um disco só, já que o primeiro CD do grupo, "Bleach" nada mais era do que uma demo um pouquinho mais bem produzida. Da mesma forma seu último trabalho, "In Utero", foi severamente prejudicado pela decadência física e psicológica de seu mentor, já naquela altura totalmente corroído pelo forte vicio em heroína.

"Nevermind" por sua vez passa por cima de qualquer tipo de crítica que tente desvalorizar seu impacto na cultura roqueira dos anos 90. É um CD com faixas viscerais que a despeito de sua crueza rude e primitiva (como convém a um bom trabalho de punk rock) ainda mantém uma produção de excelente nível técnico, mérito é claro para o excelente produtor Butch Vig, um verdadeiro craque no setor. Kurt Cobain mostra ao longo da seleção que não bastava apenas posar de rebelde e usar roupas ridículas como os grupos que estavam na parada naquela época mas sim colocar sua alma em cada verso, em cada refrão. Nesse aspecto o cantor e compositor era realmente genial. Em suas músicas Kurt injetava aspectos reais de sua vida, sem pose, sem falsidades. Produtos culturais com tanta alma assim acabam virando ícones ou marcas e "Nevermind" de certa forma cumpre a regra que tanto conhecemos. Um disco que resume o melhor do que foi produzido na década de 1990. Quem viveu sabe perfeitamente do que estou falando.

Nirvana - Nevermind (1991)
1. Smells Like Teen Spirit
2. In Bloom
3. Come as You Are
4. Breed
5. Lithium
6. Polly
7. Territorial Pissings
8. Drain You
9. Lounge Act
10. Stay Away
11. On A Plain
12. Something in the Way

Pablo Aluísio.