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domingo, 12 de maio de 2024

Rainha da Moda: Maria Antonieta

Nesses últimos dias terminei de ler o livro "Rainha da moda: Como Maria Antonieta se vestiu para a Revolução". A autora Caroline Weber se propôs a escrever uma biografia diferente da rainha da França. Ao invés de focar apenas nos eventos históricos propriamente ditos, ela procurou mostrar como a moda de Maria Antonieta, seus vestidos, seus penteados e roupas magníficas influenciaram nos eventos políticos que deram origem à revolução francesa. É uma boa ideia, certamente interessará aos estudiosos de moda e costumes, tudo na mais perfeita ordem.

A questão porém é que em termos de história o livro também se desnuda muito superficial. Claro que o vestuário em termos de Maria Antonieta ganha ares de profunda importância em sua história, porém a rainha também não se resumiu a apenas isso. Alguns momentos marcantes da vida da monarca por essa razão passam quase em brancas nuvens.

Isso fica bem claro nos momentos finais antes de Maria Antonieta ser levada à guilhotina ou então em seu julgamento. Tudo é visto pela autora de maneira muito superficial e raso. Eu apenas bato palmas para a coragem de Caroline Weber em se lançar na elaboração de um livro sob esse enfoque. A revolução francesa foi tão brutal que nenhum vestido de Maria Antonieta sobreviveu aos séculos. Tudo foi roubado ou destruído pelos revolucionários. O que sobrou do luxo de sua vida está nas pinturas, nos retratos que mostram os vestidos mais marcantes da rainha ou seus penteados ao estilo poof, também reproduzidos em pequenas aquarelas ou gravuras que eram vendidas em Paris.

O pano original, o tecido real, tudo foi perdido. De Maria Antonieta sobraram apenas algumas espartilhas, pequenos sapatinhos, etc. Assim fazer um filme sobre a moda da época sem ter o objeto de estudo em mãos já é pelo menos um ato de coragem da escritora. No final de tudo o que poderia recomendar em termos de literatura é mesmo o maravilhoso livro escrito por Zweig Stefan. Essa sim é uma obra espetacular. Já esse "Rainha da Moda" serviria apenas como um complemento de luxo ao livro principal. Faça essa dobradinha literária que será bem agradável.

Pablo Aluísio.

domingo, 21 de abril de 2024

Louis IX

Louis, o Rei que se Tornou Santo
A capital do Maranhão, São Luís, tem esse nome por causa desse Rei francês que virou santo! Louis IX (Luís IX em nossa língua portuguesa) viveu entre os anos de 1214 a 1270. Era filho do Rei Louis VIII e seu reinado ficou conhecido por ser um período de extrema justiça no Reino francês. Considerado um homem justo e honrado, esse monarca franco, da linhagem que vinha desde Clóvis, fundador de sua dinastia, foi adorado por seu povo, por causa de seu senso de justiça e honestidade.

Também foi um período de extrema turbulência no Reino da França. Na época Luís precisou entrar em guerra contra o Rei inglês Henry III. Ele queria restaurar uma antiga monarquia franca, mas esbarrou nas pretensões territoriais dos ingleses. Internamente fortaleceu os órgãos de julgamento. Em seu tempo o Rei era considerado absolutista, ou seja, tinha todos os poderes em suas mãos. O Rei administrava o Reino (Poder Executivo), criava as leis (Poder Legislativo) e as aplicava nos casos que lhes eram submetidos (Poder Judiciário). Louis IX logo percebeu que ao ter para si o poder de vida ou morte sobre seus súditos tinha acima de tudo que prezar pela justiça nos casos que eram levados até ele. Historiadores afirmam que ele criou a "presunção de inocência", ou seja, todos eram considerados inocentes até que se fosse provado o contrário.

Também procurou se aproximar do povo. Ao invés de reinar como um Rei distante e isolado em seu castelo, Louis IX descia até os povoados, se misturava entre os camponeses e ouvia seus pedidos, suas preces e reivindicações. Essa proximidade com a classe dos plebeus lhe valeu grande prestígio pessoal. Outro aspecto que ficou muito conhecido de sua personalidade era sua profunda religiosidade. Devoto da fé católica, Louis IX procurou moralizar o Reino, combatendo as heresias, a prostituição e os jogos de azar, que levavam os pais de família à ruína. Também procurou se aproximar dos judeus que viviam na França, incentivando eles a se tornarem novos cristãos, aceitando a palavra de Jesus em seus corações.

Durante quatro anos de sua vida se dedicou a organizar a Sétima Cruzada. Foi algo que custou muito ao Rei. Ele ficou gravemente ferido quando estava no norte da África e quase morreu por causa dos rigores dos campos de guerra. Essa primeira cruzada não foi tão bem sucedida como ele esperava, por isso após uma sangrenta luta nas areias do deserto do Egito, ele retornou a Paris. Não demorou muito e uma nova cruzada, a oitava da história, foi organizada. Nessa presenciou a morte de um de seus filhos, João Tristão. Mesmo tendo tomado Cartago seu exército foi atingido por inúmeras doenças do norte africano, como peste negra, escorbuto e disenteria. O rei morreu em 25 de agosto de 1270, muito provavelmente vitimado pela terrível peste negra que iria dizimar grande parte da Europa nos anos seguintes. Muitos anos depois de sua morte foi eleito como o símbolo máximo da monarquia francesa, sendo canonizado pelo Papa Bonifácio III.

Pablo Aluísio. 

domingo, 3 de março de 2024

O Segundo Rei Franco

O Segundo Rei Franco
Quildeberto I é considerado o segundo Rei da França, filho do primeiro, Clóvis I. Historicamente falando é um monarca tão remoto, que viveu e reinou há 1500 anos, que fica até mesmo complicado afirmar que ele tenha sido Rei da França. O conceito de França é moderno, de um Estado moderno. No tempo desse rei o que existia era uma proliferação de reinos bárbaros que lutavam entre si após o colapso do Império Romano. Assim, embora a história da França o trate como o segundo Rei da França, penso que uma classificação melhor seria situa-lo apenas como o segundo Rei dos Francos. A transformação do Reino dos Francos em França, só iria acontecer alguns séculos depois. De qualquer forma, respeitando a classificação oficial dos historiadores franceses, vou tratar ele aqui como o segundo Rei da França. 

Pois bem, esse monarca passou toda a sua vida em cima de um cavalo, em batalhas sem fim pelo solo daquele território que depois seria a França moderna que conhecemos. Na era em que viveu aquele era um tempo de barbarismo. Para se ter uma ideia ele enfrentou no campo de batalha os mesmos bárbaros que tinham lutado contra os imperadores romanos. Travou sangrentas batalhas contra visigodos e ostrogodos. Invadiu terras que hoje em dia pertencem à Itália que naquelas eras distantes estavam nas mãos de inúmeros reinos de bárbaros. 

Saqueou cidades prósperas como Veneza e Florença e só parou quando se prostrou doente, em uma das suas inúmeras batalhas no campo de guerra. Havia rumores que tinha sido envenenado por seus próprios generais. Outros apontam até mesmo a sua Rainha como a pessoa que teria colocado veneno em sua taça de vinho. 

Quildeberto foi um monarca da baixa idade média. O conceito de governo naqueles tempos era muito frágil. Segurava a coroa quem conseguia vencer e destruir os demais aspirantes ao trono. Embora não haja provas concretas ou documentos oficiais, ele provavelmente matou dois de seus irmãos, também filhos do Rei Clóvis. Era um tempo de barbarismo, onde o Rei nada mais era do que aquele que conseguia se impor no trono com a força de sua espada. E assim era naquelas monarquias antigas, irmão matava irmão e geralmente acabava sendo morto também pelas mãos de algum parente. 

Pablo Aluísio. 

domingo, 21 de janeiro de 2024

Napoleão Bonaparte e o Antigo Regime

Napoleão Bonaparte, conquistador de nações, quem diria, tinha vários complexos que ele foi adquirindo ao longo dos anos. O primeiro deles e mais enraizado vinha justamente de suas origens. O fato é que Napoleão havia nascido na ilha da Córsega, território que historicamente tinha laços com a Itália e não com a França. Isso o tornava um estrangeiro em solo francês? Não, porque em sua época a região estava sob domínio do Reino da França, porém culturalmente havia um fosso entre aquele que seria o futuro imperador e a nação que comandaria.

Na academia militar onde foi estudar era tratado pelos demais estudantes como "o corso", o que era de certa maneira uma maneira de rebaixa-lo dentro da hierarquia dos cadetes e uma barreira inequívoca para subir na carreira. Aliás em relação à sua terra natal o jovem Napoleão tinha sentimentos conflitantes. Seu pai era considerado um oportunista político por muitos. Se fosse interessante apoiar a libertação de sua terra natal ele o faria. Seria o líder pela independência. Porém o outro lado também era bem-vindo pois se fosse preciso abraçar o poder francês imperial  ele o faria também, sem remorsos ou culpas. Seria contra os republicanos sem nem piscar o olho. Mudava de lado quando era conveniente. Ele não tinha lados ideológicos, ele tinha apenas ambição pessoal. O que lhe fosse melhor, seria escolhido, independente de bandeiras ou nações. O importante era ele se dar bem de algum modo. Napoleão Bonaparte herdou muito da personalidade do velho, de seu pai.

Napoleão Bonaparte não foi um revolucionário de primeira ordem. Ele apenas surfou a onda revolucionária pois essa lhe era favorável. Como não tinha origens nobres e nem títulos importantes dentro da corte era conveniente a ele que o antigo regime viesse abaixo. Quando os principais líderes da revolução francesa foram executados na guilhotina, alvos de sua própria loucura ideológica, houve um vácuo de poder. Napoleão via tudo com interesse. Cada novo líder revolucionário que era jogado sem cabeça dentro de uma cova rasa lhe interessava. Era um concorrente a menos.. Foi nesse vácuo de poder absoluto que o jovem militar Napoleão Bonaparte tomou o destino em suas mãos. Aproveitou o momento, soube perceber que havia chegado sua oportunidade.

Porém pessoalmente ele nunca foi um fanático dos ideais da revolução francesa. Tanto isso é verdade que ao tomar outras nações procurou até mesmo formar alianças com antigas linhagens de nobreza, como a própria dinastia da casa de Habsburgo. Dentro da Europa poucas famílias representavam mais o antigo regime do que eles, mas Napoleão nem quis saber disso. Desposou uma das duquesas e teve um filho com ela. Agindo assim Napoleão procurava uma espécie de validação das linhagens nobres da antiga Europa. Nada poderia ser tão antirrevolucionário do que isso. Assim o que temos é realmente uma figura histórica contraditória, um misto de restos da revolução e busca por uma linhagem que nunca teve. O herói francês estava mesmo de calças curtas nesse aspecto pois os nobres da época o consideravam apenas um "vira-lata" vulgar, violento e obcecado pelo mesmo poder absoluto que um dia havia prometido combater.

Pablo Aluísio. 

domingo, 24 de dezembro de 2023

Joana D'arc

A vida de Joana D'arc talvez seja uma das mais estudadas da história e ao mesmo tempo uma das mais cheias de mistérios. Ela ainda hoje é bastante conhecida, mesmo fora do círculo de estudiosos da vida de santos católicos. Sim, porque Joana não foi apenas uma santa da Igreja, mas também uma figura central na própria história da Europa Medieval. Ela nasceu em 1412, em Domrémy-la-Pucelle, na França. Desde cedo viu que sua vida não seria fácil. Ainda criança teve que passar pelo trauma terrível de presenciar seus familiares serem mortos por brutais soldados ingleses. A violência chegando tão cedo em sua vida a marcou profundamente, não apenas do ponto de vista físico, mas também psicológico e espiritual. Com apenas 13 anos ela começou a ter várias visões com anjos e santos. Dizia ter recebido a visita do anjo Gabriel que lhe dizia que ela teria que salvar a sua nação da dominação e destruição pela Inglaterra.

Assim Joana D'arc ingressou no exército francês. Cortou seus cabelos no estilo militar dos homens e aprendeu técnicas de combate. A época não poderia ser mais violenta pois vivia-se a terrível guerra dos cem anos entre franceses e ingleses. As cidades estavam destruídas, o povo passava fome e a peste negra dizimava milhões de pessoas no continente europeu. Os quatro cavaleiros do apocalipse pareciam estar soltos, cavalgando pelo solo francês, completamente manchado de vermelho do sangue derramado de seus compatriotas. Joana era apenas mais uma pessoa a engrossar as fileiras militares, mas sua presença parecia significar vitórias e mais vitórias para os franceses. Em pouco tempo ela começou a ser venerada pelos soldados e se transformou em um precioso símbolo para o Rei francês CharlesVII.

Não tardou também que ela se tornasse alvo de perseguição por parte dos ingleses. Eles queriam colocar as mãos na santa guerreira de todas as maneiras. Sua sorte mudou para pior quando foi capturada por borgonheses após perder uma batalha. Era 1430. Com apenas 18 anos de idade ela foi então vendida aos inimigos ingleses. Em pouco tempo foi condenada por bruxaria, acusada de ter visões com demônios. Era obviamente um ato político de perseguição. Não havia nenhum fundamento religioso em sua condenação. Os ingleses apenas queriam destruir um símbolo muito precioso para os combatentes franceses. Algumas tentativas de salvar sua vida foram feitas, mas foi tudo em vão. Joana foi queimada viva em uma fogueira numa praça de Rouen, na Normandia (norte da França), que naquela época estava sob dominação da coroa da Inglaterra.

A vida de Joana D'arc foi muito breve, intensa e violenta. Ela viveu praticamente toda a sua vida em campanhas militares, mas ao mesmo tempo procurou cultivar sua fé em Deus. Muitos historiadores discordam da informação amplamente divulgada de que Joana teria sido queimada por ordem de líderes religiosos católicos. Na verdade sua morte foi encomendada, até com certa pressa, pelo Rei da Inglaterra que definitivamente não queria enfrentar uma mulher que era considerada santa pelo exército francês. Assim foi uma decisão realmente puramente política. Em 1920 a Igreja Católica finalmente reconheceu a santidade de Joana e ela foi canonizada pelo Vaticano. No lugar onde foi queimada, onde antes era uma praça pública em Rouen, foi erguida uma bela igreja em sua homenagem, com arquitetura magnífica. Joana assim subiu finalmente aos altares de Deus.

Pablo Aluísio.

sábado, 23 de dezembro de 2023

Carlos Magno

Carlos Magno foi um dos mais importantes monarcas medievais da história.  Embora a França como nação ainda não existisse nos moldes modernos, ele é considerado um dos mais marcantes reis franceses da história, dando nome a sua própria dinastia, conhecida como Carolíngia. Tamanho era seu poder em vida que ele acumulava diversos títulos, entre eles o de Rei dos Lombardos e Imperador do Sacro Império Romano-Germânico, uma tentativa tardia de restaurar os dias de glória do império romano. Carlos era filho de Pepino, o Breve. Quando esse morreu começou a luta pelo trono entre seus filhos. Como era costume na era medieval o verdadeiro sucessor iria se impor pela força de sua espada. O último que ficasse em pé, vivo, se consagraria monarca e imperador.

Após vencer a disputa pela coroa com seu irmão Carlomano, Carlos Magno começou seu projeto de expansão territorial. Ele foi efetivamente um Rei guerreiro que passou grande parte de sua vida em cima de um cavalo, com espada em punho, comandando seus exércitos reais por diversas nações. Suas campanhas militares foram extremamente bem sucedidas a ponto de Carlos Magno dominar praticamente todo o mapa da Europa, com terras conquistadas na Alemanha, na Itália, Áustria, Suíça, Bélgica e Bulgária (obviamente os países aqui nomeados não existiam na época de Carlos Magno, sendo essa apenas uma forma de localizar o leitor sobre os domínios desse Rei franco). De certa forma ele ajudou a redesenhar o mapa europeu ao seu bel prazer, como aconteceria séculos depois com Napoleão Bonaparte.

Tantos anos em um campo de batalha cobraram seu preço. Carlos Magno mal sabia ler e escrever, já adulto, quando era praticamente o monarca de toda a Europa continental, não conseguia entender nem uma frase simples escrita em um documento de seu reino. Um monarca analfabeto, como quase toda a Europa naqueles tempos medievais. Por essa razão o Rei teve o cuidado de disseminar e reformar o sistema educacional. Com o apoio da Igreja Católica o Rei sonhava com o dia em que todo menino europeu pudesse estudar em escolas mantidas pelo Estado - algo que iria se concretizar nos séculos seguintes. Esse aspecto também moldou seu modo de ajudar estudiosos, artistas e intelectuais. Para Carlos Magno nem o maior dos impérios teria futuro sem uma geração de pessoas instruídas e educadas. Até para comandar seus exércitos o Rei entendeu que era necessário que cada soldado e general pudesse se comunicar através de cartas escritas.

Carlos Magno também foi um dos fundadores do sistema feudal que iria predominar em praticamente toda a Idade Média. Os escravos da antiga Roma não teriam mais espaço em seus domínios. Ao invés disso ele determinou que cada escravo se tornasse servo, ligado a um feudo, dominado por um senhor feudal. O mais poderoso e rico senhor feudal seria o próprio Rei, ligado a uma rede de nobres que lhe deviam favores em tempos de paz e guerra. Os papas também condenavam a escravidão, pois seria anticristã. De certa forma a influência de Carlos Magno na história da Europa e do mundo ocidental foi ampla e duradoura. Ele fundou muitos aspectos que iriam dominar o mundo europeu, com influências até mesmo em nossa história.

Carlos Magno morreu de complicações pulmonares no campo de batalha. Ao invés de tentar se curar com a medicina da época ele optou por jejuar, o que piorou seu quadro, o levando à morte alguns dias depois. Corria o ano de 814 e o imperador de quase toda a Europa morria em um vilarejo lamacento em terras que hoje em dia pertencem à Alemanha. Foi obviamente enterrado com toda a pompa que um Rei tinha direito na Basílica de Saint-Denis, onde praticamente todos os reis franceses seriam enterrados, mas um fato sórdido ocorreu séculos depois. Seu túmulo foi profanado pela revolução francesa. Seu caixão foi aberto, roubaram as joias e as insígnias reais de seu corpo e depois do vandalismo seus restos mortais foram jogados no pântano. Só depois, quando a monarquia foi restaurada, já após o advento da queda de Napoleão Bonaparte é que o Rei Luís XVIII mandou que os corpos reais fossem recuperados e levados de volta para a catedral onde foram enterrados. Não foi algo fácil pois os restos mortais de todos os reis e rainhas estavam misturados, sendo impossível identificá-los. Dessa forma todos os ossos, crânios e restos mortais foram colocados em conjunto em urnas que atualmente estão em exposição para turistas que visitam a famosa igreja medieval.

Pablo Aluísio.

Clóvis I - O Primeiro Rei da França

Esse Rei dos Francos é considerado o primeiro Rei da França. Isso porque seu território correspondeu quase que exatamente o que depois iria se tornar o país da França. Mesmo assim não podemos nos esquecer que Clóvis I reinou em um passado bem distante, há mais de 1500 anos. Seu reinado durou de 481 a 511. Nessa época o Império Romano do Ocidente entrava em colapso. Considerado um Rei Bárbaro pelos Romanos, Clóvis I logo impôs seu poder na região conhecida pelos romanos como Gália. Ali ele uniu sob um mesmo reino diversas tribos dos Francos. Por isso é considerado pelos historiadores o primeiro Rei francês.

Ele também é considerado o fundador da Dinastia merovíngia que iria reinar por dois séculos na França. Foi também o primeiro líder dos francos a se converter ao catolicismo. Isso se deu em razão da influência de sua esposa, Clotilde da Borgonha. Ela era uma devota cristã. Até esse momento Clóvis seguia a religião pagã, com seus diversos deuses e crenças. Tinha adoração por Júpiter e Mercúrio. Ele renegou todos eles adotando a cruz como símbolo de seu reinado. Essa conversão ao cristianismo também trouxe o apoio da Igreja cristã que crescia entre os francos convertidos.

Outro ponto marcante no reinado de Clóvis e que fez com que ele se tornasse o criador do que seria conhecido como França, é o fato de que ele escolheu Paris para ser sua capital. Até então o Reino dos Francos não tinha uma cidade como sua capital. Povo bárbaro e guerreiro, eles tinham capitais itinerantes, usando o lema de que a capital de seu reino era onde o Rei estava. Em Paris ele fundou uma abadia, chamada de São Paulo e São Pedro, nas margens do Rio Sena.

Clóvis I morreu com apenas 46 anos de idade, em 511 e foi sepultado na Basílica de Saint-Denis. Isso deu origem a outra tradição entre os reis franceses, pois praticamente todos eles seriam enterrados nessa mesma igreja, que se tornaria um símbolo da monarquia francesa. Por todas essas razões a indicação de historiadores de que ele foi o primeiro Rei da França, é plenamente justificável.

Pablo Aluísio.

domingo, 17 de dezembro de 2023

Maria Antonieta de Zweig Stefan

Aqui vai uma dica de leitura para o fim de ano, um livro que li recentemente e de que gostei bastante. Trata-se da biografia da Rainha Maria Antonieta escrita por Zweig Stefan. Não e um livro novo e nem recente. Na verdade a primeira edição foi lançada em 1932. O tempo porém só lhe fez bem. O estilo de escrita de Zweig Stefan é um primor, uma verdadeira aula de como se deve escrever uma biografia de forma interessante, prazerosa, que capture a atenção da primeira à última página. Aqui o autor leva seu leitor para dentro da vida da Rainha, é como se estivéssemos nos aposentos reais do Palácio de Versalhes. Não se trata de um tratado de história, com inúmeras referências a cada página, o que tornaria a leitura pesada e muitas vezes chata. Nada disso. É escrito em estilo de romance, com a diferença de que não se trata de mera ficção, mas de algo que realmente aconteceu.

A protagonista é essa arquiduquesa austríaca, da dinastia dos Habsburgs, que é dada em casamento ao Delfim da França, um garoto que iria no futuro se tornar o Rei Luís XVI. Filha da imperatriz Maria Teresa da Áustria, Maria Antonieta sabia bem que ela e suas irmãs estavam destinadas a terem um casamento arranjado, pois era tradição na casa de Habsburg esse tipo de arranjo. As arquiduquesas eram criadas para se tornarem esposas de monarcas e nobres por toda a Europa, consolidando assim uma política de alianças por todo o continente. Aliás a primeira imperatriz do Brasil, Maria Leopoldina, que era inclusive sobrinha neta de Maria Antonieta, teve o mesmo destino, vindo a se casar com Dom Pedro I. 

Na França Maria Antonieta se deu conta que sua vida não seria muito fácil. Seu casamento demorou a se consumar, por causa da hesitação do príncipe. Com a morte de Luís XV, ela e seu marido subiram ao trono muito jovens, sem experiência para lidar com as transformações que estavam acontecendo dentro da França. A obsessão da Rainha pelo luxo e extravagância, com vestidos e penteados absurdos também não ajudou em nada. Enquanto o povo francês sofria na fome e na miséria, a corte de Versalhes desfilava riqueza, em situações que de certa maneira afrontava o próprio povo que sustentava a monarquia.

O resultado dessa situação todos sabemos. A Revolução Francesa eclodiu e o absolutismo monárquico europeu sofreu o primeiro grande golpe de sua história. Não é um livro de final feliz, ainda mais porque Zweig Stefan cria uma simpatia do leitor com a Rainha, mesmo com todos os erros que ela cometeu. O livro também demonstra que uma campanha de calúnia e difamação se espalhou pelo reino, divulgando mentiras e boatos maldosos sobre o comportamento da Rainha, que não era tão má pessoa como faziam parecer os revolucionários. No final de tudo é um livro tão bom que dá vontade de reler assim que chegamos ao final. E para quem gosta de curiosidades aqui vai uma informação final mais que interessante: o escritor Zweig Stefan, que assim como Maria Antonieta, era austríaco de nascimento, passou seus últimos anos de vida no Brasil. Ele tinha origem judaica e por essa razão precisou ir embora da Europa quando o nazismo começou a tomar de assalto os países europeus. Acabou morrendo em Petrópolis, aos 60 anos de idade.

Pablo Aluísio.  

domingo, 3 de dezembro de 2023

Napoleão Bonaparte - Destruição e Morte no Campo de Batalha

Como quase todos os tiranos, o imperador francês Napoleão Bonaparte também tinha acessos de plena loucura. Além de ser um megalomaníaco clássico, daqueles que não admitiam qualquer oposição aos seus lunáticos planos de dominação do mundo ocidental (sim, tal como Hitler, ele também desejava dominar todo o mundo), Napoleão nutria pouco ou nenhum respeito para com a vida humana. Seus soldados sentiram isso na pele. Ao decidir invadir a Rússia Czarista, Napoleão enviou milhões de homens para terras desconhecidas, geladas, inóspitas, ao mesmo tempo em que não disponibilizou o que era necessário para ganhar um conflito daquelas proporções. Historiadores modernos concordam que as tropas de Napoleão ficaram perdidas, a esmo, no meio do deserto gelado, sem apoio em termos de mantimentos e provisões. Muitos morreram de fome e frio. Cem mil morreram nessas batalhas.

E qual era a posição do louco Napoleão sobre isso? Ele na verdade só lamentava a derrota militar e não as vidas perdidas. Os soldados eram apenas peões em sua estratégia de aniquilar todos os que se colocavam em sua frente. O mais curioso é que sendo um imperador tirano absolutista, o próprio Napoleão era fruto da Revolução Francesa que tinha como principal objetivo justamente acabar com esse tipo de liderança. Era obviamente uma contradição enorme. A Revolução que foi instaurada para depor todos os tiranos acabou levando ao poder um dos mais sanguinários e tirânicos líderes da Europa daquela época.

Com ares de psicopata, Napoleão tinha um carisma fora do comum, fazendo com que o povo francês abraçasse suas loucuras militares. O saldo foi terrível. Milhões de mortos por toda a Europa, fome, peste, caos e desordem em uma proporção poucas vezes vista. Quando o Papa da época morreu Napoleão decretou: "Morreu o último Papa!". Ele odiava o catolicismo e a religião. Na verdade ele queria destruir a religião, Para bancar suas campanhas militares mandou saquear os tesouros do Vaticano. Também houve muita destruição nos arquivos da Igreja Católica. Documentos históricos preciosos que faziam parte do acervo da Igreja simplesmente foram destruídos por militares comandados por Napoleão. 

Durante suas campanhas militares Napoleão Bonaparte enfrentou muitos inimigos. Praticamente todas as coroas da Europa se uniram para destrui-lo nos campos de batalha. Porém duas monarquias trariam sua ruína. Rússia e Inglaterra, que poucas vezes na História tinham se aliado, agora lutavam contra um inimigo comum, o próprio Napoleão. Em solo russo Napoleão enfrentaria seu maior desastre. Suas tropas morreram de fome e frio na imensidão sem fim da Mãe Rússia. O Imperador russo Alexandre I adotou a tática da terra arrasada. O povo russo deveria recuar para o interior, destruindo tudo o que ficava para trás. Sem ter onde alimentar seu exército Napoleão se viu cercado em uma armadilha mortal. E quando o severo inverno russo chegou não sobrou mais nada para sobreviver tão longe da França.

Com os ingleses a situação foi ainda pior. Napoleão Bonaparte não tinha como invadir a Inglaterra já que essa era uma ilha, com poderosa marinha de guerra defendendo sua território. Os ingleses não ficaram por aí. Desembarcaram no continente europeu para enfrentar Napoleão diretamente e o venceram na batalha de Waterloo onde o imperador francês foi definitivamente derrotado. Depois, conforme a ciência provou com análises de seu cabelo, começou um plano de envenenamento por arsênico que fez com que o imperador francês fosse morrendo aos poucos. Os ingleses não queriam construir a história de um mártir. Por isso Napoleão Bonaparte foi definhando até seu final trágico, isolado e esquecido numa ilha distante da Europa. 

Pablo Aluísio.

sábado, 2 de dezembro de 2023

Napoleão Bonaparte e Alexandre I

Napoleão Bonaparte não tinha muito respeito pela vida humana. Basta estudar suas guerras para bem entender isso. Também era um sujeito contraditório. Fruto da revolução francesa queria no fundo se tornar um monarca, um imperador, como os do passado, do velho regime. Por isso tinha uma certa atração doentia pelos representantes do absolutismo do passado, como o Czar da Rússia Alexandre I.

Após literalmente levar uma primeira derrota no campo de batalha, Alexandre entrou em contato diplomático com Napoleão. Queria encontrá-lo pessoalmente. Bonaparte prontamente aceitou e eles se encontraram em território neutro. O mais estranho dessa reunião é que Napoleão ficou encantando com o jovem imperador russo. Chegou a dizer que se ele fosse uma mulher teria se tornado sua amante! Ficou impressionado com o porte nobre do líder russo. 

Alexandre era alto, jovem e muito inteligente. O encontro entre os dois resultou em uma aliança contra a Inglaterra, mas o Czar russo sabia que mais cedo ou mais tarde teria que enfrentar o imperador francês no campo de batalha, algo que efetivamente aconteceu porque Napoleão decidiu invadir a Rússia, o que causou sua ruína, já que a campanha foi um desastre. Corroídos pela fome e frio muitos soldados franceses (milhares deles na verdade) morreram na longa e penosa marcha de retirada durante o rigoroso inverno russo.

Pois é, o jovem (e para Napoleão) inexperiente Czar destruiu os exércitos do general francês que era considerado imbatível no campo de batalha. Um feito histórico único! Depois de perder nos campos congelados sem fim da Mãe Rússia, Napoleão perdeu a fama de ser imbatível, de ser perfeito no caminho de suas conquistas. Ele não era fenomenal, era apenas um homem e como tal poderia ser mesmo derrotado, como bem provou Alexandre I e seu bravo exército.

Em determinado momento desse encontro ate gentil entre os dois imperadores, Alexandre teria comentado com Napoleão que não queria entrar em uma guerra com ele, pois teria que destrui-lo e que caso isso acontecesse iria marchar sobre Paris com suas tropas. Napoleão riu, bebeu um pouco de vinho e disse que isso jamais aconteceria. Ele estava errado e Alexandre estava sendo profético pois foi algo que realmente aconteceria. Após vencer Bonaparte e seu exército, Alexandre realmente rumou para Paris e entrou na cidade por uma ponte que até hoje leva seu nome. Para deixar claro que os russos não estavam ali para massacrar a elite francesa ele desceu de seu cavalo e mandou anunciar que iria dar um baile para os franceses. E nessa noite ele conquistou grande parte dos ricos da França. Na ocasião Alexandre deixou claro que jamais destruiria Paris pois a considerava uma das mais belas cidades do mundo! Promessa que cumpriu. 

Napoleão e Alexandre não viveriam muito. O Czar russo morreria no retorno de um campo de batalha. Após uma longa cavalgada ele sentiu-se mal. Imediatamente seus médicos decidiram levar ele de volta a São Petersburgo, mas Alexandre não resistiu. Morreu dentro de uma carruagem em uma estrada cheia de lama. Napoleão, por sua vez, foi exilado para uma distante ilha controlada pelos ingleses. Ele foi sendo envenenado aos poucos com arsênico. Passou suas últimas semanas muito doente, por causa do veneno. Falecendo pouco depois. 

Pablo Aluísio.

domingo, 19 de novembro de 2023

A Profanação dos Reis da França

A Profanação dos Reis da França
Uma das histórias mais terríveis da Revolução Francesa se deu na chamada profanação dos Reis da França. Em um momento em que o radicalismo e o fanatismo tomavam conta dos revolucionários franceses, decidiu-se que não deveria se deixar pedra sobre pedra em relação à monarquia francesa, ao antigo regime. Era necessário não apenas matar o rei Luís XVI e a Rainha Maria Antonieta, mas também apagar para sempre da história os nomes dos reis e rainhas do passado. Nem a memória e nem o respeito aos mortos, aos corpos do reis dos séculos anteriores, deveriam ser mantidos. A ordem era acabar com tudo, de forma violenta e definitiva! Assim uma turba ensandecida marchou em direção à milenar Basílica de Saint-Denis. Ali aconteceria atos de vandalismo e desrespeito ímpares na história da Europa. 

Durante séculos os reis e suas rainhas tinham sido sepultados naquela grandiosa catedral cristã. Só que os revolucionários, tomados por ódio e ressentimento, decidiram que os reis e as rainhas tinham que ser tirados violentamente de suas tumbas para um ato final de vandalismo sem precedentes. Eles começaram a destruir os seus túmulos, puxando os corpos de reis e rainhas para destrui-los sem dó e nem piedade. Um momento de barbarismo sem limites. Além disso não podemos ignorar que muitos daqueles revolucionários queriam mesmo era roubar as jóias e objetos valiosos com que esses monarcas tinham sido enterrados. Em última análise eram todos ladrões e saqueadores de tumbas reais. 

Eles violaram túmulos de grandes nomes da história como o do primeiro rei da França, Clovis I, o homem que havia expulsado os invasores romanos do solo francês. Roubaram sua valiosa coroa que havia sido enterrada com ele, roubaram seus anéis e até mesmo o cetro real dourado, uma peça histórica extremamente importante, de um valor histórico imensurável, feita de puro ouro. E quando esses objetos foram roubados houve também brigas para saber quem iria ficar de posse dessas valiosas peças. Agindo como abutres, os revolucionários transforam o ambiente da catedral em puro caos de violência e crime. Não havia maior prova de sua sordidez do que brigar por itens roubados que não lhes pertenciam.

Todos os túmulos reais foram profanados em apenas uma tarde. Quando abriram o caixão do rei sol, Luís XIV, tiveram uma grande surpresa. O famoso monarca tinha o corpo perfeitamente preservado. Um homem alto em vida, sua postura no túmulo era tão nobre que os revolucionários ficaram alguns minutos apenas olhando para aquele lendário rei da França, em um silêncio até mesmo respeitoso. Mesmo morto, Luís XIV mantinha seu porte e pose reais de nobreza. Só depois de um tempo é que um dos ladrões da multidão decidiu profanar o corpo do rei, abrindo sua barriga com uma espada, tirando de lá seus restos mortais para depois colocá-los em sua boca. Depois cortaram a cabeça de Luís, o Rei Sol, sob aplausos e gritos de todos os presentes. E também roubaram tudo o que havia de valor dentro de seu caixão! Era atroz a situação!

Reis medievais tiveram suas espadas e armaduras roubadas após destroçarem seus corpos. Rainhas sofreram atos de desrespeito de natureza sexual. A barbaridade não tinha limites. A farra insana porém acabou quando abriram o caixão do Rei Luís XV. Seu corpo entrou em putrefação líquida imediatamente após entrar em contato de novo com o oxigênio do ar. O corpo real se desmanchou em um chorume cadavérico de cor esverdeada! O cheiro fétido foi tão forte que os revolucionários tiveram que sair por alguns minutos de dentro da catedral. Até parecia que o penúltimo rei francês tentava, mesmo após sua morte, expulsar todos aqueles profanadores das tumbas reais. Infelizmente não havia como parar aquelas pessoas. Todos os túmulos foram violados e todos os bens foram roubados, até mesmo as roupas e mortalhas com tecidos finos que alguns reis tinham sido enterrados. Nada sobreviveu ao assalto daquela multidão enlouquecida de ódio. 

Depois os restos mortais dos reis e rainhas, agora completamente destroçados, foram jogados em um terreno baldio pantanoso perto da catedral. Alia jazia no meio da água podre os restos de algumas das figuras históricas mais importantes da história da França e da Europa. Tudo foi jogado no lixo, literalmente. Anos depois a monarquia francesa seria restaurada por um breve período. Os restos mortais que conseguiram resgatar foram retirados do pântano e colocados em dois grandes baús que foram levados de volta para a Basílica de Saint-Denis. Atualmente há um projeto de se catalogar através de exames de DNA os reis e rainhas francesas, para colocá-los de volta em suas tumbas originais, mas até hoje isso nunca foi feito. Seria um resgate histórico de respeito a todos esses monarcas. De qualquer forma fica o mal exemplo da brutalidade e insanidade que pode tomar conta de pessoas simplesmente alucinadas por ideologias políticas. O respeito pela passado histórico precisa ficar acima desse tipo de fanatismo ensandecido.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O Rei Franco e os Bárbaros

O Rei Franco e os Bárbaros
Com a queda do Império Romano do Ocidente ocorreu um fato historicamente curioso. Antigos grupos que eram considerados bárbaros pelos romanos, começaram a combater outros bárbaros invasores, se colocando na posição de civilizados (que Roma sempre se colocou) para destruir os bárbaros pagãos que desciam para o Sul da Europa, causando destruição e morte por onde passavam.

Quando os Francos surgiram, eles foram vistos pelos legionários romanos como bárbaros selvagens. Porém com o tempo esses grupos se uniram e formaram o Reino dos Francos. Eles também adotaram o cristianismo como religião. Assim surgiram os primeiros Reis Francos, em dinastias que posteriormente, no passar das gerações, iriam formar o moderno Estado da França, tal como conhecemos nos dias de hoje. E entre esses Reis pioneiros, que ficavam ali no limiar da transformação do Reino Franco na França medieval tivemos um que se destacou em guerras contra os bárbaros do Norte. 

O Rei Franco Quildeberto é considerado o segundo monarca da história da França, membro da dinastia Merovíngia, filho de Clóvis I, dado pelos historiadores como o primeiro Rei da França. Nasceu em 496 e viveu até 13 de dezembro de 558, quando faleceu de causas desconhecidas. Viveu por 62 anos e foi um autêntico rei medieval. Teve a boa sorte de herdar as melhores terras quando seu pai morreu. Como se sabe o Rei Clóvis I deixou suas terras para seus filhos. Quildeberto herdou Paris, a cidade que já se destacava dentro do reino, que em breve iria se tornar sua capital.

Esse monarca Franco teve dois grandes inimigos em sua vida. O primeiro era representado por reinos da península itálica, em especial o reino da Borgonha. Foi seu inimigo visceral. O próprio rei francês marchou sobre as terras desse reino e após uma campanha violenta conseguiu tomar suas principais vilas e cidades. Nessa mesma campanha militar tomou de assalto as cidades medievais de Mâcon, Genebra e Lyon. Depois executou o Rei de Borgonha com ares de sadismo. Mandou prender seu corpo em duas carroças e depois esquartejou seus membros quando os cavalos saíram em disparada.

Outro inimigo sempre presente era o Reino dos Visigodos. Povo bárbaro que havia contribuído pela queda de Roma, os Visigodos eram conhecidos pela violência no campo de batalha. Muitas cidades francesas eram atacadas por eles. Os Visigodos também não seguiam o cristianismo, o que os colocava em roda de colisão com o Reino Franco cristão. Assim o Rei Quildeberto decidiu enfrentar o problema de frente, vencendo esses povos bárbaros numa campanha que custou muito dinheiro aos cofres reais. Crônicas afirmam que em um só dia de batalha morreram mais de 40 mil soldados, o que se tratando da Idade Média era uma carnificina sem precedentes. 

Em uma dessas campanhas o Rei contraiu um mal desconhecido, que até hoje não é bem determinado pelos historiadores. Seus soldados diziam que era bruxaria feita por bruxas pagãs dos Visigodos. De uma maneira ou outra o Rei não resistiu. Morreu por causa dessa misteriosa doença, caindo de seu cavalo, ainda com uma espada na mão, indo parar direto na lama do campo de batalha. Seus oficiais acabaram levado seu corpo de volta a Paris para seu enterro. Seu corpo seria vilipendiado séculos mais tarde por membros da revolução francesa que profanaram e destruíram todos os corpos de reis da França que tinham sido sepultados na Basílica de Saint-Denis. Esse sim um ato de puro barbarismo.

Pablo Aluísio.

As Mentiras da Revolução Francesa

Maria Antonieta foi provavelmente a rainha mais difamada e caluniada da história da Europa. As mentiras ditas sobre ela ecoam até os dias atuais. Não se trata de uma defesa do absolutismo de seus dias, mas sim de denunciar as mentiras que foram levantadas contra ela. Maria Antonieta foi a primeira grande vítima de uma rede de fake news de seu tempo. Com o avanço da imprensa escrita diversos panfletos e textos eram escritos apenas com o objetivo de destruir sua imagem. E o pior de tudo é que a maioria desses textos eram pura mentira.

O material era tão vasto que até hoje historiadores encontram novos textos que desconheciam. E qual era o teor dessas publicações anônimas? Praticamente sempre os mesmos, atacando a rainha de todas as maneiras mais vis, a retratando como uma mulher sem valores morais, uma prostituta, uma devassa, uma mulher depravada em sua vida pessoal. Tudo mentira. Maria Antonieta era mais puritana que todos os que a ofendiam. Ela foi injustiçada sem dó e nem piedade por esses difamadores e caluniadores, muitos deles membros do que viria a ser a Revolução Francesa, mas também nobres nefastos, que jogavam contra a própria monarquia. A ironia histórica foi que muitos deles tiveram suas cabeças cortadas pela guilhotina na fase mais fanatizada da revolução francesa.

Alguns desses textos retratavam Maria Antonieta em gravuras. Essas gravuras eram pornográficas, mostrando a rainha fazendo sexo com vários homens, com criados e até com animais. Não havia limites para a baixaria. O pior de tudo é que muitos franceses do povo acreditaram nessa rede de difamação. Isso, penso, foi fruto de um sentimento de ressentimento contra a realeza. Afinal não era fácil passar fome enquanto uma nobreza completamente dada a excessos de pompa e riqueza desfrutava dos maiores luxos do Palácio de Versalhes. Porém nada disso justificaria a mentira que era levantada contra a rainha.

Provavelmente Maria Antonieta só traiu seu marido uma única vez e mesmo assim em uma situação sui generis. A rainha nunca teve a oportunidade de escolher com quem iria se relacionar, com quem se casaria. Ela de certa forma foi vítima de sua dinastia que a usou como mera peça do jogo político de sua época. Se apaixonar verdadeiramente pelo nobre Axel von Fersen foi certamente seu único pecado. O crime de amar alguém verdadeiramente. 

Até a famosa frase atribuída à rainha "Que comam brioches!" era uma mentira, uma fake news. Essa mesma frase já havia sido atribuída antes para a esposa de Luís XIV e para duas amantes de Luís XV e nenhuma delas havia dito nada nesse sentido. Era uma frase inventada por adversários políticos, tudo com o objetivo de atacar os membros da nobreza francesa. Esse aliás é um consenso entre historiadores, após consulta em milhares e milhares de documentos da época. Os revolucionários franceses chegaram ao absurdo de acusar Maria Antonieta de ter um caso com o próprio filho, um incesto na família real. Qual era a verdade sobre isso? Nada, uma mentira deslavada feita para impressionar opiniões mais bobas, mentes mais simples. Assim fica mais que claro que ela foi vítima, da mentira e da propaganda política de forma mais rasteira. Tudo fruto da mente dos revolucionários franceses.

Pablo Aluísio.

A Derrota de Napoleão Bonaparte

O marco final da derrota de Napoleão Bonaparte é colocada como sendo a Batalha de Waterloo. Uma visão de historiadores, não completamente equivocada. Porém se formos pensar bem, analisar de forma mais sensata os capítulos históricos, veremos que a verdadeira derrota de Napoleão Bonaparte se deu na Rússia, em solo russo, onde ele realmente, de fato, foi humilhado, derrotado e teve seu exército destroçado. Desse ponto em diante a Europa entendeu que Napoleão Bonaparte não era invencível. Longe disso, ele era tocável e podia ser derrotado.

Muito já foi escrito sobre a derrota de Napoleão Bonaparte na Rússia imperial do Tsar Alexandre I. Livros e mais livros foram elaborados, contando em suas páginas a derrota fulminante que os exércitos de Napoleão sofreram naquela ocasião. Porém dois fatos se sobressaem nesse campo. O primeiro é que o "General Inverno", como foi apelido o frio polar russo, foi deciisivo para que Napoleão saboreasse o gosto da derrota total. Seus homens não tinham uniformes adequados para aquele inverno - ou poderíamos dizer inferno? Sem comida, roupas adequadas, o soldado napoleônico simplesmente morreu de fome e frio nas terras sem fim da mãe Rússia. Foi, lamento dizer isso, uma morte justa. Os franceses eram invasores, não tinham que estar naquelas terras.

Outro fato histórico inegável que contribuiu para a destruição das tropas de Napoleão Bonaparte foi a estratégia de "Terra Arrasada", ou seja, os russos, antes da chegada dos franceses, queimaram tudo. Queimaram as casas, os prédios e o mais importante, as provisões. Sem ter o que comer, os soldados franceses sentiram fome como nunca tinham sentido antes. E aqui podemos notar que Napoleão Bonaparte não era o gênio militar que se dizia dele. Um fato que não pode faltar a tropas em guerra é justamente os provimentos, a comida para manter os homens lutando. Sem isso só há fome, morte e destruição. Uma guerra se perde por puro e simples despreparo do seu comando. 

Outro aspecto a se considerar sobre os erros de Napoleão Bonaparte é que ele fazia campanhas militares sem objetivos. Qual era o objetivo de invadir a Rússia? O que ele queria fazer em Moscou, por exemplo? Apenas encher seu próprio ego pessoal? Se foi isso se deu muito mal, pois a derrota no solo russo destruiu sua imagem como militar genial. Ele não era genial, vamos falar a verdade. O mesmo aconteceu no Egito. Sem planos de permanência as tropas franceses não suportaram ficar muito tempo na terra dos faraós. Napoleão Bonaparte também não tinha planos para a Rússia. Nada planejado para o dia após a invasão. Não havia plano político, nem nada. Era apenas invadir por invadiir, para mostrar ao resto da Europa que ele podia fazer isso. Só que não podia e foi solenemente derrotado por esse erro estratégico sem nenhum sentido concreto.

Outro fato é que Napoleão Bonaparte dava pouco ou nenhum valor para a vida humana. Quando ele fugiu da Rússia, dentro de um pequeno veículo puxado por cavalos, ele viu com os próprios olhos a desgraça que se abatia sobre os homens de seu exército. E segundo relatos da época, Napoleão não expressou qualquer sentimento de compaixão por aqueles soldados que estavam morrendo de fome e frio. Ao contrário disso mandava seu cocheiro bater mais e mais nos cavalos para ele sair o mais rapidamente possível da Rússia, alcançar a fronteira. E enquanto passava à toda velocidade, os homens ficavam caídos, mortos na neve.

Pablo Aluísio.

sábado, 30 de abril de 2011

Maria Antonieta - Verdades e Mentiras

Maria Antonieta realmente disse a frase: "Se não tem pão, que comam brioches"? Não. Hoje em dia os historiadores concordam que a Rainha francesa nunca disse essa frase. Um dos aspectos que mais reforçam isso é o fato de que essa mesma frase foi atribuída a outras rainhas da França no passado, como Ana da Áustria. O que realmente ocorreu foi uma mentira inventada pela máquina de propaganda dos revolucionários franceses, sem base na realidade.

Qual era o problema sexual do Rei Louis XVI? Marie Antoinette foi uma linda arquiduquesa austríaca cuja principal função ao se casar com o Rei Luís XVI era gerar filhos para a dinastia Bourbon. Só que o tempo passou após seu casamento e nada de ficar grávida. O jovem rei francês não era impotente e nem homossexual como se chegou a dizer na época, mas apenas tímido em excesso e portador de fimose, o que lhe dificultava imensamente na hora de cumprir suas obrigações sexuais com sua esposa. Suas dificuldades de alcova levaram a boatos, de que os filhos de Maria Antonieta fossem mesmo de seu grande amor, o Conde Hans Axel von Fersen.

Maria Antonieta e o Conde Fersen realmente tiveram um romance? Outro ponto sempre debatido sobre a história da rainha. Alguns historiadores afirmam que sobre isso não restam dúvidas. Inclusive cartas foram descobertas em que Maria Antonieta escreveu: "Eu te amo loucamente e não há um momento sequer em que eu não vos adore”. Tudo bem, a Rainha seria mesmo apaixonada pelo Conde, já que o rei não era bem um exemplo de paixão romântica (ela se casou em um casamento de conveniência entre as cortes francesas e austríacas). A questão principal é: foi um amor puramente platônico ou chegou às vias de fato. Para alguns autores pelo menos um dos filhos da Rainha era filho de Fersen. Como a moralidade era flexível em Versalhes não seria de toda surpresa que a Rainha tivesse mesmo traído o Rei Luís XVI.

Marie Antoinette era parente da Imperatriz Leopoldina? Sim, ambas vinham da mesma dinastia familiar, a Casa de Habsbourg-Lorraine da Áustria. A rainha francesa era sua tia-avó. O curioso é que a Imperatriz do Brasil (casada com D. Pedro I) tinha muito receio de que lhe acontecesse a mesma coisa, que alguma revolução a tirasse do trono. Por essa razão ela sempre resistia aos avanços liberais do Imperador. A dinastia Habsbourg foi por nove séculos um símbolo máximo do absolutismo europeu.

Maria Antonieta foi tão culpada como quis fazer a Revolução Francesa? Uma injustiça foi cometida contra a Rainha quando os revolucionários a culparam de diversos crimes cometidos durante o reinado de Luís XVI. As rainhas francesas tinham pouco poder político na chefia dos assuntos de Estado. Por essa razão a maioria dos crimes atribuídos a Maria Antonieta não são verdadeiros. O que existiu foi um ato de vingança e não de justiça contra ela e sua família. Inclusive a Rainha foi acusada de coisas absurdas, como ter relações com seus próprios filhos! A única coisa que parece ter sido comprovada foi a suposta conspiração de Maria Antonieta contra o Reino da França ao pedir aos seus parentes austríacos que a salvassem da morte. Isso na época era considerada alta traição. Fora isso nada a mais foi comprovado por historiadores que estudaram seu processo.

O que aconteceu com o corpo de Maria Antonieta após sua execução na guilhotina? O ódio dos revolucionários franceses contra a monarquia era tão grande que sequer deram um enterro digno à Rainha após sua morte na guilhotina. Seu corpo foi simplesmente jogado numa cova coletiva e coberta de cal. Sua cabeça por sua vez foi comprada pelo famosa Madame Tussauds para a confecção de um rosto preciso a ser usado em seu museu de cera. A peça ficou anos em exposição. Depois que a Dinastia Bourbon retomou o poder o corpo de Maria Antonieta foi resgatado dessa cova e colocado em um belo mausoléu na Basílica de Saint-Denis onde praticamente todos os Reis Franceses da história foram sepultados. Ela está até hoje sepultada nesse monumento.

Os móveis e utensílios do Palácio de Versalhes são originais? O Palácio de Versalhes é um dos pontos turísticos mais famosos da França. Lá o visitante pode ver a cama real de Maria Antonieta, seus móveis e pertences. Tudo muito bonito e luxuoso, só que não são verdadeiros, mas sim réplicas. Os revolucionários franceses roubaram praticamente tudo o que havia dentro do palácio. Apenas alguns quadros (gigantes demais para se roubar) ficaram intactos. Depois da loucura da revolução o governo francês entendeu a importância histórica desse lugar e passou a reconstruir tudo. Alguns itens originais até foram recuperados, em leilões por toda a Europa, mas o estrago da turba revolucionária foi realmente imenso.

Qual é a importância do Petit Trianon na história de Maria Antonieta? Esse pequeno palacete, próximo de Versalhes, é um dos melhores lugares para se visitar caso você queira reencontrar lugares importantes na história de Maria Antonieta. Quando era Rainha da França ela o reformou, remodelou e foi lá morar, viver em paz, longe da corte de Versalhes que era composta basicamente por víboras. Foi uma forma que Maria Antonieta encontrou de ter um pouco de paz, privacidade e sossego, longe das conspirações políticas da corte.

O que aconteceu com o Conde Fersen e a Madame Du Barry? O Conde sueco Hans Axel von Fersen, o grande amor de Maria Antonieta, teve um destino trágico. Ele foi morto por uma multidão em fúria, bem em frente ao palácio real da corte da Suécia. Esse foi outro momento de extrema violência, ocorrida durante os ares revolucionários que varreram a Europa. Já a Madame Du Barry, amante do Rei Luís XV, também foi guilhotinada como muitos outros nobres absolutistas que foram mortos de forma violenta pela Revolução Francesa. O mesmo destino teve o Rei Luís XVI, colocando fim na monarquia original Bourbon.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Maria Antonieta

Maria Antonieta foi a última rainha da França. Ela e seu marido, o rei Luís XVI, foram decapitados pelos líderes da revolução francesa. Tudo embasado em um julgamento claramente parcial e injusto, que tinha como objetivo apenas matar os monarcas do antigo regime. Maria Antonieta, em seu últimos momentos, se agarrou em sua fé católica e escreveu uma carta de despedida para sua irmã, onde reafirmava sua crença na religião católica, naquele momento final de extrema tragédia. Nesse texto ele pede perdão a Deus pelas coisas erradas que teria feito em vida e pedia ao seus filhos que não se vingassem dos revolucionários pois apenas a Deus caberia a justiça.

Ela foi muito difamada e caluniada, crimes horríveis lhe foram atribuídos, sem nenhuma prova, mostrando que o novo regime que nascia poderia ser tão fanático e radical como os antigos detentores do poder que eles criticavam. Maria Antonieta foi assim transformada em um bode expiatório da revolução francesa, um momento muito cruel para a religião católica pois muitos membros do clero foram assassinados brutalmente, de forma sumária, pelos revolucionários. O chamado "Terror" levou quase todo o clero francês para a guilhotina. Houve certamente uma perseguição religiosa brutal contra a fé e o cristianismo naquele momento trágico. Vários padres, bispos, monges, freiras e religiosos em geral eram colocados em carroças, sendo levados para a guilhotina em longas procissões onde o povo enfurecido lhes diziam ofensas, calúnias e injúrias.

O grau de fanatismo louco da revolução francesa foi tamanho que chegou-se a acusar a rainha até mesmo de incesto, algo que era uma grande mentira. O pior de tudo é que todos sabiam que era uma mentira, mesmo assim condenaram a rainha Maria Antonieta para ser executada, onde ela seria decapitada de forma cruel. A rainha porém mostrou-se muito lúcida em seus momentos finais, não blasfemando, não devolvendo as ofensas, mesmo tendo sofrido todos os tipos de violências físicas e psicológicas. Seus filhos haviam sido tirados dela, seu filho, o herdeiro da coroa, morreria logo após. Era uma criança apenas, mas os revolucionário o jogaram em um calabouço imundo.

Hoje em dia a figura de Maria Antonieta é muito associada ao luxo, à moda, aos exageros do palácio de Versalhes. A rainha foi realmente exuberante, já que isso era uma característica da época, porém ela também foi esposa e mãe, que sofreu muito ao ver sua família ser dizimada por loucos revolucionários com sede de sangue. Mesmo que a dinastia Bourbon fosse destronada era no mínimo civilizado deixaram Maria Antonieta e sua família irem embora para a Áustria, sua terra natal (ela era filha da imperatriz Maria Tereza). Matá-los, inclusive seus filhos pequenos, que eram apenas crianças quando a monarquia foi deposta, só mostrava mais uma faceta violenta de uma revolução que a despeito de usar o slogan da "Liberté, Egalité, Fraternité" (Liberdade, igualdade, fraternidade) certamente cometeu muito crimes contra católicos e pessoas religiosas em geral. Sob o ponto de vista religioso a revolução francesa foi sanguinária, injusta e bárbara. 

Na última noite de vida a Rainha escreveu para a irmã e encerrou sua carta de despedida com as seguintes palavras: "Morro na religião Católica Apostólica Romana, que foi a de meus pais, que me trouxe a vida e que sempre professei. Não havendo nenhum consolo espiritual para procurar, e nem ao menos sabendo se existem nesse lugar padres dessa religião (realmente o lugar onde estou os exporia a perigo demais), eu sinceramente imploro o perdão de Deus por todos os pecados que eu possa ter cometido durante a minha vida. Confio que, em Sua bondade, Ele irá aceitar minhas últimas preces com misericórdia, tal como aquelas que eu tenho endereçado a Ele faz tempo, e que irá receber minha alma dentro de Sua piedade."

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Pepino, o Breve

Começo hoje a tratar sobre os grandes Reis da França. O primeiro será Pepino, o Breve, o primeiro Rei da Dinastia Carolíngia. Pepino III subiu ao trono em uma época ainda marcada pela fragmentação do Império Romano do Ocidente. Desde que Roma caiu começou a existir um grande vácuo de poder por toda a Europa. Esses primeiros monarcas francos tinham o sonho de restaurar a soberania que havia existido nos tempos clássicos, da Roma Imperial. Esse sonho seria inclusive passado para o filho de Pepino, o grande Carlos Magno e seu Sacro Império Romano Germânico.

Pepino era filho do grande conquistador Carlos Martel. Seu apelido "O Breve" não se referia ao fato de ter reinado por pouco tempo, mas por causa de sua altura diminuta - sim, o primeiro Rei Franco da Dinastia Carolíngia era um baixinho! Quando seu pai morreu deixou toda a sua fortuna e suas terras a seus dois filhos, Pepino e Carlomano, seu primogênito. Estamos falando de um tempo ainda muito distante da história, onde havia o sistema feudal prevalecendo por toda a Europa. Assim não demorou muito para que Pepino e Carlomano começassem a disputar entre si os principais feudos e terras. Era algo inevitável.

Pepino então se uniu a bispos influentes, fazendo de tudo para que as tribos germânicas fossem evangelizadas. Isso lhe trouxe um apoio importante, a da Igreja Católica, considerada uma das mais fortes instituições daquela época. Curiosamente por esse mesmo tempo seu irmão Carlomano resolveu se dedicar à vida religiosa, se retirando para um mosteiro. Na Idade Média o sentimento religioso era muito presente e forte, por essa razão a conversão de Carlomano foi visto como algo natural. Sem o irmão o poder acabou se concentrando em Pepino que se tornou um dos mais ricos senhores feudais da Europa Medieval, com terras que iam da França à Alemanha, passando pela Itália. Rico e poderoso, acabou tendo seu primeiro filho, que seria o futuro imperador Carlos Magno.

Pepino assim tinha grande riqueza, apoio da Igreja e se tornara comandante de um grande e poderoso exército. Diante de tanto poder entendeu que chegara a hora de se coroar Rei dos Francos, algo que foi feito com pleno apoio da Igreja Católica. O Papa Zacarias o coroou pessoalmente, dando origem a um ritual que foi seguido por Reis Franceses durante séculos. Assim, para consolidar ainda mais sua autoridade, Pepino derrotou Childerico III, considerado o último Rei da Dinastia Merovíngia. Era o começo da Dinastia Carolíngia entre os Francos.

A aproximação de Pepino com o Papado foi o segredo de seu sucesso como monarca. Ele se colocou na posição de protetor da Roma católica, enfrentando qualquer inimigo que ousasse ameaçar os Papas. Com isso recebeu apoio do Papa Estevão II que o confirmou como o legítimo Rei dos Francos. Mais do que isso, Estevão chancelou Pepino como o principal monarca cristão da Europa medieval. Era a vontade de Deus. Quando os Lombardos ameaçaram invadir o Vaticano, Pepino enviou seus poderosos exércitos que destruíram os inimigos da fé cristã.

Em agradecimento à criação dos Estados Pontifícios, o Papa resolveu ir à Paris para abençoar não apenas Pepino, mas também seus dois filhos e sua esposa. A Igreja Católica tomava clara posição em favor da nova dinastia que nascia na frente do povo francês. Era algo muito importante para Pepino que até aquele momento era tratado quase como um usurpador do trono. Infelizmente seu Reinado foi também breve. Ele morreu poucos anos depois. Seu grande legado para a história da França foi manter o Reino Franco unido e coeso. Também aproximou a Igreja do Estado francês, algo importante naquele momento. Tirando lições do passado glorioso de Roma também incentivou a manutenção de um exército permanente e treinado, para defender o povo franco da invasão de bárbaros que viriam. Acima de tudo abriu portas e criou a estrutura que seu filho Carlos Magno iria usar para conquistar quase toda a Europa nos anos seguintes.

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 19 de abril de 2011

Napoleão Bonaparte - Verdades e Mentiras

Ele foi um dos principais líderes políticos e militares da história. Isso é um fato. O que poucos sabem é que Napoleão Bonaparte também tinha seu lado ridículo. Como era um ser humano e não um Deus, Napoleão também tinha defeitos - e muitos! Aqui vão algumas perguntas sobre o homem Napoleão Bonaparte.

1. Qual era a altura de Napoleão Bonaparte?
O imperador francês era extremamente baixinho. Embora muitos autores afirmem que ele tinha 1.69 de altura, a verdade é que o general não chegava nem a 1.63. A diferença se deve às botas do militar. Ele tinha complexo de sua falta de estatura e por isso mandava confeccionar enormes saltos que lhe desse alguns centímetros a mais. Afinal um general baixinho corria o risco de virar uma piada entre seus subordinados.

2. Napoleão Bonaparte era impotente?
Sim. Embora posasse de conquistador de mulheres, principalmente depois que se tornou imperador, o fato é que Napoleão tinha problemas sexuais. A explicação sobre sua impotência passa por vários motivos, desde a estafa natural de quem vivia em campos de batalha, passando pelo stress constante que o atormentava 24 horas por dia. O imperador era nervoso, dado a ataques de raiva e fúria. No meio de tanta tensão não sobrava muito para se dedicar aos prazeres da carne e do sexo.

3. Napoleão Bonaparte era racista?
O imperador era completamente racista. Ele considerava os negros uma sub-raça, algo que os deixavam mais próximos a animais do que a seres humanos. Seus atos racistas ficaram notórios, principalmente quando proibiu a entrada de negros em Paris. O general não queria que eles "sujassem" as belas ruas da capital francesa. Ele também tinha extremo desprezo por eslavos e russos, mas isso não o poupou de ser derrotado pelos mesmos povos que desprezava no campo de batalha.

4. Napoleão Bonaparte tinha hemorroidas?
Sim. A vida toda Napoleão passou montado em cima de um cavalo, nas inúmeras campanhas que participou ao longo da vida. Isso acabou lhe valendo doloridas hemorroidas. Na última grande batalha de sua vida, a de Waterloo, Napoleão se atrasou para ir ao campo de batalha pois estava com uma séria crise de hemorroidas que deixaram suas calças brancas completamente vermelhas de sangue. A alimentação e a obesidade também não ajudavam. Napoleão comia comidas extremamente apimentadas, gordurosas e nada sadias. Isso piorava ainda mais sua situação de saúde.

5. Por que Napoleão Bonaparte colocava sua mão dentro de seu uniforme?
A posição mais famosa de Napoleão Bonaparte em quadros e desenhos de época é aquela em que o imperador aparecia com as mãos dentro de seu casaco militar. Há duas explicações para essa pose. Alguns historiadores dizem que o imperador sofria de úlcera. As fortes dores estomacais o fazia pressionar o local da dor. Por isso ele estaria sempre com a mão sobre a dor. Outra explicação seria que Napoleão sofria de Mal de Parkinson e para esconder isso de seus soldados colocava a mão que apresentava tremores dentro de seu casaco militar.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Napoleão Bonaparte

Napoleão Bonaparte
Ontem assisti novamente ao grande clássico "Waterloo - A Batalha de Napoleão", cuja resenha completa você pode acessar clicando aqui. Fazia seguramente uns vinte anos que o tinha visto pela última vez. Por essa razão já não me lembrava mais de todos os detalhes. O que havia ficado bem marcante em minha lembrança mesmo durante todos esses anos era realmente a grande atuação do ator Rod Steiger como Napoleão. Ele era bem parecido fisicamente com o imperador francês e aliado a essa semelhança ainda conseguiu realizar um trabalho brilhante de atuação. Seu Napoleão é um sujeito já decadente, tentando se agarrar a um passado distante, dos tempos áureos em que teve em suas mãos praticamente toda a Europa. Sempre suando, com expressão de dor, ele vai ficando consciente que seu tempo passou, que ele não é mais aquele jovem destemido dos campos de batalha do passado, ainda mais agora que segue sofrendo terríveis dores de estômago, algo que até hoje é discutido por historiadores, sobre qual seria o mal exato que tanto atormentava o general e que curiosamente ficou incorporado em sua imagem, a do general com as mãos dentro de seu uniforme militar. No meio desse caos em que sua vida havia se transformado ele ainda tentava de todas as maneiras juntar os pedaços de seu império destroçado.

O Napoleão da história é seguramente uma das figuras mais emblemáticas da humanidade. Ele foi em essência um grande ceifador de vidas, estando no mesmo nível que um Júlio César ou Hitler. Era um ditador sanguinário que queria passar o poder para seus parentes, tal como as monarquias que dizia combater. Não admitia oposição e aniquilava a todos que ousassem contestar seus loucos sonhos de dominação continental. Isso porém não inibiu os franceses de o terem alçado ao posto de herói nacional, algo que sinceramente nunca consegui compreender completamente. Ora, vejo muitas contradições em Napoleão e sua trajetória. Ele foi fruto da revolução francesa, que pregava a soberania da vontade popular em oposição ao regime da nobreza hereditária, mas ao mesmo tempo acabou trazendo os velhos valores absolutistas da monarquia deposta para seu governo e isso da pior maneira possível. Megalomaníaco e ambicioso, tentou conquistar todos os países europeus, destronando dinastias e colocando em seus tronos parentes e amigos completamente incapacitados para exercer o poder nessas nações. Tampouco se importava com a vontade dos povos desses países conquistados a ferro e fogo. Dizia ser um representante do poder do povo, mas ao mesmo tempo ignorava a vontade popular e qualquer sinal de democracia nas terras onde impunha sua dominação através de guerras de conquista. Falava que amava suas origens humildes e a sabedoria popular do povo mais pobre, mas ao mesmo tempo adorava mesmo era o luxo e a pompa das mais tradicionais monarquias europeias, se vestindo tal como os reis do passado, o que o fazia ser basicamente um grande hipócrita.

Também tal como Hitler era um tanto quanto louco. Ao tentar invadir o imenso e congelado território russo se viu massacrado pelo famoso "General Inverno" que aniquilou suas tropas que morreram congeladas e famintas nas estepes russas sem fim. Não satisfeito tentou destruir a Inglaterra e seus ideais de liberdade e direitos fundamentais (algo que ignorava completamente na prática, embora se mostrasse publicamente como um liberal constitucional). E assim como Hitler se deu muito mal ao tentar destruir "a Ilha", como os ingleses carinhosamente chamavam seu país. Pior do que tudo foi a devastação que causou em termos de vidas humanas e bens materiais. As chamadas Guerras Napoleônicas custaram as vidas de mais de oito milhões de pessoas - algo absurdo para o tamanho da população naqueles tempos. Cidades inteiras, algumas delas milenares, foram queimadas por seus soldados. No final, quando praticamente toda a população francesa masculina havia morrido nos campos de batalha, Napoleão começou a recrutar adolescentes e até crianças para as fileiras de seu exército. Uma das coisas que mais chocou o general Arthur Wellesley, o 1.º Duque de Wellington, que o venceu na batalha decisiva de Waterloo, foi contemplar os corpos de crianças mortas no campo de batalha com o uniforme do exército de Napoleão. Enterradas na lama da guerra elas perderam suas vidas com 12 e até 11 anos de idade! E depois de tantas mortes, massacres e guerras sem sentido esse megalomaníaco chamado Napoleão ainda é considerado nos dias de hoje um herói nacional pelos franceses?! Quem pode realmente entender os caminhos sombrios da mente humana...

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Revolução Francesa: Do iluminismo ao Terror

A revolução francesa foi bastante importante no aspecto político e jurídico. Sim os ideais de igualdade, fraternidade e solidariedade sempre serão a base de todas as repúblicas que nasceram após a revolução. A monarquia tinha uma forte pirâmide social, com quase ou nenhuma mobilidade. Caso você nascesse dentro da nobreza iria ser nobre até o fim de seus dias. Não seria necessário ganhar o pão de cada dia com o suor de seu rosto. O seu sangue inclusive não seria vermelho, mas azul. As castas envoltas nos sistemas monárquicos são naturalmente desiguais. O Rei era o monarca não por vontade dos homens, mas por vontade de Deus. Era o direito divino dos Reis e soberanos, algo que vinha desde a idade média.

Então surgiu um grupo de escritores, filósofos e sociólogos que ousaram fazer a pergunta óbvia: Por que um nobre teria mais direitos do que um homem comum do povo? A linhagem familiar o colocava em um patamar mais superior aos demais. Sangue azul? Balela, o sangue dos príncipes era tão vermelho como o de que qualquer outro plebeu do povo. Não havia razões racionais para essa desigualdade toda. E assim homens como Jean-Jacques Rousseau, Charles-Louis de Seconda (Montesquieu), John Locke, Voltaire, Denis Diderot e outros pensaram em um mundo diferente, onde não haveria tanta desigualdade social.

E assim temos os dois lados da revolução francesa. Um teórico, iluminado, muito inteligente e espirituoso. Uma nova forma de pensar nosso mundo. Do outro lado porém surgiu o lado prático, violento, fincado no ódio puro, no gosto de sangue. Sim, porque nenhum pensador iluminista pensou que membros do povo com grandes facas de cortar peixe invadiriam palácios, fazendo justiça pelas próprias mãos. Eles não pregaram que as cabeças dos nobres deveriam ser expostas em estacas. Nem que fossem mortos na guilhotina. O fato é que a revolução francesa, que havia sido inspirada pelos mais nobres valores, acabou em um banho de sangue, impulsionado pelos mais sórdidos instintos humanos. Literalmente cabeças rolaram nas escadarias palacianas onde vivia a velha nobreza europeia. 

Em minha opinião a revolução francesa se tingiu com o vermelho sangue que corria do reino das trevas de ódio. Quando leio sobre as desgraças que se abateram sobre a família real francesa, com as decapitações de Luís XVI e Maria Antonieta, além da morte indigna do jovem filho deles, abandonado à própria sorte em uma cela imunda que o matou, não posso deixar de pensar que tudo foi uma grande barbárie. O pensamento iluminista que deu origem a tudo estava correto. A forma como foi colocado em prática revela o modo bárbaro como tudo foi feito. Por isso as cores da bandeira da França até hoje me lembram do vermelho do sangue derramado, do azui dos nobres assassinados e do branco da paz que nunca valeu naqueles dias terríveis.

Pablo Aluísio.