segunda-feira, 2 de novembro de 2020
Caçador de Almas
Para alivio da produção, houve tempo suficiente para completar o filme que só ano passado chegou ao público. É um western que usa muito estilo e referências à mitologia dos faroestes clássicos para contar sua história sobrenatural, Suas boas intenções porém não conseguem superar certos problemas. O enredo surge na tela de forma muito dispersa, fragmentada, onde o espectador vai aos poucos montando a trama. Isso pode dificultar o entendimento do que de fato está acontecendo. O personagem de Snipes também se torna muito derivativo de alguns outros papéis que interpretou em sua vida. O enfrentamento contra os tais "Gallowwalkers" (mortos que retornam do inferno para um último acerto de contas) lembram demais as cenas mais violentas e exageradas de "Blade", por exemplo. No final a sensação que fica é a de que o espectador está assistindo a uma estória até simples, banal, mas que foi complicada por um roteiro que tenta parecer aquilo que não é. Para os fãs de filmes mais exóticos até que vale a recomendação. Já os fãs que gostam de um western mais realista, com narrativa linear, certamente ficarão decepcionados.
Caçador de Almas (Gallowwalkers, Estados Unidos, 2012) Direção: Andrew Goth / Roteiro: Andrew Goth, Joanne Reay / Elenco: Wesley Snipes, Kevin Howarth, Riley Smith / Sinopse: Pistoleiro errante, bom no gatilho (interpretado por Wesley Snipes) precisa enfrentar novamente um grupo de bandidos que ele executou no passado, mas que está de volta após retornar por um portal do inferno localizado no meio do deserto.
Pablo Aluísio.
domingo, 1 de novembro de 2020
O Caminho Para El Dorado
Título Original: The Road to El Dorado
Ano de Produção: 2000
País: Estados Unidos
Estúdio: DreamWorks Animation
Direção: Bibo Bergeron, Don Paul
Roteiro: Terry Rossio, Ted Elliott
Elenco: Kevin Kline, Kenneth Branagh, Rosie Perez, Armand Assante, Edward James Olmos, Jim Cummings
Sinopse:
Durante a exploração do novo mundo, no século XVI, dois vigaristas acabam descobrindo um mapa que levaria ao El Dorado, uma cidade feita de ouro na recém descoberta América. Com esse mapa em mãos eles então partem para uma grande aventura. Filme indicado a oito categorias no Annie Awards, o Oscar da animação.
Comentários:
Esse mundo da animação é dos mais concorridos dentro da indústria cinematográfica dos Estados Unidos. Claro que o estúdio de Steven Spielberg, a Dreamworks, não ficaria de fora desse nicho. Porém, com poucas exceções, a Dreamworks nunca acertou muito nesse segmento. E aqui eles cometeram um erro básico. A conquista da América pela Espanha definitivamente não é tema para animação infantil. Tampouco a procura por El Dorado. Esses foram dois eventos históricos reais e levaram a um verdadeiro genocídio das populações nativas do continente americano. Vale a pena explorar esse tipo de passado sombrio, transformando tudo em animação infantil? Penso que não! Faltou mesmo bom senso na escolha do tema. E de mais a mais o fato é que esse desenho não é também muito bom, caindo muitas vezes no marasmo. Estima-se que esse filme custou 95 milhões de dólares e rendeu pouco mais do que isso. Não foi um projeto lucrativo. Não foi por falta de aviso. O público não curtiu o enredo, a história, os personagens, ou seja, não agradou mesmo. Hoje em dia essa animação está praticamente esquecida.
Pablo Aluísio.
High Life - Uma Nova Vida
Título Original: High Life
Ano de Produção: 2018
País: Estados Unidos, Inglaterra, França
Estúdio: Alcatraz Films, Andrew Lauren Productions
Direção: Claire Denis
Roteiro: Claire Denis, Jean-Pol Fargeau
Elenco: Robert Pattinson, Juliette Binoche, Mia Goth, Agata Buzek, Lars Eidinger, Claire Tran
Sinopse:
Em um futuro distante, uma nave viaja pelos confins do sistema solar. Seu objetivo final é sondar um buraco negro super massivo que ronda nosso sistema. Dentro na nave há apenas uma pequena tripulação formada por um homem adulto e uma criança de poucos meses de vida. Como isso seria possível? O que teria acontecido dentro da nave em sua jornada pelo espaço?
Comentários:
Quando o filme começa a sensação é de estranheza. Afinal quantos filmes de ficção você já assistiu em que dentro de uma nave espacial convivem apenas um astronauta e uma bebezinha? O que aquela criança estaria fazendo em uma viagem espacial? Onde está sua mãe? São muitas perguntas... que vão sendo respondidas ao longo do filme em um longo e fragmentado flashback. O futuro desse mundo distópico realmente foge da normalidade. Missões espaciais são enviadas ao espaço com tripulações formadas por criminosos que cometeram os piores crimes. Mães que matam seus próprios filhos, latrocidas, psicopatas, etc. Essas naves são dirigidas geralmente para cumprirem missões praticamente suicidas, onde a vida desses homens e mulheres não são importantes. O filme tem um desenvolvimento lento e vai melhorando conforme as peças da história vão se encaixando no roteiro. Embora o ritmo não seja tão devagar e fragmentado como os filmes de Terrence Malick, a obra desse diretor foi uma das que me veio à mente enquanto assistia a essa ficção. É um bom filme, mas tem que ter um pouco de paciência para ir absorvendo tudo o que seu roteiro tem a dar. Assista, sem pressa, colhendo as informações sutis que vão surgindo na tela.
Pablo Aluísio.
terça-feira, 27 de outubro de 2020
The Boys
Finalmente comecei a assistir essa série "The Boys". A premissa é interessante. Imagine um mundo com muitos super-heróis. Em determinado momento é informado ao espectador que existem mais de 200 apenas dentro dos Estados Unidos. Pois bem, essa seria uma situação interessante. Agora imagine que esses super-heróis não sejam virtuosos, não sejam boas pessoas. Pelo contrário, são todos canalhas, arrogantes, egocêntricos, assediadores e... criminosos! Embaixo da imagem pública, eles seriam na verdade meros crápulas com roupas espalhafatosas. Todos os personagens de heróis que vemos aqui são versões mais bregas dos personagens da DC Comics (Não vi até agora nenhum destruindo a imagem de heróis da Marvel). A série já conta com três temporadas até o momento. Seu criador disse recentemente em entrevista que ela só durará, se tudo der certe, cinco temporadas. Nessa primeira temporada foram produzidos apenas 8 episódios. Comento abaixo os episódios, conforme for assistindo.
The Boys 1.01 - The Name of the Game
Esse primeiro episódio, como era de esperar, apresenta os principais personagens. Uma jovem com poderes especiais, que sonha em fazer parte do seleto grupo de super-heróis, acaba descobrindo que para conseguir sua vaga ali entre a elite dos heróis vai precisar se submeter sexualmente a um deles. Puro assédio sexual, da pior espécie. Uma amostra do verdadeiro caráter daquelas pessoas. Isso demonstra que essa série definitivamente não é para menores. Na outra linha narrativa um jovem comum, que trabalha numa loja de eletrodomésticos e eletrônicos, vê sua namorada praticamente "evaporar" após um super-herói ultra veloz (uma paródia do Flash) bater nela em velocidade supersônica. A empresa que controla os super-heróis oferece a ele então 45 mil dólares de indenização. E a chegada de um sujeito que se diz agente do FBI e que quer pegar os super-heróis muda sua vida de forma completa. Bom episódio, bem produzido e com roteiro redondinho. Gostei bastante. Agora é acompanhar os que virão. / The Boys 1.01 - The Name of the Game (Estados Unidos, 2019) Direção: Dan Trachtenberg / Roteiro: Eric Kripke / Elenco: Karl Urban, Jack Quaid, Elisabeth Shue, Antony Starr.
The Boys 1.02 - Cherry
O translúcido é colocado dentro de uma gaiola com eletricidade. Ele está preso, mas o que é complicado mesmo é achar uma maneira de matar o tal super-herói. Ele resiste a praticamente tudo, eletrochoques, tiros, o diabo a quatro. Então o francês pensa um pouco e acha uma maneira, mas como? Colocando um explosivo plástico em seu ânus! Não é fácil, mas tem jeito. Enquanto os caras vão arranjando um jeito de matar o translúcido, o Capitão Pátria (uma óbvia sátira ao Superman) tenta contornar seu próprio mau caratismo. Ele chegou ao ponto de derrubar um avião comercial só para matar o prefeito. Em conclusão, é um psicopata mesmo, disfarçado de super-herói. E a Starlight? Tem sua primeiro missão como heroína no cais do porto. O complicado é ir ao lado do Profundo, que não passa de um mau caráter e assediador sexual da pior espécie. / The Boys 1.02 - Cherry (Estados Unidos, 2019) Direção: Matt Shakman / Roteiro: Eric Kripke/ Elenco: Karl Urban, Jack Quaid, Antony Starr.
The Boys 1.03 - Get Some
O Translúcido foi pelos ares, em pedacinhos, isso literalmente falando. Seus restos são colocados em uma caixa de zinco e jogado na baía. O Capitão Pátria não conseguiria ver através desse metal (alguém ai lembrou do chumbo e do Superman?). Pois é, isso mesmo. Enquanto isso o Trem Bala é desafiado para uma corrida. Seria ele ainda o homem mais rápido do mundo? Seu desafiante se chama Onda de Choque. E com medo de perder o Trem bala usa uma droga chamada V, arranjada pela sua namorada Lâmina. Coisa da pesada e ilegal. E os marqueteiros continuam a mandar e desmandar nos super-heróis, interferindo até mesmo em seus trajes. Quanto mais sensuais, melhor. Por fim o trio que matou o Translúcido ganha um novo membro, um cara que atende pelo apelido de "Leitinho da Mamãe". Vê se pode uma coisa dessas... / The Boys 1.03 - Get Some (Estados Unidos, 2019) Direção: Philip Sgriccia / Roteiro: George Mastras, Eric Kripke / Elenco: Karl Urban, Jack Quaid, Antony Starr.
The Boys 1.04 - The Female of the Species
Um avião é sequestrado por terroristas. Queen Maeve e o Capitão Pátria são enviados e aqu vemos como esse sujeito é totalmente despido de qualquer cárater. Quando ele percebe que o avião vai cair, com quase 200 pessoas a bordo, tudo o que ele faz é dar de costas, deixando aqueles passageiros à própria sorte. Sequer admite salvar algumas delas, pois se fizer isso vai "manchar sua imagem", pois quem sobreviveu seguramente iria contar para os outros o que havia acontecido. Um horror! A loirinha estrela? Sai com um carinha para o boliche, sem sequer desconfiar que ele quer mesmo é grampear seu celular. Por fim a cena do golfinho é de um humor negro tão grande que você fica sem saber se ri ou chora! Totalmente nonsense. / The Boys 1.04 - The Female of the Species (Estados Unidos, 2019) Direção: Frederick E.O. Toye / Roteiro: Craig Rosenberg, Eric Kripke / Elenco: Karl Urban, Jack Quaid, Antony Starr.
The Boys 1.05 - Good for the Soul
Esses super-heróis são grandes exemplos de hipocrisia. O Capitão Pátria, depois de ter virado as costas para as pessoas que morreram naquela desastre de avião, participa de uma cerimônia em homenagem a todas elas. E chora, e faz discurso e arrota mentiras. O sujeito é completamente asqueroso (e gosta de mamar como um bebezinho indefeso, olha o tamanho da imbecilidade). Já a "virgem profissional" Luz Estrela mente em uma convenção de evangélicos. Enquanto o pastor principal (bem conhecido por ser um gay nos bastidores) fala palavras de ordem, ela confessa para o público que ainda é virgem (mentira deslavada, meus irmãos). Enfim, mais um bom episódio dessa série que veio para acabar com o universo dos heróis de quadrinhos. / The Boys 1.05 - Good for the Soul (Estados Unidos, 2019) Direção: Stefan Schwartz / Roteiro: Anne Cofell Saunders, Eric Kripke / Elenco: Karl Urban, Jack Quaid, Antony Starr.
The Boys 1.06 - The Innocents
Esse episódio traz respostas para perguntas importantes dentro da série. A primeira delas é a resposta para a seguinte pergunta: Por que Billy Butcher odeia tanto os super-heróis? A resposta? No passado o Capitão Pátria seduziu, estuprou e matou sua esposa. Isso mesmo, enquanto posa de herói da virtude, o tal sujeito não passa mesmo de um criminoso. Outra questão: De onde vem os poderes dos super-heróis de The Boys? Ora, vem do componente V que foi aplicado neles quando ainda eram bebezinhos. Como se pode perceber o mundo dos heróis de The Boys é pura falsidade, escrotidão e hipocrisia. Algo demolidor na imagem de qualquer galeria de super-heróis. / The Boys 1.06 - The Innocents (Estados Unidos, 2019) Direção: Jennifer Phang / Roteiro: Eric Kripke / Elenco: Karl Urban, Erin Moriarty,
The Boys 1.07 - Butcher, Baker, Candlestick Maker
Nessa altura da série já sabemos que o Capitão Pátria é um tremendo de um canalha. Não tem nada de heroísmo em sua personalidade. E ficamos também sabendo mais detalhes de sua vida no passado. Na verdade ele não foi criado por uma família, como ele mesmo diz em falsos documentários exibidos na TV. Ele foi criado mesmo como sendo um "rato de laboratório". Nesse episódio ele volta para visitar o homem que coordenava o experimento que cuidava dele desde que nasceu. E o pior de tudo, o sujeito revela que ele teve um filho, que essa criança rasgou a barriga da própria mãe para nascer e que morreu logo depois. E todos pensavam que o Capitão Pátria não podia se reproduzir. Pior do que tudo, a mulher que havia ficado grávida dele era justamente a esposa do Butcher - algo simplesmente horrível, em todos os aspectos! / The Boys 1.07 - Butcher, Baker, Candlestick Maker (Estados Unidos, 2020) Direção: Stefan Schwartz / Roteiro: Craig Rosenberg, Eric Kripke / Elenco: Karl Urban, Jack Quaid, Antony Starr.
The Boys 1.08 - You Found Me
Como termina a série "The Boys"? Ou pelo menos como termina a primeira temporada? Com muitas surpresas. Billy Butcher fica pasmo ao descobrir que sua mulher está viva! Como bem sabemos ele tem essa sede de vingança contra os super-heróis porque acredita que o Capitão Pátria estuprou e matou sua esposa. Só que nada foi dessa maneira. Ela está viva e é mãe de um garoto, de uns 12 anos de idade. O pai desse garoto? Ele mesmo, o Capitão Pátria! E para quem ainda acredita em uma só pequena dose de bondade desse super-herói o episódio traz a chocante morte de Madelyn Stillwell (Elisabeth Shue). Ela é assassinada com requintes de crueldade por ele mesmo, sim... o Capitão Pátria! Logo ele, que parecia ter um relacionamento amoroso com ela. Nada de especial. Quando ele descobre algumas coisas de seu passado nem pensa duas vezes, a mata com seus olhos de raios lasers. Terrível. Por fim, como gancho para a segunda temporada temos duas coisas importantes. 1) A Luz Estrela decide ajudar os amigos de seu namorado. 2) Há um super vilão terrorista à solta no Oriente Médio. As coisas pelo visto só vão piorar! / The Boys 1.08 - You Found Me (Estados Unidos, 2019) Direção: Eric Kripke / Roteiro: Anne Cofell / Elenco: Karl Urban, Antony Starr, Elisabeth Shue.
Pablo Aluísio.
segunda-feira, 26 de outubro de 2020
Radiomania
"Radiomania" é muito divertido. Uma comédia hilariante que se encaixa perfeitamente no tipo de personagem que era ideal na pele de James Stewart. O sujeito comum, simples, que de repente se vê tendo que lidar com coisas que nunca fizeram parte de sua rotina, como um decorador esnobe (que joga fora toda a sua mobília) e até uma bela artista que vem pintar seu retrato como parte do prêmio ganho. A questão é que a grande maioria dos prêmios não tem a menor serventia na vida de Bill e sua família. Tudo acaba virando uma grande metáfora sobre a inutilidade de um sonho consumista sem sentido.
O roteiro, além de ser muito divertido, é muito bem escrito pois não deixa a bola cair em nenhum momento. Como o filme é relativamente curto (algo em torno de 80 minutos) o espectador nem percebe o tempo passando pois o personagem de Stewart se envolve numa série de confusões, uma mais engraçada do que a outra. Para os fãs da atriz Natalie Wood o filme ainda traz um atrativo extra, pois ela está no elenco, interpretando a jovem filha de Stewart. Incrível, mas ela deveria ter uns 12 anos quando fez o filme. Enfim, mais um belo momento da carreira do sempre ótimo James Stewart. Uma comédia leve, simpática, que deixará você com um inevitável sorriso no rosto após terminar de assistir.
Radiomania (The Jackpot, Estados Unidos, 1950) Direção: Walter Lang / Roteiro: John McNulty, Phoebe Ephron / Elenco: James Stewart, Barbara Hale, James Gleason, Natalie Wood / Sinopse: Bill (Stewart) é um sujeito comum que de repente vê sua vida virada de ponta cabeça após ganhar um prêmio em um programa de rádio!
Pablo Aluísio.
domingo, 25 de outubro de 2020
A Bela da Tarde
De minha parte gosto bastante desse "A Bela da Tarde", muito por causa da atuação de Deneuve, que considero um caso até bem raro de união entre beleza e talento. A produção também mostra como estava à frente de seu tempo. Enquanto no cinema americano havia ainda aquela proposta mais moralizante, "Belle du Jour" ousava expor a sexualidade de uma mulher que insatisfeita com sua vida pessoal resolve procurar por outros caminhos, por mais inusitados e fora do comum que fossem. O destaque aqui certamente vai para Catherine Deneuve que acabou virando uma diva existencialista da geração de 68. Bonita, educada, fina e elegante, ela acabou capturando o imaginário masculino ao se despir de culpas e arrependimentos para sair em busca do que desejava.
Curiosamente por essa época os americanos começaram a prestar grande atenção nas estrelas de cinema da velha Europa, muito provavelmente deslumbrados por sua liberdade e sexualidade sem aquele peso e rancor tão presente na sociedade americana que afinal foi fundada por imigrantes puritanos. Assim Deneuve e Bardot viraram símbolos sexuais exóticos na terra do Tio Sam. Revisto hoje em dia "Belle du Jour" obviamente não causa mais o mesmo impacto pois os tempos são outros, mas mesmo assim é impossível não reconhecer sua grande importância dentro daquele momento cultural, onde a revolução sexual dominava todos os aspectos da sociedade mundial.
A Bela da Tarde (Belle du Jour, França, Itália, 1967) Direção: Luis Buñuel / Roteiro: Jean-Claude Carrière baseado em romance de Joseph Kessel / Elenco: Catherine Deneuve, Jean Sorel, Michel Piccoli, Geneviève Page, Pierre Clémenti / Sinopse: Belle du Jour mostra a nada comum rotina de Séverine, uma jovem rica e bem nascida que sente-se infeliz e frustrada em sua vida sexual. Para realizar todos os seus mais escondidos desejos ela resolve frequentar um bordel parisiense, onde acaba encontrando a paixão e o prazer sexual que inexiste em sua relação com o marido, frio e distante. Filme premiado no Festival de Veneza de 1967.
Pablo Aluísio.
Uma Aventura na África
Além de ser ótimo com cinema, o filme também ficou famoso pelos bastidores de filmagens. O diretor John Huston ficou obcecado com uma caçada bem no meio da produção. Isso atrasou o cronograma de filmagens, causando atrasos e prejuízos para o estúdio. Enquanto John Huston seguia sua caça, o resto do elenco e da equipe técnica ficaram no meio do nada, em regiões distantes da África, esperando pelo retorno do diretor. Esses fatos dariam origem a um outro filme bem famoso, décadas depois, com Clint Eastwood, chamado "Coração de Caçador". A história dessas conturbadas filmagens foram registradas na época pelo roteirista do filme, dando origem a um ótimo livro sobre os bastidores do cinema americano.
Essa aventura acabou se tornando o último filme em que trabalharam juntos Humphrey Bogart e Katharine Hepburn. Eles eram parte do primeiro escalão de astros e estrelas em Hollywood. Seus filmes na época eram sucessos tanto de público como de crítica. Eram da realeza da indústria do cinema. Mesmo com todos os problemas que tiveram de enfrentar na África, acabaram se tornando bons amigos. As filmagens nem sempre trouxeram o conforto esperado por eles, sendo que muitas vezes ficaram ao capricho de John Huston, cada vez mais obsessivo com suas caçadas. Mesmo assim, com todas as dificuldades, toda essa experiência acabaria deixando boas histórias para se contar. O próprio Bogart adorava relembrar tudo o que havia passado nas filmagens desse clássico. O mais estranho de tudo é que depois de um tempo na África, John Huston decidiu que todo mundo iria voltar para Hollywood, para finalizar o filme. Essa segunda parte, filmada dentro de estúdio, com os atores atuando na frente de uma tela exibindo as imagens da África selvagem, destoam da outra parte da produção; Isso criou um certo problema visual ao filme como um todo. Nem sempre a técnica se revela convincente, fazendo com que o espectador perceba o truque.
De uma forma ou outra o público atual deve tentar ignorar tal aspecto negativo ou erro técnico, pois o que vale mesmo é a ótima parceria entre Bogart e Hepburn que dão um banho de carisma na tela. Aliás para grande surpresa do próprio Bogart, ele foi premiado com o Oscar por sua atuação! Dizem que o Oscar lhe foi dado como um reconhecimento de sua obra e não pelo que faz em cena. Faz certo sentido, pois todos em Hollywood já sabiam naquele momento que ele estava com um câncer terminal. Com isso a premiação também ganhou contornos de homenagem e agradecimento por tudo que ele fez ao longo de décadas de carreira.
Uma Aventura na África (The African Queen, Estados Unidos, 1951) Direção: John Huston / Roteiro: James Agee e John Huston, a partir do romance "African Queen" de C.S. Forester / Elenco: Humphrey Bogart, Katharine Hepburn, Robert Morley, Peter Bull, Theodore Bikel / Sinopse: Charlie Allnutt (Bogart) é um capitão veterano e aventureiro, que aceita participar de uma viagem perigosa e cheia de desafios pelos rios da África Oriental. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Ator (Humphrey Bogart). Também indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Direção (John Huston), Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Atriz (Katharine Hepburn).
Pablo Aluísio
sábado, 24 de outubro de 2020
A Cruz de Ferro
A história desse filme se passa então no ano de 1943. O sargento alemão Rolf Steiner (James Coburn) é promovido e condecorado por seus oficiais em razão de seus atos de bravura. A campanha militar de seu pelotão porém acaba sofrendo um sério abalo com a chegada de um graduado oficial prussiano, o capitão Stransky (Maximilian Schell). Arrogante e inexperiente, ele decide que todos os homens sob seu comando devem obedecer suas ordens sem qualquer contestação. O oficial exige obediência cega, mesmo que suas ordens muitas vezes se revelem equivocadas, colocando os homens sob seu comando em perigo real. É o velho problema de se estar em uma situação de vida e morte, sendo comandado por alguem sem a devida competência para isso.
Talvez o público mais jovem irá estranhar certas partes do filme, pois ele é fragmentado em sua linha narrativa. Foi uma opção pessoal do diretor, uma forma de mostrar em cena o caos em que aqueles militares viviam naquele momento crucial da guerra. Outra opção muito interessante desse roteiro foi enfocar a visão, o lado dos soldados da Alemanha. "A Cruz de Ferro" foi um dos primeiros filmes do cinema ocidental a mostrar o lado dos alemães, retratando os personagens em seu lado mais humano. Nos antigos filmes sobre a II Guerra Mundial eles eram retratados como vilões absolutos, sem alma e com o único objetivo de promover genocídios e massacres. Na década de 1970, quando o filme foi produzido, já havia uma distância maior dos acontecimentos históricos, o que possibilitava ao cinema finalmente mostrar o outro lado do conflito.
Em um filme tão interessante é importante destacar a presença e a atuação do ator Maximiliam Schell. Ele interpreta esse oficial da velha escola Prussiana, considerada a elite do exército alemão na época. Vaidoso e incoerente, muitas vezes tomando as decisões erradas, ele acaba colocando sua tropa em perigo. Muitos não sabem, mas a verdade é que vários generais alemães simplesmente odiavam Hitler e o nazismo. Alguns inclusive estavam convencidos de que ele era completamente maníaco e louco. Não é à toa que o Führer tenha sido alvo de vários atentados contra sua vida. Estrategicamente a guerra estava perdida e a única chance de sair daquele lamaçal era liquidando o líder nazista. Agora considere lutar uma guerra defendendo uma ideologia em que não se acreditava. O filme tenta capturar em parte esse sentimento e se sai muito bem. Mostra o caos da frente russa e o desmantelamento do exército alemão. É um belo exemplar do cinema cru e realista do cineasta e mestre Sam Peckinpah.
A Cruz de Ferro (Cross of Iron, Alemanha, Inglaterra, 1977) Direção: Sam Peckinpah / Roteiro: Julius J. Epstein, James Hamilton, Walter Kelley / Elenco: James Coburn, Maximilian Schell, James Mason, David Warner / Sinopse: Em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, em pleno front russo, um sargento alemão e um oficial da velha escola de guerra prussiana entram em choque sobre os rumos que o pelotão em que servem deve seguir. Filme premiado no festival alemão de cinema Golden Screen.
Pablo Aluísio.
Meu Ofício é Matar
"Meu Ofício é Matar" surpreende por vários aspectos. Muitos anos antes do assassinato do presidente JFK, o roteiro antecipa várias coisas que aconteceriam com Kennedy. O atirador que almeja matar o presidente, interpretado muito bem por Frank Sinatra, era, assim como Lee Oswald, o assassino de JFK, um veterano das forças armadas. O uso de uma janela, acima de qualquer suspeita, para a colocação de um rifle de alta precisão também é similar ao que aconteceria na vida real anos depois. O grande diferencial porém é que Oswald conseguiu uma certa tranquilidade em seu local de tiro (um armazém de livros em Dallas) enquanto o personagem de Sinatra teve que lidar com várias pessoas dentro da casa de Ellen, tendo que se preocupar não apenas em atirar de forma certeira no presidente, mas também administrar seus reféns.
Frank Sinatra está muito bem como o atirador, o assassino profissional contratado para o serviço de sua vida. Afinal matar um presidente dos Estados Unidos não era algo fácil de fazer. Com ares de delírio o personagem de Sinatra se mostra um psicopata perigoso e cruel. O curioso é que o roteiro glorifica os esforços das pessoas que estão feitas reféns dentro da casa para evitar a morte do presidente. O desfecho assim é dos mais interessantes. Gostei muito desse filme. Diria até que foi um dos melhores filmes que assisti com Frank Sinatra. Assim deixo a recomendação desse surpreendente "Meu Ofício é Matar", um filme que antecipou em quase dez anos o que aconteceria na morte de um dos mais populares e marcantes presidentes da história americana.
Meu Ofício é Matar (Suddenly, Estados Unidos, 1954) Direção: Lewis Allen / Roteiro: Richard Sale / Elenco: Frank Sinatra, Sterling Hayden, James Gleason, Nancy Gates / Sinopse: Durante a visita do presidente dos Estados Unidos a uma pequena cidadezinha, um grupo de assassinos profissionais toma de refém uma família para da janela de sua casa mirar e acertar o líder americano assim que ele descer de seu trem.
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 23 de outubro de 2020
Quando Só o Coração Vê
Esse filme foi um marco dentro do cinema americano. Em plena década de 1960 ele ousou colocar na tela o romance entre uma jovem branca e um homem negro. O roteiro explora maravilhosamente bem esse enredo, mostrando como esse tipo de situação era extremamente chocante para os padrões morais da sociedade americana da época! O racismo era parte da mentalidade de muitos americanos brancos (aliás ainda faz parte, é bom frisar). O interessante é que se formos analisar bem, a personagem da Selina é deficiente visual justamente para ser usada como instrumento narrativo da história. Ela avalia Gordon apenas por sua personalidade, deixando de lado toda e qualquer visão preconceituosa sobre ele! Sem saber como ele aparenta, ela se apaixona apenas pelo que ele realmente é, pois sua forma de ver o mundo se baseia em outros critérios. O que importa para Selina são as qualidades internas dele como ser humano. Essa proposta torna o texto um primor de roteiro.
Aliás o filme é todo muito bem desenvolvido, com excelentes atuações tanto da parte de Sidney Poitier, como também de Shelley Winters e Elizabeth Hartman. Em torno de uma história relativamente simples, o filme consegue discutir temas complexos, como por exemplo a questão do relacionamento entre pessoas de etnias diferentes e a maneira como a sociedade encara algo assim. Outro ponto inovador foi colocar uma protagonista com necessidades especiais. Não me lembro de nenhum outro filme anteior a esse que tivesse uma deficiente visual como personagem principal. Esse é outro ponto muito louvável desse rico argumento cinematográfico.
O preconceito racial, o racismo, também é ponto de destaque dentro do roteiro do filme. O personagem Gordon é um bom rapaz, tem emprego fixo, é inteligente e articulado, mas tudo isso parece ruir apenas pelo fato dele ser negro. Selina inicialmente não sabe como ele de fato é, nem entende completamente porque não poderia se relacionar com uma pessoa de outra cor, mas aos poucos começa a compreender o preconceito racial em sua forma mais danosa e prejudicial, e isso vindo justamente de sua própria mãe. Em conclusão, temos aqui um belo filme, que traz uma mensagem muito positiva sobre o problema racial e seus desdobramentos. Um filme essencial para quem estiver em busca de um entendimento maior da questão negra dentro dos Estados Unidos durante a década de 1960, no auge da luta pelos direitos civis.
Quando Só o Coração Vê ( A Patch of Blue, Estados Unidos, 1965) Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer / Direção: Guy Green / Roteiro: Guy Green, baseado na obra de Elizabeth Kata / Elenco: Elizabeth Hartman, Sidney Poitier, Shelley Winters, Wallace Ford / Sinopse: jovem branca, com deficiência visual, se apaixona por homem negro e precisa lidar com todo o preconceito racial vindo de sua mãe, que não admite de jeito nenhum o seu relacionamento. Filme vencedor do Oscar na categoria de melhor atriz coadjuvante (Shelley Winters). Também indicado nas categorias de melhor atriz (Elizabeth Hartman), melhor direção de fotografia (Robert Burks), melhor direção de arte (George W. Davis) e melhor música (Jerry Goldsmith). Filme vencedor do Globo de Ouro na categoria de melhor revelação feminina (Elizabeth Hartman).
Pablo Aluísio.