sábado, 21 de fevereiro de 2015
Sniper Americano
Título Original: American Sniper
Ano de Produção: 2014
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros, Village Roadshow Pictures
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Jason Hall, baseado no livro de Chris Kyle
Elenco: Bradley Cooper, Sienna Miller, Kyle Gallner
Sinopse:
Chris Kyle (Bradley Cooper) é um jovem texano que decide se alistar no grupo de elite das forças armadas denominado SEAL após ficar chocado com um atentado terrorista a uma embaixada americana no exterior. Exímio atirador, acaba sendo escalado para fazer parte do grupo de atiradores de elite de seu pelotão. Em pouco tempo se torna um sniper, um soldado especializado em dar tiros de precisão a longa distância. Com seu talento acaba matando mais de cem inimigos no front, lhe valendo o apelido de "A Lenda" entre seus companheiros de luta. Filme baseado em fatos reais. Indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator (Bradley Cooper), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição e Melhor Mixagem de Som. Vencedor do Oscar na categoria de Melhor Edição de Som. Também indicado ao BAFTA Awards nas categorias de Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Som.
Comentários:
Quem diria que nessa altura de sua vida o ator e diretor Clint Eastwood alcançaria a maior bilheteria de sua carreira! Imagine o número de filmes que ele realizou e dirigiu ao longo de todos esses anos e certamente você ficará surpreso ao saber que "Sniper Americano" acabou se tornando o maior êxito comercial de toda a sua filmografia. Clint parece ter melhorado ainda mais com a idade, tanto que apesar de ser um octogenário não se intimida com a velhice e nem pensa em se aposentar. Está firme e forte, já envolvido em inúmeros outros projetos. Ainda bem. O resulta só confirma que Clint está mesmo em plena forma criativa. Eastwood mostra mais uma vez que é de fato um exemplo de talento e vitalidade. Praticamente gostei de tudo em "American Sniper". O filme conseguiu mesclar dois aspectos que nem sempre conseguem conviver bem em fitas de ação mais convencionais. É bem sucedido ao explorar e mostrar o lado mais humano de Chris Kyle (Bradley Cooper), seus problemas adquiridos no campo de batalha, seus traumas e problemas no casamento sem perder o foco nas principais cenas de combate no campo de batalha. Assim Clint consegue como diretor se sair igualmente bem tanto nos dramas pessoais de seu personagem principal como nos momentos em que o mostra como um soldado que tem que realizar seu trabalho, mesmo que seja com o custo de muitas mortes de seus inimigos. O próprio Chris aliás se revela um militar muito interessante de se explorar em um filme como esse. Criado em uma típica família americana ele aprendeu a atirar desde cedo e depois com a explosão da guerra ao terrorismo internacional resolveu se alistar como voluntário em um grupo de elite da marinha americana. Era de certa forma um jovem patriota com uma certa dose de inocência sobre o que realmente se passava ao redor do mundo.
O resto é história. Ele acabou se tornando o mais mortífero atirador de elite da história das forças armadas americanas, tendo oficialmente abatido mais de 150 inimigos no front da guerra do Golfo (embora ele próprio contestasse essa informação alegando ter matado mais de 250 pessoas durante as quatro longas missões de que participou no Iraque). Claro que algo assim também traria uma carga emocional complicada de se lidar. Embora estivesse cumprindo seu estrito dever o fato é que em determinado momento de sua vida o peso de tantas mortes acabou pesando em seus ombros. Clint então procura mostrar os traumas psicológicos que acabou desenvolvendo em seu íntimo, embora externamente ainda cultivasse sua imagem de texano durão, bom de tiro e patriota. Eastwood inclusive foi criticado por certos setores da sociedade americana por ter, de certo modo, glamorizado a vida desse atirador, que publicamente dizia não ter se arrependido por nada do que fizera. Bobagem, considerei sua postura como cineasta nessa obra totalmente irrepreensível, do começo ao fim. Clint não endeusa ou idolatra seu personagem, não o ufaniza, apenas conta sua história da forma mais honesta possível, inclusive não esquecendo em nenhum momento de mostrar que ele era acima de tudo um ser humano que também sofria internamente pelas decisões que teve que tomar em batalha. Um belo filme, muito humano, que mostra que até mesmo nas mais mortíferas máquinas do complexo militar americano existe um resquício de humanidade, muitas vezes corroída por sua própria consciência e culpa por tudo o que precisou fazer em nome de sua querida pátria amada.
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015
Piranhas 2 - Assassinas Voadoras
Título Original: Piranha Part Two - The Spawning
Ano de Produção: 1981
País: Estados Unidos
Estúdio: Brouwersgracht Pictures
Direção: James Cameron
Roteiro: Charles H. Eglee, James Cameron
Elenco: Lance Henriksen, Tricia O'Neil, Steve Marachuk, Ricky Paull Goldin, Leslie Graves, Carole Davis
Sinopse:
Uma instrutora de mergulho, seu namorado bioquímico e seu ex-marido chefe da polícia tentam relacionar uma série de mortes bizarras a uma linhagem mutante de piranha cujo covil é um navio cargueiro afundado em um resort em uma ilha do Caribe.
Comentários:
Era para ser uma sequência caça-níqueis, mas conseguiu ser algo a mais, apesar de suas limitações. James Cameron certamente pode ser a resposta. Ele já vinha com uma vontade fora de comum para vencer em Hollywood, então fosse o que fosse pintar, mesmo sendo um filminho B como esse, ele iria tentar fazer algo melhor do que o planejado. E fez. O filme, apesar de seu roteiro meio sem pé e nem cabeça, acabou virando um pipocão divertido. Claro que ver as piranhas voando no pescoço dos personagens era um pouco demais, entretanto também fazia parte do pacote. O resultado foi que esse segundo filme da franquia "Piranha" fez sucesso e despertou a atenção dos produtores para aquele diretor novato, cheio de energia e boas ideias na cabeça.
Pablo Aluísio.
Magnum 44
Título Original: Magnum Force
Ano de Produção: 1973
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Ted Post
Roteiro: Harry Julian Fink, Rita M. Fink
Elenco: Clint Eastwood, Hal Holbrook, Mitch Ryan
Sinopse:
Considerado pela imprensa um justiceiro fora-da-lei o policial Harry Callahan (Eastwood), mais conhecido como "Dirty Harry" (Harry, o sujo), precisa se conter em sua sede de vingança contra os criminosos em geral. Para sua surpresa tudo indica que um novo justiceiro está nas ruas, fazendo justiça com as próprias mãos. Caberá agora a Harry descobrir o que está acontecendo, inclusive com pistas que levam a outros policiais.
Comentários:
Estou fazendo uma retrospectiva dos filmes de Clint Eastwood. Nesse fim de semana revi Magnum 44, segundo filme da série com o personagem Dirty Harry, o policial durão que não leva desaforos para casa A trama do filme é até simples: um grupo de policiais novatos na força se une para limpar as ruas de San Francisco com suas próprias mãos. Dirty Harry então tenta combater a corrupção policial. Algumas coisas me chamaram a atenção. Se no primeiro filme Harry, o Sujo, era o justiceiro, aqui na sequência ele luta contra o esquadrão da morte formado dentro de sua corporação. Não deixa de ser muito irônica a premissa do roteiro que coloca Harry combatendo colegas de farda que no fundo estão agindo de acordo com o seu próprio modo de pensar. Talvez os produtores tenham sentido as críticas contra o primeiro filme e colocaram o personagem de Clint Eastwood no outro lado da balança nessa continuação. Aqui ele combate justamente o que ele próprio defendia indiretamente em "Perseguidor Implacável".
Outro fato curioso: os vilões do filme são patrulheiros, usam capacete e roupas praticamente idênticas às usadas pelo vilão ciborgue de "Exterminador do Futuro 2", inclusive várias cenas de perseguição nas ruas de San Francisco me lembraram imediatamente do filme de James Cameron. Teria sido Plágio de Cameron? Pode ser, mais um na longa lista de situações mal contadas da filmografia de James Cameron, que já havia sido acusado de se apropriar de ideias alheias em seu filme de maior sucesso, "Avatar". Mas não é só ele que andou roubando cenas do roteiro desse filme. Uma cena, de Dirty Harry em um pequeno mercadinho, me lembrou também muito de uma das sequências mais famosas de "Stallone Cobra". O filme de Stallone também foi acusado de ser um plágio de Dirty Harry! Pois é, no mundo do cinema parece que nada se cria, tudo se recicla. Todos esses exemplos mostram como Dirty Harry virou paradigma dos filmes policiais até os dias atuais. Eu atribuo isso ao fato do personagem ser na realidade um justiceiro, como àqueles que vemos nos filmes de western, o que acaba saciando, mesmo que no mundo da ficção, a sede de justiça da sociedade moderna.
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015
Em Busca da Terra do Nunca
Em Busca da Terra do Nunca (Finding Neverland, Estados Unidos, 2003) Direção: Marc Forster / Roteiro: Allan Knee, David Magee / Elenco: Johnny Depp, Kate Winslet, Radha Mitchell, Julie Christie, Dustin Hoffman / Sinopse: Dramaturgo em crise após o fracasso de sua última peça de teatro resolve escrever algo completamente diferente. Seu novo texto era a estória infantil de um grupo de crianças que se recusam a crescer. O nome da peça? Peter Pan.
Pablo Aluísio.
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015
Procura-se Amy
Título Original: Chasing Amy
Ano de Produção: 1997
País: Estados Unidos
Estúdio: Miramax
Direção: Kevin Smith
Roteiro: Kevin Smith
Elenco: Ben Affleck, Joey Lauren Adams, Ethan Suplee
Sinopse:
Holden McNeil (Ben Affleck) e seu amigo Banky Edwards (Jason Lee) tentam ganhar a vida escrevendo histórias em quadrinhos. Eles moram em New Jersey e são amigos desde a infância. Ambos na verdade se consideram até mesmo irmãos, mas esse sentimento de camaradagem acaba ficando abalado quando surge na vida deles a bela jovem Alyssa Jones (Joey Lauren Adams). Holden fica completamente apaixonado por ela e imediatamente começa a ter ciúmes da aproximação de Banky com a garota. O que ele não sabe é que ela tem um segredo que poucos conhecem. Filme indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz - Comédia ou Musical (Joey Lauren Adams). Também indicado ao Boston Society of Film Critics Awards na categoria de Melhor Roteiro.
Comentários:
Kevin Smith realizou dois bons filmes tentando retratar a realidade de sua juventude. Um deles, provavelmente o melhor, foi "O Balconista", explorando o niilismo da vida dos jovens americanos da época. Depois sofisticou melhor seu roteiro e escreveu essa bela história de amor platônico, "Procura-se Amy". Em seu lançamento o filme causou uma boa repercussão entre os cinéfilos mais jovens e cults, que procuravam por algo com que se identificar. Não havia como negar que os jovens dos anos 1990 não tinham ainda sido bem retratados na telas até aquele momento. A personagem central, fruto do desejo de todos os marmanjões do roteiro, é na verdade lésbica e por essa razão está pouco interessada no assédio dos caras da região em que vive. Essa forma cool de ser, deixa os seus pretendentes ainda mais loucos por ela. O interessante é que apesar de ser gay ela não apresenta os clichês mais ofensivos que se poderia pensar. Ela é linda, sofisticada, educada, delicada e muito feminina. Isso de certa maneira quebrou muito dos estereótipos que algumas lésbicas tinham sofrido no passado em filmes, principalmente naqueles que as retratavam como pessoas grosseiras e masculinizadas. No mais é aquela coisa, o fruto proibido é sempre mais saboroso, não importa de que gênero ele pertença.
Pablo Aluísio.
Minhas Adoráveis Ex-Namoradas
Sinceramente, que bobagem é esse filme! O argumento tenta vender a idéia equivocada de que apenas o casamento traz felicidade, fato que os números cada vez maiores de divórcios na sociedade, a cada ano, provam ser justamente o contrário. Usar da famosa obra de Charles Dickens como forma de tentar defender esse tipo de ponto de vista é outro equívoco do roteiro. Além disso a total reviravolta no modo de pensar do personagem de Matthew McConaughey, que de solteirão mulherengo passa a ser um cordeirinho apaixonado louco para se casar, soa não apenas inverossímil como completamente sem noção. O próprio Matthew McConaughey parece até mesmo brincar com a falta de nexo do roteiro pois mesmo quando surge o “novo eu” de seu personagem ele segue com o mesmo estilo de interpretação, agora com um sorrisinho cínico nos lábios. Era como se quisesse passar ao espectador a idéia de que ele continuava o mesmo, apesar das besteiras do roteiro do filme. Por fim temos Michael Douglas em um papel ingrato. Eu sou particularmente fã do ator e não gostei nem um pouco em vê-lo nesse personagem, a de um playboy arrependido das escolhas que fez em sua vida. O próprio Douglas parece não acreditar muito no que prega em cena, dando inclusive em cima de uma das “fantasmas”. Para quem conhece a história pessoal de vida do ator o argumento só poderá soar mesmo como uma grande piada. Enfim, esqueça, há comédias românticas bem melhores por aí – e bem mais inteligentes. “Minhas Adoráveis Ex-Namoradas” com seu argumento cafona é completamente dispensável.
Minhas Adoráveis Ex-Namoradas (The Ghosts of Girlfriends Past, Estados Unidos, 2009) Direção: Mark Waters / Roteiro: Jon Lucas, Scott Moore / Elenco: Matthew Mcconaughey, Michael Douglas, Jennifer Garner, Lacey Chabert, Emma Stone / Sinopse: Solteirão mulherengo recebe a “visita” de seu tio falecido que tentará lhe convencer de mudar de vida, arranjando uma esposa para se casar.
Pablo Aluísio.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2015
Ratatouille
A Disney como se sabe tem um padrão de qualidade em seus produtos, tirando qualquer tipo de conteúdo mais ousado ou ofensivo. Assim após adquirir a Pixar os animadores do pequeno estúdio tiveram que se adaptar na nova realidade. “Ratatouille” mostra bem isso. A própria imagem dos personagens segue muito mais o padrão Disney do que o que estávamos acostumados a ver na Pixar. E nem precisa lembrar que o protagonista é um ratinho (alô? Mickey?). Assim temos uma animação boa, não restam dúvidas, mas também muito caretinha, certinha e sem os vôos ousados que estávamos acostumados em ver em algumas animações do tempo em que a Pixar era completamente independente em seu setor de criação. O enredo também é do tipo fofinho – bem ao estilo Disney de ser. Na estória acompanhamos o ratinho Remy que tem o sonho de se tornar um grande chef de cozinha na mais sofisticada de todas as cidades do mundo em termos de gastronomia, Paris. O problema é que ele é um rato e provavelmente por isso jamais realizará seu sonho. Para colocar em prática seus dotes culinários ele precisará de um ser humano e esse lhe aparece finalmente pela frente, o desastrado Linguini. Aspirante a se tornar um grande mestre com as panelas ele não tem o talento do ratinho Remy. Assim ambos resolvem se unir – ajudando um ao outro eles começam a subir na carreira mas não sem antes despertar a inveja e a cobiça de um rival. Como se vê é um enredo tradicional, sem maiores surpresas. Para finalizar cabem aqui duas observações finais. Primeiro, “Ratatouille” é mais indicado para crianças bem pequenas – com menos de dez anos de idade. Segundo, o roteiro é completamente limpo e inofensivo e por essa razão os pais podem deixar seus filhos assistirem ao longa sem nenhum tipo de preocupação com seu conteúdo.
Ratatouille (Ratatouille, Estados Unidos, 2007) Direção: Brad Bird / Roteiro: Brad Bird, Jim Capobianco, Emily Cook, Kathy Greenberg, Jan Pinkava, Bob Peterson / Elenco (vozes): Patton Oswalt, Ian Holm, Lou Romano, Brian Dennehy, Peter Sohn, Peter O'Toole, Brad Garrett, Janeane Garofalo / Sinopse: Ratinho que sonha ser um grande chef de cozinha se une a um desastrado aspirante a cozinheiro para fazer sucesso em um restaurante na cidade de Paris.
Pablo Aluísio.
Birdman
Título no Brasil: Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Título Original: Birdman
Ano de Produção: 2014
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Alejandro González Iñárritu
Roteiro: Alejandro González Iñárritu, Nicolás Giacobone
Elenco: Michael Keaton, Edward Norton, Zach Galifianakis, Emma Stone, Naomi Watts, Amy Ryan
Sinopse:
Riggan (Michael Keaton) é um velho ator que no passado fez muito sucesso com a adaptação de um personagem em quadrinhos chamado Birdman no cinema. Agora, decadente e sem propostas, ele decide arriscar seus últimos recursos para montar uma peça dramática na Broadway em Nova Iorque. Com uma produção complicada, repleta de atores temperamentais e com problemas de relacionamento, aliado a uma crítica abertamente hostil ao seu trabalho, Riggan precisa vencer nos palcos para continuar vivo e isso não apenas do ponto de vista profissional. Filme vencedor do Globo de Ouro nas categorias de Melhor Ator (Michael Keaton) e Melhor Roteiro. Indicado a onze Oscars, inclusive nas categorias de Melhor Filme, Roteiro, Fotografia, Ator (Michael Keaton), Ator Coadjuvante (Edward Norton) e Atriz Coadjuvante (Emma Stone). Filme vencedor do Oscar 2015 nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção (Alejandro González Iñarritu), Melhor Roteiro Original (Alejandro G. Iñarritu, Nicolás Giacobone, Alexander Dinelaris, Jr. e Armando Bo) e Melhor Direção de Fotografia (Emmanuel Lubezki).
Comentários:
A grande quantidade de indicações e prêmios ao redor do mundo é plenamente justificada. "Birdman" é de fato um grande filme. Inicialmente você fica meio surpreso como a forma em que tudo se desenvolve. Temos esse ator de meia idade, já decadente, jogando suas últimas fichas em uma peça teatral a ser encenada na Broadway. Sua última ambição é ser levado à sério, algo complicado já que as pessoas não conseguem dissociar sua imagem de um filme de sucesso do passado onde ele interpretou um personagem de quadrinhos chamado "Birdman". Após aqueles anos iniciais gloriosos a idade finalmente chegou, os convites de Hollywood sumiram e tudo o que sobrou foi uma velha celebridade deprimida, angustiada, com problemas emocionais e crises psicológicas. Tentar algo no teatro e logo no berço sagrado da Broadway se revela realmente algo muito ambicioso e para muitos pretensioso demais. Para piorar os bastidores da peça são completamente caóticos. Há problemas em arranjar dinheiro, os atores são pessoas emocionalmente instáveis e uma arrogante crítica da cidade acha um absurdo e um disparate um ator de cinema, vindo de adaptações de quadrinhos de Hollywood, ter a petulância de tentar vencer nos mesmos palcos que um dia viram desfilar alguns dos maiores talentos dramáticos dos Estados Unidos.
Eu apreciei cada momento desse roteiro. Ele é muito bem escrito e tenta desvendar a alma desse personagem cativante, um velho ator, que sabe que o tempo passou e ele ficou para trás. O paralelo que se cria com a própria carreira de Michael Keaton se torna muito forte, até porque ele também se notabilizou por interpretar um herói de quadrinhos no cinema, o Batman. É certamente de se louvar a coragem de Keaton em encarar esse tipo de papel de frente, de peito aberto e sem receios. Tenho certeza que no mundo dos egos inflados da indústria cinematográfica americana poucos se arriscariam a viver tal personagem. O interessante é que seu papel também me lembrou muito de outros astros que tiveram uma existência profissional marcada por um personagem forte demais que jamais o abandonaram, por mais talentosos que fossem, como Christopher Reeve, por exemplo. Edward Norton, mais uma vez, também se destaca, principalmente ao dar vida a esse atorzinho cretino que está mais interessado em sair com as mulheres que encontra pela frente do que com o sucesso efetivo da peça. Outra coisa que me deixou realmente gratificado foi acompanhar a linha narrativa, ora em uma visão objetiva do que se passa, ora de forma subjetiva, nos fazendo entrar na mente do personagem de Keaton, ouvindo o que ele ouve, vendo suas alucinações e sentindo suas emoções. Uma grande aula de cinema que também presta uma bela homenagem ao mundo do teatro. Um filme realmente completo, sob todos os pontos de vista. Obra prima.
Pablo Aluísio.
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015
O Grande Hotel Budapeste
Título no Brasil: O Grande Hotel Budapeste
Título Original: The Grand Budapest Hotel
Ano de Produção: 2014
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Wes Anderson
Roteiro: Stefan Zweig, Wes Anderson
Elenco: Ralph Fiennes, F. Murray Abraham, Willem Dafoe, Jeff Goldblum, Harvey Keitel, Jude Law, Bill Murray, Edward Norton
Sinopse:
Em um hotel decadente, que já fora um dos mais luxuosos e requintados do passado, o Sr. Moustafa (F. Murray Abraham) relembra a um escritor como se tornou dono do estabelecimento, desde os anos 1930, quando pisou pela primeira vez no local para um de seus primeiros empregos, de mensageiro. Filme indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Direção, Melhor Ator - Comédia ou Musical (Ralph Fiennes) e Melhor Roteiro. Vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme - Comédia ou Musical. Filme vencedor do Oscar 2015 nas categorias de Melhor Trilha Sonora Original (Alexandre Desplat), Melhor Figurino, Melhor Maquiagem e Penteado e Melhor Direção de Arte.
Comentários:
Quem conhece o estilo do diretor Wes Anderson certamente não vai se surpreender muito. Ele tem uma estética toda própria e a utiliza para contar suas histórias incomuns. Por outro lado considerei esse um de seus filmes mais simpáticos e bem realizados. Longe de seus conhecidos exageros o cineasta conseguiu ser fiel à sua forma sui generis de fazer cinema ao mesmo tempo em que conseguiu tornar seu filme bem mais acessível ao grande público. Não há como negar que é um trabalho honesto e muito íntegro em seus objetivos. A direção de arte é um show à parte, com soluções visuais de muito bom gosto. O roteiro também me deixou extremamente satisfeito pois tem ótimos diálogos, principalmente os provenientes do personagem Mr. Gustave (Ralph Fiennes). Um tipo tão pedante que faz rir. Aqui abro um pequeno parêntese para elogiar o surpreendente feeling para comédias por parte de Ralph Fiennes. Ator talentoso que sempre se destacou por dramas pesados em produções requintadas e de estilo, mostra completa desenvoltura com o humor, um lado de sua personalidade que eu ainda desconhecia. Aqui ele dá vida a um grã-fino mordomo que nem pensa duas vezes antes de seduzir senhoras idosas e... ricas! Um canastrão, levemente mal caráter, que acaba ganhando a simpatia do espectador por causa de seu jeito um tanto quanto distante do mundo real.
Outro fato que considero digno de elogios vem da estrutura narrativa de seu enredo. São três saldos temporais, o primeiro mostrando um velho autor ditando suas lembranças de como escreveu o grande livro de sua vida. O segundo, décadas antes, quando esse mesmo escritor conheceu a história do misterioso dono do hotel Budapeste e por fim um novo recuo no tempo explorando os anos 1930 quando esse mesmo homem rico chegou pela primeira vez no grande hotel para trabalhar como um mero mensageiro. Nem preciso dizer que as três linhas narrativas se completam maravilhosamente bem. Por fim e não menos importante temos que elogiar praticamente todo o elenco - e por falar nisso que elenco é esse?! Grandes astros, atores de primeiro time, todos empenhados em fazer o filme dar certo. Alguns só aparecem em breves momentos e outros mal possuem duas linhas de diálogo para falar. Mesmo assim cada um tem sua importância na trama. Enfim, provavelmente seja uma das comédias mais bem produzidas que assisti em minha vida. Wes Anderson não é um diretor para todos os gostos, mas aqui temos que reconhecer que ele chegou muito perto de realizar a sua grande obra prima.
Pablo Aluísio.
O Jogo da Imitação
Título Original: The Imitation Game
Ano de Produção: 2014
País: Inglaterra, Estados Unidos
Estúdio: The Weinstein Company, Black Bear Pictures
Direção: Morten Tyldum
Roteiro: Andrew Hodges, Graham Moore
Elenco: Benedict Cumberbatch, Keira Knightley, Matthew Goode
Sinopse:
Durante a Segunda Guerra Mundial se torna vital ao governo inglês decifrar os códigos criptografados de comunicação das forças armadas alemãs. Para isso se resolve formar um grupo de alto nível, com cientistas e matemáticos renomados. Um deles, Alan Turing (Benedict Cumberbatch), logo se destaca ao propor a construção de uma enorme máquina de descodificação denominada de "Christopher". Mesmo contando com a desconfiança dos militares e o ceticismo de seus próprios companheiros de pesquisas ele segue em frente, numa das mais importantes missões de toda a história da guerra. Filme indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Drama, Melhor Ator (Benedict Cumberbatch), Melhor Atriz (Keira Knightley), Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Som. Filme vencedor do Oscar 2015 na categoria de Melhor Roteiro Adaptado (Graham Moore)
Comentários:
Um excelente filme que procura enfocar em um dos momentos mais cruciais de toda a guerra. Para os ingleses o conflito vinha sendo desenvolvido de forma desastrosa, com muitas baixas e perdas nos campos de batalha. Apenas um serviço de espionagem eficaz poderia reverter o quadro desalentador. Assim foi criado um grupo de gênios em suas áreas de conhecimento que tinha como principal objetivo quebrar o código alemão de comunicação conhecido como Enigma. Não era uma tarefa fácil. Havia milhões de combinações possíveis e nenhuma pista sólida para se chegar a uma solução para o quebra cabeças. Foi então que se destacou o matemático Alan Turing (Benedict Cumberbatch). Pessoalmente era um sujeito bem estranho e esquisito, cheio de manias e com pouco talento no trato social. Extremamente lógico e direto, ele certamente não seria reconhecido por ser um homem amável ou simpático, porém possuía uma dessas mentes raras, com imenso talento para decifrar códigos e mensagens secretas. Seu modo de pensar de forma abstrata, bem à frente de seu tempo, daria origem a uma enorme máquina, quase do tamanho de uma sala, apenas para fazer cálculos que seriam impossíveis para a mente de um ser humano comum. Bom, se a figura de um computador primitivo veio em sua mente você está certo! De certa maneira foi isso mesmo que Turing construiu, um dos primeiros computadores da história. Ele inclusive foi um dos pioneiros na ideia inovadora de se criar um computador digital provido de inteligência artificial! Era realmente um privilegiado. Curiosamente também tinha um complicado segredo para guardar de foro íntimo, que poderia o levar até mesmo para a prisão de acordo com as leis inglesas da época. Em suma, um belo resgate histórico desse sujeito que hoje em dia poucos conhecem, mas que foi tão crucial na vitória contra os nazistas quanto qualquer soldado no campo de batalha. No final de tudo a grande mensagem que o filme passa é simples de se resumir: uma guerra não se vence apenas com armas, mas com inteligência também!
Pablo Aluísio.