Esse é um drama baseado no famoso livro escrito por Gustave Flaubert em 1857. No mundo da literatura esse romance é considerado o primeiro na nova estética realista que em pouco tempo iria dar origem a toda uma nova escola literária (até mesmo o nosso consagrado autor Machado de Assis seguiria por essa nova vertente). O romance era de fato revolucionário por trazer uma protagonista que rompia com o estereótipo da jovem apaixonada, doce e ingênua, retratada em livros românticos da época. A personagem Emma parecia ser muito mais humana do que as mocinhas idealizadas do passado. Ela tinha muitos defeitos e não se encaixava no velho padrão, o que significava realmente uma ruptura com os antigos autores.
Nesse filme o diretor Sophie Barthes procurou não adaptar todo o enredo do livro original, mas apenas parte dele, o núcleo principal de sua estória. Assim personagens secundários foram eliminados (como a sogra e a filha de Emma na literatura), se concentrando apenas na personalidade sui generis da principal personagem. Emma, aqui interpretada pela atriz Mia Wasikowska (uma de minhas atrizes preferidas dessa nova geração), tem seu passado mostrado em rápidas cenas iniciais. Ela foi órfã, criada em um convento católico. Inicialmente ela pensa se tornar freira, mas depois, com a chegada da juventude, quando atinge a idade de se casar, acaba sendo prometida em casamento a um jovem médico do interior, Charles (Henry Lloyd-Hughes).
O começo de seu casamento é até promissor. O marido é um bom homem, trabalhador e responsável. Infelizmente ele também é completamente destituído de carisma pessoal, um sujeito enfadonho e chato. No fundo Emma não o ama. O casamento foi apenas uma questão de conveniência em sua vida. O tédio que a vida de Emma vai se transformando acaba mudando até mesmo seu jeito de ser. De origem humilde, calada e tímida, ela começa a desenvolver gosto pelo luxo e pela ostentação. Começa a gastar furiosamente, comprando vestidos caros, da moda. Em pouco tempo resolve remodelar toda a sua casa, comprando móveis, tapetes e utensílios vultuosos, algo que seu marido, mesmo sendo um médico, não consegue mais pagar. Pior do que isso, ela começa a flertar com outros homens interessantes da região, como um Marquês que acaba acendendo nela finalmente a chama da paixão em seu coração.
A partir daí começa o desastre. As coisas vão perdendo o rumo e Emma vai se tornando uma pária social, por causa de seu comportamento transgressor. O filme (e obviamente o livro que lhe deu origem) procura sutilmente mostrar as mudanças de comportamento que foram surgindo ao longo do século XIX, quando as mulheres passaram a ter uma postura e uma atitude mais ativas, seguindo seus próprios instintos, não se conformando em ser apenas aquele tipo de dona de casa apagada, vivendo eternamente à sombra do marido ou de um casamento infeliz. Com ótima produção, perfeita reconstituição histórica, excelente trilha sonora incidental (toda ao piano, em peças clássicas), o filme é aquele tipo de produção que vai satisfazer até mesmo os gostos mais sofisticados e exigentes.
Madame Bovary (Madame Bovary, Estados Unidos, Bélgica, Alemanha, 2014) Direção: Sophie Barthes / Roteiro: Felipe Marino (assinando como Rose Barreneche), baseado na obra de Gustave Flaubert / Elenco: Mia Wasikowska, Henry Lloyd-Hughes, Logan Marshall-Green, Paul Giamatti, Laura Carmichael / Sinopse: Emma (Mia Wasikowska) é uma jovem órfã e pobre que após se casar com um médico do interior começa a adquirir o gosto pelo luxo - e pela luxúria, colocando em polvorosa uma pequena cidade de hábitos conservadores do século XIX.
Pablo Aluísio.
Avaliação:
ResponderExcluirDireção: ★★★★
Elenco: ★★★★
Produção: ★★★★
Roteiro: ★★★★
Cotação Geral: ★★★★
Nota Geral: 8.9
Cotações:
★★★★★ Excelente
★★★★ Muito Bom
★★★ Bom
★★ Regular
★ Ruim
Eu não consigo entender, mesmo dentro do contexto de época, como essa personagem Bovary ganhou tanta relevância. Ela não é uma transgressora com algum propósito, mas sim uma mulher leviana, e, principalmente, mal agradecida. O doutor Bovary se mostra sempre bom e atencioso com as necessidades dela, logicamente dentro das suas posses, e até exagera na tal operação das pernas do aleijado para satisfazer a sede da dita cuja pelo arrivismo social. Eu, não só, não consigo achar esse mulher uma heroína do seu tempo, como querem alguns, como a acho fraca, chata e mal exemplo para qualquer pessoa, não somente para as mulheres. E tenho dito.
ResponderExcluirCorrigindo: "maU exemplo"
ResponderExcluirÉ o diabo da pressa.
Ela não era uma heroína. Emma era o extremo oposto disso. Essa era a ideia do autor que a criou. Mostrar uma mulher que fugisse do padrão dos romances da época. Transgressora ela era certamente, dos valores morais vigentes. Traidora, fútil... e muitos outros desvios de caráter. O realismo tinha a proposta de mostrar as pessoas como elas eram, para o bem e para o mal. Por isso a busca por um realismo nas estórias contadas.
ResponderExcluirEu sei Pablo, você tem razão, mas o que eu digo é como ele é percebida pelo senso comum, principalmente por feministas radicais, ou, até, por simples donas de casa oprimidas que a acham uma referencia de liberdade e atitude, quando é o oposto.
ResponderExcluirPois é... Toda obra cultural é aberta a todos os tipos de interpretações possíveis, sejam elas certas ou equivocadas. Faz parte da riqueza cultural desse tipo de livro.
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