quarta-feira, 7 de julho de 2021

Água Negra

Tive a oportunidade de assistir a esse filme no cinema. Duas lembranças ficaram bem nítidas em minha mente. A primeira, mais óbvia, é a do mofo preto na parede do apartamento da protagonista. A segunda, bem realista, veio das imagens das partes menos turísticas de Nova Iorque, com seus portos cheirando mal, navios enferrujados e um clima de decadência moral e econômica daqueles lugares sujos. Pontos da cidade onde os turistas certamente jamais vão visitar. A coisa toda cheirava mal, era mofada e apodrecia as paredes do pequeno e acanhado apartamento que a protagonista alugava no começo do filme. Uma jovem mulher (interpretada com garra por Jennifer Connelly), sem muitos recursos, vivendo de seu modesto salário que não dava para pagar por algo melhor. Pior era levar sua filhinha para morar em um lugar daqueles.

Esse filme me surpreendeu de forma positiva em vários aspectos. É tecnicamente um filme de terror, mas não vá esperando por sustos fáceis, cenas baseadas em clichês idiotas. O roteiro é um primor do conhecido (e reconhecido) terror psicológico. As coisas são bem sutis, as sombras muitas vezes assustam mais do que toneladas de efeitos digitais. E o elenco está ótimo. O cineasta brasileiro Walter Salles foi um maestro e tanto para dirigir essas atrizes brilharem, interpretando mãe e filha. "Dark Water" é um daqueles filmes que ficam em sua mente por muito tempo.  É o terror que nasce da vida cotidiana insuportável que certas pessoas vivem em seu dia a dia.

Água Negra (Dark Water, Estados Unidos, 2005) Direção: Walter Salles / Roteiro: Hideo Nakata, Rafael Yglesias / Elenco: Jennifer Connelly, John C. Reilly, Tim Roth, Dougray Scott / Sinopse: Mãe e filha vão morar em um apartamento velho e mofado de Nova Iorque. A vida é dura, a mãe precisa não apenas garantir a sobrevivência das duas, como também lutar com o ex-companheiro na justiça pela guarda de sua única filha. E dentro daquele apartamento úmido e escuro começam a surgir eventos sobrenaturais.

Pablo Aluísio.

5 comentários:

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  2. O Walter Salles é um dos poucos cineastas brasileiro que faz cinema como quem sabe o que está fazendo e não como a maior parte do cineastas brasileiro que só querem se locupletar com recursos que captam. Faz filmes como os americanos, com firmeza e honestidade. Entretanto, eu não sei se foi coincidência, mas depois que ficou evidente a genialidade, a competência artística e comercial, do filme "Cidade de Deus", eu tive a impressão que o Salles se retraiu. Me parece aquele historia de quando o Eric Clapton viu o Jimi Hendrix tocar pela primeira vez e ficou um tempo pensando em nunca mais tocar guitarra na vida?

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  3. Ele é um grande talento do nosso cinema. Concordo plenamente com você. Agora, lembrando de uma velha máxima, parece que o auge criativo de diretores de cinema só duram por uma ou no máximo duas décadas. Depois eles naturalmente vão sentindo a chegada da decadência artística.

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    1. Parece ser isso mesmo, pois, afinal até o Fernando Meirelles, diretor do Cidade de Deus, considera o Walter Salles um profundo conhecedor do negocio do cinema.

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