sábado, 10 de setembro de 2005

Elvis Presley - Paradise, Hawaiian Style

Agosto de 1966, o filme "Paradise, Hawaiian Style" (No Paraíso do Havaí, no Brasil) é lançado nos cinemas americanos. O filme foi filmado em locação nas ilhas havaianas de Oahu, Kauai e Mauí. Com direção de D. Michael Moore e produção de Hall Wallis pela Paramount, o filme tentava repetir o sucesso de fitas anteriores de Elvis nas ilhas do pacífico, mas o tiro saiu pela culatra e os resultados financeiros não atingiram as expectativas. Isso sem dúvida refletia todo o desgaste da carreira do cantor em Hollywood. O que escrever sobre "Paradise, Hawaiian Style"? Esse é um material tão inconsistente e falso que fica até difícil começar a apontar seus defeitos. Em primeiro lugar é um projeto que tenta imitar descaradamente Blue Hawaii (Feitiço Havaiano, 1961), aliás com a metade dos dólares gastos no filme anterior (ordens do Coronel). Elvis nem se importou muito em atuar bem e está visivelmente fora de forma. O filme, como muitos outros desse período foi realizado às pressas - em pouco mais de 2 semanas todas as cenas já estavam prontas e a equipe de filmagem de volta aos Estados Unidos. Tudo foi filmado praticamente de primeira, sem ensaio, sem cuidado, sem primor.

Nessa época parece que Elvis estava mesmo em uma espécie de coma criativo, engolindo tudo o que lhe era enfiado goela abaixo. Sua incrível intuição artística parecia morta e enterrada e o astro havia se transformado em um mero boneco na mão de diretores, produtores e roteiristas! Mas as más notícias não parariam por aí. Se não bastasse o filme ser extremamente ruim e inconsistente o "Rei" ainda seria jogado em um lamaçal de músicas ruins. "Paradise" é sem sombra de dúvida uma das piores trilhas sonoras de sua carreira (se não for a pior!). A faixa título é muito ruim, com péssima letra (com um verso pra lá de estúpido: "Puxa! Como é bom estar no 50º Estado!") E a partir daí é uma ladeira abaixo, com canções de mal gosto (Scratch My Back), infantis e maçantes (Datin) constrangedoras (A Dogs Life) e mal produzidas (Stop Where You Are). Nem This Is My Heaven consegue manter a dignidade. A única e honrosa exceção no meio desse pântano de músicas ruins e baratas é mesmo, como já foi dito, a bela canção Sand Castles. E por incrível que pareça ela foi a única cortada do filme! Como pôde acontecer uma coisa dessas? Realmente Paradise, Hawaiian Style é impressionante, pois até nisso eles se equivocaram. Não há muito o que comentar nesse momento opaco, depois dessa é melhor esquecer que nosso querido ídolo se envolveu em tamanho abacaxi, literalmente!

Paradise, Hawaiian Style (Giant / Baum / Kaye) - Realmente essa faixa tema é ruim demais. Se existisse um prêmio "framboesa de ouro" na categoria de "pior música tema de um filme de Elvis" essa levaria o prêmio fácil, fácil. Até o vocal de Elvis está estranho, muito contido e cantando extremamente mal, como se a master original estivesse fora da rotação normal. O ritmo é muito equivocado mas a letra é insuperável! "Como é bom estar no 50º Estado"!. Que bobagem é essa? Esse triozinho de compositores quando erravam a mão erravam mesmo pra valer! Terra arrasada mesmo! Péssimo em todos os aspectos!

Queenie Wahine's Papaya (Giant / Baum / Kaye) - Outra pérola trash! No filme Elvis divide os vocais com a garotinha pentelho Donna Buttersworth, que é engraçadinha, talentosa e bonitinha, mas que em nenhum momento do filme deixa de ser pentelhinha. Falando sério, vamos ser sinceros: colocar Elvis Presley, o Rei do Rock, numa cena abacaxi dessas, batendo em panelas já é demais! Alguém deveria ter tirado Elvis à força dos sets de filmagens desse filme! Nada contra Elvis dividir o microfone com uma criança, mas se pelo menos ela soubesse cantar! Seria pedir demais?!

Scratch My Back (Giant / Baum / Kaye) - Outra música que faz jus à total e absoluta falta de talento desse trio assustador que escreveu algumas músicas desse filme. A cena é ainda pior, pois Elvis tem que se abaixar de perfil ao se esfregar em algumas - minhas sinceras desculpas Fernanda Montenegro - "atrizes"! E nesse momento, como ele estava bem fora de forma, sua pancinha se sobressai de forma constrangedora. Complicado superar tamanha besteira! Sério, ninguém viu isso não? Nem vou escrever sobre a canção...

Drums of The Islands (Polynesium Cultural Center / S. Tepper / R.C. Bennett) - Bem, alguém deve ter pensado: Precisamos colocar alguma dignidade nessa trilha sonora, vamos escrever alguma coisa que preste! Então chamaram os compositores dos filmes "G.I. Blues" e "Blue Hawaii" para comporem e adaptarem um tema típico havaiano. Quase conseguiram, a bola bateu na trave. Se não é um primor, pelo menos traz Elvis em boa vocalização com uma boa equipe vocal o apoiando. Uma pequena pausa na mediocridade reinante.

Datin (J. Wise / R. Starr) - "Datin" é um caso interessante. Se você não se importar com a infantilidade do tema pode até mesmo se divertir com o ritmo alegre e sem pretensão nenhuma. Diversão pela diversão. Escapismo total mesmo. É um dos bons momentos da trilha, mesmo que seja bobinha, mesmo que a letra seja ingênua e pueril. No filme novamente a atriz mirim estraga a canção, mas felizmente a versão presente no disco só conta com a vocalização de Elvis. Pelo menos dessa vez o bom senso prevaleceu!

Pablo Aluísio. A Dog's Life (Ben Weisman / S. Wayne) - E pensar que Elvis, que cantou "Hound Dog" iria acabar gravando "A Dog's Life"! A pior música do filme que já é ruim de doer! Na cena no Helicóptero de papelão Elvis divide a "atuação" com um monte de amigos caninos! Acho que não poderia ser pior! O fim da picada!

House of Sand (Giant / Baum / Kaye) - Quando pensávamos que estávamos livres do trio calafrio eles reaparecem com mais uma "bomba"! Eita musiquinha ruim essa hein! Elvis transparece todo seu tédio (que deve ter sido enorme ao gravar esse material) e apenas interpreta a pobreza lírica com desdém nítido. Ruindade pouca é bobagem.

Stop Where You Are (Giant / Baum / Kaye) - Outra porcaria assinada por Giant, Baum e Kaye. Esses caras eram realmente imbatíveis, não me surpreende o fato deles terem sido os pais dos maiores abacaxis da carreira de Elvis como "Kissin Cousins" e "Harum Scarum". Mas aonde diabos afinal o Coronel Parker achou esses caras? Com tantos compositores talentosos nos anos 60 implorando para que Elvis gravasse suas músicas, o Coronel resolveu escolher logo os mais ineptos e idiotas disponíveis no mercado? Como perdoar uma coisa dessas? Provavelmente eles cobravam uma merreca para comporem temas para Elvis. Pelo qualidade da mercadoria entregue sem dúvida o Coronel não gastou muito.

This Is My Haven (Giant / Baum / Kaye) - Adivinhe só quem compôs essa canção? Leva um abacaxi quem ganhar! Eles mesmos: Giant, Baum e Kaye! Dessa vez eles tentaram diminuir um pouco a mediocridade e escreveram pelo menos uma melodia agradável. Mas depois de escreverem tantos temas ruins será que tem salvação? A música é menos constrangedora do que as demais, mas mesmo assim não empolga e nem decola. Fico no lenga lenga e termina logo (graças a Deus!)

Sand Castles (H Guldeberg / D. Hess) - Você chega no finalzinho da trilha sonora e pensa que perdeu minutos preciosos de sua vida com nada e de repente começa "Sand Castles". Você dá um salto e fica com o queixo caído! Essa canção é mesmo de "Paradise, Hawaiian Style"? Eu não acredito! Essa música é simplesmente LINDA! Como é que ela foi parar aqui, no fim, desprezada e esquecida? É um dos maiores vocais de Elvis em toda a sua discografia (e isso meu caro não é pouca coisa!). Acompanhamento lindo e ritmo relaxante, "Sand Castles" evita que joguemos o disco na lata de lixo! Simplesmente adoro essa canção e sempre a ouço (tente ouvi-la a dois!). Fantástica e completamente destoante do restante da trilha sonora. Ah! se o disco fosse composto de dez versões dessa mesma canção! Seria muito mais relevante do que a trilha inteira! Nota 10 com louvores!

Ficha Técnica: Elvis Presley (vocal) / Scotty Moore (guitarra) / Barney Kessel (guitarra) / Charlie McCoy (guitarra) / Ray Siegel (baixo) / Keith Mitchell (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Hal Blaine (bateria) / Milton Holland (bateria) / Larry Muhoberac (piano) / Bernal Lewis (steel guitar) / Al Hendricksson (guitarra) / Howard Roberts (guitarra) / Victor Feldman: (bateria) / The Mello Men: Bill Lee, Max Smith, Bill Cole e Gene Merlino (vocais) / The Jordanaires: Gordon Stoker, Hoyt Hawkins, Neal Matthews e Ray Walker (vocais) / Gravado no Radio Recorders, Hollywood, California / Data de gravação: 26 e 27 de julho e 2,3 e 4 de agosto de 1965 / Produzido por Thorne Nogar / Data de lançamento: maio de 1966 / Melhor posição nas charts: #15 (USA) e #7 (UK).

Pablo Aluísio.

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