Responda rápido: qual foi o disco mais vendido da carreira de Elvis enquanto ele esteve vivo? Sim, foi essa trilha sonora do filme "Feitiço Havaiano". O disco vendeu milhões de cópias ao redor do mundo, chegando ao topo das paradas dos mais vendidos em diversos países. O Coronel Parker ficou vibrando com o resultado e em uma entrevista chegou a dizer que esse era "O Produto Perfeito"! Um álbum com músicas havaianas que agradava a diversos públicos, pessoas mais velhas, jovens, crianças, adultos, etc. Todo mundo tinha um sonho de ir passar férias no Havaí. Então foi de fato um produto de puro entretenimento que caiu no gosto popular. Se o público adorou, a crítica especializada não gostou muito do que ouviu. Era algo muito plastificado, meio kitsch, soando como uma falsa sonoridade da música do Havaí. Uma visão distorcida de Hollywood em relação àquela cultura daquelas ilhas distantes. O que Elvis pensou desse conjunto de músicas? Se formos levar em conta o que ele havia achado de outras trilhas sonoras, como "Saudades de um Pracinha", ele deve ter tido suas reservas. Entretando, como sempre profissional, foi lá e gravou as faixas da trilha sonora, mesmo não gostando muito.
O interessante é que pelo menos três canções o agradaram dentro daquele repertório (com excesso de músicas, para alguns). Ele particularmente apreciava a linda canção romântica "Can't Help Falling in Love", tanto que passou a usá-la para encerrar seus shows na década de 70. Ele parecia curtir também "Hawaiian Wedding Song", que inclusive chegou a cantar para Priscilla em sua lua de mel, como ela mesma confessou em sua biografia. Por fim Elvis parecia ter apreço igualmente pela italiana "No More". Por outro lado achava uma verdadeira palhaçada faixas como "Ito Eats", que só funcionava no contexto do filme e ficava péssima ao se ouvir no disco ou então de "Rock-a-hula Baby", que chegou a ser usada em single, mas que nunca convenceu ninguém. Uma música fraca. O sucesso absurdo tanto do filme como de sua trilha sonora fizeram com que Elvis se retraísse em suas opiniões pessoais. Ele ficou calado. Chegou a ponto de dizer numa entrevista que não deveria se mexer em um sucesso desses. Se as pessoas gostavam, então era isso mesmo, era o caminho. Esse pensamento o fez ficar em Hollywood por dez anos, gravando trilhas para filmes.
Vamos tecer algumas considerações sobre as músicas da trilha sonora desse filme "Feitiço Havaiano". A primeira música gravada por Elvis para esse disco foi "Hawaiian Sunset". Considero uma das boas músicas românticas do álbum, embora a RCA tenha colocado ela no final do Lado B do vinil original, mostrando que a gravadora não colocava muita fé em seu sucesso. De qualquer maneira é um bom momento, valorizado ainda mais pelo coro dos Jordanaires, cantando junto a Elvis - cuja voz foi colocado bem à frente, em destaque, como queria o Coronel Parker. Depois dela Elvis gravou a também romântica "Ku-u-i-po". Se formos comparar as duas músicas a melodia dessa é bem mais bonita. Tem um belo arranjo de violão solando ao fundo, além, é claro do Steel Guitar que permeia por praticamente todas as faixas do disco. Quem estava tocando esse som peculiar foi o especialista Alvino Rey, trabalhando pela primeira vez ao lado de Elvis em estúdio, até porque esse tipo de sonoridade era novidade nos discos do cantor. Tudo arranjado para que o ouvinte se sentisse no próprio Havaí, curtindo uma de suas maravilhosas praias ao sol.
E então, depois de gravar as duas havaianas faixas já citadas, Elvis se preparou para fazer uma boa gravação de "No More" que não fazia parte da cultura musical do Havaí, mas sim da doce Itália. Elvis, é bom lembrar, era admirador da música italiana, tanto que de tempos em tempos fazia suas próprias versões da musicalidade tão forte da rica cultura daquele país. E ele se saiu muito bem, em apenas 9 takes a faixa estava pronta, mostrando que Elvis a conhecia muito bem. Estava na ponta da língua, afiada para gravar rapidamente. Elvis em mais um momento Mario Lanza de sua discografia. E para encerrar os trabalhos naquele dia 21 de março Elvis fechou a noite gravando a versão definitiva de "Slicin' Sand". O take escolhido pelo produtor Joseph Lilley para ser a versão oficial do disco foi o de número 4. Boa escolha. É uma boa faixa do LP, mas não vá chamar isso de rock. Não é! É uma pop music que tem seus pontos positivos, embora no geral fique na média do resto da trilha sonora. Destaque para o bom solo de guitarra de Hank Garland.
A música tema do filme, "Blue Hawaii", tem um arranjo estranho em seu começo. Particularmente nunca gostei de seu início, parece algo sem ritmo, se arrastando. Depois melhora e vira uma balada agradável. Elvis não foi o primeiro a gravar essa música. Existe inclusive uma versão mais antiga gravada por Frank Sinatra, com menos efeitos típicos da música havaiana. Inclusive sempre fiquei surpreso por poucos conhecerem essa versão antiga do Sinatra. A música, pelo visto, não fez qualquer sucesso em sua voz. "Ito Eats" é a música mais fraca da trilha sonora. Nada é tão ruim como essa faixa. Eu poderia inclusive dizer, sem medo de ser injusto, de que essa canção é uma verdadeira porcaria. E no filme fica ainda pior quando mostra o tal do Ito, um sujeito gordinho que come sem parar. Penso que essa deveria ter sido descartada da trilha. Deixassem apenas no filme, como um número curto. Também não ficaria nada mal se o diretor tivesse jogado fora essa sequência que até tenta ser divertida, mas é sem graça demais.
"Hawaiian Wedding Song" é a música havaiano de casamento. A própria Priscilla Presley confidenciou que Elvis cantou um trechinho dessa música quando a levou para o quarto, na Lua de Mel do casal em Las Vegas. Uma palhinha apenas. A versão de estúdio ficou muito boa. A cena final do filme é com ela, com Elvis todo vestido de branco. Uma bela cena do filme, ficou bem bonita, sem dúvida. Em termos de palco Elvis chegou a cantá-la algumas vezes ao vivo nos anos 70. Uma versão Live inclusive chegou a ser lançada pela RCA em sua discografia oficial, no álbum póstumo "Elvis in Concert". "Island of Love" também é uma bonita música, mas bem mais fraca que a anterior. Tem um parte puramente instrumental que ficou bem legal. Ainda assim é bem esquecível também. No vinil original de 1961 ela foi colocada como penúltima música, lá no finalzinho do Lado B. Os ouvintes meio que deram de ombros, não se importando muito com essa "Ilha do Amor". No final das contas fica na média das demais baladas. É agradável de ouvir, apenas isso.
A música "Steppin' Out of Line" foi gravada para a trilha sonora do filme "Feitiço Havaiano" mas acabou ficando fora do disco! O que aconteceu? Até hoje não há uma resposta sobre isso. A faixa foi bem gravada, era uma boa música, muito boa por sinal, mas ficou mesmo fora da trilha sonora. Alguns dizem que foi por pura falta de espaço, já que havia músicas demais para colocar no álbum. Se foi isso por que não tiraram músicas mais fracas? Eis a questão. De qualquer maneira ela não ficaria fora da discografia de Elvis, surgindo algum tempo depois no disco "Pot Luck". Por outro lado "Almost Always True ' é uma das boas canções da trilha. No disco original em vinil era segunda música do lado A, logo depois da música título do filme. Uma boa faixa, com ótima participação do saxofonista Homer "Boots" Randolph que costumava melhorar muito as músicas de Elvis nos anos 60 com seus solos instrumentais. Não chega a ser um rock, mas sim uma música pop das mais agradáveis de se ouvir. E não tem aquele monte de Steel Guitar e nem de Ukulele que aparecem nos arranjos das outras músicas desse álbum.
Podem dizer o que quiserem, mas eu pessoalmente gosto muito de "Moonlight Swim". O que mais curto nessa canção é seu arranjo, principalmente vocal, que nos remete a músicas bem mais antigas, inclusive da década de 1920. Aliás esse tipo de acompanhamento vocal feminino deveria ter sido mais presente nos discos de Elvis dos anos 60. Aqui destaco o excelente trabalho das cantoras. Ficou muito bom! "Aloha Oe" é até bonita, contando inclusive com uma introdução remetendo aos antigos cantos tradicionais havaianos. Entretanto depois de ouvir tantas músicas com guitarras havaianas tudo fica meio cansativo. Melhor é esperar a longa introdução terminar para ouvir a bela voz de Elvis quase cantando em estilo tradicional. É uma faixa pequenina. Funciona melhor em cena. No disco, ouvindo, não acrescenta muito.
Bom, não precisa saber muito sobre Elvis Presley e seus discos para entender que "Can't Help Falling in Love" foi o maior sucesso da trilha sonora do filme "Feitiço Havaiano". Aqui temos realmente um grande hit e uma das faixas que sobreviveram até mesmo ao sucesso do filme. Afinal "Blue Hawaii" como cinema passou, mas essa balada romântica ficou, entrou definitivamente no repertório atemporal da música internacional. O interessante é que a gravação ficou realmente genial. Elvis gravou três versões diferentes, uma para ser usada em cena, no filme, outra para compor o disco oficial da trilha e uma menor, a ser usada no material de promoção nas rádios. O curioso é que as fãs da época pensavam que a faixa (que havia chegado a elas em single antes do lançamento do filme nos cinemas) iria embalar alguma cena bem romântica no filme, mas isso não aconteceu. Elvis a canta para uma senhora. Pois bem, como a música virou um hino praticamente, Elvis a resgatou em 1969 para ser usada em seus shows em Las Vegas. Nunca mais deixou de cantá-la, sendo usada como a música de despedida de praticamente todos os concertos que realizaria até o final de sua vida.
"Beach Boy Blues" já não era tão especial. Na realidade até considero uma faixa que tinha muito potencial, mas que de certa forma foi estragada por aquelas produções plastificadas de Hollywood. É incrível como os estúdios de cinema muitas vezes estragavam os ritmos musicais mais tradicionais. Ao invés de gravar um blues de grande qualidade, os escritores apareciam com meras imitações para o gosto do público médio dos Estados Unidos. Esse é um caso bem representativo disso. A cena do filme, com Elvis em cana, também não acrescenta muito. Acho a canção fraca. E fraca também pode ser considerada a última canção que Elvis gravou para esse disco. Estou me referindo a "Rock-a-hula Baby". Ei, misturar Havaí, ou sua sonoridade, com o Rock bravio, dos grandes centros urbanos dos Estados Unidos, realmente não parecia uma boa ideia. E não era mesmo! Foi escolhida para ser o lado B do single ""Can't Help Falling in Love". Por essa razão até ficou bem conhecida na época, afinal o compacto vendeu milhares de cópias. Só que tudo isso foi de certa forma em vão. A música era bem fraca mesmo e não resistia a ouvidos mais atentos. Depois de algumas audições logo se tornava bem enjoativa.
Pablo Aluísio.
Elvis Presley
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