Esse disco "Almost In Love" foi lançado pelo selo azul da RCA denominado RCA Camden. Os álbuns desse selo eram lançados com preços promocionais, geralmente custando a metade do preço de um disco (LP) da RCA Victor. Como era um lançamento especial, não havia a necessidade e nem a preocupação por parte dos executivos em lançar canções inéditas entre suas faixas. Muitas vezes esses discos da Camden, embora fossem oficiais, traziam apenas uma salada de faixas de filmes, material que não havia sido muito bem aproveitado ou então gravações que há muito estavam arquivadas, sem aproveitamento pela gravadora. Curiosamente a música que deu nome ao disco era uma composição de um autor brasileiro, uma bossa nova, gênero musical que estava se tornando muito popular nos Estados Unidos, principalmente entre a elite universitária daquele país. A Bossa Nova brasileira era vista quase como uma variação do jazz, indo na mesma linha de sofisticação e bom gosto musical. Na verdade essa canção nunca foi muito badalada dentro da discografia de Elvis. Depois de fazer parte da trilha sonora esfacelada do filme "Live a Little, Love a Little" de 1969 a música ficou meio esquecida. Lançada no disco "Almost In Love" da RCA Camden ganhou alguma projeção, mas definitivamente nunca virou um hit dentro da carreira do cantor.
1. Almost In Love (Luiz Bonfá) - A Bossa Nova invadiu os Estados Unidos durante os anos 60 quando Frank Sinatra convidou Tom Jobim para gravar um álbum ao seu lado. Era uma coisa realmente inédita pois Sinatra, egocêntrico como era, jamais havia dado tanto espaço a um outro artista em sua discografia antes. Pois bem, depois desse disco a sociedade americana descobriu aquele ritmo muito interessante e sofisticado proveniente de um país tropical mais conhecido por seu carnaval e florestas do que por qualquer outra coisa. Com um feeling de jazz a Bossa Nova encontrou grande receptividade entre o público e a crítica do grande irmão do norte. Diante dessa boa recepção era de se esperar que muitos músicos e compositores brasileiros fossem para os Estados Unidos em busca de trabalho e oportunidade. Um deles foi Luiz Bonfá, compositor e violonista carioca. Ele vendeu várias canções para as editoras americanas e eventualmente uma delas foi parar na RCA Victor, onde Elvis Presley gravava. Até aquele momento Elvis jamais tinha gravado qualquer canção do gênero (por favor esqueça "Bossa Nova Baby" de "Fun in Acapulco" que não tinha nada a ver com a verdadeira Bossa Nova). Assim Elvis acabou gravando a única canção escrita por um brasileiro em toda a sua longa carreira. Eu sempre considerei essa gravação muito elegante, sofisticada, de boa cadência rítmica. É interessante notar como Elvis conseguiu realizar uma boa performance ainda mais se levarmos em conta que ele não tinha nenhuma familiaridade com a cultura brasileira e seus ritmos musicais. Obviamente se nota um certo cuidado por parte de Elvis para não pisar na bola. Como estava em terreno desconhecido ele vai encontrando seu tempo aos poucos, de forma lenta e gradual. O resultado é certamente bem melhor do que o esperado. Grande momento de Elvis Presley em raro momento de aproximação com a cultura musical do Brasil. Por anos essa música ficou fora de catálogo, sem acesso aos fãs. Com o advento do CD ela retornaria em algumas edições no formato do próprio álbum de mesmo nome. Novidade mesmo só surge com o lançamento da edição especial do selo FTD (Follow That Dream) trazendo takes inéditos da trilha sonora do filme "Live a Little, Love a Little". Durante muitos anos se especulou que não havia mais nenhum take da sessão original, mas esse CD colocou abaixo essa visão. Assim o CD trazia praticamente todos os takes da sessão. Nesse CD intitulado "Live A Little, Love A Litte sessions" você encontrará os takes de número 1, 4, 5 e 6. Também terá a oportunidade de ouvir um ensaio puramente instrumental e finalmente uma versão restaurada. Sem dúvida um excelente resgate histórico dessa faixa.
2. Long Legged Girl (McFarland - Scott) - "Almost In Love" é uma coletânea de músicas avulsas. Um exemplo desse tipo de seleção sem muito critério vem da inclusão nesse disco dessa canção "Long Legged Girl (With the Short Dress On)" da trilha sonora do filme "Double Trouble" de 1967. Qual era a razão da canção estar presente nesse álbum em especial? Provavelmente nenhuma. Era apenas uma forma de preencher o tempo de um disco como esse. A canção que nunca fora nada de muito interessante ou especial chegava assim em seu terceiro lançamento dentro da discografia de Elvis pois antes já tinha feito parte da trilha sonora do filme (que não vendeu muito bem) e do single (que também decepcionou nas paradas de sucesso!). É curioso porque sempre achei a sonoridade dessa trilha diferente. O estéreo é esquisito, os instrumentos estão mais separados do que o habitual e o próprio Elvis não primou por uma boa performance em suas gravações. Provavelmente ele sabia que esse tipo de material não valeria muito a pena. Era pura perda de tempo e dinheiro. De qualquer maneira o álbum "Almost In Love" estava nas lojas e o fã, querendo ou não, levou a música pela terceira vez para casa. Tudo fruto do velho pensamento mercenário de Tom Parker que dizia: "O Segredo do lucro é vender a mesma coisa duas, três vezes!". Esse disco seguramente provou o ponto de vista do veterano empresário.
3. Edge Of Reality (Giant - Baum - Kaye) - Dando continuidade na análise sobre o álbum "Almost in Love" aqui vão mais algumas considerações sobre as canções que fizeram parte desse LP do selo azul da RCA Camden. É a tal coisa, a intenção era fazer uma mistura de singles, canções de filmes e gravações que estavam pegando poeira nos arquivos da gravadora. Depois juntava-se tudo, colocava uma boa capa e lançava o disco no mercado, em preço promocional. Geralmente dava bem certo, trazendo mais alguns dólares paras as contas de Elvis e do Coronel Parker. E tudo isso sem a necessidade de se entrar em estúdio para gravar algo novo. Assim "Edge Of Reality" acabou sendo incluída nesse pacote. Falando a verdade sempre achei essa canção um tanto esquisita, com estranha harmonia. Ela foi Lado B do single campeão de vendas "If I Can Dream" em 1968, mas mesmo assim nunca conseguiu chamar muito a atenção. A música entrou no compacto não apenas como "tapa buraco", mas também para promover o filme "Live a Little, Love a Little" que estava chegando nos cinemas naquela mesma ocasião. Acabou sendo ignorada como praticamente todo o restante do material. Por essa época os fãs de Elvis já estavam fartos de seus filmes em Hollywood e toda gravação ligada às suas trilhas sonoras não parecia encontrar mais receptividade entre os admiradores do cantor. Havia ali uma clara má vontade sobre isso. E os fãs estavam mais do que certos, é bom frisar.
4. My Little Friend (Shirl Milete) - Outra canção que fez parte do disco "Almost In Love" foi essa balada "My Little Friend". Como a intenção desse álbum era reunir músicas aleatórias da discografia de Elvis, principalmente se elas tivessem sido mal lançadas anteriormente, a inclusão dessa canção no repertório até que não foi uma má ideia. Inicialmente esse country foi lançado como Lado B do single "Kentucky Rain", em fevereiro de 1970, mas não conseguiu obter qualquer repercussão. Não era para menos. A música em si é realmente bem fraca. Felton Jarvis até tentou melhorá-la na sala de edição, mas ainda continuou sem brilho. De forma em geral é uma música country que não desperta muito atenção, a não ser para um público bem específico (entenda-se sulistas americanos).
5. A Little Less Conversation (Strange - Davis) - Não há dúvida de que essa é, hoje em dia, a música mais famosa do disco "Almost In Love" de Elvis Presley. Pois é, uma surpresa para muitos é saber que a primeira vez que "A Little Less Conversation" pintou em um álbum de Elvis foi justamente nesse "Almost in Love". Como explicar que uma das músicas mais populares de Elvis tenha sido lançada em um disco sem maior importância, uma coletânea promocional de um selo secundário da RCA? Bom, antes de qualquer coisa é importante saber que durante sua carreira a música "A Little Less Conversation" nunca foi um sucesso. Ela só se tornou extremamente popular com o Remix que foi lançado muitos anos após a morte de Elvis. Antes disso ela passou completamente despercebida, sem sucesso ou repercussão. Para o cantor e para seus fãs da época ela era apenas mais uma música de trilha sonora da fase final de Elvis em Hollywood. Nada mais do que isso. Diante disso já estava de bom tamanho e mais do que isso, ela estava encaixada mesmo no disco certo, apesar de tudo o que aconteceria depois. Nessa época ela era apenas uma canção secundária de um disco secundário da discografia de Elvis.
6. Rubberneckin´(Jones - Warren) - A canção "Rubberneckin" que também iria ganhar uma conhecida versão remix muitas décadas depois, igualmente acabou fazendo parte de "Almost in Love", o álbum. Essa canção também havia sido lado B de um single bem sucedido, "Don't Cry Daddy", e fazia parte da trilha sonora de um filme Made in Hollywood, o hoje mais reconhecido "Change of Habit". Esse foi o último trabalho de Elvis no cinema, isso naquele velho estilo com roteiro, estorinha, romance e tudo mais. Agora verdade seja dita, o roteiro dessa última produção passava longe de ser ruim, pelo contrário, ao invés de garotas em bikinis dançando na areia, esse mostrava uma trama melhor, com Elvis interpretando um médico numa periferia de uma grande cidade. Além disso contava com uma ótima atriz no elenco, a recentemente falecida Mary Tyler Moore. Tudo de muito bom gosto, bem acima da média em relação aos filmes anteriores de Elvis. Pena que essa mudança em sua carreira no cinema acabou chegando tarde demais.
7. Clean Up Your Own Backyard (Mac Davis / Billy Strange) - Outra que foi encaixada nesse disco "Almost in Love" foi a excelente "Clean Up Your Own Backyard" do filme "The Trouble With Girls" (que no Brasil recebeu o título de "Lindas Encrencas, as Garotas"). Já tive oportunidade de elogiar essa canção várias vezes aqui no site. Ela realmente tem um ótimo arranjo e a letra, nada idiota, elevou bastante a qualidade das trilhas sonoras dos filmes do cantor. Ganhou até uma cena no filme, onde Elvis surge com excelente visual, com o característico terno branco e camisa azul do figurino desse filme bem diferente. Relembrando: Elvis interpreta um gerente de um show de variedades do começo do século XX que sai de cidade em cidade com sua companhia itinerante. O roteiro foi escrito levemente inspirado na vida do Coronel Parker, o empresário do cantor, que viveu exatamente essa vida antes de conhecer Elvis e mudar sua carreira profissional para sempre. Escrita pelos ótimos Mac Davis e Billy Strange, esse blues country é certamente uma das melhores coisas da produção. Merece ser redescoberta.
8. U.S. Male (Jerry Reed) - A canção "U.S. Male" é um dos grandes destaques desse LP. Sempre considerei que essa gravação, uma das melhores feitas por Elvis no período final dos anos 60, nunca foi muito bem aproveitada em sua discografia. Essa faixa foi gravada no meio das sessões da trilha sonora do filme "Stay Away, Joe". Era uma continuação das belas sessões feitas por Elvis em setembro de 1967. Como não deu tempo de finalizá-la naquela ocasião, Elvis arranjou um tempinho no meio dessa trilha para terminar sua gravação. Tudo tem seu tempo e por essa razão a música ficou meses pegando poeira nos arquivos da RCA Victor. Em um tempo em que Elvis precisava melhorar tecnicamente no material que ele vinha apresentando no mercado, essa música deveria ter sido lançada bem antes. Aliás muitos afirmam que as sessões de 1967 teriam sido uma tentativa frustrada por parte da RCA Victor em lançar um disco de estúdio inédito, de qualidade, com várias canções ao estilo country. O projeto foi deixado de lado depois que a RCA resolveu pegar esse pacote de gravações para preencher os LPs das trilhas dos filmes, usando o material como "Bonus Songs". Um pecado! A música foi escrita por Jerry Reed, talentoso compositor e cantor. Um dos melhores com quem Elvis teve a oportunidade de trabalhar. Embora seja um dos mais interessantes momentos de Elvis em estúdio no fim dos anos 60, o fato é que U.S. Male continuou sem muito espaço dentro de sua discografia, sendo encaixada em "Almost in Love" sem muito critério. Em minha visão a música foi totalmente desperdiçada. Lamentável, mas enfim. O disco chegou ao mercado em outubro de 1970, sendo lançado pelo selo RCA Camden. Como foi lançado no mercado promocional, entre dois importantes álbuns de Elvis (On Stage e That´s The Way It Is), nunca chegou a ser um grande sucesso comercial, muito embora tenha sido lançado no Brasil, em uma época em que isso nem era tão fácil de acontecer.
9. Charro (Strange - Davis) - Já "Charro" entrou no disco por causa da proximidade de lançamento do filme nos cinemas. Naquele final de década os filmes do chamado western spaghetti estavam em alta. Até mesmo o Western Made in USA encontrava dificuldades de competir com os filmes italianos de faroeste que eram mais violentos, mais realistas e mais sangrentos. O western tradicional, cheio de mocinhos cheios de virtudes, estava em baixa perante o público. Eles queriam ver os filmes feitos na Cinecittà em Roma. Assim Elvis, procurando pelo sucesso perdido nas telas de cinema, embarcou na onda, na modinha. E assim foi feito "Charro", o spaghetti americano estrelado por Elvis Presley. Já pararam para pensar como tudo soava estranho? O Spaghetti era uma imitação do cinema americano e agora a própria indústria americana de cinema estava copiando aqueles que o tinham copiado! O original copiando a cópia! Faz sentido para você? Não muito, é verdade. De qualquer forma se o filme não é tão bom (na verdade ele é ruim mesmo), a trilha sonora teve seus encantos. O estúdio contratou um especialista em temas de faroestes italianos e o que ouvimos aqui é uma boa canção, bem arranjada. Elvis de barba, montando seu cavalo, até que não foi um desperdício total. A trilha sonora pelo menos foi boa, bem razoável. Para quem comprou o LP "Almost in Love" na época isso já era o bastante
10. Stay Away, Joe (Weisman - Wayne) - O mesmo não se podia dizer da música tema do filme "Stay Away, Joe", também incluída na seleção das canções desse disco. Esse aqui já era um filme bem nonsense, com um roteiro amalucado e sem muito sentido que tentava tirar pitadas de comédia com Elvis interpretando um mestiço nativo em meio a muitas confusões envolvendo garotas, brigas, motos e lama (não necessariamente nessa ordem!). Era um tipo de versão mais hardcore dos roteiros bobinhos que fizeram parte de vários filmes de Elvis nos anos 60. Se o filme e a trilha não ajudavam muito, uma curiosidade despertava a atenção dos fãs pois uma versão inédita da música foi incluída no disco, um take em que Elvis quase caía na risada, bem no meio da gravação. A raridade do take acabou levando muitos a comprarem o álbum, mostrando pela primeira vez aos executivos da RCA Victor que havia também um grande interesse por parte dos fãs em takes alternativos, algo que anos depois iria ser a principal razão para o lançamento da coleção FTD.
Pablo Aluísio.
Elvis Presley
ResponderExcluirAlmost In Love (1970)
Pablo Aluísio.
O legal do Elvis gravar Almost in Love é que ele nutria um especial desprezo pelo Jazz, ritmo que ele nunca apreciou ou entendeu e ainda por cima deixou pra posteridade a antológica resposta mal educada que ele da a mãe da sua namorada em O Prisioneiro do Rock quando interpelado a dar a sua opinião sobre os exageros nas antecipações e atrasos da frases dentro do compasso do Jazz "eu não tenho a menor ideia do que a senhora está falando" e sai da festa abruptamente. Dizem que essa frase queria dizer. "Eu não estou nem ai pra sua musica de velhos, agora nos jovens temos o Rock."
ResponderExcluirE não podemos nos esquecer que o Jazz e a nossa Bossa Nova são irmãos siameses. A Bossa Nova é um jazz tomando caipirinha à beira mar de Copacabana... rsrsrs
ResponderExcluirJustamente por isso a ironia da gravação. Gravou jazz undercover.
ExcluirA conclusão acabou sendo essa mesma. Elvis gravou jazz? Sim, só que por meios indiretos, vamos colocar nesses termos.
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