Promised Land (1975) - Esse disco fez parte da última fase da carreira de Elvis. No ano em que esse álbum chegou no mercado Elvis completou 40 anos de idade. Ele se sentia velho! Era algo que dizia abertamente para pessoas próximas, algo que o preocupava muito. Elvis achava que sua carreira não teria mais muitos anos pela frente. Os amigos lhe tranquilizavam dizendo que outros artistas mais velhos, como Frank Sinatra, continuavam na ativa, fazendo shows e gravando discos, mas Elvis não parecia convencido. Ele dizia: "Eu não sou mais um garoto!" - costumava repetir - "Daqui algum tempo não terei mais fãs!".
No dia em que Elvis completou 40 anos ele decidiu se isolar em Graceland. Não queria receber ninguém, não dar entrevistas, apenas ficar em reclusão completa. A imprensa americana não ajudou. Inúmeras reportagens atacavam Elvis de uma forma até cruel. Dizendo que ele estava acima do peso, chegando numa fase da vida em que não fazia mais sentido ser roqueiro. Como aquele cantor, que havia sido o ídolo da juventude, iria se comportar agora que estava com 40 anos? Hoje em dia achar que alguém com essa idade já é um velho soa como algo completamente absurdo. Porém o preconceito naquela época era bem maior. E Elvis, infelizmente, sentiu esse mentalidade tacanha sendo usada contra ele. Abaixo segue as músicas do disco, comentadas, faixa a faixa.
Promised Land (Chuck Berry) - Esse álbum abria com um rock vibrante de Chuck Berry. A versão original de "Promised Land" era de 1964. Em pleno auge da Beatlemania, Berry mostrava porque era considerado um dos grandes nomes do rock ´n´ roll, um verdadeiro pioneiro do estilo. O curioso é que a faixa chegava no mercado através do disco "St. Louis to Liverpool", uma maneira marota de Chuck Berry em chamar a atenção para sua música em uma época em que todo mundo só falava dos Beatles. A gravação de Elvis e a TCB Band era mais vibrante do que a própria gravação original de Berry. Mais bem tocada, melhor gravada. Elvis deu total liberdade para seu guitarrista James Burton, que improvisou como nunca. O grupo estava muito entrosado, fruto de anos de trabalho em estrada. Por isso não houve maiores problemas em estúdio. Elvis cantou a música com a letra na mão. Berry era um grande letrista, geralmente impondo uma narrativa quase cinematográfica em suas músicas. O saldo final foi excelente. Muitos fãs inclusive queriam que Elvis gravasse mais rocks nessa fase de sua vida, já que ele parecia muito concentrado em gravar música country e baladas românticas. A versão dele desse clássico de Chuck Berry acabou sendo a resposta que todos esperavam.
There's a Honky Tonk Angel (Troy Seals / Danny Rice) - Essa canção é o exemplo de mais um belo momento que passou despercebido por muitos. A melodia é bem melancólica, temos que admitir, provavelmente teria poucas chances de ser um hit, um sucesso nas rádios, mas mesmo assim é um grande momento do álbum. Foi lançada pela primeira vez pelo cantor country Conway Twitty. Era a primeira música de trabalho do disco, chamado oportunamente de "Honky Tonk Angel". Dentro do universo country de Nashville até que acabou chamando um pouco de atenção, o que diminuía ainda mais as chances de se destacar na voz de Elvis porque afinal não era mais uma novidade quando foi finalmente lançada pela RCA Victor. E é bom frisar que mais uma vez a versão de Elvis ficou bem superior. Basta ouvir as duas gravações para perceber bem isso.
Help Me (Larry Gatlin) - Essa faixa é um verdadeiro pedido de ajuda, um pedido de socorro. É curioso porque essa canção, com seu bom ritmo gospel e boa performance vocal de Elvis, nunca me deixou um sentimento de melancolia. Ao invés disso sempre achei seu ritmo de bom astral, de boa índole. Elvis a usou bastante ao vivo, coisa rara em se tratando de músicas desse álbum. No geral ele gravou as faixas aqui em estúdio e depois não as utilizou em sua agenda de concertos. "Help Me" é uma exceção. Inclusive ela surgiria novamente em sua discografia no disco gravado ao vivo em Memphis, aquele mesmo que trazia a mansão Graceland na capa. A letra é uma confissão, ou melhor dizendo, um diálogo com Deus. Elvis canta com o coração aberto em versos diretos como esses: "Senhor, ajude-me a caminhar / Outra milha, só mais uma milha / Estou cansado de andar sozinho / Senhor, ajude-me a sorrir / Outro sorriso, só mais um / Eu sei que não posso fazer isso sozinho". E ele continua, admitindo que já não pode mais resolver tudo sozinho, por ele mesmo: "Eu nunca pensei que precisasse de ajuda antes / Eu pensei que eu poderia fazer as coisas sozinho / Agora eu sei que eu não aguento mais / Com um coração humilde, de joelhos / Eu estou implorando, por favor, me ajude!". Eis aqui uma mensagem bem sincera por parte de Elvis. Juntando seu lado mais religioso com a coonfissão de seus anseios, medos e angústias. Ficou tudo muito sincero e bonito.
Mr. Songman (Summer) - Eu gosto muito da melodia de "Mr. Songman". Essa é uma música para se cantar em coro, de forma coletiva. Elvis sabia disso e acabou fazendo uma excelente performance vocal. Qualquer fã de Elvis sabe que no final da carreira ele se aproximou muito desse estilo mais gospel, tentando de certa maneira voltar aos tempos de criança, aos cultos evangélicos em Memphis. A canção havia sido escrito por Donnie Sumner e logo chamou a atenção de Elvis que nem demorou muito para gravar sua própria versão. Quem escuta percebe que Elvis estava adorando tudo ali. Era bem o estilo de música que ele queria cantar no período final de sua vida. Eu costumo afirmar que esse álbum "Promised Land" foi uma bela coleção de faixas românticas, country music e um pouquinho de rock, que acabou sendo ignorada pelo grande público. Os fãs de Elvis estavam sempre apreciando seus trabalhos em disco, mas como muitas dessas canções não fizeram sucesso acabaram sendo ignoradas pelas pessoas em geral. Uma pena pela qualidade envolvida no material.
Love Song of The Year (Chris Christian) - "Love Song of the Year" foi composta pelo compositor e produtor musical texano Chris Christian. É uma das canções mais melancólicas desse álbum. A letra tem uma frase muito expressiva que diz: "Então, eu confesso a minha solidão". É justamente esse o tema da canção, a solidão. Em primeira pessoa, o autor olha para o passado e faz uma espécie de comparação com o seu presente, admitindo seus erros para a pessoa amada. É uma tristeza de cortar coração, para ser bem sincero. Imagino Elvis no estúdio cantando com a alma sobre esse tema tão triste, cantando sobre a solidão, o amor perdido, a percepção que deixou seus melhores anos para trás. A canção acabou sendo recebida como uma original por Elvis Presley, pois não havia sido gravada por ninguém antes. O curioso é que nem Elvis e nem a RCA Victor não fizeram nenhum esforço pela faixa nos meses seguintes após sua gravação. Elvis não se interessou em levar a música para os palcos, talvez por ser intimista demais e a RCA, por sua vez, a lançou no disco "Promised Land" como um autêntico Lado B, ou seja, uma faixa para completar o álbum e nada mais. Uma pena, pois pela beleza triste de sua melodia poderia ter alcançado maior repercussão nas rádios, nem que fosse apenas para o público country e fã de Elvis, naqueles estados sulistas onde ele tinha seu fan club mais leal e apaixonado.
It's Midnight (Wheler / Chesnut) - É a mais bela música romântica desse disco. Para alguns a canção pode até soar melancólica e triste em doses excessivas, mas particularmente gosto muito. Além disso é uma letra que tem muito a ver com o próprio Elvis. Não é segredo para ninguém que ele sofria de insônia desde a juventude. Isso o levava a ficar muitas horas acordado durante à noite, enquanto todos estavam dormindo. É uma situação solitária por si mesma. Algo que Elvis poderia se identificar facilmente. As coisas pioravam ainda mais quando se sabe que Elvis não conseguia esquecer Priscilla. Certo, ele sempre tinha uma mulher por perto, em especial Linda, mas nem isso parecia acalmar seu lado emocional, algo que fica bastante claro em versos como esses: "Eu deveria tentar dormir / Descansar a minha cabeça e tentar esquecer você / Oh mas é meia-noite e eu sinto a sua falta!". Então podemos imaginar Elvis revirando em sua cama, tentando dormir, mas sem conseguir, sempre pensando na ex-esposa, na traição que sofreu, no novo relacionamento dela. Certamente era uma situação aflitiva para Elvis. Isso talvez explique também o constante uso de remédios para dormir em doses cada vez maiores ao longo dos anos. Não deve ter sido fácil.
You Love's Been a Long Time Coming (Rourker) - A primeira vez que ouvi esse country não foi através desse disco, mas sim de outro, intitulado "Our Memories of Elvis" que trazia as músicas em versões mais limpas, cruas, tais como tinham sido gravadas em estúdio por Elvis. Não havia o dito "embelezamento" das gravações através do trabalho posterior do produtor Felton Jarvis. Era um álbum póstumo que trazia o Coronel Parker e o pai de Elvis na frente de Graceland em 1978. Sim, era uma capa bem apelativa, devemos admitir, tudo para sensibilizar o fã de Elvis da perda. Dito isso devo dizer que é uma daquelas canções do estilo country que mais aprecio por parte de Elvis. Certo, não há nada de muito especial em termos de letra ou melodia, mas aqui a performance vocal de Elvis faz toda a diferença do mundo. Ele parecia gostar mesmo da canção e se empenhou para dar o melhor de si em seu trabalho no estúdio.
If You Talk in Your Sleep (West / Christopher) - Para alguns fãs essa é uma das melhores músicas do disco "Promised Land". Com influência até mesmo da black music de Nashville e Memphis, esse seria um dos pontos altos do LP. Penso um pouco diferente. Não nego as qualidades inerentes nesse tipo de canção dentro da discografia de Elvis, porém a considero apenas regular. OK, era um sopro de renovação dentro de seu repertório, porém Felton Jarvis a prejudicou um pouco depois ao acrescentar um arranjo mais exagerado, expressivo em demasia. Penso até que nem Elvis pensaria em colocar tantos instrumentos assim. Algo mais cru ficaria mais autêntico e vibrante.
Thinking About You (Baty) - É outro country do álbum. Essa já sempre achei apenas mediana, na média mesmo. Um autêntico Lado B da carreira de Elvis Presley, muito embora ele a cante com firmeza e concentração. Ouvindo esse tipo de faixa gravada por Elvis nos anos 1970 fico com a sensação de que ele basicamente escolhia dois tipos de músicas para seus discos. O primeiro tipo era aquele que visava ser usado em shows, tentando transformar essas músicas em hits, sucessos. O segundo tipo - categoria que essa canção se enquadra - era gravado mais para ganhar a simpatia dos críticos de música. Era uma canção mais introspectiva, mais cadenciada. Provavelmente nunca fariam sucesso em cima de um palco e Elvis sabia disso. De qualquer forma muita gente boa por aí, grandes fãs de Elvis ao redor do mundo, admiram bastante a música.
You Asked Me To (Jennings / Shaver) - Essa foi escolhida para ser a última música da edição original do disco (em sua versão americana) e também não mereceu muito destaque. Outro Lado B autêntico dentro da discografia de Elvis. Originalmente ela foi lançada como single, na voz de seu autor Waylon Jennings. Ele e Elvis gravaram praticamente na mesma época, mas Elvis teve sua versão arquivada pela RCA Victor por dois longos anos. Quando chegou no mercado o impacto já havia passado. Já Waylon Jennings colheu melhores frutos. A música fez sucesso no circuito de Nashville e ele alcançou um honroso oitavo lugar entre os mais vendidos da parada country. Isso significava não apenas um bom dinheiro vindo das vendas do compacto, como também oportunidade de fazer mais shows em rodeios de gado e festivais pelo sul. Já a versão de Elvis gravada no Stax Records studios, em Memphis, era bem mais convencional. Como Elvis andava procurando letras com que se identificasse essa também viria bem a calhar, pois trazia o sentimento mais verdadeiro do homem comum, trabalhador, que resolvia, mesmo sendo um sujeito durão, confessar para seu amor tudo o que pensava após anos de relacionamento. Era um desabafo emocional. Alguém apaixonado (até mesmo tolo, como confessa) que ainda estaria disposto a fazer de tudo por esse amor desde que ela lhe pedisse. É a declaração de um homem sem medo de ser piegas no mundo rural em que vivia. Enfim, uma balada country bem enraizada. Ficou muito bom, inclusive com os devidos créditos aos solos de James Burton, aqui relembrando um pouco os tempos em que tocava na banda de Ricky Nelson.
Pablo Aluísio.
Elvis Presley
ResponderExcluirPablo Aluísio.