Como já tive a oportunidade de escrever antes, até simpatizo com essa trilha sonora. Perceba que o filme é realmente horrendo, de péssima qualidade, algo que qualquer pessoa que entenda minimamente de cinema verá, mas a trilha sonora é até bem digna e razoável. Isso é até fácil de explicar. As trilhas eram gravadas antes das filmagens e Elvis estava particularmente empolgado em participar desse filme. Ele, em sua inocência, pensava que estaria prestes a fazer algo relevante, e ao lembrar de Rodolfo Valentino em "O Sheik", Presley pensou que estaria prestes a começar a produção que iria mudar sua sorte no cinema! Por isso se esforçou tanto para dar o melhor de si na gravação das canções para a trilha. Claro que depois, com o tempo, ele foi entendendo que estava entrando numa fria, mas aí o álbum já estava gravado e não haveria mais volta. O importante para o fã de Elvis é que seu trabalho de vocalização e até mesmo os arranjos das músicas são muito bons, surpreendentes até! Quase todas as composições são do trio Bernie Baum, Bill Giant e Florence Kaye. O Coronel Parker não queria mais compositores caros escrevendo para Elvis então eles viraram uma opção para os álbuns do cantor. Se em "Kissin Cousins" escreveram várias bobagens, aqui pelo menos se mostraram um pouco mais inspirados. Vamos às músicas?
Harem Holiday (Peter Andreoli - Vince Poncia) - A canção tema do filme deveria se chamar obviamente "Harum Scarum" mas essa era uma expressão sem nenhuma sonoridade, além de não fazer sentido para os ingleses. Ora, se nem eles que falam inglês iriam compreender o nome original do filme, o que dirá dos demais países? Assim em um raro momento de bom senso nesse projeto resolveu-se escrever um tema chamado "Harem Holiday", expressão que daria inclusive nome ao filme na Inglaterra. É um pop animadinho e bem gravado, nada demais, mas que serve para animar um pouquinho as coisas tanto no filme, como na trilha em si.
My Desert Serenade (Stanley J. Gelber) - A primeira boa canção da trilha. Elvis está particularmente bem e a melodia sem dúvida agrada. Consigo ver aqui lampejos melódicos até mesmo da nossa Bossa Nova! Essas sessões de gravação contaram com três novos músicos, que não eram habituais em discos de Elvis e que estavam lá para ajudar na sonoridade do Oriente Médio. Além do próprio diretor do filme, Gene Nelson na percussão, o novo trio contava ainda com Ralph Strobel no oboé e Rufus Long na flauta!
Go East - Young Man (Baum - Giant - Kaye) - A primeira composição do conhecido trio Bernie Baum, Bill Giant e Florence Kaye. O que dizer? Eles já demonstram aqui que certamente não serão tão grotescos como foram na maioria das canções de "Kissin Cousins". Outra boa melodia que se não tem boa letra, pelo menos agrada por seu ritmo leve e relaxante.
Mirage (Joy Byers) - Quem diria que Joy Byers assinaria algo assim? Para quem escreveu algumas das melhores canções pop de Elvis em Hollywood aqui surge com algo completamente diferenciado. Não é das minhas preferidas e a cena do filme em que ela é apresentada é outra coisa sem imaginação alguma. Elvis com um figurino estranho cantando para mais uma daquelas atrizinhas canastronas que contracenava com ela na época. Passe para a próxima.
Kismet (Sid Tepper - Roy C. Bennett) - Essa dupla escreveu alguns dos mais populares hits de Elvis nos anos 60, inclusive conseguiram o mérito de levar uma trilha sonora do cantor (G.I. Blues) a ser indicado ao Grammy!!! Certamente eram talentosos mas acabaram caindo nas garras de Tom Parker que os considerava "caros demais". Por isso suas composições foram rareando cada vez mais nos novos álbuns do astro em Hollywood. Essa, por exemplo, é a única deles nesse filme. Elvis a canta ao lado de um pequeno lago no filme, uma das poucas cenas externas de todo o filme, que foi praticamente todo rodado dentro dos estúdios para economizar ao máximo nos custos de produção. É uma boa baladinha que fica na média do que se ouve no resto da trilha sonora.
Shake That Tambourine (Baum - Giant - Kaye) - No vinil original essa canção fechava o lado A do disco. É a primeira grande bobagem da trilha. Elvis no filme surge numa cena muito fraquinha, com horrorosas calças verdes e um figurino de matar (no sentido ruim da palavra mesmo). As três moças que apresentam a cena ao lado dele não acertam um passo certo na coreografia. Enfim, um horror mesmo. Esqueça.
Hey Little Girl (Baum - Giant - Kaye) - O lado B do disco original era todo composto por esse trio. Para não ficar muito na cara a RCA enfiou lá no meio uma outra composição de Joy Byers, "So Close, Yet So Far (From Paradise)". Mesmo assim é aquela coisa toda de corte de custos e economia ao máximo que deixava uma sensação ruim no ouvinte. "Hey Little Girl" é outro popzinho bem descartável dessa trilha sonora. Letra bobinha e ritmo clichê! Quem diria que o Rei do Rock gravaria algo assim?
Golden Coins (Baum - Giant - Kaye) - As baladas salvam essa trilha sonora da mediocridade total. "Golden Coins" é uma delas. No filme infelizmente ela surge em outro momento sem noção. Elvis a canta dentro de um poço! Enquanto isso a atrizinha vai fazendo caras e bocas românticas. Momento mais trash de todo o filme!
So Close, Yet So Far (From Paradise) (Joy Byers) - Outra baladinha muito boa, na verdade a melhor do disco em minha opinião. Para quem não se lembra do filme Elvis a canta da janela de uma prisão. Enquanto isso os demais prisioneiros da masmorra fitam o horizonte pensativos! Bom, não é para menos que "Harum Scarum" é considerado o pior filme da carreira de Elvis no cinema! Mesmo assim a música é tão boa que consegue sobreviver a mais esse momento ruim do cantor em cena.
Animal Instinct (Baum - Giant - Kaye) - Mais uma do trio calafrio. É um pop que até tem uma boa pegada, chegou até mesmo a virar mix na época em que isso havia virado uma modinha com as músicas de Elvis. Um fato digno de nota é que Elvis chega até mesmo a nos relembrar de seus bons momentos do passado quando era um artista relevante. Para dar saudades do roqueiro Elvis dos anos 50.
Wisdom of the Ages (Baum - Giant - Kaye) - A canção que encerro o disco. "Harum Scarum" conseguiu a duras penas ficar em oitavo lugar entre os mais vendidos da Billboard. O detalhe importante é que seria a última trilha sonora de Elvis Presley a se classificar no Top 10. Depois disso Elvis iria amargar cinco anos de péssimas colocações de suas canções de filmes em Hollywood, um claro sinal que o público definitivamente havia se cansado de tanto material medíocre e sem expressão. O fracasso comercial começava a bater as portas de seus discos e de sua carreira.
Harum Scarum (1965) - Elvis Presley (vocais) / The Jordanaires (backing vocals) / Rufus Long (flauta) / Ralph Strobel (oboé) / Scotty Moore, Grady Martin, Charlie McCoy (guitarra) / Floyd Cramer (piano) / Henry Strzelecki (baixo) / D. J. Fontana, Kenny Buttrey (bateria) / Hoyt Hawkins (tamborins) / Gene Nelson (congas) / Fred Karger, Gene Nelson (direção musical) / Data de gravação: 24 a 26 de fevereiro de 1965 / Melhor posição na Billboard: #8 (EUA) #12 (UK).
Pablo Aluísio.
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