1964 foi um bom ano para Elvis nos cinemas, dos seus três filmes que estrearam naquele ano, dois foram sucesso tanto de público como de crítica: "Viva Las Vegas" e "Roustabout". O terceiro porém, foi um dos mais fracos de sua carreira: "Kissin Cousins" (com caipira não se brinca, no Brasil). Esse foi sem dúvida uma bola fora, mas vamos deixar para falar dele em uma outra oportunidade. O que interessa nesse momento é analisar um dos bons momentos do rei em Hollywood, o filme "Carrossel de Emoções" (Roustabout). Antes de mais nada é fácil afirmar que esta película trouxe para a carreira de Elvis uma de suas boas trilhas sonoras. Claro que ela não foge à regra das trilhas de Elvis nos anos 60, obviamente que há músicas bobinhas e tudo mais, mas neste caso elas estão em menor número, felizmente. Todas as dez músicas do filme são boas ou no máximo medianas, algumas são até de excelente qualidade e apesar de Elvis as gravar sabendo que era mais um produto Made in Hollywood, ou seja, funcionavam bem mais dentro do roteiro do filme, os resultados foram bem acima da média.
O filme em si também é muito simpático, um verdadeiro "clássico" da antiga Sessão da Tarde, lá pelos idos dos anos 1970 e 1980. Ver Elvis em um casaco de couro negro, andando por aí de moto e interpretando um tipo ainda rebelde (um dos últimos de sua filmografia) é sempre um prazer sem culpas. O próprio deve ter gostado muito de fazer esse papel ao estilo "Marlon Brando Soft". Obviamente se você tem mais de trinta anos certamente o assistiu alguma vez na TV, principalmente porque ele se tornou um dos maiores clássicos "Sessão da Tarde" da carreira de Elvis ao lado de "Feitiço Havaiano" (esse campeão absoluto na categoria). Convenhamos, o filme ainda é um entretenimento satisfatório mesmo depois de décadas passadas de seu lançamento original. Essas são as canções da trilha sonora:
Roustabout (Giant / Baum / Kaye) - Canção título do filme. Essa é na realidade a versão "B", pois a primeira versão tema foi rejeitada por Hal Wallis que considerou sua letra ofensiva. Essa versão "A" chamada de "I'm Roustabout" só foi lançada em 2003 no disco "Elvis 2nd to none". Ela foi redescoberta por acaso por seu autor pegando poeira em seus arquivos. Então ele entrou em contato com Ernst Jorgensen e perguntou se ele estaria interessado em lançar uma gravação inédita de Elvis no mercado (Isso é lá pergunta que se faça?!). O produtor atual dos discos de Elvis ficou encantando com a versão descoberta e tratou logo de a colocar no CD. O resultado todos conhecem: primeiro lugar nos EUA e Inglaterra e milhões de cópias vendidas ao redor do mundo. Pois é, mais vale um Elvis empoeirado do que milhares de artistas atuais tinindo de novo. Até mesmo porque qualidade não tem idade!
Little Egypt (Leiber / Stoller) - Esta canção acabou se tornando uma dor de cabeça para os produtores do filme. Tudo porque uma bailarina chamada "Little Egypt" resolveu processar todo mundo, afirmando que seu nome havia sido utilizado sem permissão no filme. E para completar ela pedia 3 milhões de dólares de indenização. Os advogados da Paramount conseguiram provar no tribunal que o filme se baseava em uma outra bailarina que usava o mesmo nome artístico, chamada Catherine Devine, que fez carreira em 1893 nos EUA. No fundo quem estava imitando e usando o nome de forma inadequada era a dançarina que processou o estúdio. Uma grande e desnecessária confusão jurídica. Já a canção em si é interessante, tem bom ritmo, embora o acompanhamento vocal feminino tenha ficado muito datado e fora de moda para os padrões atuais. Algo normal de acontecer.
Poison Ivy League (Giant / Baum / Kaye) - Mais uma canção do trio de compositores que passaram a ser bem presentes nas trilhas de Elvis nessa fase de sua carreira. Essa aqui tira uma onda com os universitários americanos que estudavam na Ivy League, grupo de universidades de ponta do sistema educacional americano onde só entram os riquinhos e filhinhos de papai de famílias tradicionais do país. Gosto de praticamente tudo aqui, da letra bem sarcástica, do bom ritmo e do vocal de Elvis - colocado bem "na frente" de seu grupo musical por ordens diretas do Coronel Tom Parker.
Hard Knocks (Byers) - Outro roquinho muito bom de autoria do J. Byers, o mesmo de "C´mon Everybody" do filme anterior, "Viva Las Vegas". A melodia tem pegada e as várias "paradinhas" da música ajudam a manter o interesse. Pena que é tão boa quanto curta!
It's A Wonderful World (Tepper / Bennett) - Como o enredo se passa praticamente todo em um parque de diversões era de se esperar que alguma canção lembrasse esse clima e ambiente. Assim os produtores contrataram mais uma vez a dupla Tepper e Bennett, especializados em canções temáticas, para compor essa canção com sabor de algodão doce. Não é à toa que eles foram responsáveis por quase todas as canções de "G.I. Blues", por exemplo. Essa música acho uma das mais fraquinhas da trilha, embora mantenha o nível.
Big Love Big Heartache (Fuller / Morris / Hendrix) - Uma das melhores músicas do disco, com ótima vocalização de Elvis, além de um arranjo primoroso. Ela seria lançada em single para tentar repetir o sucesso estrondoso de "Can't Help Falling in Love", mas como o LP vendeu muito bem e alcançou rapidamente o topo nos EUA (em pleno auge da Beatlemania) mudaram de ideia. Assim os produtores se contentaram com as vendas e cancelaram o lançamento do single. Momento acima da média dentro da trilha e do filme, pois a cena em que Elvis a canta foi realizada com bastante bom gosto.
One Track Heart (Giant / Baum / Kaye) - Começa com Elvis em uma pequeno solo vocal, depois entrando o grupo de apoio. Essa trilha tem algumas canções de curta duração para o personagem de Elvis cantar no parque, chamando os clientes em busca de diversões para entrar nas atrações. Fora do filme ficam meio sem sentido, mas essa pelo menos tem bom ritmo.
It's Carnival Time (Weisman / Wayne) - Um exemplo perfeito do tipo de música que citei no comentário anterior. Faz parte da seleção "algodão doce" da trilha sonora. Sem relevância quando tirada do contexto do filme, era uma canção típica para determinada cena e nada mais. Elvis está meio desanimado nos vocais, o que não chega a ser uma grande surpresa, pois o material infelizmente é bem fraco.
Carny Town (Wise / Starr) - Outra das mini-músicas ao estilo "algodão doce" de "Roustabout". Incrível como Elvis Presley conseguia trazer alguma relevância até mesmo às mais descartáveis músicas. É o tipo de gravação que Elvis jamais faria se não fizesse parte de algum filme. O final é bem esquisito e sem graça (aquilo é um erro de gravação ou foi escrita daquele jeito mesmo?).
There's a Brand New Day on the Horizon (J. Byers) - Eu particularmente gosto muito dessa música porque ela é antes de tudo uma canção alto astral que traz uma mensagem positiva (afinal de contas todos nós precisamos de um pouco disso, principalmente nos dias atuais). Ela fecha a seqüência final do filme. A trilha sonora desse filme foi gravada no Radio Recorders em Hollywood e foi lançada antes da estréia do filme, chegando ao primeiro lugar entre os mais vendidos. Além de "I'm Roustabout", duas outras gravações dessas sessões estão desaparecidas há anos: "I Never Had It So Good" e uma outra versão de "Poison Ivy League" com letra mudada. Em recente entrevista Ernst Jorgensen afirmou que não perdeu as esperanças de achá-las, vamos torcer para que algum dia ele consiga atingir esse objetivo. Milhões de fãs de Elvis ao redor do mundo torcem por ele.
Elvis Presley - Roustabout (1964) - Elvis Presley (vocal) / Tiny Timbrell (guitarra) / Billy Strange (guitarra) / Barney Kessel (guitarra) / Bob Moore (baixo) / Buddy Harmon (bateria) / D.J Fontana (bateria) / Hal Blaine (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Boots Randolph (Sax) / The Jordanaires: Gordon Stoker, Hoyt Hawkins, Neal Matthews Ray Walker (Backup Vocals) / Direção Musical: Joseph Lilley / Engenheiro de Som: Dave Weichman / Gravado nos estúdios Radio Recorders, Hollywood / Data de Gravação: 2 a 3 de março de 1964 / Data de lançamento: agosto de 1964 / Melhor posição nas charts: #1 (EUA) e #12 (UK).
Pablo Aluísio.
Elvis Presley
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