Nessa verdadeira "colcha de retalhos" musical valeu de tudo, misturar música country dos anos 50 com restos de trilhas sonoras de Hollywood, mesclar com algumas gravações avulsas deixadas por Elvis em 1963 e mais uma ou outra canção para fazer volume. O resultado de toda essa mistura é apenas regular, não chegando a ser ruim. Na verdade foi uma espécie de alívio para os fãs do cantor Elvis Presley (em momento quase desligado do ator Elvis Presley). A capa coloca Elvis como um típico comerciante do sul em sua loja de secos e molhados, colocando suas canções à venda pelo melhor preço, com direção de arte até bonita e bem bolada. E por mais interessante que aquela capa pudesse soar era justamente isso mesmo que estava acontecendo. Elvis tentando achar um pouco de variação em sua desgastada imagem na época, voltando ao mercado musical para tentar alcançar algum êxito comercial. Dito isso vamos tecer alguns comentários sobre as primeiras canções do disco (as que fizeram parte do Lado A do antigo vinil):
Your Cheatin Heart (Hank Williams) - Esse clássico de Hank Williams foi gravado por Elvis antes dele seguir para a Alemanha. O produtor não gostou do resultado, achou que o registro ficou com pouca qualidade sonora (o que é verdade) e por isso a canção foi arquivada pela RCA. Além disso foi um country deslocado das demais músicas daquela maratona de gravação - a última grande sessão roqueira da carreira de Elvis segundo muitos especialistas. Só lembraram dela mesmo muitos anos depois, justamente nesse "Elvis For Everyone" e o curioso é que ela continuou deslocada aqui, pois não consegue fazer par com nenhuma outra música desse álbum.
Finders Keepers, Losers Weepers (Dory Jone / Ollie Jones) - Gosto bastante dessa faixa, não por ser muito relevante dentro da discografia de Elvis mas sim por puxar para um ritmo bem gostoso de se ouvir. É um popzinho muito simpático e bem executado no final das contas. A letra usa uma expressão muito popular nos Estados Unidos, "Finders Keepers, Losers Weepers" que poderia ser substituído pelo nosso velho e conhecido ditado "Achado Não é Roubado". Elvis em grande forma em uma faixa menor, mas não ruim de sua discografia.
In My Way (F. Wise / B. Weisman) - É curioso que em um disco que foi lançado para atender aos pedidos dos fãs para darem um tempo em tantas trilhas sonoras tenha usado justamente de faixas de filmes para tapar os buracos. De certo modo não houve outro jeito para a RCA Victor. Isso mostra como a carreira musical de Elvis estava voltada completamente para as canções Made in Hollywood. Essa "In My Way" fez parte da trilha do filme "Coração Rebelde" (Wild In The Country) e como as demais músicas dessa trilha temos um arranjo bem básico, praticamente voz e violão. A letra só tem dois estrofes e é bem derivativa, uma singela declaração de amor. A performance de Elvis é boa de maneira em geral, mas não consegue sair muito do que era produzido na média daquela época. Não vá confundir com "My Way", essa sim uma música inesquecível e maravilhosa.
Tomorrow Night (S. Coslow / W. Gross) - Para os fãs da época essa faixa era o grande atrativo do álbum, afinal de contas era uma antiga gravação de Elvis ainda ao lado dos Blue Moon Boys! E era inédita! O problema é que o produtor Chet Atkins achou a versão original muito crua e por isso resolveu reconstruir a faixa em estúdio. Formou uma banda de apoio e refizeram toda a parte dos arranjos. Atkins era um mestre e seu trabalho ficou bonito só que o fã de Elvis estava mais interessado em ouvir a faixa tal como havia sido gravado na Sun Records e por isso houve um certo desapontamento de quem comprou o disco. Essa "Tomorrow Night" recauchutada porém ficou muito boa e merece ser conhecida (claro, sem deixar de lado a versão "raw" da Sun Records).
Memphis, Tennessee (Chuck Berry) - Muita gente boa não gosta dessa versão de Elvis Presley para esse clássico de Chuck Berry. Eu porém penso diferente. Acho uma bela gravação, com arranjos que inclusive poderiam ser classificados de bem modernos. Claro que o principal motivo que levou Elvis a gravar a música foi a homenagem que Berry fez para sua querida Memphis. Essa obviamente não passaria em branco para Presley, ele certamente a gravaria mais cedo ou mais tarde. E como acontecia com praticamente todas as composições de Chuck Berry essa aqui também tem uma narrativa praticamente cinematográfica em sua letra. Um belo momento que mostrava que o talento de Elvis ainda estava lá, intacto. O que faltava mesmo era bom material para ele gravar, uma pena.
Summer Kisses, Winters Tears (Wise / Weisman / Loyd) - Reprise que já havia sido lançada antes em um EP com parte da trilha sonora do faroeste "Estrela de Fogo". Essa música nunca me agradou, acho sua estrutura pouco atraente, além de não simpatizar com o refrão. A letra também não me agrada já que soa pueril demais para um filme com roteiro tão forte e relevante. Elvis está no controle remoto. Para falar a verdade ele nem queria gravar músicas para esse filme. Talvez sua má vontade tenha se refletido aqui de forma indireta. Enfim, poderia ter sido dispensada sem maiores problemas, talvez a RCA a tenha incluído apenas para ocupar espaço no vinil e nada mais. Uma lástima.
Forget Me Never (F. Wise / B. Weisman) - Outra canção do filme "Coração Rebelde". As músicas desse filme, como já salientei, possuem arranjos bem simples, na maioria das vezes puro violão e voz. A simplicidade das gravações são também acompanhadas pelas letras bem derivativas e sem novidades. Embora o material seja pouco marcante a voz de Elvis está bonita, capturando ele em um bom momento na carreira. De qualquer maneira a trilha sonora foi logo esquecida acompanhando o pouco sucesso do filme. Para quem curte baladinhas pode até ser uma boa pedida.
Sound Advice (Giant / Baum / Kaye) - Acho simpática, apesar de muitos considerarem a letra bem estúpida. Aqui o que vale é a marchinha alegre e alto astral, acima de tudo. Concordo que a letra não é nenhuma maravilha, aliás muito pelo contrário, mas é aquele tipo de música que pede por uma certa cumplicidade do ouvinte. Sua inclusão nesse álbum porém não agradou, uma vez que os fãs queriam ouvir canções normais de estúdio e não faixas de trilhas sonoras e como "Sound Advice" vinha diretamente da trilha sonora de "Follow That Dream" certamente não era bem-vinda nessa seleção musical. Outra que poderia ser dispensada, apesar de sua inegável simpatia e alegria.
Santa Lucia (Elvis Presley) - Embora creditada a Elvis no disco essa canção é uma tradicional melodia italiana, de teor religioso (na versão original). Ela fez parte da trilha sonora do filme "Viva Las Vegas" mas na época de lançamento do musical ficou bem ofuscada, sendo usada timidamente em cena. No mercado fonográfico foi ainda pior, passando completamente despercebida e em branco. Elvis mais uma vez aproveita para exercitar seus dotes de Mario Lanza. Sua vocalização é forte, poderosa e chega a lembrar de outros hits italianos de sua discografia como "It´s Now Or Never", mas no geral não marca muito. Também pudera, a faixa é curtinha demais para marcar maior presença.
I Meet Her Today (Don Robertson / H. Blair) - Das baladas do álbum considero essa a mais bonita. Ótima melodia, com letra inspirada e Elvis em grande momento. Essa música foi gravada na mesma sessão de "For The Milionth and The Last Time" e tal como a outra também estava completamente esquecida, arquivada há quatro anos em Nova Iorque. Como se vê há um bom tempo pegava poeira nos estúdios da RCA. Poderia ter feito parte de um single com sua irmã, mas a RCA mais uma vez errou, a usando como tapa buraco nesse disco sem maiores atrativos. Uma pena, a faixa é muito boa de fato. Se passou despercebida para você também, dê uma segunda chance.
When It Rains, It Really Pours (W.R. Emerson) - Um blues de estirpe que havia sido gravado por Elvis nos anos 50. Essa é dos tempos da Sun Records, afinal Elvis estava sempre tentando gravar um take que atendesse seus exigentes padrões musicais. É o tipo de gravação que fez Elvis Presley se tornar quem ele foi. Pena que registros assim andavam longe dos últimos discos do cantor nos anos 60, com suas trilhas sonoras recheadas de tolices. "When It Rains, It Really Pours" porém mostrava que ninguém poderia subestimar Elvis, pois era um cantor realmente especial que conseguia se sair bem em praticamente todos os ritmos americanos. A lamentar apenas o pouco número de canções de blues que cantou ao longo da carreira.
Pablo Aluísio.
Elvis Presley
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