"G.I. Blues" é uma das boas trilhas sonoras de Elvis Presley nos anos 60. Esse filme marcou a volta de Elvis aos Estados Unidos, após ele servir o exército americano na distante Alemanha. Era uma romantização de seu período como soldado na Europa. Elvis não gostou muito da ideia, mas preferiu manter seu descontentamento só para si. O que não foi de todo errado, até porque a Paramount Pictures providenciou uma boa produção para marcar sua volta aos cinemas. Ao mesmo tempo a RCA Victor preparou toda a parte musical, contratando um time de compositores de Nova Iorque para providenciar as canções do novo filme. Elvis tinha apenas que cantar e atuar da melhor forma possível. O resultado viria em sucesso comercial tanto nas lojas de discos como nas bilheterias de cinema. Foi justamente isso o que aconteceu. Por essa razão considero "G.I. Blues" ("Saudades de um Pracinha", no Brasil) um momento agradável da discografia de Elvis. Boas canções, bem executadas. O filme vai pelo mesmo caminho, um romance onde o personagem de Elvis tenta brincar com uma garota, colocando ela como alvo de uma aposta com seus amigos. O tiro porém sai pela culatra e ele fica mesmo apaixonado pela dançarina (interpretada pela simpática e carismática Julier Prowse). Enfim, um belo momento na carreira de Elvis nos anos 60, tanto em disco como em película.
Tonight Is So Right For Love (S. Wayne / A. Silver) - Como já tinha escrito antes essa faixa "Tonight Is So Right For Love" ganhou duas versões bem diferentes, tudo por causa de direitos autorais. Dependendo do país a versão que foi mostrada no filme acabou não saindo na trilha sonora original, o que causou uma certa confusão nos fãs de Elvis na época. Essa versão "diferente, mas parecendo igual", bem light, tem boa estrutura e agrada aos ouvidos, só que a versão europeia tem muito mais personalidade. Ela é apresentada em cena quando Elvis canta para Juliet Prowse em uma cantina tipicamente italiana. Tanto a cena como a música em si são ótimas. Nada a reclamar.
What's She Really Like (Sid Wayne / Silver Joe Lilly) - "What's She Really Like" tem uma melodia agradável e trouxe muito para o álbum de uma forma em geral. Mal foi utilizada no filme, tampouco foi promovida de alguma maneira pela RCA Victor. Acabou sendo um bom Lado B para "G.I. Blues". O ponto central aqui é elogiar a boa performance de Elvis nos microfones. Ele parece ter gostado da composição, se esforçando para dar o melhor de si. No estúdio tudo ficou muito bom, diria até acima da média. Uma pena que a canção não tenha tido mais espaço em sua discografia. Nos palcos nem é preciso falar nada. Elvis se afastaria de apresentações ao vivo por um longo período.
Frankfort Special (Sid Wayne / Sherman Edwards) - "Frankfort Special" tem o ritmo de um trem em movimento. Isso aconteceu porque os roteiristas escreveram uma cena em que Elvis, ao lado de seus companheiros de farda, tocava e cantava em um vagão de trem rumo à cidade de Frankfurt. Essa faixa sempre foi uma das minhas preferidas do disco. É aquele tipo de som que se destaca e consegue ser apreciada mesmo fora do conjunto da trilha. A RCA Victor poderia ter trabalhado melhor nessa gravação, talvez a lançando em um single antes do disco chegar nas lojas, mas preferiu que ela ficasse apenas incorporada ao disco, trazendo qualidade para o repertório de uma forma em geral. Nisso a faixa também funcionou muito bem.
Wooden Heart (Kaempfert / Wise / Weisman) - O maior hit saído desse disco foi a bela e terna "Wooden Heart", O curioso é que Elvis jamais cantou qualquer canção dessa trilha sonora em shows ao vivo, mas abriu uma pequena e breve exceção justamente para essa baladinha. Na Alemanha e países vizinhos como a Áustria ela é certamente uma das mais conhecidas da discografia de Elvis. Foi uma das poucas que beberam da cultura alemã dentro do repertório desse álbum. A cena do filme também era puro carisma, com Elvis contracenando com uma marionete em um show infantil típico da Alemanha. Com um pequeno trecho cantado na língua germânica, a canção acabou caindo nas graças daquela região europeia.
G.I. Blues (Sid Tepper / Roy C.Bennett) - O resto do material da trilha sonora passeia entre adaptações de marchas militares e canções românticas ao velho estilo. Nos dois tipos Elvis se sai bem. Ele estava em um período vocal muito bom. O interessante é que ele de certa maneira deixou a suavidade mais característica desse período de sua carreira para adotar, em certas faixas, um aspecto mais forte em sua voz. Exigências de um material que contava com esse fator, digamos, militar do tema. A própria canção tema, "G.I. Blues" ia por esse lado. A letra não era muito boa, mas seu estilo parada militar foi muito bem adaptada. Não deixa de ser curioso também como os Jordanaires, grupo gospel em sua origem, também conseguiu se adequar ao novo estilo.
Pocketfull Of Rainbows (Wise / Weisman) - Bem, se você teve o vinil original dessa trilha sonora de Elvis Presley vai se lembrar que a bela balada "Pocketfull Of Rainbows" abria o Lado B do álbum. No filme Elvis fazia um dueto com a atriz Juliet Prowse. Enquanto ele cantava ela fazia a harmonia em sua voz. Até que ficou bonita a participação da atriz e dançarina, só que no disco tanto a RCA Victor como o Coronel Parker acharam que sua voz não deveria estar na gravação. Por isso a versão que saiu no disco foi a com a pura voz de Elvis, sem acompanhamento de Prowse. Considero uma das melhores músicas românticas da fase de Elvis em Hollywood. A cena no teleférico no filme também ficou muito boa. Assim a canção funcionou muito bem, tanto no disco como no filme.
Shoppin' Around (Tepper / Bennet / Schroeder) - "Shoppin' Around" trazia algumas características que iriam se repetir em futuras trilhas sonoras do cantor nos anos 60. Tinha um excelente ritmo, uma boa gravação em estúdio, mas... uma letra fraquíssima. Os compositores que faziam as músicas de Elvis nesse período pareciam se inspirar nos grandes musicais da Broadway de Nova Iorque, mas obviamente criando canções bem mais simples. Funcionava no filme, na cena, mas no disco parecia sem muita qualidade. Não deixa de ser um bom momento do álbum, mas novamente deixo claro que a letra realmente ficou muito abaixo do esperado.
Big Boots (Wayne / Edwards) - "Big Boots" teve duas versões em estúdio. Uma em ritmo de canção de ninar, usada no filme na cena em que Elvis contracena com um trio de bebezinhos. Outra versão rápida, bem estilo rock, foi gravada também. A RCA pensou em usar essa versão em um single, que nunca foi lançado. Uma pena, teria sido muito interessante para o fã de Elvis nos anos 60 ter acesso a duas versões diferentes, uma lançada no álbum e no filme (a versão canção de ninar) e outra em compacto, puro rock, para tocar nas rádios. Infelizmente as noções de marketing da época eram bem diferentes das de hoje. Assim a Big Boots rock ´n´roll acabou sendo arquivada por décadas e décadas, só chegando ao mercado após muitos anos depois da morte de Elvis. Lamentável.
Didja Ever (Wayne / Edwards) - "Didja Ever" era basicamente uma marcha militar. Aqui os compositores se esforçaram bem para trazer o clima de quartel general para o disco. Elvis não gostou muito. Na verdade ele não curtia muito o repertório dessa trilha sonora e nem o roteiro do filme. Segundo Priscilla ele tentou cortar várias das canções, sem sucesso. Também não ficava à vontade pelo fato do roteiro explorar de forma fantasiosa seu serviço militar na Alemanha. Era algo que soava a oportunismo em sua mente. Talvez nesse ponto Elvis estava sendo crítico demais. De maneira em geral gosto do trabalho musical desse disco, muito embora nem sempre venha a considerar todas as canções como obras acima da crítica.
Blue Suede Shoes (Carl Perkins) - Um dos aspectos mais curiosos dessa trilha sonora de Elvis Presley foi o fato dele ter gravado uma nova versão de "Blue Suede Shoes". A criação de Carl Perkins foi gravada para seu primeiro disco na RCA, lá em 1956. Depois em 1960 Elvis voltou para registrar mais uma gravação da canção. Muitos críticos não gostaram do resultado, o que discordo com veemência. A nova Blue Suede Shoes ficou ótima, com um arranjo primoroso! Deveria inclusive ter sido lançada em single na Europa, mas novamente a RCA errou e decidiu que a nova versão só faria parte da trilha sonora e nada mais. Erro de estratégia de vendas ao meu ver.
Doin' The Best I Can (Pomus/Schuman) - "Doin' The Best I Can" fechava o disco orignal, LP, de "Saudades de um Pracinha". É uma bela e terna música romântica, muito bem cantada por Mr. Presley. No filme ela aparecia timidamente, quando o personagem de Elvis, o soldado Tulsa, reunia sua banda de amigos de farda para dar uma canja musical em um daqueles bares típicos da Alemanha. Na cena do filme sempre notei uma certa indiferença por parte de Elvis, porém no estúdio, gravando a faixa, ele foi tecnicamente perfeito. Vinha bem de encontro com o estilo vocal que ele passava a adotar por essa época de sua carreira, cantando de forma mais terna, mas cadenciada. Dando maior importância na dicção das frases, uma dica deixada por Frank Sinatra quando eles se apresentaram juntos no programa de TV da rede ABC.
Elvis Presley - G.I. Blues (1960): Elvis Presley (vocal) / Scotty Moore (guitarra) / Bob Moore (baixo) / D.J.Fontana (bateria) / Frank Bode (bateria) / Ray Siegel (contrabaixo) / Dudley Brooks (piano) / Jimmie Haskell (acordeon) / Tiny Timbrell (guitarra) / Hoyt Hawkess (guitarra) / Neil Mathews (tamborim) / The Jordanaires (vocal) / Produzido por Joseph Lilley e Hall WallisRCA Studios - Hollywood / Data de Gravação: 27, 28 de abril e 06 de maio de 1960 / Data de Lançamento: outubro de 1960 / Melhor posição nas charts: #1 (EUA) e #1 (UK).
Pablo Aluísio.
Elvis Presley - G.I Blues
ResponderExcluirTexto Compilado
Pablo Aluísio.
O legal é que o pessoal da banda do Elvis, os co-inventores do rock, apareciam em muitas cenas dos filmes dele.
ResponderExcluirSim, principalmente no "Loving You" e "Jailhouse Rock". Já no GI Blues são atores fazendo a banda de palco de Elvis. Acho que os produtores acharam que os caras originais do grupo musical de Elvis já estavam um pouco velhos para se passarem por soldados... rsrs
ResponderExcluirÉ verdade. Acho que no Rostabout também aparecem.
ExcluirAcho que em "Girls, Girls, Girls" também surge a banda real de Elvis. Em Viva Las Vegas um dos grupos vocais negros que cantaram na trilha sonora também está em cena (com destaque até!). Talvez eles tenham aparecido em outros filmes também, mas agora, no momento, não me recordo.
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