terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Desventuras em Série

Alguns filmes se destacam mais por algum aspecto técnico do que propriamente por suas virtudes artísticas. “Desventuras em Série” se encaixa nesse caso. O filme tem uma direção de arte de encher os olhos pois tudo é muito bem realizado nesse aspecto. Figurinos e maquiagem também impressionam, em especial a que foi realizada em Jim Carrey, o transformando em um velho ganancioso e cruel. Infelizmente param por aqui as qualidades do filme. Na realidade é uma adaptação de uma série de livros – totalizando 13 volumes – que contam a estória de três órfãos que acabam indo parar nas mãos de um tio ranzinza e inescrupuloso. Acontece que as crianças são herdeiras de uma grande fortuna deixada por seus pais, o que obviamente desperta a cobiça do tio ganancioso, o Conde Olaf (Jim Carrey). O tom obviamente é de fábula mas o resultado deixa a desejar talvez por se incompleto – o roteiro se baseou em apenas três dos treze livros que compõe o enredo. Diante disso as lacunas se acumulam e a sensação de que está faltando algo se torna obviamente evidente. A intenção original do estúdio era praticamente inaugurar uma nova franquia ao estilo Harry Potter mas a bilheteria não justificou a produção de novos filmes com esses personagens. Assim tudo ficou pelo meio do caminho, praticamente sem desfecho ou conclusão.

No final das contas o que se salva nesse “Desventuras em Série” é a já citada produção classe A e as presenças de carismáticos atores juvenis que dão muito bem conta do recado. Violet (Emily Browning), Klaus (Liam Aiken) e Sunny (Kara/ Shelby Hoffman) Baudelaire chamam atenção pelo talento precoce. Não é para menos, tanto nos EUA como na Inglaterra há uma longa tradição de ensino de teatro e arte dramática nas escolas (algo inexistente em nosso país) que acaba formando toda uma nova geração de bem desenvolvidos atores mirins. É incrível como conseguem atuar sem receios ao lado de gente como Meryl Streep (aqui fazendo uma pequena participação como a tia Josephine, uma mulher que tem medo de tudo e nutre uma verdadeira obsessão pela gramática falada e escrita corretamente). Já Jim Carrey segue seu estilo. O ator já está acostumado a trabalhar usando forte maquiagem e não se intimida com sua transformação física exigida pelo papel. No making off podemos inclusive ver como era penosa a construção dos vários tipos que o Conde Olaf se utiliza ao longo do filme. Em alguns casos Carrey ficava por até três horas no processo de maquiagem – algo realmente incômodo e complicado. Em suma, “Desventuras em Série” provavelmente irá agradar a garotada, mesmo sendo incompleto como é. Se pelo menos despertar a curiosidade dos mais jovens em relação aos demais livros da série, despertando assim o gosto pela leitura, já terá valido a pena.

Desventuras em Série (Lemony Snicket's A Series Of Unfortunate Events, Estados Unidos, 2004) Direção: Brad Silberling / Roteiro: Robert Gordon, Daniel Handler / Elenco: Jim Carrey, Meryl Streep, Jude Law, Emily Browning, Liam Aiken, Kara Hoffman. / Sinopse: Três órfãos que acabam indo parar nas mãos de um tio ranzinza e inescrupuloso. Acontece que as crianças são herdeiras de uma grande fortuna deixada por seus pais, o que obviamente desperta a cobiça do tio ganancioso, o Conde Olaf (Jim Carrey) que deseja se apoderar do dinheiro.

Pablo Aluísio.

Precisamos Falar Sobre o Kevin

Título no Brasil: Precisamos Falar Sobre o Kevin
Título Original: We Need to Talk About Kevin
Ano de Produção: 2011
País: Estados Unidos, Inglaterra
Estúdio: BBC Films, UK Film Council
Direção: Lynne Ramsay
Roteiro: Lynne Ramsay
Elenco: Tilda Swinton, John C. Reilly, Ezra Miller
 
Sinopse:
Eva Khatchadourian (Tilda Swinton) tenta reconstruir sua vida familiar que inclui um herdeiro que nunca quis ter. O garoto, além de ser uma das razões do desgaste do relacionamento entre ela e o marido, se transforma em um homicida ao elaborar e executar um massacre na escola onde estuda. Filme indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz (Tilda Swinton). Também indicado ao BAFTA Awards.

Comentários:
"Precisamos Falar Sobre o Kevin" é um dos melhores filmes de 2011. Com roteiro extremamente bem escrito o filme levanta muitas questões relevantes sobre o papel familiar nas tragédias ocorridas com jovens assassinos (como vimos acontecer na vida real em Columbine e outros centros educacionais nos EUA e até no Brasil). Até que ponto o núcleo familiar em que foram criados esses criminosos influenciaram na formação delitiva desses indivíduos? Será que familiares devem ser responsabilizados de alguma forma por esses acontecimentos? Outro ponto central é o debate sobre a educação que é dada hoje em dia em jovens e adolescentes. Será que tratar o filho como um "amigão", sem impor freios ou limites é realmente uma boa ideia? 

Por fim, embora muita gente não tenha se apercebido disso, "Precisamos Falar Sobre Kevin" retrata muito bem a meu ver o chamado "amor incondicional de mãe". Curioso como Kevin desde cedo apresenta uma personalidade estranha e sinistra mas mesmo assim sua mãe jamais o abandona. Tenta ter com ele um laço de afeto e carinho, apesar de como sabemos isso é quase impossível em personalidades psicopatas. O elenco é liderado por Tilda Swinton no papel da mãe de Kevin. Seu trabalho é um dos mais ricos e meticulosos que vi recentemente. Sua incapacidade de criar um elo com Kevin, seu estado físico e mental, seu grito interior e desespero são marcantes. John C. Reilly também está muito bem, embora seu papel seja de segunda importância e ele não tenha grande espaço em cena. Dos atores que interpretam Kevin (pois ele é mostrado em várias fases de sua vida desde a infância até a adolescência) o único que não gostei foi do pequeno Kevin. O ator mirim tem cara de capetinha mas mesmo assim não convence muito. Em suma, poderia passar horas aqui falando sobre tudo o que foi enfocado pelo filme, seja de forma direta ou indireta mas isso seria mera perda de tempo. O importante é recomendar para que cada um tire suas próprias conclusões.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Perigo em Bangkok

Mais um filme que Nicolas Cage fez na bacia das almas para pagar seus impostos atrasados. O diferencial aqui é que o estúdio na vã tentativa de tirar a carreira do astro da decadência resolveu importar uma dupla de diretores tailandeses para dirigir o novo filme de Cage. E o pacote veio completo do oriente pois além de dirigir, os cineastas orientais também se comprometeram a realizar esse remake de sua própria obra, pois o roteiro já tinha virado filme em seu país natal. Essa nova versão Made in Hollywood segue os mesmo passos do filme original ao mostrar um assassino profissional que sempre é contratado paras as mais complicadas “missões”. Eficiente e profissional ele acaba criando um nome no mercado mas ao mesmo tempo sente o peso de ser quem é, pois não consegue criar laços com ninguém, nem constituir família, pois seus serviços tornam isso praticamente impossível. Até que cansado do isolamento e da solidão em que vive resolve arranjar um parceiro, um nativo, e nesse processo também se apaixona por uma linda mulher da região, o que acaba transformando sua vida em um tremendo caos.

“Perigo em Bangkok” não traz novidades para a combalida carreira de Nicolas Cage. O roteiro é clichê até dizer chega e a atuação do ator é completamente no controle remoto. Um tanto sorumbático, atuando preguiçosamente, Cage mais parece um burocrata do cinema que tem que encarar projetos como esse para colocar sua vida financeira e fiscal em dia do que alguém que realmente ama o que faz. A tentativa de realizar um remake americano de um filme tailandês também não se revela uma boa idéia. O original é uma fita sem qualquer atrativo além das intermináveis lutas de artes marciais, uma atrás da outra. Roteiro praticamente inexistente, foi feito para as massas iletradas do oriente próximo. Tentar trazer alguma substância e conteúdo para algo assim é perda de tempo. Cage fixa o olhar no horizonte, faz cara de deprimido, tenta de forma bem negligente trazer alguma personalidade ao seu papel mas tudo isso é em vão. As cenas de ação são sonolentas e não empolgam. Enfim, “Perigo em Bangkok” simplesmente não funciona se tornando mais um projeto obtuso nessa péssima fase que o ator vem enfrentando.

Perigo em Bangkok (Bangkok Dangerous, Estados Unidos, 2008) Direção: Oxide Pang Chun, Danny Pang / Roteiro: Jason Richman / Elenco: Nicolas Cage, James With, Charlie Yeung, Shahkrit Yamnarm, Panward Hemmanee, Philip Waley. / Sinopse: Joe (Nicolas Cage) é um assassino profissional que paga caro por seu estilo de vida. Solitário e vivendo de forma obscura ele acaba abrindo mão de seus dogmas profissionais ao contratar os serviços de Kong (Shahkrit Yamnarm), um larápio de rua. Para piorar ainda mais sua situação se apaixona por uma nativa, o que acaba transformando sua vida em um completo caos.

Pablo Aluísio.

O Vingador do Futuro

Depois de "O Exterminador do Futuro" esse é o melhor filme de ficção da carreira de Arnold Schwarzenegger. O roteiro foi baseado no conto intitulado "We Can Remember It for You Wholesale", de Philip K. Dick. Esse autor teve vários de seus  livros adaptados para o cinema com grande êxito. Basta lembrar de "Blade Runner" para entender sua importância para a sétima arte. Aqui temos uma adaptação bem mais livre do texto original. O escritos de Dick nem sempre são facilmente transpostos para o cinema e por essa razão alguns filmes apenas usam da idéia central para construir a partir daí todo um argumento novo, com cenas e sequências que nunca foram criadas pelo escritor. "O Vingador do Futuro" reflete bem isso.  A trama se passa no distante ano de 2084. A estória começa quando um operário resolve entrar no programa Total Recall que promete simular uma viagem de férias dentro da mente do usuário. Ele terá assim as mesmas sensações e prazeres de uma viagem real só que com custo muito menor e sem o aborrecimento de ter que enfrentar os preparativos de  uma viagem real. O problema é que algo dá errado e Quaid (Schwarzenegger) se vê envolvido numa complicada rede de conspirações envolvendo o planeta vermelho, nosso vizinho Marte.

O filme foi dirigido pelo ótimo cineasta Paul Verhoeven bem no auge criativo de sua carreira. "O Vingador do Futuro" foi muito badalado em seu lançamento porque trazia efeitos especiais inovadores que utilizavam a ainda nova tecnologia dos efeitos digitais que anos depois virariam lugar comum nas produções do gênero. Como não poderia deixar de ser a película também procurava tirar bastante proveito da presença de Arnold Schwarzenegger, na época um campeão de bilheteria absoluto que conseguia atrair um grande público para seus filmes. Por essa razão o roteiro usa e abusa de espetaculares cenas de ação e lutas - algo que sequer foi pensando pelo autor Philip K. Dick em seus escritos originais. Outro destaque é a presença de linda Sharon Stone. Amargando alguns filmes fraquinhos no currículo no começo de sua carreira ela aqui tinha a primeira grande chance de chamar mais a atenção do grande público. Dois anos depois seria alçada a mito sexual do cinema com o grande sucesso de "Instinto Selvagem", naquele que seria o papel definitivo de sua vida. Em suma é isso. "O Vingador do Futuro" é uma excelente ficção que mistura ação, aventura e fantasia na medida certa. Recentemente houve um mal sucedido remake estrelado por Colin Farrell, o que prova mais uma vez que certas obras já encontraram sua versão definitiva no mundo do cinema. Tentar refazer algo assim é simplesmente desnecessário.

O Vingador do Futuro (Total Recall, Estados Unidos, 1990) Direção: Paul Verhoeven / Roteiro: Dan O'Bannon, Ronald Shusett e Gary Goldman baseados na obra de Philip K. Dick / Elenco: Arnold Schwarzenegger, Sharon Stone, Rachel Ticotin, Ronny Cox / Sinopse: Operário resolve fazer uma viagem virtual em sua mente usando de um programa que simula férias para seu usuário. Devido a uma pane no sistema ele acaba se vendo envolvido numa complicada teia de conspirações sobre o planeta vermelho, Marte. Vencedor do prêmio Saturn na categoria melhor filme de ficção científica do ano.

Pablo Aluísio.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Cada Um Vive Como Quer

Caso raro de título nacional que se encaixa muito bem na trama do filme. “Cada Um Vive Como Quer” é justamente o espírito desse argumento muito interessante onde acompanhamos o dia a dia de Bob (Jack Nicholson), um trabalhador comum dos campos de extração de petróleo no interior dos EUA. Ele não gosta do emprego mas segue em frente pois afinal é um trabalho para se viver. Nas horas de folga vai ao boliche com seus colegas de trabalho. Bebe e se diverte. Também mantém um relacionamento com Rayette (Karen Black), uma garçonete sem educação que fala pelos cotovelos – geralmente besteiras. Mesmo assim tenta manter esse namoro que obviamente não vai a lugar nenhum. O que parece ser o retrato de vida de um típico operário americano muda de foco quando Bob sabe através de sua irmã que seu pai que mora em outro estado sofreu dois derrames e se encontra impossibilitado de falar e expressar qualquer emoção. Chocado ele resolve fazer uma visita ao velho. Lá chegando o seu passado finalmente se revela. Bob (Nicholson) não é apenas um operário qualquer mas sim um sujeito talentoso que teve uma das melhores educações do ramo musical clássico. Embora seja um instrumentista raro e de habilidade ímpar ele não soube lidar com a pressão da profissão e resolveu largar tudo, vivendo da maneira como achava melhor.

“Cada Um Vive Como Quer” é um ótimo momento da filmografia do ator Jack Nicholson. O considero um dos três maiores atores vivos ao lado de Al Pacino e Robert De Niro. Aqui Jack está brilhante como um homem que larga tudo para viver da forma que bem entende, mesmo que para isso subestime seu talento e sua virtuosidade no piano clássico. Podendo lutar por um lugar em qualquer orquestra do país ele resolve trilhar outro caminho, exercendo profissões que geralmente são ocupadas por trabalhadores sem educação ou qualificação profissional. Vira um homem comum, vivendo uma vida comum. Seu retorno a casa de seu pai é o grande catarse do roteiro pois lá ele reencontra todos os familiares e amigos que fizeram parte de sua vida, professores de música, intelectuais e escritores, um ambiente completamente diferente do que vive no momento, pois seu círculo de amigos é formado basicamente por membros iletrados do operariado. Até sua nova namorada, uma garçonete histriônica, não parece se encaixar em nada no ambiente culto em que cresceu. Desse choque de realidades nasce o conflito interno do personagem. Jack demonstra isso de forma brilhante em sua caracterização. Sempre beirando a depressão, indeciso sobre suas próprias escolhas na vida, ele hesita bastante antes de seguir em frente. A cena final é sintomática nesse aspecto quando Bob simplesmente resolve dar mais uma guinada nos rumos de sua vida.  A indicação ao Oscar de Melhor Ator para Jack Nicholson foi mais do que merecida (ele perderia o prêmio para George C. Scott nesse ano). O estilo e o desenvolvimento do enredo pode ser até mesmo considerado cru, se comparado com o cinema atual, mas isso em nenhum momento desmerece ou diminui o ótimo roteiro que Bob Rafelson soube tão bem lapidar. Outro destaque é a ótima trilha sonora com muito country e música clássica (uma mistura bem incomum). Enfim, ótimo drama sobre o cotidiano ordinário e as lutas internas travadas por um homem comum que busca um rumo definitivo em sua vida.

Cada Um Vive Como Quer (Five Easy Pieces, Estados Unidos, 1970) Direção: Bob Rafelson / Roteiro: Bob Rafelson, Carole Eastman, Carole Eastman / Elenco: Jack Nicholson, Karen Black, Billy Green Bush / Sinopse: Bob é um operário da indústria petrolífera que esconde em seu passado uma realidade que em nada lembra sua atual situação econômica e social. Indicado aos Oscars de Melhor Filme, Melhor Ator (Jack Nicholson), Melhor Atriz Coadjuvante (Karen Black) e Melhor Roteiro Original.

Pablo Aluísio.

O Último Samurai

O diretor Edward Zwick dirigiu um dos melhores filmes sobre a Guerra Civil americana, “Tempo de Glória”. Em “O Último Samurai” ele voltou ao tema ou quase isso. O personagem principal do filme é um veterano dessa guerra que deixou milhões de mortes em solo americano, Nathan Algren (Tom Cruise). O veterano Capitão das tropas da União tenta conviver com os fantasmas desse conflito que ainda insistem em lhe assombrar. Mergulhado no alcoolismo não consegue mais visualizar nenhum objetivo de vida a alcançar. Sua salvação vem do outro lado do mundo, no Japão. Sociedade rigidamente hierarquizada e tradicional o país do sol nascente sofre com aquela que seria a última linhagem dos mitológicos guerreiros samurais. Rebelados, eles agora enfrentam as forças do Império. Para derrotar essa casta de forma definitiva o imperador Meiji resolve importar soldados americanos que lutaram na Guerra Civil, entre eles o atormentado capitão Nathan. O que se sucede depois é uma série de combates onde o estilo tradicional de guerra, fortemente enraizado em um milenar código de honra dos samurais, entra em choque com a tecnologia e o modo pragmático das táticas militares norte-americanas. Feito prisioneiro no campo de batalha, Nathan acaba ficando sob custódia do líder samurai Katsumoto (Ken Watanabe) e fica fascinado com a filosofia e o modo de vida desses combatentes. Não tarda a sofrer uma grande crise de consciência que o fará finalmente mudar de lado dentro do conflito.

Mais uma produção com ares de épico da carreira de Tom Cruise. Aqui ele vai até o Japão para combater a arte milenar dos samurais (famosos guerreiros nipônicos) mas acaba sendo seduzido por seu estilo de vida. É o velho choque de culturas entre o oriente e o ocidente, que tão bem já foi explorado pelo cinema em inúmeras produções. A produção é de primeira linha, com ótima fotografia e direção de arte. Tudo foi recriado com muito cuidado e capricho, sempre procurando ser o mais historicamente correto possível. Essa reconstituição histórica minuciosa é certamente uma das melhores coisas de “O Último Samurai”. Não é para menos, o projeto foi inteiramente desenvolvido para o astro Tom Cruise novamente brilhar nas bilheterias. O ator há muito é considerado um dos mais populares no Japão e o filme de certa forma aproveitou disso para faturar em cima de sua popularidade. O resultado comercial foi mais do que bem sucedido com 450 milhões de dólares de faturamento. O filme só não foi considerado um êxito completo porque Cruise e os realizadores tinham pretensões de tornar “O Último Samurai” um campeão também na Academia. Investindo pesado em marketing o estúdio tinha esperanças de que a produção conseguisse várias indicações e Oscars, até mesmo nas principais categorias, mas no final das contas não obteve sucesso nesse aspecto. A Academia sempre teve certo preconceito contra filmes que apelassem demais para a ação. Esse foi o pecado do roteiro, se focou demais nas cenas de combate, não desenvolvendo mais o lado dramático do argumento. Nesse processo acabou sendo esnobado nas premiações. No final das contas “The Last Samurai” só se tornou mesmo um sucesso comercial. De qualquer modo é um filme muito bom que merece ser redescoberto pelas jovens platéias.
   
O Último Samurai (The Last Samurai, Estados Unidos, 2003) Direção: Edward Zwick / Roteiro: Marshall Herskovitz, John Logan, Edward Zwick / Elenco: Tom Cruise, Ken Watanabe, Billy Connolly, Tony Goldwyn, Masao Harada./ Sinopse: Nathan Algren (Tom Cruise) é um capitão veterano da guerra civil americana vai até o Japão para combater a arte milenar dos samurais (famosos guerreiros nipônicos) mas acaba sendo seduzido por seu estilo e filosofia de vida.

Pablo Aluísio.

Aventureiros de Fogo

Título no Brasil: Os Aventureiros de Fogo
Título Original: FireWalker
Ano de Produção: 1986
País: Estados Unidos
Estúdio: Cannon Group
Direção: J. Lee Thompson
Roteiro: Robert Gosnell, Jeffrey M. Rosenbaum
Elenco: Chuck Norris, Louis Gossett Jr, Melody Anderson
  
Sinopse:
Dois aventureiros resolvem partir em busca de tesouros das antigas civilizações Astecas, Maias e egípcias, na América Central e em outras regiões inóspitas e perdidas do mundo. Na busca pelo ouro encontrarão muitas aventuras em locais exóticos e perigosos. Um filme de Chuck Norris em uma aventura ao estilo Indiana Jones.

Comentários:
Em 1986 a produtora Cannon Group resolveu escalar seu astro Chuck Norris para estrelar o filme "FireWalker", uma produção que procurava seguir os passos de Indiana Jones. Ao seu lado foi contratado o ator e ídolo black Louis Gossett Jr que tinha se destacado na aventura B “Águia de Aço”, um genérico do grande sucesso “Top Gun – Ases Indomáveis”. A produção seria realizada no México por causa das locações exóticas que o país poderia disponibilizar para a fotografia do filme e os baixos custos de se filmar por lá. Era um filme bem diferente para Chuck Norris. O ator que vinha de vários sucessos em filmes de ação que seguiam o estilo mais cru, tinha agora que bancar o aventureiro cheio de piadinhas do script. Definitivamente não era bem a praia dele. A Cannon apostava em um grande sucesso tanto que investiu mais do que costumava investir em efeitos especiais e pirotecnia. O diretor contratado era J. Lee Thompson, o mesmo que havia dirigido “As Minas do Rei Salomão” outro genérico de Indiana Jones pela mesma Cannon. Já deu para perceber logo de cara que originalidade realmente não era o forte desse “Aventureiros de Fogo”. Apesar dos esforços do estúdio o filme não conseguiu se dar bem nas bilheterias. Os fãs de Norris gostavam de vê-lo em filmes mais simples, de pura pancadaria, não uma produção que procurava seguir os passos dos famosos filmes de Spielberg. Ele tinha seu próprio estilo e imitar os outros soava como uma péssima ideia. O roteiro também não era nada bom, muito mal escrito e sem boas cenas de ação (um pecado para o fã clube de Chuck Norris). 

Assim o filme simplesmente não pegou, não deu certo. A crítica por sua vez detestou (mais do que o normal em se tratando de filmes de Norris). “Imbecil”, “Péssimo” e “estúpido” foram adjetivos usados para qualificar o filme. O próprio Chuck Norris ficou chateado com o resultado. Para falar a verdade ele nunca havia comprado inteiramente a ideia. Como resultado da má repercussão do filme ele resolveu dar um tempo e ficou dois anos longe das telas de cinema, só retornando com “Braddock 3” que logo também se tornou um fracasso de público e crítica. De qualquer modo “Aventureiros de Fogo” marcou o fim da melhor fase do ator nas telas de cinema. A década de 1980 foi onde ele realizou seus maiores sucessos comerciais. Filmes simples, sem muitos recursos, com orçamentos bem modestos, mas que conseguiam trazer bom retorno de bilheteria. O erro do estúdio foi tentar transformá-lo em um novo Harrison Ford, coisa que ele definitivamente não era. Depois disso Norris rompeu com a Cannon e tentou bancar seus próprios filmes, algo que não deu muito certo. A salvação só viria mesmo na TV quando finalmente reencontraria o sucesso na pele de um Texas Ranger durão. No final fica a lição, não se pode transformar um ator em outro, por mais sedutora que seja essa ideia.

Pablo Aluísio.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Guerreiros de Fogo

Quando os primeiros cartazes de “Guerreiros de Fogo” surgiram nos cinemas brasileiros muita gente pensou tratar-se de mais uma aventura com Conan, o famoso personagem dos quadrinhos. Não era para menos. O filme era estrelado pela montanha de músculos Arnold Schwarzenegger, o mesmo que havia encarnado o guerreiro em uma outra produção do mesmo estúdio Dino de Laurentis que também havia realizado essa película. Além disso o pôster oficial com o ator em  uma pose típica lembrava demais o personagem bárbaro. Mas não era Conan e sim Kalidor que Schwarzenegger interpretava. De fato nem era o principal papel do filme. Na verdade “Guerreiros de Fogo” tinha como foco contar a estória de Red Sonja, uma guerreira do mesmo universo de Conan, também criada pelo autor Robert E. Howard. A protagonista era interpretada pelo loiraça Brigitte Nielsen que se tornaria a esposa de Sylvester Stallone. É curioso assistir a esse filme e perceber que Arnold não passa na verdade de um coadjuvante de luxo. Ele já tinha estourado com “O Exterminador do Futuro” e esse papel secundário só foi aceito porque ele tinha uma dívida de gratidão com Dino de Laurentis, que o havia escalado no primeiro Conan, abrindo as portas do cinema para o austríaco musculoso.

Revisto hoje em dia “Guerreiros de Fogo” soa bem datado. Não é surpresa. O filme teve um orçamento bem mais modesto do que Conan, por exemplo, e tinha um roteiro frouxo, sem foco. Arnold Schwarzenegger apenas passeia de lá pra cá, solta algumas porradas e não parece estar muito interessado. Pior se sai Brigitte Nielsen que provava com o filme que não tinha carisma suficiente para virar uma estrela. De fato era uma mulher impressionante, alta, bonita, com belo físico, mas como atriz era realmente uma nulidade. Sua carreira no cinema sofreria um golpe mortal quando resolveu trair Stallone com a secretária. Na época não se sabia que ela tinha tendências bissexuais mas o fato é que a mãe de Stallone, ao visitar a mansão do filho de surpresa, a pegou no flagra transando com a secretária particular do ator. A reação de Sly foi o pedido imediato do divórcio e a demissão de sua empregada (óbvio). A partir daí Brigitte cairia em um grande ostracismo. A dinamarquesa que teve seu primeiro papel aqui logo afundou, estrelando uma coleção incrível de filmes sem expressão, medíocres. No saldo final “Guerreiros de Fogo” deve ser assistido pelos fãs de Arnold Schwarzenegger e nada mais. Não é uma grande aventura de ação e nem uma bela adaptação dos quadrinhos que lhe deram origem. Vale apenas como curiosidade de ver o astro austríaco fazendo um genérico de Conan, o Bárbaro.

Guerreiros de Fogo (Red Sonja, Estados Unidos, 1985) Direção: Richard Fleischer / Roteiro: Clive Exton baseado na obra de Robert E. Howard / Elenco: Arnold Schwarzenegger, Brigitte Nielsen, Sandahl Bergman / Sinopse: A guerreira Red Sonja (Brigitte Nielsen) parte para a vingança contra uma rainha maléfica que destruiu sua família. Filme baseado em personagens do mesmo universo que Conan, o cimério de bronze.

Pablo Aluísio.