domingo, 12 de fevereiro de 2012

Harley Davidson & Marlboro Man

Depois de vários anos revi esse filme cujo nome mais parece comercial de empresas: Harley Davidson & Marlboro Man. Curiosamente não parece ser o caso pois as próprias empresas colocaram um aviso logo no começo do filme explicando que não se tratava de marketing disfarçado. Na realidade o uso dessas marcas vem de encontro à proposta de se criar personagens de estilo. Tanto o Cowboy (Don Johnson) quanto o Motoqueiro (Mickey Rourke) são apenas estereótipos na realidade. O mesmo vale para os bandidos, em casacos de couro à la Matrix eles também são puro design, sem qualquer tipo de profundidade por trás. O filme foi dirigido por Simon Wincer que havia se destacado pelo estranho filme "DARYL" e que curiosamente iria dirigir seu maior sucesso após esse aqui, o filme sessão da tarde "Free Willy". 

"Harley Davidson & Marlboro Man" é uma fita assumidamente simples (apesar de todo o estilo) e investe basicamente em várias cenas de ação - com destaque para o salto na piscina em um hotel de Las Vegas e o tiroteio em um cemitério de aviões da força aérea americana. Mickey Rourke e Don Johnson estão em seus tipos habituais. Na verdade fizeram o filme porque a carreira de ambos começava a declinar e tentavam emplacar um sucesso de bilheteria. Não conseguiram. O filme rendeu pouco e não conseguiu se pagar nos cinemas (a coisa só melhorou um pouco depois no mercado de vídeo). Enfim é isso, apesar de ter sido rodado nos anos 90 o filme mais parece um produto da década de 80. Se você gosta de filmes daqueles anos pode se divertir sem problemas.   

Harley Davidson & Marlboro Man (Idem, Estados Unidos, 1991) Direção: Simon Wincer / Roteiro: Don Michael Paul / Elenco: Mickey Rourke, Don Johnson, Tia Carrera, Tom Sizemore, Chelsea Field / Sinopse: Harley Davidson (Mickey Rourke) e Marlboro Man (Don Johnson) se envolvem com um perigoso grupo de traficantes e contrabandistas high tech.  

Pablo Aluísio.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Morte Sobre o Nilo

Assim como os livros de James Bond os livros escritos por Agatha Christie seguiam uma fórmula básica. No caso dessa autora ela geralmente reunia várias pessoas suspeitas em um ambiente fechado (como um barco ou trem) e colocava o leitor na situação de tentar descobrir quem seria o assassino. É exatamente isso que temos aqui nesse "Morte sobre o Nilo". Vários personagens se tornam suspeitos da morte de uma rica herdeira que misteriosamente é morta durante um cruzeiro turístico pelo Egito. O filme em si é muito interessante, tem ótimas cenas externas (filmadas no templo de Karnak e nas pirâmides de Gizé) e um elenco de encher os olhos de qualquer cinéfilo.

O destaque obviamente vai para o grande ator Peter Ustinov que aqui interpreta um dos personagens mais famosos da escritora, o inspetor Hercule Poirot (que todos pensam ser francês mas que é belga na verdade). Ustinov domina a cena, tentando descobrir quem teria cometido o crime. Nunca assisti uma atuação fraca de Ustinov e aqui não seria exceção. Ao lado dele, o auxiliando, temos outro grande ator, David Niven. Já envelhecido, prestes a se aposentar o ator ainda tinha uma bela presença de cena. Entre as atrizes o filme traz uma Mia Farrow fazendo mais uma personagem perturbada e a grande diva Bette Davis, discreta, elegante e atuando ao lado da também excelente Maggie Smith. Enfim, só pela oportunidade de ver tanta gente talentosa junta já vale a existência do filme. Assista, se divirta e tente descobrir o quebra cabeça da trama.

Morte Sobre o Nilo (Death on the Nile, Inglaterra, Estados Unidos, 1978) Direção de John Guillermin / Elenco: Peter Ustinov, Bette Davis, David Niven, Mia Farrow / Sinopse: Grupo de ricos em turismo pelo Egito acabam entrando em um cruzeiro pelo Rio Nilo aonde um assassinato é cometido. Todos no navio tem algum motivo para ter matado a vítima. Quem teria afinal feito o terrível crime? Baseado na famosa obra de Agatha Christie.

Pablo Aluísio.

Meia Noite em Paris

Achei esse um dos filmes mais acessíveis da carreira de Woody Allen. Ao contrário das produções mais intelectuais do diretor aqui tudo soa como algo inofensivo, simples, diria que "Meia Noite em Paris" é o produto mais pop do cineasta. Curtinho, levinho, muito bonito e com direção e roteiro redondinhos não me admira em nada que tenha sido a melhor bilheteria do diretor. Diria que basicamente estamos na presença de um "De Volta Para o Futuro para intelectuais (ou pseudo intelectuais)", um filme para ser exibido em shopping center sem exigir muito do espectador. Ao lado dos encontros do personagens com nomes famosos do passado em Paris (em boa atuação de Owen Wilson, cheio de maneirismos do próprio Alllen) há uma estorinha de turistas americanos curtindo a cidade luz. Nada muito aprofundado, bem básico, assim como também são os célebres do passado que surgem no decorrer do filme. 

De certa forma Dali, Picasso, Fritzgerald e outros são mostrados em caracterizações bem clichês - e de forma bem rasa, algumas vezes com diálogos bem didáticos para informar aos espectadores quem são aqueles que surgem em cena. Algumas vezes funciona e em outras não, virando o mais puro e rasteiro clichê (como Dalí que é retratado como um maluco delirante). É a tal coisa, se o espectador entrar e comprar a idéia de Allen vai curtir mesmo que em nível superficial. Aliás se eu tenho uma crítica a "Meia Noite em Paris" é justamente essa: é um filme superficial e bonitinho demais onde o diretor abusou de imagens e estereótipos em excesso para agradar o povão. Parece que o diretor, que sempre foi um artista ousado e inovador, preferiu puxar o freio de mão para agradar às massas sem perder sua imagem de intelectual de Nova Iorque. O tiro saiu pela culatra na minha opinião. Prefiro o Allen complexado e neurótico do que esse aqui embalado para consumo rápido em praça de alimentação de shopping center. Se fosse resumir diria que "Meia Noite em Paris" é o fast food de Woody Allen, ou melhor dizendo, um croissant para turista americano de bermudão.  

Meia Noite em Paris (Midnight in Paris, Estados Unidos, Espanha, 2011) Direção: Woody Allen / Roteiro:: Woody Allen / Elenco: Owen Wilson, Rachel McAdams, Kathy Bates / Sinopse: Americano em férias em Paris acaba encontrando grandes nomes do passado em suas andanças noturnas pela cidade luz.  

Pablo Aluísio.

Ironclad - Sangue e Honra

"Ironclad - Sangue e Honra" é uma violenta aventura medieval. O filme começa muito bem, todo se baseando no reinado de João Sem Terra, famoso monarca inglês que foi forçado a assinar a chamada Magna Carta (uma das primeiras declarações de direitos individuais da história). Até aí tudo bem. O problema é que o Rei resolve ignorar tudo o que assinou e assim um grupo de rebeldes tenta novamente organizar uma rebelião contra o Rei. Dito assim pode-se pensar que o filme é rico em argumento mas não. Em menos de 30 minutos os rebeldes se fixam nas trincheiras do castelo de Rochester e o tema do filme, que poderia ser bem amplo, acaba se resumindo nessa situação de castelo sitiado pelas forças reais (que contam com a ajuda de mercenários dinamarqueses). 

Como toda situação de cerco somos apresentados a todas as táticas da época para tomar o castelo. Nesse ponto o filme se concentra nessa situação e a violência corre solta. É um dos filmes medievais mais violentos que já vi, beirando o gore. Cavalheiros são decepados, cortados, torturados, queimados, etc, etc. O banho de sangue toma conta da tela. No elenco o ponto alto fica, como era de se esperar, com Paul Giamatti no papel de João Sem Terra. Ele está alucinado em cena (no aspecto positivo do termo). No saldo geral vale a pena assistir, apesar de que saí com a sensação de que poderia ser muito, muito melhor. 

Ironclad - Sangue e Honra (Ironclad, Estados Unidos, 2011) Direção: Jonathan English / Roteiro: Jonathan English / Elenco: Paul Giamatti, Jason Flemyng, Brian Cox / Sinopse: Um grupo de rebeldes são sitiados durante o reinado de João Sem Terra na Idade Média. Roteiro levemente inspirado em fatos históricos reais.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Amor e Outras Drogas

Jamie (Jake Gyllenhaal) é um astuto representante de vendas de uma grande indústria de medicamentos. Em seu cotidiano ele se vê impelido a vender seu produto a todo custo, usando de todos os meios para que os médicos e os hospitais a que visita adotem as drogas que ele vende como padrão. Como recebe por comissão sua vida financeira depende diretamente disso. Numa dessas vendas acaba conhecendo Maggie (Anne Hathaway), uma charmosa jovem que no momento não está interessada em se relacionar com ninguém. Atitude que Jamie tentará mudar. "Amor e Outras Drogas" é uma comédia romântica que passeia por diversos estilos cinematográficos. Começa com um roteiro bem humorado, com doses generosas de cinismo e situações de duplo sentido. Depois vira um soft porn com muitas cenas de nudez, explorando de todas as formas o sex appeal do casal central. Por fim e pela terceira vez o filme tenta mudar novamente virando dessa vez um drama pesado onde os personagem vão ter que lidar com uma terrível situação. 

Em nenhum desses gêneros o filme chega a acertar direito, o roteiro está sempre fora de foco, procurando se encontrar mas nunca chega a um bom termo. A produção joga o tempo todo com a indústria farmacêutica. O personagem principal Jamie é no começo do longa um vendedor que só pensa no lado financeiro do mundo das drogas prescritas. Nunca se importa com o outro lado, a dos doentes e das pessoas que necessitam desses remédios para sobreviver. Para ele as drogas são apenas um meio para ganhar muito dinheiro e só. Apenas quando se vê atirado no outro lado é que ele cria real consciência do que efetivamente está lidando. O roteiro parece querer reforçar a crítica contra a indústria e o lado desumano da comercialização de medicamentos mas não desenvolve o tema a contento, se concentrando muito mais no lado romântico do casal. Faltou um pouco mais de trato nesse aspecto. Além disso some-se a isso o fato do filme ser longo além do necessário (para falar a verdade longo demais para uma estória que no fundo é simples). No final provavelmente vai desagradar a quem procura apenas uma comédia romântica leve e também aos que procuravam por algo com mais conteúdo. Esse problema é típico de filmes que atiram para todos os lados como esse "Amor e Outras Drogas".  

Amor e Outras Drogas (Love and Other Drugs, Estados Unidos, 2010) Direção: Edward Zwick / Roteiro: Edward Zwick, Charles Randolph, Marshall Herskovitz, Jamie Reidy / Elenco: Jake Gyllenhaal, Anne Hathaway, Oliver Platt, Hank Azaria, Josh Gad, Gabriel Macht / Sinopse: Jamie (Jake Gyllenhaal) é um astuto representante de vendas de uma grande indústria de medicamentos. Em seu cotidiano ele se vê impelido a vender seu produto a todo custo, usando de todos os meios para que os médicos e os hospitais a que visita adotem as drogas que ele vende como padrão. Como recebe por comissão sua vida financeira depende diretamente disso. Numa dessas vendas acaba conhecendo Maggie (Anne Hathaway), uma charmosa jovem que no momento não está interessada em se relacionar com ninguém. Atitude que Jamie tentará mudar.  

Pablo Aluísio.

Bronco Billy

Bronco Billy é basicamente uma homenagem a três coisas. Primeiro é uma homenagem ao mundo do circo, à vida daqueles que ganham seu sustento trabalhando cidade após cidade, levando esse secular entretenimento aos lugares mais remotos. Clint Eastwood não esconde que de certa forma homenageia aqui o famoso Buffalo Bill que fez fama e fortuna com seu show itinerante do velho oeste no começo do século passado (Buffalo Bill tem inclusive um ótimo filme enfocando sua vida, estrelado por Paul Newman). Outra homenagem que Clint faz com seu filme é em relação à mitologia do western. Ele brinca com sua própria imagem de cowboy no cinema. Achei excelente esse bom humor por parte dele em se auto parodiar. Por fim, e o mais importante, Clint homenageia o direito de cada um realizar seus sonhos. 

A cena que define Bronco Billy é aquela em que o personagem de Clint explica para sua companheira que ele tinha sido a vida inteira um mero vendedor de sapatos da cidade grande até que um dia resolveu largar tudo para correr atrás de seus sonhos. No caso o sonho que ele almejava desde a infância era a de ser um cowboy de verdade (igual aos que via no cinema quando criança). Eu achei tão lírica essa situação que valeu pelo filme inteiro. Enfim, ótima diversão para todas as idades e que mostra bem que o talento de Clint Eastwood como cineasta vem de longe!  

Bronco Billy (Bronco Billy, Estados Unidos, 1980) Direção: Clint Eastwood / Roteiro: Dennis Hackin / Elenco: Clint Eastwood, Sondra Locke, Geofrey Lewis / Sinopse: Bronco Billy (Clint Eastwood) tem um pequeno circo itinerante onde apresenta por cidadezinhas do interior dos EUA seu show de faroeste ao lado de seu grupo de artistas. Após ter a lona de seu circo incendiada em um acidente Bronco tem uma grande idéia para levantar seu show novamente.  

Pablo Aluísio.

Apollo 18

Uma tremenda bobagem. Poderia resumir esse Apollo 18 assim, dessa maneira simples. De todos os formatos que andaram surgindo nos últimos anos esse que chamo de "falso documentário" (existem outras denominações por aí) é um dos piores. É engraçado porque eles geralmente seguem o mesmo caminho: tentam virar hits na internet, semeiam informações falsas e depois tentam vender tudo como se fosse verdade. Na época de "A Bruxa de Blair" isso ainda era uma novidade e tanto (e deu muito certo como demonstra sua bilheteria) mas hoje em dia tentar servir um prato requentado tantas vezes soa desnecessário. 

Além desse aspecto "Apollo 18" tem um sério problema: é muito bobo o roteiro. Para quem cresceu vendo os roteiros bem elaborados da série clássica Star Trek ter que encarar uma bobagem dessas é dose pra leão. Em pouco mais de 60 minutos o filme nos enrola com pseudo papo de cunho técnico fajuto para dar alguma veracidade ao que ocorre na tela. Mas tudo vai por água abaixo, os atores são fracos, as imagens repetitivas logo cansam e o irritante áudio de má qualidade nos enche a paciência. A velha estorinha de ETs do mal já deu o que tinha que dar. Pra falar a verdade teria sido muito melhor se realizassem um documentário real sobre a Apollo 17, essa sim uma missão verdadeira. Já a Apollo 18 foi pura perda de tempo e dinheiro. 

Apollo 18 (Apollo 18, Estados Unidos, 2011) Direção: Gonzalo López-Gallego / Roteiro: Brian Miller / Elenco: Warren Christie, Lloyd Owen, Ryan Robbins / Sinopse: Imagens secretas do governo americano são descobertas mostrando os terríveis acontecimentos com a tripulação da missão Apollo 18.0

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Um Método Perigoso

"Um Método Perigoso" lida com a complicada relação entre os famosos Carl Jung (Michael Fassbander) e Sigmund Freud (Vigo Mortensens). O que havia começado como uma relação fraternal, quase de pai para filho, acaba desandando quando Jung ousa colocar em dúvida as bases das teorias de Freud. Para piorar ainda mais o relacionamento entre ambos logo vem à tona o fato de Jung ter se relacionado sexualmente com uma de suas pacientes, Sabina Spielrein (Keira Knightley). Um fato totalmente condenado por Freud. Realizar um filme assim é muito complicado pois se corre o risco do resultado final soar complicado demais para os leigos ou excessivamente superficial para os estudiosos das obras de Freud e Jung. Hoje em dia a própria psicanálise anda no fio da navalha pois o avanço dos remédios contra certos males da mente progrediu tanto que não é raro médicos da área desacreditarem totalmente tudo o que Freud e Jung produziram ao longo da vida. Se não for para debater a validade das teses de Freud e Jung então para que realizar esse tipo de filme?

De qualquer forma com esse material o diretor só tinha dois caminhos mesmo a seguir: ou realizar um filme ao estilo "novelão", sensacionalista, enfocando a vida sexual de Jung ou então algo mais cerebral, focado melhor nas divergências entre os dois pensadores. Infelizmente ao invés de escolher apenas um caminho e investir nele o diretor David Cronenberg tentou seguir os dois caminhos ao mesmo tempo, sem se ater a nenhum deles, transformando o resultado final bem superficial em ambos os lados. Nem desenvolve bem a conturbada relação Jung / Freud e nem muito menos consegue impor maior densidade dramática ao que acontece com as aventuras de alcova de Jung. Desse jeito acabou aborrecendo e decepcionando justamente tanto os especialistas quanto os leigos. Enfim, "Um Método Perigoso" é um filme esquizofrênico no final das contas e o pior dos pecados, bem superficial.

Um Método Perigoso (A Dangerous Method, Reino Unido, 2011) Direção: David Cronenberg / Roteiro: Christopher Hampton baseado no livro de John Kerr / Elenco: Keira Knightley, Viggo Mortensen, Michael Fassbender, Vincent Cassel / Sinopse: "Um Método Perigoso" lida com a complicada relação entre os famosos Carl Jung (Michael Fassbander) e Sigmund Freud (Vigo Mortensens). O que havia começado como uma relação fraternal, quase de pai para filho, acaba desandando quando Jung ousa colocar em dúvida as bases das teorias de Freud. Para piorar ainda mais o relacionamento entre ambos logo vem à tona o fato de Jung ter se relacionado sexualmente com uma de suas pacientes, Sabina Spielrein (Keira Knightley). Um fato totalmente condenado por Freud.

Pablo Aluísio.

O Psicólogo

Eu não sei bem o porquê mas ultimamente os filmes do Kevin Spacey estão saindo diretamente para o mercado de DVD no Brasil não tendo chances de serem exibidos nos cinemas. Uma pena já que ele tem apresentado ótimas interpretações como no caso desse "O Psicólogo" (um título estranho embora literal - Shrink é uma gíria para a profissão - e que na minha opinião seria mais adequado "O Psicanalista"). Kevin aqui faz o profissional do título, um sujeito que perdeu sua esposa (o roteiro não entra em maiores detalhes apenas afirma que ela se matou) e que por essa razão literalmente perde a vontade de viver. O curioso é que enquanto ele vive essa crise tem que aconselhar uma fauna de bacanas ricos mais confusos do que ele mesmo (entre eles um Robin Williams em participação especial). O contraste entre uma pessoa que não consegue superar nem suas próprias crises pessoais mas que ao mesmo tempo ganha a vida aconselhando os outros sobre suas vidas é uma das coisas mais irônicas que vi ultimamente no cinema americano. A ironia de "Shrink" é aquela que nasce da acidez, do desconforto, da inadequação. Seu roteiro, extremamente inteligente, nos deixa inquietos durante todo o filme.

Como sempre Kevin Spacey se esbalda em cada cena. Fumando um cigarro de maconha atrás do outro ele acaba se aconselhando, vejam só que ironia, com o seu traficante pessoal, um jovem que lhe vende todas as variedades de ervas possíveis (algumas com nomes hilários). Esse vendedor de drogas é vivido pelo bom ator Jesse Plemons (quem acompanha "Friday Night Lights" o conhece muito bem) e ironicamente se chama "Jesus". Fora isso vamos acompanhando várias estórias paralelas de personagens que acabam se cruzando durante o decorrer do filme. Enfim "Shrink" é muito bem interpretado, tem um roteiro que passeia da ironia à melancolia e certamente vai satisfazer as expectativas de um público mais inteligente e exigente. Recomendo bastante.

O Psicólogo (Shrink, Estados Unidos, 2009) Direção: Jonas Pate / Roteiro: Thomas Moffett, Henry Reardon / Elenco: Kevin Spacey, Mark Webber, Keke Palmer / Sinopse: Psicólogo de pessoas extremante ricas não consegue mais lidar com a dor da perda de sua esposa. Deprimido entra em profunda crise existencial.

Pablo Aluísio.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Direito de Amar

Para quem acha que a boa fase do ator Colin Firth se resume à sua ótima atuação em "O Discurso do Rei" precisa assistir a esse bom drama psicológico chamado "Direito de Amar". Basicamente o filme enfoca a depressão suicida que se abate sobre um professor homossexual na década de 1960 após a morte de seu companheiro em um acidente de carro. O papel principal é um presente para todo e qualquer ator. Firth está excepcional na pele do sofrido personagem. Envolto em convenções sociais que o inibem de ser plenamente feliz ele se vê envolto em um momento depressivo e melancólico sem possibilidade de expressar todos esses sentimentos. Gostei bastante do roteiro principalmente por causa de seu ritmo lento, triste, melancólico, pausado, sem pressa, tudo de acordo com o estado depressivo do personagem principal. Além disso o contraste entre a personalidade tímida do professor e sua necessidade de satisfazer aos seus desejos mais ocultos e inconfessáveis criam um clima de tensão que acrescenta muito ao argumento do filme em si.

O elenco todo está particularmente inspirado, principalmente a dupla central. Colin Firth venceu o BAFTA por essa atuação, sendo indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro. Já sua parceira em cena, Julianne Moore, brilha como uma dona de casa infeliz e sem objetivos na vida além de tentar conquistar o amor de sua vida, que nunca será correspondido pois é gay. Sua delicada atuação também foi indicada ao Globo de Ouro. Aliás ambos os atores estão em uma ótima fase em suas respectivas carreiras uma vez que continuaram a participar de excelentes filmes após "Direito de Amar" chegando inclusive a receberem novas indicações e premiações por seus trabalhos posteriores, (Firth por "O Discurso do Rei" e Moore por "Minhas Mães e Meu Pai"). Mais um motivo para conferir esse talentoso encontro. Na direção o filme traz o estreante Tom Ford, o que não deixa de impressionar, uma vez que o filme é muito bem dirigido, sem sinais de falhas, o que seria natural de esperar de alguém que está pela primeira vez dirigindo um filme. Enfim, "Direito de Amar" é sensível, bem conduzido e acima de tudo marcante, seja qual for sua orientação sexual. Recomendo o filme a todos.

Direito de Amar (A Single Man, Estados Unidos, 2009) Direção: Tom Ford / Roteiro:Tom Ford baseado no romance de Christopher Isherwood / Elenco: Colin Firth, Julianne Moore, Matthew Goode / Sinopse: George´(Colin Firth) é um professor que passa por uma crise depressiva após seu companheiro de longa data morrer em um acidente de carro. Para superar a terrível fase ele conta com o apoio de Charley (Julianne Moore) que nutre sentimentos por ele, mesmo sabendo que nunca será correspondida.

Pablo Aluísio.

Imortais

Fui assistir a esse filme com o fiasco de "Fúria de Titãs" na cabeça. Por isso não tinha a menor fé em nada - pensei que seria mais um lixo Hollywoodiano. Para minha surpresa acabei achando interessante. Talvez por estar com expectativas quase a zero acabei ao final achando um blockbuster decente. Obviamente não aconselho aos estudiosos de mitologia grega, esses ficarão desapontados. O roteiro toma enormes liberdades com os mitos originais. Teseu, por exemplo, virou um rebeldinho revoltado, sem consistência. Monstros famosos como o Minotauro foram relegados a um simples grandalhão com máscara de touro feito de gravetos e por aí vai. O que salva "Imortais" do desastre é em primeiro lugar a linda direção de arte do filme e em segundo a presença sempre muito bem-vinda do ator Mickey Rourke. O filme é o que gosto de chamar de produção de luxo. Claro que praticamente todo ele foi gerado digitalmente mas mesmo assim achei tudo de muito bom gosto, sua fotografia em tons dourados, as cores gritantes das capas e uniformes. Até mesmo o figurino, que foi tachado de brega e excessivo em algumas resenhas, acabou me agradando.

Já Mickey Rourke é um capítulo à parte. Esse é o tipo de ator forjado no Actors Studio que consegue sobreviver a (quase) tudo. Não escondo de ninguém que sou admirador de carteirinha dele. Aqui temos o típico caso de ator maior que o filme. Seu personagem, o rei Hyperion, não é nem melhor e nem pior que outros vilões que enchem os blockbusters americanos todos os anos, a diferença é que Rourke declama até os mais simples diálogos com cuidado, capricho, e isso é sem dúvida uma grande diferença com os canastrões de hoje em dia. E por falar em canastrão o tal de Henry Cavill (que faz Teseu) é de uma nulidade gritante. Sem carisma, mono facial e sem graça quase leva tudo a perder. Se não fosse Rourke segurando as pontas o quesito atuação do filme seria simplesmente desastroso. Enfim, gostei de Rourke, da direção de arte e do bom gosto. Desgostei do Cavill, dos deuses (medíocres) e dos Titãs (esses últimos parecem zumbis de quinta categoria). Apesar de tudo no fim das contas vale uma espiadinha.

Imortais (Immortals, Estados Unidos, 2011) Direção de Tarsem Singh / Roteiro: Charley Parlapanides, Vlas Parlapanides / Elenco: Henry Cavill, Mickey Rourke, John Hurt / Sinopse: Teseu é um mortal que é escolhido por Zeus para liderar uma guerra contra o tirânico rei Hyperion que está em busca de uma arma capaz de destruir toda a humanidade.

Pablo Aluísio.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

O Homem Que Mudou o Jogo

Esse é o tipo de filme que está tão enraizado na cultura americana que dificilmente fará a cabeça dos brasileiros. O tema é centrado na história de um gerente de esportes (Brad Pitt) de um time de beisebol que tenta chegar ao sucesso usando das estatísticas de um jovem economista formado em Yale. Juntos, analisando números, eles tentam montar o time ideal: barato mas eficiente. Agindo assim a dupla acaba despertando a ira de velhos conselheiros do clube e até mesmo da imprensa que tem uma visão romântica do esporte e se sente muito incomodada pelo uso de uma ciência exata para chegar ao título do campeonato. O filme é interessante em termos justamente por esse conflito entre o romantismo e o pragmatismo. Afinal números frios vencem partidas ou não?

Claro que na linguagem técnica do esporte o espectador brasileiro que não conhece e nem entende sobre Beisebol vai ficar boiando mas o filme não se resume a isso. Há um desenvolvimento mostrando o lado familiar do personagem do Pitt, sua relação com a filha e as pressões que sofre em razão do esporte. Eu pessoalmente achei que falta um pouco de ritmo ao desenvolvimento da trama. O filme soa muitas vezes arrastado e sem foco. Só em seu terço final realmente cresce mais em emoção mas aí se utiliza do esporte que retrata e por essa razão quem não conhece direito as jogadas e as regras do Beisebol pode até mesmo ficar mais aborrecido ainda. De uma maneira em geral gostei do resultado. Poderiam ter aproveitado melhor a presença do grande ator Philip Seymour Hoffman, que faz o técnico do time, mas tudo bem. Para quem gosta de filmes de superação em esportes pode ser uma boa pedida mesmo que você não fale inglês e nem nunca tenha ouvido falar do Red Sox. Basta fazer uma forcinha a mais para gostar

O Homem Que Mudou o Jogo (Moneyball, Estados Unidos, 2011) Direção: Bennett Miller / Roteiro: Steven Zaillian, Aaron Sorkin / Elenco: Brad Pitt, Philip Seymour Hoffman, Robin Wright, Jonah Hill / Sinopse: Equipe de beisebol contrata um jovem especializado em estatísticas para ajudar na formação de sua nova equipe.

Pablo Aluísio.

Os Fragmentos de Tracey

Um verdadeiro achado esse "Os Fragmentos de Tracey". O filme não é muito conhecido até por causa de seu formato pouco convencional. Esqueça as narrativas normais que você está acostumado a ver por aí pois não a encontrará aqui. Na realidade a edição é tão dinâmica e desfragmentada que pensamos estar dentro da cabeça da jovem Tracey de quinze anos, com todas as suas inseguranças, sonhos e desejos tão típicos da sua idade. Achei particularmente genial o uso de vários quadros ao mesmo tempo nas cenas. Isso era comum no final dos anos 60 mas aqui o diretor Bruce McDonald resolveu levar tudo às últimas consequências. Assim em uma só cena vemos dois, quatro, seis e até vinte pontos de vista diferentes em um efeito de grande impacto.

Além da linguagem inovadora o roteiro é tão bem feito que ficamos com a impressão de ter sido escrito por uma adolescente mesmo. Lá está Tracey com seu amor platônico da escola, a sensação de ser a "loser", a convicção de que sua família é toda formada por idiotas e por aí vai. O filme lida muito com sensações, assim nada de contar a vida dela de forma banal, pelo contrário, tudo é tão jovial e inovador que fiquei realmente surpreso. O filme lembra em certos momentos "Juno" (o grande filme da carreira da Ellen Page) mas é muito mais radical e cool. Está a fim de assistir algo que fuja do feijão com arroz? Ora, corra para ver "Os Fragmentos de Tracey". Eu recomendo com absoluta certeza.

Os Fragmentos de Tracey (The Tracey Fragments, Estados Unidos, 2007) Direção de Bruce McDonald / Elenco: Maureen Medved, baseado na novela de Maureen Medved / Elenco: Ellen Page, Zie Souwand, Maxwell McCabe-Lokos / Sinopse: O filme mostra em narração desfragmentada pequenos momentos da vida de Tracey Berkowitz, uma garota de 15 anos que sai em busca de seu irmão.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Sideways: Entre Umas e Outras

Sideways parte de uma premissa muito simples: dois amigos, Miles (Paul Giamatti) e Jack (Thomas Haden Church), partem para aproveitar a semana que antecede o casamento desse último. Miles planeja uma semana de turismo em vinícolas da região ao lado do amigo, degustando o que de melhor há em termos de vinho. Claro que mais cedo ou mais tarde todos os planos virão abaixo pois Jack está mais interessado nos rabos de saia que encontra pelo caminho do que propriamente em aproveitar de forma sofisticada sua última semana de solteirice. Já Miles tem seus próprios problemas. Divorciado, deprimido, acaba descobrindo que sua ex-esposa se casou novamente! O roteiro é, como se pode ver, bem simplório mas curiosamente em sua simplicidade consegue debater sobre temas importantes ao mesmo tempo em que desenvolve diversas situações de humor com os amigos. Não é uma comédia escrachada, tão em voga hoje em dia, mas sim um drama mesclado com pequenas situações de humor que satirizam os anseios e os dilemas que os homens enfrentam atualmente em seu dia a dia. Miles é o retrato disso - professor de colégio que tem aspirações a se tornar escritor mas que não consegue espaço no meio editorial por causa de "problemas de marketing" das editoras (talvez se ele lançasse um livro sobre vampiros adolescentes certamente seria publicado)!

O elenco do filme é todo bom com destaque para Giamatti que aqui repete seu tipo característico: homem de meia idade que não consegue concretizar seus sonhos e objetivos pessoais.. Já Thomas Haden Church (que lembra bastante Nick Nolte quando era mais jovem) consegue entregar uma boa caracterização de seu personagem: um ator de meia tigela que aproveita o pouquinho da fama que tem para traçar todas as garçonetes e empregadas que lhe cruzam o caminho. Para quem gosta de seriados um pequeno bônus: a presença de Sandra Oh que há muitos anos interpreta a Dra. Cristina Yang na série "Grey´s Anatomy". Enfim, "Sideways" é uma boa pedida. Uma boa direção de Alexander Payne que aqui se sai bem melhor do que em seu último filme, "Os Descendentes". Vale a pena conferir.

Sideways - Entre Umas e Outras (Subways, Estados Unidos, 2004) Direção de Alexander Payne / Roteiro de Alexander Payne baseado na novela de Rex Pickett / Elenco: Paul Giamatti, Thomas Haden Church, Virginia Madsen / Sinopse: Dois amigos, Miles (Paul Giamatti) e Jack (Thomas Haden Church), partem para aproveitar a semana que antecede o casamento desse último. Miles planeja uma semana de turismo em vinículas da região ao lado do amigo, degustando o que de melhor há em termos de vinho.

Pablo Aluísio.

Pronta Para Amar

Esse filme tem embalagem de comédia romântica, marketing de comédia romântica e jeito de comédia romântica mas na realidade não é nada disso! É o que chamavam antigamente de "filme de doença", ou seja, o espectador vai acompanhando a personagem principal a partir da descoberta da doença fatal (no caso aqui um câncer de intestino) passando pelo desenrolar do difícil tratamento até chegar ao desfecho de tudo (que tenta ser agradável, leve, mas convenhamos disso não tem nada). Eu não recomendaria esse tipo de produção para pessoas que perderam entes queridos recentemente pois é possível que venham a se identificar com a situação mostrada nas telas. Reviver algo assim nem sempre é recomendado. Principalmente para quem passou por esse tipo de coisa há pouco tempo. Além disso algumas situações de vida (ou da morte) não devem ser tratadas como algo leve, soft, pop, tentando criar um clima de falsa felicidade para mostrar uma situação que em si deve ser tratada e mostrada com a devida seriedade.

E os pontos positivos? Sim, há partes que valem a pena no filme. Um das coisas bacanas aqui é o elenco, cheio de atores e atrizes que gosto bastante. Além da Kate Hudson, que não compromete mas que também não surpreende (ela parece ter colocado sua carreira definitivamente em controle remoto), temos ainda Kathy Bates, muito bem em sua caracterização de "mãezona" e uma improvável Whoopi Goldberg em um papel nada comum. Outro ponto positivo é o fato do filme ter sido feito em New Orleans, uma das cidades mais peculiares dos EUA. A grande maioria das grandes cidades americanas não possuem identidade própria, são praticamente todas iguais, com cultura plastificada. Não é o caso de New Orleans que tem uma rica cultura musical, herdada dos colonizadores franceses que estiveram por lá. Além disso impossível ignorar o talento de tantos grandes músicos negros que nasceram na famosa cidade. É o berço do jazz e do soul - precisa dizer mais alguma coisa? A música e a cultura de lá ajudaram muito na suavização da trama. Como é um filme que trata de um tema muito sensível achei adequado que uma mulher exercesse a direção. Aqui a diretora Nicole Kassell tenta a todo custo amenizar o máximo possível a questão, tendo sucesso algumas vezes e outras não. Enfim é isso, "Pronta Para Amar" deveria se chamar realmente de "Pronta Para Morrer" pois é justamente disso do que se trata. Recomendo com restrições por causa do tema e do baixo astral.

Pronta Para Amar (A Little Bit of Heaven, Estadps Unidos, 2011) Direção: Nicole Kassell / Roteiro: Gren Wells / Elenco: Kate Hudson, Kathy Bates, Peter Dinklage, Gael García Bernal / Sinopse: Jovem profissional (Kate Hudson) descobre que tem uma doença incurável. A partir daí repensa sua vida e seus relacionamentos.

Pablo Aluísio.