terça-feira, 10 de agosto de 2021

A Duquesa

Título no Brasil: A Duquesa
Título Original: The Duchess
Ano de Produção: 2008
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures                      
Direção: Saul Dibb
Roteiro: Saul Dibb, Anders Thomas Jensen
Elenco: Keira Knightley, Ralph Fiennes, Charlotte Rampling, Dominic Cooper, Hayley Atwell, Simon McBurney

Sinopse: 
Baseado em fatos reais, o filme narra a história de Georgiana Spencer, nobre inglesa que se destacou por romper com os modelos femininos que se esperavam de uma mulher da nobreza como ela. Casada com o Duque de Devonshire, que estava interessado apenas em um herdeiro, a jovem duquesa resolveu romper os laços mais tradicionais da sociedade britânica da era vitoriana. Roteiro baseado no livro escrito por Amanda Foreman.

Comentários:
Filme muito bom, com excelente reconstituição de época e história mais do que interessante dessa nobre inglesa que estava além de seu tempo. Criada para ser uma dondoca palaciana, para dar um herdeiro ao seu riquíssimo marido e nada mais, ela resolveu ir além. Mulher inteligente se engajou em lutas feministas da época e se aliou ao Partido Liberal, o que era algo completamente escandaloso para uma mulher de sua posição social. Também não se furtou de abraçar suas paixões, se envolvendo inclusive em vários romances extraconjugais já que seu marido, um tanto afetado, não parecia lhe dispensar maior atenção. Outro fato curioso digno de nota é que a verdadeira Georgiana Spencer foi uma das mulheres da família Spencer, linhagem essa que décadas depois daria origem a parte da sucessão ao trono da Inglaterra dos dias atuais, pois uma de suas descendentes foi nada mais, nada menos do que Diana Spencer, a Lady Di, a muito querida pelos ingleses, Princesa Diana. Assim os futuros reis da Inglaterra serão descendentes da revolucionária Georgiana, quem diria! No mais vale registrar elogios para todo o elenco principal. Keira Knightley, Ralph Fiennes e Charlotte Rampling estão perfeitos em cena, recriando todo o clima de sofisticação e refinamento que imperava na casas nobres daquela época. Um belo retrato de um tempo em que a mulher tinha que abrir seus próprios caminhos com muita luta, garra e vontade. Filme vencedor do Oscar na categoria de melhor figurino (Michael O'Connor).

Pablo Aluísio.

Viagem a Darjeeling

O irmão mais velho de três irmãos decide levar os outros  a uma viagem pela Índia. De fachada ele diz que se trata de uma viagem espiritual. Na verdade ele quer reencontrar sua mãe, que vive naquele país, como freira de uma irmandade católica isolada no alto de uma montanha. E a viagem serve também para superar a morte do pai, ocorrido algumas semanas antes. Só que, como era de esperar, viajar pela Índia não é uma coisa fácil. O pais é muito pobre, sem estrutura nenhuma, principalmente no interior. Os trens são velhos, caindo aos pedaços, enferrujados, os ônibus são piores ainda e o que era para ser algo turístico e espiritual vira uma coisa bem capenga, sem condição, tudo na base da improvisação completa.

Eu não sou muito fã do diretor Wes Anderson. Aqui entretanto ele fez um bom filme. É engraçado e divertido, mas numa levada mais intelectual. Não há piadas para rolar pelo chão e nada parecido. Tudo se baseia numa certa ironia do absurdo de ver três americanos viajando pela Índia, se envolvendo em coisas absurdas, como comprar uma serpente venenosa do deserto, por exemplo. E parte do roteiro se apoia nisso mesmo, no choque cultural de pessoas ocidentais no meio de uma cultura tão diferente como a indiana. Filme bom, não me aborreceu, pelo contrário, até que gostei do resultado.

Viagem a Darjeeling (The Darjeeling Limited, Estados Unidos, 2007) Direção: Wes Anderson / Roteiro: Wes Anderson, Roman Coppola, Jason Schwartzman / Elenco: Owen Wilson, Adrien Brody, Jason Schwartzman, Anjelica Huston, Bill Murray / Sinopse: A viagem fora do comum e exótica de três irmãos americanos pelo interior da Índia em busca da mãe e da elevação espiritual. Filme premiado no Venice Film Festival.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

A Garota do Café

Bom filme. A história gira em torno de um funcionário público inglês. Durante décadas ele trabalhou no serviço publico, levando uma vida segura, sem sobressaltos, mas igualmente solitária e tediosa. Perto de completar 70 anos de idade ele vê sua vida se esvair por seus dedos. Então, certo dia, conhece uma jovem que trabalha em um café londrino. Ela tem lá seus vinte e tantos anos, uma garota normal de sua idade. Lawrence (Bill Nighy), o funcionário público, percebe que talvez tenha chegado o momento de ser mais ousado, mais impetuoso. Então a convida para viajar ao seu lado. Ele vai participar de uma reunião diplomática em Reykjavik durante o encontro do G-8. E para sua surpresa ela aceita o convite para viajar com ele.

Roteiro sensível e humano que investe em alguns aspectos. O amor na velhice, já indo para a terceira idade, a busca pela felicidade, mesmo que não seja no momento certo visto por muitos (uma visão um tanto ofuscada pelo preconceito social e etário), além da superação da solidão. Para muitas pessoas a vida só teria sentido a dois. A existência sem passar pelos sentimentos de amor não faria a vida valer a pena. Em conclusão, um bom drama social, romântico, que de quebra ainda discute temas bem importantes na vida das pessoas mais velhas.

A Garota do Café (The Girl in the Café, Inglaterra, 2005) Direção: David Yates / Roteiro: Richard Curtis / Elenco: Bill Nighy, Kelly Macdonald, Meneka Das, Anton Lesser / Sinopse: Homem bem mais velho, servidor do governo britânico, se apaixona por garota bem mais jovem e decide arriscar, vivendo uma história de amor com ela, mesmo tendo que enfrentar todo tipo de preconceito vindo da sociedade em geral.

Pablo Aluísio.

Jungle Cruise

Divertidíssimo! Assim eu poderia resumir esse primeiro blockbuster da Disney a chegar nos cinemas, nesse momento em que a pandemia está sendo mais controlada por causa das vacinas. E o filme que custou 200 milhões de dólares não fez feio nas bilheterias, liderando a lista dos mais vistos na Europa e nos Estados Unidos. E realmente é um filme muito bem produzido, com enredo divertido e efeitos especiais de última geração. Curiosamente o ator Dwayne Johnson retornou para a selva. Ele é dono de um barco no Rio Amazonas quando é contratado por uma inglesa (interpretada pela sempre carismática Emily Blunt) para encontrar uma árvore mágica, que traz a cura para qualquer mal, em um lugar conhecido como Lágrimas da Lua.

Pura fantasia juvenil! Mas olha, funciona muito bem! Claro que se eu tivesse 14 anos de idade iria curtir muito mais o filme, mas quem disse que uma pessoa mais velha não possa apreciar o ritmo de pura aventura escapista? Pois é, o filme não se contenta em contar mais uma história nos confins de uma floresta cheia de lendas, para ir mais fundo nesse mundo de realismo fantástico. Há elementos de antigos filmes como "Uma Aventura na África" com a saga de Indiana Jones, tudo junto e misturado. Clichês estão por toda parte, mas apesar de tudo isso, no conjunto, o filme é um produto pipoca que cumpre bem seus objetivos que é acima de tudo divertir o espectador. Nesse quesito me senti plenamente realizado.

Jungle Cruise (Estados Unidos, 2021) Direção: Jaume Collet-Serra / Roteiro: Michael Green, Glenn Ficarra / Elenco: Dwayne Johnson, Emily Blunt, Jesse Plemons, Jack Whitehall, Edgar Ramírez, Paul Giamatti / Sinopse: Uma antiga lenda brasileira afirma que existe uma árvore no interior profundo da floresta Amazônica que produz pétalas que irão curar qualquer enfermidade. Uma doutora inglesa e seu irmão decidem ir para o Brasil para encontrar as origens dessa lenda centenária.

Pablo Aluísio.

domingo, 8 de agosto de 2021

Legalmente Loira 2

Tem muita gente que não suporta a atriz Reese Witherspoon. Acham ela péssima, artificial, má atriz e todo o pacote de opiniões negativas. Nesse aspecto eu vou um pouco contra a maré. Simpatizo com a mocinha, desde os seus primeiros filmes que não eram lá grande coisa. Com o tempo ela foi melhorando, melhorando, até que atualmente a considero, de fato, uma boa atriz. Loirinha talentosa. E por falar em loiras... Essa mini franquia "Legalmente Loira" é um dos momentos mais fracos de sua carreira, mas é a tal coisa... o primeiro filme fez tanto sucesso que o estúdio pagou um cachê extra para ela voltar. Se no primeiro filme ela era uma estudante de direito, o que viria depois? Esse segundo filme tenta contar essa história.

Agora a personagem Elle Woods já está formada, se torno advogada e se prepara para seu primeiro emprego de verdade. Ela vai para a capital Washington, D.C. e se envolve na luta pelos direitos dos animais, para que não façam mais testes nos bichinhos. Bonitinho não é mesmo? Pena que o filme não tenha muita graça e nem nada muito interessante para contar. O primeiro é muito melhor, o que não quer dizer que seja muito bom, vamos entender bem isso. Resultado de tudo? O filme que custou 45 milhões de dólares faturou nas bilheterias mais de 200 milhões. Lucro no bolso e produtores satisfeitos. Bom, isso é Hollywood.

Legalmente Loira 2 (Legally Blonde 2: Red, White & Blonde, Estados Unidos, 2003) Direção: Charles Herman-Wurmfeld / Roteiro: Amanda Brown / Elenco: Reese Witherspoon, Sally Field, Bob Newhart / Sinopse: Após se formar e passar no exame de ordem a jovem agora advogada Elle Woods (Reese Witherspoon) vai pra luta, defender nos tribunais o direito dos animais contra testes dolorosos e cruéis.

Pablo Aluísio.

Meninos de Deus

Esse filme é ótimo e injustamente subestimado. O filme conta a história de um grupo de jovens colegiais, estudantes em uma escola católica tradicional. Um deles tem fixação por quadrinhos e desenhos. Então ele vai transformando em desenho as experiências que vive, as pessoas que conhece, os amores típicos da adolescência, etc. E isso abre margem para o filme apresentar uma série de pequenas animações, muito bem realizadas por sinal, que só existem mesmo na mente do garoto. Algo que dá uma dinâmica própria ao filme, misturando um ótimo gancho narrativo com pitadas de bom humor e ironia.

O elenco é outro ponto de interesse para assistir ao filme. Uma das freiras da escola é interpretada por Jodie Foster! Imagine você, logo ela, uma atuante ativista dos direitos da comunidade LGBT. Ela inclusive usa de sua personagem para tirar alguns casquinhas da mente de pessoas afundadas na religião, os que as tornam preconceituosas e sem humor nenhum na vida. Jodie inclusive participou do filme também como produtora executiva. Outro destaque vem do ator Emile Hirsch. Quando fez o filme era praticamente um garoto, mas já demonstrava muito talento, algo que iria se confirmar nos anos que viriam. Enfim, deixo a dica desse filme. Para quem já foi aluno em uma dessas tradicionais escolas católicas (como é o meu caso, inclusive) haverá muito com que se identificar.

Meninos de Deus (The Dangerous Lives of Altar Boys, Estados Unidos, 2002) Direção: Peter Care / Roteiro: Jeff Stockwell, Michael Petroni, baseados em livro escrito por Chris Fuhrman / Elenco: Emile Hirsch, Jodie Foster, Kieran Culkin, Jena Malone / Sinopse: Um grupo de colegiais de uma tradicional escola católica vivem as alegrias e emoções típicamente de sua idade.

Pablo Aluísio.

sábado, 7 de agosto de 2021

Meu Nome é Radio

O ator Cuba Gooding Jr ganhou o Oscar cedo em sua carreira. Melhor dizendo... foi cedo demais! Com isso ele foi atingido em cheio com a tal "maldição do Oscar" que segundo a lenda urbana acaba destruindo a carreira de atores e atrizes que levaram o cobiçado prêmio máximo de Hollywood em uma fase ainda muito precoce de suas carreiras. Dizem as más línguas que a inveja dos veteranos e veteranas, que muitas vezes ficam décadas sem nem ao menos ser indicados, leva ao boicote da vida artística desses jovens premiados. E depois disso tudo vai por água abaixo, é ladeira à toda velocidade. Até que faz sentido se formos analisar nesse ponto de vista. A inveja e o ressentimento se tornam armas poderosas nas mãos de pessoas poderosas e ricas em Hollywood.

Pois bem, Cuba Gooding Jr pensou que teria novas chances no Oscar com esse "Meu Nome é Radio". Claro que não deu certo! Como escreveu um mordaz crítico nos Estados Unidos, um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. E olha que apesar de tudo não considero esse um filme ruim. Poderia até dizer que o roteiro é um pouco fraco, mas não chega a ser nem perto do desprezível. Tem um elenco coadjuvante muito bom, contando com o sempre bom Ed Harris. Só que é aquela coisa, os veteranos não iriam deixar passar em branco as pretensões do Cuba. Com isso ele ganhou uma indicação sim, mas não foi do Oscar, foi do Framboesa de Ouro! Que maldade...

Meu Nome é Radio (Radio, Estados Unidos, 2003) Direção: Michael Tollin / Roteiro: Mike Rich, Gary Smith / Elenco: Cuba Gooding Jr, Ed Harris, Debra Winger / Sinopse: O filme conta a história de um treinador de ensino médio (High School nos Estados Unidos) que precisa lidar com um homem com desenvolvimento mental retardado.

Pablo Aluísio.

Bem-Vindo à Selva

O "The Rock" (não o chame assim, porque ele desistiu desse "nome", dessa alcunha) segue firme na carreira. Seus filmes não são necessariamente grandes sucessos de bilheteria como acontecia com os brutamontes de ação dos anos 80, mas ele inegavelmente consegue se firmar na indústria de cinema, ano após ano. Dwayne Johnson é considerado um nome confiável pelos principais estúdios de Hollywood. Nesse "Bem-Vindo à Selva" ele segue basicamente a fórmula de praticamente todos os seus filmes. Os roteiros misturam cenas de ação bem elaboradas com bastante humor. Não são filmes para se levar muito à sério. É pura pipoca em forma de cinema, feito para a pura diversão realmente. Nada pretensioso, seus filmes não querem almejar reconhecimento da crítica. Apenas divertir.

Essa produção com história que se passa na selva Amazônica conta com cenas bem engraçadas como a queda exagerada, barranco abaixo, com um jipe caindo por cima dele e o furioso ataque de um macaco selvagem, de uma espécie aliás que só existe na África e não na selva Amazônica. Tudo bem, ninguém espera por algo a mais do que apenas diversão, então está valendo esse tipo de erro. O elenco coadjuvante traz a presença de Christopher Walken. Esse não precisa fazer esforço para ser engraçado. O próprio jeito de ser dele, natural, já garante o riso. Então é isso, um filme com The Rock que seus fãs não vão reclamar, em absoluto.

Bem-Vindo à Selva (The Rundown, Estados Unidos, 2003) Direção: Peter Berg / Roteiro: R.J. Stewart, James Vanderbilt / Elenco: Dwayne Johnson, Seann William Scott, Christopher Walken / Sinopse: Um grupo de americanos decide entrar nas profundezas da floresta Amazônica em busca de um suposto tesouro e acabam encontrando muitas aventuras selva adentro.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

1941 - Uma Guerra Muito Louca

Título no Brasil: 1941 - Uma Guerra Muito Louca
Título Original: 1941
Ano de Produção: 1979
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures, Columbia Pictures
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Robert Zemeckis, Bob Gale
Elenco: John Belushi, Dan Aykroyd, Treat Williams, Christopher Lee, Toshirô Mifune, John Candy, Nancy Allen

Sinopse:
Durante a Segunda Guerra Mundial os habitantes da Califórnia entram em pânico quando um boato se espalha em todas as cidades. Os rumores dão conta que as cidades da costa oeste serão em breve bombardeadas por uma grande esquadrilha de aviões japoneses. Assim que a falsa notícia se espalha o caos se instala em todos os lugares por causa do iminente ataque!

Comentários:
Ontem citei o comediante John Belushi (1949 - 1982) comentando uma comédia mais recente e isso me fez recordar desse "1941 - Uma Guerra Muito Louca". Belushi como todos sabemos foi cria do programa SNL da TV americana. Lá ele criou tipos inesquecíveis e virou ídolo da juventude que morria de rir com suas performances. Isso obviamente abriu as portas do cinema americano para ele e depois do sucesso de "Clube dos Cafajestes" o comediante estrelou esse filme, considerado o mais ambicioso de sua carreira até então. Dirigido por Steven Spielberg e roteirizado por Robert Zemeckis havia grandes expectativas de que se tornaria um grande campeão de bilheteria. Infelizmente isso não aconteceu. Produção muito cara o filme não conseguiu atrair a atenção do público, mesmo parecendo estar tudo em ordem, com as peças certas. O que deu errado? Muito provavelmente o tema (comédia passada em plena II Guerra Mundial) não tenha despertado a atenção do público na época. Afinal o cinema vivia uma outra fase, com filmes de ficção e aventura dominando as atenções. Outro problema vem do próprio roteiro escrito por Zemeckis e seu colega Bob Gale (os mesmos que criariam a franquia "De Volta Para o Futuro" alguns anos depois). Tudo é desorganizado, com excesso de personagens e falta de foco. Não demora muito para o espectador ficar desorientado no meio daquele enredo sem muito pé, nem cabeça. Para piorar as piadas são fracas e a sensação de estar vendo uma comédia sem graça logo domina. Revisto hoje em dia o filme serve apenas como curiosidade. Para relembrar John Belushi e entender que nem mesmo Steven Spielberg, o mago do cinema, era imune ao fracasso.

Pablo Aluísio

Tempo de Matar

O racismo persiste. Essa ainda é uma ferida aberta dentro da sociedade americana e ao que parece não será curada tão cedo. Um dos melhores filmes mostrando as raízes do racismo dentro até da sociedade e do sistema judicial americano é esse "Tempo de Matar", filme que foi muito falado e gerou grande repercussão em seu lançamento. A trama mostrando um homem negro em busca de justiça para sua filha que foi estuprada aos dez anos por brancos racistas do sul diz muito sobre a própria sociedade americana. Em termos históricos não fazia muito tempo que os brancos americanos tinham praticamente direito de matar qualquer negro que entrasse em seu caminho. Os brancos se consideravam superiores aos negros e esses muitas vezes não contavam com nenhuma corte em seu favor. São conhecidas as histórias de negros enforcados em árvores por organizações racistas brancas, demonstrando que não havia perdão para um afro-americano que infringisse qualquer regra de comportamento estabelecida pelos membros da casta WASP. O ambiente era de fato brutal.

Agora imaginem dentro de um contexto tão adverso como esse o trabalho de um advogado jovem, branco, tendo como cliente um negro, bem no meio de uma das regiões mais violentas e racistas da América protestante! "Tempo de Matar" mostra que dentro do sistema judiciário dos Estados Unidos nem sempre as leis funcionavam do mesmo jeito para brancos e negros. Esse é sem dúvida um filme corajoso, que inclusive sofreu boicotes em seu lançamento. O advogado Jake Tyler Brigance interpretado pelo bom ator Matthew McConaughey simboliza a luta por justiça dentro de um sistema corrompido por dentro. O filme também surge como uma grata surpresa dentro da carreira do irregular diretor Joel Schumacher. Conhecido por seus altos e baixos (alternando sempre filmes interessantes com abacaxis tremendos), aqui Joel Schumacher pelo menos não atrapalha. Ele está muito correto na condução do roteiro, que no fundo fala por si mesmo. Enfim, "Tempo de Matar", um filme importante que mostra que nem tudo é uma maravilha na terra do Tio Sam.

Tempo de Matar (A Time to Kill, Estados Unidos, 1996) Direção: Joel Schumacher / Roteiro: Akiva Goldsman, baseado na obra A Time to Kill de John Grisham / Elenco: Matthew McConaughey, Sandra Bullock, Samuel L. Jackson, Kevin Spacey, Oliver Platt / Sinopse: Jovem advogado branco defende um negro numa corte americana. Filme indicado ao Oscar na categoria melhor ator coadjuvante (Samuel L. Jackson).

Pablo Aluísio.