sexta-feira, 2 de junho de 2017

Máquina de Guerra

Esse é o mais recente filme do astro Brad Pitt e também o primeiro feito para ser exibido exclusivamente pelo Netflix. O roteiro é baseado numa história real, um fato até recente que aconteceu com o general de quatro estrelas Stanley McChrystal. Esse alto oficial do exército foi designado pelo presidente Obama para ir até ao Afeganistão. Como se sabe os americanos estão há anos naquele distante e isolado país. Como quase sempre acontece os militares dos Estados Unidos sabem muito bem como entrar em um país estrangeiro, mas sempre entram em apuros para sair de lá. É o famoso atoleiro, como o que aconteceu no Vietnã. Assim o general foi para as bases americanas no Afeganistão para literalmente colocar ordem na bagunça. Só que ao chegar lá compreendeu que aquilo era um problema sem solução. O Talibã ainda dava as cartas em certas províncias e a moral das tropas era bem baixo. O personagem interpretado por Brad Pitt se chama Glen McMahon e é uma paródia do general real. Ele tem vários maneirismos, anda de forma grotesca e sempre tem expressões faciais caricaturais. Pitt o interpreta com um pé no humor, embora o filme não seja uma comédia. É irônico, mas não assumidamente humorístico. De certa maneira é até uma inteligente crítica sobre a presença do exército americano em determinados rincões isolados e perdidos no mapa. Em determinado momento o general tenta ganhar o apoio do povo afegão, mas tudo vai por água abaixo. Como o próprio narrador do filme deixa claro nenhuma nação invadida vai celebrar a presença de seus invasores.

Em termos gerais é um bom filme, mas tem alguns problemas. O maior deles vem de sua duração excessiva. O filme teria maior agilidade com uma metragem mais enxuta, até porque seu enredo é basicamente de bastidores da guerra e não da guerra propriamente dita. Tudo é construído em torno do imenso oceano de burocracia e politicagem que o velho general tem que lidar. Ele quer vencer a guerra, mas aos poucos vai percebendo que a máquina de guerra americana está atolada, sem condições de seguir em frente. No final a mensagem é clara: não importa a qualidade dos militares para vencerem uma guerra, sem vontade política nada realmente sai do lugar.

Máquina de Guerra (War Machine, Estados Unidos, 2017) Direção: David Michôd / Roteiro: David Michôd, baseado no livro escrito por Michael Hastings / Elenco: Brad Pitt, Anthon Hayes, John Magaro  / Sinopse: General americano experiente (Brad Pitt) sofre com seus superiores para colocar ordem na situação das tropas americanas estacionadas no Afeganistão. Pior do que isso, seus subordinados acabam falando demais para uma conhecida revista de música pop dos Estados Unidos, criando uma grave crise no comando militar da região.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

O Chamado 3

Não tinha expectativa nenhuma para esse filme. Zero, nada. Afinal o fato dele ser a terceira sequência dos filmes de horror com a personagem Samara não significava muita coisa. "O chamado 2" é de 2005, então porque esperaram tanto para levar essa franquia em frente? Coisa boa não poderia ser. Bom, me equivoquei novamente. O filme até me surpreendeu. Tudo bem, ele começa bem ruinzinho. Aquela velha fórmula: alguém acha a fita com Samara, assiste ao vídeo e então recebe uma ligação com uma voz sinistra dizendo: "Sete dias". Quem assiste ao filme só tem sete dias de vida.  Nada de novo. Quem assiste ao filme agora (na verdade uma velha fita VHS como nos velhos filmes) é um professor universitário (curiosamente interpretado pelo ator Johnny Galecki, o Leonard da série "Big Bang Theory", aqui em papel sério). Ele então decide fazer uma pesquisa sobre essa estória e seus alunos começam a morrer. Quem salva o filme da mesmice é a namorada de um dos alunos que resolve investigar o passado de Samara. O que estaria por trás daquela imagem da garota saindo de um poço no meio de uma floresta?

O filme só melhora mesmo a partir desse ponto. O espectador acaba conhecendo vários aspectos do passado sombrio de Samara. As circunstâncias de seu nascimento, a morte de sua mãe, a identidade de seu pai. Tudo muito bem costurado pelos roteiristas que estão de parabéns por terem fugido do esquema dos filmes anteriores. Os sustos já não são tão previsíveis e Samara acaba recebendo uma nova identidade, uma nova forma de vê-la mais objetivamente. Seria ela uma vítima e não uma criatura das trevas? Esse tipo de pergunta que o roteiro levanta acabou salvando o filme de se tornar uma grande porcaria caça-níqueis. Esse diretor espanhol F. Javier Gutiérrez assim conseguiu surpreender aos fãs não apenas da série como aos fãs de terror em geral, porque o filme, que repito começa muito mal, acaba terminando muito bem. Claro que os produtores deixaram a porta aberta para futuras continuações, mas nem isso estraga "O Chamado 3", um filme que tinha tudo para ser muito ruim, mas que foi salvo pelas boas ideias de seu roteiro.

O Chamado 3 (Rings, Estados Unidos, 2017) Direção: F. Javier Gutiérrez / Roteiro: David Loucka, Jacob Estes / Elenco: Matilda Anna Ingrid Lutz, Alex Roe, Johnny Galecki / Sinopse: Após um professor universitário elaborar uma pesquisa sobre Samara e vários alunos morrerem depois de assistirem ao seu vídeo, a namorada de um deles resolve procurar pelo passado da garota morta. Só assim, ela pensa, poderá quebrar o círculo de mortes envolvendo aquela aparição assombrada.

Pablo Aluísio.

Sin City: A Dama Fatal

Quase dez anos depois do lançamento de "Sin City" eis que surge essa sequência tardia. Como era de se esperar os fãs de quadrinhos odiaram (provavelmente formam o grupo mais chato que existe dentro da cultura pop) e a crítica em geral, com receios dessa gente, acabou malhando o filme. Por isso adiei bastante o filme, só assistindo ontem, quase três anos após seu lançamento. Meu conselho é: ignorem a opinião dos leitores de quadrinhos e ignorem até mesmo os críticos de plantão. Não há nada de errado nesse "Sin City: A Dama Fatal" como tanto se falou. Pelo contrário, o filme é até muito divertido.

Dirigido pela dupla  Frank Miller e Robert Rodriguez, o filme segue os passos do primeiro. A linguagem é aquela que já conhecemos. A intenção dos realizadores é fazer com que o público tenha a sensação de que está lendo uma história em quadrinhos na tela do cinema. Poucas vezes criou-se uma simbiose tão forte em termos de linguagem ligando a sétima com a nona arte. As sequências do filme parecem desenhos das comics, com o farto uso do contraste entre o preto e o branco. É, como escrevi, basicamente o sistema que foi usado no primeiro filme. Não compreendo porque o primeiro foi tão elogiado e esse tão criticado se usam a mesma maneira de se contar o enredo. Pura rabugice dessa gente.

Tudo vai acontecendo de maneira fragmentada. Todas as estórias parecem ter apenas um ponto em comum: a presença do personagem brucutu Marv (interpretado por Mickey Rourke embaixo de forte maquiagem). Ele fica quase sempre no bar de strippers onde se apresenta sua musa, a bela Nancy (Jessica Alba), que agora passa por um momento complicado da vida. Consumida pelo desejo de vingança ela bebe além da conta. Seu alvo é um senador corrupto com quem ela quer acertar velhas dividas. A tal dama fatal do título é uma das melhores coisa do filme. Interpretada por Eva Green (em generosas cenas de nudez), ela é a principal razão para se assistir a esse filme. Como o próprio título sugere, ela é de fato uma mulher fatal, aquele tipo de beldade que parece sempre pronta a transformar todos os homens que encontra em seus capachos. Tudo com interesses escusos e imorais. Só vendo para crer. Então é isso, apesar de toda a avalanche de críticas negativas que o filme sofreu em seu lançamento, recomendo sem receios esse "Sin City 2". É violento, incisivo, mas principalmente divertido. Pode assistir sem qualquer tipo de aversão e preconceito.

Sin City: A Dama Fatal (Sin City: A Dame to Kill For, Estados Unidos, 2014) Direção: Frank Miller, Robert Rodriguez / Roteiro: Frank Miller / Elenco: Mickey Rourke, Jessica Alba, Josh Brolin, Eva Green, Joseph Gordon-Levitt, Rosario Dawson, Bruce Willis, Ray Liotta, Christopher Lloyd / Sinopse: Marv (Mickey Rourke) acaba se envolvendo em inúmeros problemas, principalmente quando é procurado por Dwight (Josh Brolin). Ele quer vingança contra uma mulher pelo qual se apaixonou e que o usou para fins ilegais e imorais. Filme indicado ao Jupiter Award e ao Women Film Critics Circle Awards.

Pablo Aluísio.

domingo, 28 de maio de 2017

O Falcão dos Mares

Durante as chamadas Guerras Napoleônicas no século XIX, a armada real britânica decide enviar um navio de guerra, o HMS Lydia, para os mares do Atlântico Sul. Sob comando do Capitão Horatio Hornblower (Gregory Peck) a embarcação deverá cruzar o Cabo da Boa Esperança indo em direção ao Oceano Pacífico, se dirigindo para a América Central onde a coroa tem interesses em desestabilizar a região, formada por inúmeras colônias espanholas. Como Espanha e Inglaterra estão em lados opostos nos conflitos armados na Europa caberá ao Capitão enviar armas e munição para um revolucionário local chamado Don Julian Alvarado (Alec Mango), conhecido entre seus seguidores como El Supremo. Após uma jornada longa, que dura meses e custa muito em termos de tripulação e mantimentos, finalmente o Capitão Hornblower e sua exausta tripulação chegam ao seu destino. Logo no encontro inicial o comandante inglês percebe que o revolucionário faz o estilo caudilho, violento, cruel e sanguinário. Um sujeito completamente desprezível, arrogante, egocêntrico e megalomaníaco. Mesmo assim Hornblower resolve cumprir o que lhe fora ordenado quando deixou a Inglaterra. Nesse ínterim surge um outro navio de guerra nos mares da região, uma poderosa nau com sessenta canhões pertencentes ao Reino de Espanha. Caberá ao Lydia enfrentar esse desafio, destruindo o inimigo para garantir os interesses britânicos no continente. O que Hornblower não contava é que o tabuleiro de xadrez da política na metrópole poderia mudar a cada instante, transformando antigos inimigos em aliados e vice versa.

"O Falcão dos Mares" é seguramente um dos maiores clássicos de filmes de aventura da história do cinema britânico. Uma produção espetacular com excelente roteiro e um elenco magistral, com destaque absoluto para Gregory Peck. Ele interpreta esse austero Capitão Inglês que é enviado para os confins do mundo conhecido com objetivos militares e políticos bem claros. Uma vez em seu destino, ele descobre que nada parecia ser o que ele esperava. Encontra um novo mundo cheio de guerras, brigas internas e conflitos. O líder revolucionário que poderia significar uma esperança para aqueles povos não passa de um bufão pomposo e sem escrúpulos. A população das colônias está também doente e desamparada, com uma epidemia de febre amarela. É justamente fugindo dela que surge a bela Lady Barbara Wellesley (Virginia Mayo). Ela pretende retornar para Londres no navio comandado por Hornblower. O problema é que aquela seria uma embarcação militar, não adequada para acomodar passageiros. Mesmo assim, por ser uma cidadã britânica, se torna obrigatório para o Capitão levá-la de volta ao lar, não sem antes se envolver em vários problemas decorrentes de uma viagem como essa. O filme tem excelente fotografia e cenas de combates entre navios que até hoje impressionam o espectador. Usando diversas técnicas (filmagens em estúdio e locações, embarcações reais, maquetes extremamente realistas e truques de câmeras) o espectador é levado a crer estar mesmo presenciando uma aventura nos mares naquela era tão turbulenta. O ponto alto do filme acontece quando o HMS Lydia enfrenta o orgulho da Marinha Real Espanhola, o navio Natividad. Uma cena de combate marítimo que está entre os melhores já realizados. Enfim, grande clássico, produção irrepreensível e história empolgante. Um grande filme, acima de qualquer crítica negativa que se queira fazer.

O Falcão dos Mares (Captain Horatio Hornblower R.N, Inglaterra, 1951) Direção: Raoul Walsh / Roteiro: Ivan Goff, Ben Roberts / Elenco: Gregory Peck, Virginia Mayo, Robert Beatty, Alec Mango / Sinopse: Para causar desestabilização política na América Central o Rei Eduardo da Inglaterra decide enviar uma embarcação militar com armas e munições para ajudar na luta dos revolucionários locais que desejam se libertar da dominação espanhola. Caberá ao virtuoso Capitão Horatio Hornblower (Gregory Peck) levar o HMS Lydia e seus tripulantes nessa perigosa viagem. No caminho encontram uma inglesa chamada Barbara Wellesley (Virginia Mayo) que deseja voltar para Londres. A viagem porém não será das mais tranquilas.

Pablo Aluísio.

sábado, 27 de maio de 2017

O Ocaso de uma Alma

Título no Brasil: O Ocaso de uma Alma
Título Original: Good Morning, Miss Dove
Ano de Produção: 1955
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Henry Koster
Roteiro: Eleanore Griffin, Frances Gray Patton
Elenco: Jennifer Jones, Robert Stack, Kipp Hamilton, Robert Douglas, Chuck Connors, Peggy Knudsen
  
Sinopse:
O filme narra a história de Miss Dove (Jennifer Jones). Após a morte de seu pai ela se vê em uma situação bem complicada. O pai deixou muitas dívidas com um banco e ela precisa arranjar um trabalho de qualquer maneira e o mais rapidamente possível! Acaba se tornando professora de uma escola para crianças de sua cidade. Os anos passam e Miss Dove acaba se tornando uma das pessoas mais queridas da comunidade, até que um dia, em plena sala de aula, ela passa mal, indo parar em um hospital.

Comentários:
O grande destaque desse filme é a interpretação inspirada da atriz Jennifer Jones. Ela interpreta uma professora desde a sua juventude até sua velhice, quando é internada às pressas em um hospital. No leito de seu quarto ela começa a perceber como é uma pessoa querida dos moradores daquele lugar. Quase todos são ex-alunos dela, desde o médico que a atende, passando pela enfermeira, indo até um jovem pobre que acabou se tornando um policial. Grande parte das histórias de cada um é contada em flashbacks, enquanto Miss Dove espera pelo resultado de seu exame. O filme é nostálgico, mostrando e valorizando a figura de uma professora que dedicou toda a sua vida ao ensino das crianças. De geração em geração, todos acabam prestando uma homenagem a ela no hospital onde está internada. É um filme bonito, com o roteiro valorizando aspectos importantes na vida de uma mulher que abriu mão de muitas coisas, até de parte de sua vida pessoal, para se dedicar à arte de ensinar. É interessante também por mostrar uma outra visão desse tipo de profissional que hoje em dia anda tão desvalorizado. Nas pequenas cidades dos Estados Unidos dos anos 50 a realidade era bem diferente, tanto em disciplina na sala de aula, como também no prestígio dessa professora única interpretada pela talentosa Jennifer Jones. O filme assim fica mais do que recomendado para os cinéfilos que apreciam o cinema clássico em sua fase mais inspiradora.

Pablo Aluísio.

Tarzan e o Menino da Selva

Título no Brasil: Tarzan e o Menino da Selva
Título Original: Tarzan and the Jungle Boy
Ano de Produção: 1968
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Robert Gordon
Roteiro: Robert Gordon
Elenco: Mike Henry, Rafer Johnson, Aliza Gur, Steve Bond, Edward Johnson, Ron Gans

Sinopse:
Um jornalista e sua noiva viajam até a África para descobrir o paradeiro de um garoto desaparecido, o filho de um geólogo inglês famoso. Mal sabe o casal que Tarzan (Mike Henry), o Rei da Selva, já encontrou o menino. Ele estava perdido na selva. Agora Tarzan luta para mantê-lo seguro, uma vez que uma tribo nativa quer colocar as mãos nele. Na lei da selva apenas o mais forte conseguirá sobreviver.

Comentários:
Terceiro e último filme do ator Mike Henry no papel de Tarzan, o imortal personagem criado por Edgar Rice Burroughs. Ele havia estreado nos filmes de Tarzan em "Tarzan e o Vale do Ouro" em 1966, sendo seguido de sua continuação "Tarzan e o Grande Rio", um ano depois. Nenhum desses filmes conseguiu ser um grande sucesso de bilheteria. Mesmo sendo bem produzidos, com a marca de qualidade da Paramount Pictures, o fato é que o público parecia um pouco cansado do próprio personagem Tarzan. Era algo previsível pois desde os primeiros filmes com Johnny Weissmuller havia uma certa regularidade de lançamento de filmes com o Rei das Selvas. Assim a fórmula foi se desgastando naturalmente pelo excesso de filmes, ano após ano. Com Mike Henry as coisas não melhoraram muito. Seus três filmes como Tarzan até que são bons, podem ser consideradas aventuras divertidas. O problema é que Mike Henry não tinha muito nome dentro da indústria e ele mesmo não parecia confortável no papel, tendo que arcar com acidentes e problemas durante as filmagens. Em certo momento chegou a ser mordido por um chipanzé, em outro foi atacado por um touro enfurecido. Assim acabou resolvendo deixar Tarzan de lado, encerrando sua participação como o famoso herói dos livros e quadrinhos.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 26 de maio de 2017

A Porta de Ouro

Título no Brasil: A Porta de Ouro
Título Original: Hold Back the Dawn
Ano de Produção: 1941
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Mitchell Leisen
Roteiro: Charles Brackett, Billy Wilder
Elenco: Charles Boyer, Olivia de Havilland, Paulette Goddard, Victor Francen, Walter Abel, Rosemary DeCamp
  
Sinopse:
O playboy franco-romeno Georges Iscovescu (Charles Boyer) decide se mudar para os Estados Unidos. O problema é que como imigrante ele só receberá o Green Card se conseguir se casar com uma americana. E assim ele o faz, se casando com Emmy Brown (Olivia de Havilland). Georges pretende retornar aos braços de sua querida Anita Dixon (Paulette Goddard), também estrangeira na América, mas acaba sendo pego pelo destino ao se apaixonar por Emmy.

Comentários:
Comédia de costumes com toques românticos que acabou se tornando um inesperado grande sucesso de público e crítica. Só para se ter uma ideia da ótima receptividade que esse filme teve na época basta relembrar que ele conseguiu seis indicações ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Atriz (Olivia de Havilland), Melhor Roteiro Adaptado (Charles Brackett e Billy Wilder), Melhor Fotografia em Preto e Branco (Leo Tover), Melhor Direção de Arte (Hans Dreier e Robert Usher) e Melhor Música (Victor Young). O filme só não venceu o Oscar naquele ano porque realmente havia filmes excepcionais concorrendo. O grande vencedor do prêmio da noite acabou sendo "Como era Verde o meu Vale", o clássico imortal de John Ford. Outro concorrente? "Cidadão Kane"! Era mesmo impossível vencer nessa premiação! De qualquer forma as indicações já foram vitórias diante de tantos concorrentes maravilhosos. Sobre o filme em si não há nada a criticar. O roteiro é bem sofisticado, com situações e diálogos excepcionalmente bem escritos. Billy Wilder, no começo de carreira, já demonstrava todo o seu talento nesse roteiro. O elenco também é acima da média. Além da classe tipicamente francesa de Charles Boyer, havia ainda duas estrelas de cinema que marcaram a história de Hollywood, Olivia de Havilland e Paulette Goddard, ambas bem inspiradas em cena. Assim deixamos a dica desse clássico do humor mais sofisticado e do romantismo mais elegante. Bons tempos que não voltam mais.

Pablo Aluísio.

Horas Intermináveis

Título no Brasil: Horas Intermináveis
Título Original: Fourteen Hours
Ano de Produção: 1951
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Henry Hathaway
Roteiro: John Paxton, Joel Sayre
Elenco: Paul Douglas, Richard Basehart, Grace Kelly, Debra Paget, Jeffrey Hunter, Barbara Bel Geddes
  
Sinopse:
A vida não tem mais sentido para Robert Cosick (Richard Basehart). Desesperado por ter perdido tudo, ficando arruinado financeiramente, ele decide subir até o décimo quinto andar de um edifício de Nova Iorque para pular. O policial Charlie Dunnigan (Paul Douglas) é então chamado para atender essa ocorrência e tenta convencer o potencial suicida para que não pule em direção à morte. Filme indicado ao Oscar na categoria Melhor Direção de Arte (Lyle R. Wheeler e Leland Fuller). Também indicado ao BAFTA Awards na categoria Melhor Filme Americano do Ano.

Comentários:
Um filme noir que acabou sendo conhecido por ser o começo das carreiras de atores jovens (e naquela época ainda desconhecidos), que iriam fazer sucesso em Hollywood nos anos que viriam. O caso mais famoso nesse aspecto foi a da estreia de Grace Kelly no cinema, ainda bastante inexperiente, interpretando uma personagem coadjuvante. Jovem e linda, ainda não se sabia que ela iria se tornar uma das maiores estrelas do cinema americano. Além de Grace o elenco de apoio ainda trazia Jeffrey Hunter, que iria se consagrar interpretando Jesus Cristo no épico "Rei dos Reis" e Debra Paget, que se tornaria famosa ao fazer a namorada do roqueiro Elvis Presley em "Ama-me com Ternura" (o faroeste "Love Me Tender"). Ou seja, poucas vezes se viu um elenco jovem tão promissor como nesse filme. Em termos gerais é um suspense noir que se baseia em uma situação limite que dura intermináveis 14 horas, onde um homem em desespero ameaça se suicidar, pulando do décimo quinto andar de um prédio em Nova Iorque. Enquanto ele ameaça pular ou não, um policial tenta convencê-lo a não fazer isso. A história foi baseada em fatos reais. Durante a grande depressão muitas pessoas perderam tudo na quebra da bolsa de valores de Nova Iorque e se suicidaram. O filme assim romanceia um desses casos que terminou de forma trágica.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Encontro no Inverno

Esse não era bem o tipo de filme em que você esperaria encontrar a grande Bette Davis. Bancar a mocinha romântica realmente nunca foi a especialidade dessa diva do cinema. E de fato sua personagem passa longe desse tipo de clichê. Davis interpreta Susan Grieve, uma escritora e poetista, de família aristocrata e tradicional, que parece muito bem resolvida em sua vida. Ela é solteira (imaginem o tipo de preconceito que existia na época contra mulheres solteiras em sua idade) e está centrada em seu trabalho e carreira, Tudo muda quando chega um herói de guerra da marinha americana em Nova Iorque, Slick Novak (Jim Davis). Ele é celebrado por onde passa e todos parecem dispostos a agradecê-lo pelos atos de coragem e heroísmo durante a II Guerra. Por um mero acaso Susan acaba sendo convidada para um jantar onde também estará presente o militar. Quando eles se conhecem o militar prontamente demonstra seu interesse nela, apesar da presença da bela (e frívola) Peggy Markham (Janis Paige) que está lá disposta a tudo para seduzi-lo. Pois é, a intelectual Susan acaba superando a bonita e vazia Peggy e se torna seu interesse romântico.

O romance começa muito bem, eles vão até uma antiga casa onde Susan foi criada e lá passam por momentos maravilhosos e românticos. Para Susan, que já estava acostumada com a ideia de que nunca iria encontrar o homem de sua vida, tudo é uma grande surpresa. Porém quando o destino é por demais generoso é hora de se preocupar. E o conto de fadas romântico de Susan acaba se desmanchando no ar quando Novak lhe confessa que deseja se um tornar padre! Esse sempre fora seu sonho, desde os 16 anos de idade e a experiência da guerra reforçou ainda mais seu desejo de se tornar um sacerdote católico! Para Susan é o fim de seus sonhos, como se pode imaginar. O filme "Encontro no Inverno" tem uma boa trama, baseada no romance escrito por Grace Zaring Stone. A ideia de colocar um herói romântico que tem planos de se tornar um padre é bem curiosa e poderia levantar muitas questões interessantes, tanto do ponto de vista social como religioso, porém o filme não vai até esse ponto. Ele apenas se concentra na decepção e desilusão da protagonista que vê sua felicidade desmoronar por causa da escolha daquele que ama. O filme, apesar de tudo isso, é bem sóbrio. Bette Davis, elegante como sempre, interpreta essa mulher inteligente e culta que se vê diante de uma situação de perplexidade. O ator Jim Davis talvez seja a grande decepção em termos de elenco pois o achei sem muito talento para desenvolver na tela as crises existenciais de seu papel. Já John Hoyt era um ator brilhante, que praticamente roubou todas as cenas em que contracenou com Davis. Então é isso. Um bom drama romântico de época mostrando a montanha russa emocional de uma mulher que só queria, no final das contas, ser feliz.

Encontro no Inverno (Winter Meeting, Estados Unidos, 1948) Direção: Bretaigne Windust / Roteiro: Catherine Turney / Elenco: Bette Davis, Janis Paige, Jim Davis, John Hoyt / Sinopse: Susan é uma escritora e poetisa que se apaixona por um herói de guerra da Marinha que apesar dos belos românticos passados ao seu lado tem um velho sonho de se tornar padre, principalmente após ter presenciado todos os horrores da guerra.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

A Caldeira do Diabo

Esse é um dos melhores dramas dos anos 1950. Na realidade trata-se da adaptação do best-seller escrito por Grace Metalious. A narrativa se desenvolve em primeira pessoa, com a escritora relembrando pessoas e fatos de sua adolescência. O cenário onde tudo se desenvolve é a pequena cidade de Peyton Place. A adolescente Allison MacKenzie (Diane Varsi) vive com sua mãe Constance (Lana Turner) nesse lugar. Ela está terminando o colegial e enquanto não se decide sobre o que vai fazer da vida, vai vivenciando os dramas e paixões típicas de sua idade. Ela quer ser escritora (na verdade a personagem funciona como alter-ego da romancista que escreveu o livro original) e por isso vai colocando no papel todas as suas impressões e opiniões sobre o mundo.

Viver em uma cidadezinha tranquila dos Estados Unidos naquela época de prosperidade poderia ser o sonho de toda garota como ela, mas isso não significa que Allison também não tenha problemas a enfrentar. Seu pai morreu quando ela tinha apenas 3 anos e sua mãe parece incomodada com sua lembrança. Na verdade Constance tem um segredo em seu passado que prefere não contar para ninguém, nem para sua filha. Afinal ela vive até relativamente muito bem, pois é proprietária de uma loja de roupas femininas na cidade. Definitivamente ela não quer estragar tudo relembrando fantasmas de um passado doloroso. Já a melhor amiga de Allison, a bonita, mas reprimida Selena Cross (Hope Lange), tem menos motivos para ser feliz. Sua padrasto é um homem violento, com problemas de bebida. Abusivo e ofensivo ele não respeita nem a casa de sua família e nem seus próprios parentes. Sua crescente violência verbal e física contra Selena acabará dando origem a um trágico acontecimento, que abalará as colunas daquela sociedade tão organizada e conservadora.

Esse filme tem uma produção requintada e um roteiro primoroso. Como é de certa forma a crônica de uma cidade, com seus habitantes, pequenos dramas e conflitos, o número de personagens desfilando em cena é bem acima da média. O interessante é que todos eles são bem construídos, com extrema valorização de suas personalidades próprias, motivações e frustrações. Eu atribuo essa característica ao fato do roteiro ser uma adaptação de um romance que já tinha toda essa riqueza de detalhes. Embora tenha longa duração (com quase duas horas e meia de projeção) não é um daqueles dramas pesados e cansativos, pelo contrário, você acaba ficando tão envolvido com tudo o que acontece em cena que mal percebe o tempo passar. Grandes filmes são assim.

Outro destaque além do refinamento vem do excelente elenco que é liderado por três grandes atrizes. Lana Turner foi uma das grandes estrelas de seu tempo. Nunca assisti a nenhum filme de Lana que não fosse no mínimo impressionante. Aqui ela interpreta essa mãe que precisa criar bem sua filha adolescente, enquanto decide se vai ou não se entregar novamente ao amor. Hope Lange foi outra atriz que se destacou nesse filme. Sua personagem parece secundário no começo, porém vai crescendo cada vez mais com o passar do tempo. Ela se torna vital na conclusão do enredo. Por fim a jovem Diane Varsi quase rouba todo o filme para si. Ela foi considerada a grande revelação de Hollywood quando o filme foi lançado, mas infelizmente nunca conseguiu se tornar uma grande estrela em sua carreira. Não faz mal. Esse "A Caldeira do Diabo" acabou sendo seu grande legado no cinema. Então é isso. Esse é um daqueles filmes que você não deve perder, principalmente se você é fã de filmes clássicos. Um retrato de uma América que não existe mais, em um momento especialmente delicado da história, com os Estados Unidos prestes a entrar na II Guerra Mundial. Enfim, está mais do que recomendado aos cinéfilos em geral. É uma obra prima do cinema.

A Caldeira do Diabo (Peyton Place, Estados Unidos, 1957) Direção: Mark Robson / Roteiro: John Michael Hayes / Elenco: Lana Turner, Hope Lange, Diane Varsi, Arthur Kennedy / Sinopse: Durante os anos 40 um grupo de jovens, recém saídos do colegial, precisa decidir o que será de suas vidas dali para frente. O que muitos deles não contavam é que uma grande guerra se aproxima no horizonte, algo que mudará suas vidas para sempre. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Atriz (Lana Turner), Melhor Ator (Arthur Kennedy), Melhor Ator Coadjuvante (Russ Tamblyn), Melhor Atriz Coadjuvante (Hope Lange), Melhor Roteiro e Melhor Fotografia (William C. Mellor). Vencedor do Globo de Ouro na categoria de Revelação Feminina (Diane Varsi).

Pablo Aluísio.