Esse é um dos melhores dramas dos anos 1950. Na realidade trata-se da adaptação do best-seller escrito por Grace Metalious. A narrativa se desenvolve em primeira pessoa, com a escritora relembrando pessoas e fatos de sua adolescência. O cenário onde tudo se desenvolve é a pequena cidade de Peyton Place. A adolescente Allison MacKenzie (Diane Varsi) vive com sua mãe Constance (Lana Turner) nesse lugar. Ela está terminando o colegial e enquanto não se decide sobre o que vai fazer da vida, vai vivenciando os dramas e paixões típicas de sua idade. Ela quer ser escritora (na verdade a personagem funciona como alter-ego da romancista que escreveu o livro original) e por isso vai colocando no papel todas as suas impressões e opiniões sobre o mundo.
Viver em uma cidadezinha tranquila dos Estados Unidos naquela época de prosperidade poderia ser o sonho de toda garota como ela, mas isso não significa que Allison também não tenha problemas a enfrentar. Seu pai morreu quando ela tinha apenas 3 anos e sua mãe parece incomodada com sua lembrança. Na verdade Constance tem um segredo em seu passado que prefere não contar para ninguém, nem para sua filha. Afinal ela vive até relativamente muito bem, pois é proprietária de uma loja de roupas femininas na cidade. Definitivamente ela não quer estragar tudo relembrando fantasmas de um passado doloroso. Já a melhor amiga de Allison, a bonita, mas reprimida Selena Cross (Hope Lange), tem menos motivos para ser feliz. Sua padrasto é um homem violento, com problemas de bebida. Abusivo e ofensivo ele não respeita nem a casa de sua família e nem seus próprios parentes. Sua crescente violência verbal e física contra Selena acabará dando origem a um trágico acontecimento, que abalará as colunas daquela sociedade tão organizada e conservadora.
Esse filme tem uma produção requintada e um roteiro primoroso. Como é de certa forma a crônica de uma cidade, com seus habitantes, pequenos dramas e conflitos, o número de personagens desfilando em cena é bem acima da média. O interessante é que todos eles são bem construídos, com extrema valorização de suas personalidades próprias, motivações e frustrações. Eu atribuo essa característica ao fato do roteiro ser uma adaptação de um romance que já tinha toda essa riqueza de detalhes. Embora tenha longa duração (com quase duas horas e meia de projeção) não é um daqueles dramas pesados e cansativos, pelo contrário, você acaba ficando tão envolvido com tudo o que acontece em cena que mal percebe o tempo passar. Grandes filmes são assim.
Outro destaque além do refinamento vem do excelente elenco que é liderado por três grandes atrizes. Lana Turner foi uma das grandes estrelas de seu tempo. Nunca assisti a nenhum filme de Lana que não fosse no mínimo impressionante. Aqui ela interpreta essa mãe que precisa criar bem sua filha adolescente, enquanto decide se vai ou não se entregar novamente ao amor. Hope Lange foi outra atriz que se destacou nesse filme. Sua personagem parece secundário no começo, porém vai crescendo cada vez mais com o passar do tempo. Ela se torna vital na conclusão do enredo. Por fim a jovem Diane Varsi quase rouba todo o filme para si. Ela foi considerada a grande revelação de Hollywood quando o filme foi lançado, mas infelizmente nunca conseguiu se tornar uma grande estrela em sua carreira. Não faz mal. Esse "A Caldeira do Diabo" acabou sendo seu grande legado no cinema. Então é isso. Esse é um daqueles filmes que você não deve perder, principalmente se você é fã de filmes clássicos. Um retrato de uma América que não existe mais, em um momento especialmente delicado da história, com os Estados Unidos prestes a entrar na II Guerra Mundial. Enfim, está mais do que recomendado aos cinéfilos em geral. É uma obra prima do cinema.
A Caldeira do Diabo (Peyton Place, Estados Unidos, 1957) Direção: Mark Robson / Roteiro: John Michael Hayes / Elenco: Lana Turner, Hope Lange, Diane Varsi, Arthur Kennedy / Sinopse: Durante os anos 40 um grupo de jovens, recém saídos do colegial, precisa decidir o que será de suas vidas dali para frente. O que muitos deles não contavam é que uma grande guerra se aproxima no horizonte, algo que mudará suas vidas para sempre. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Atriz (Lana Turner), Melhor Ator (Arthur Kennedy), Melhor Ator Coadjuvante (Russ Tamblyn), Melhor Atriz Coadjuvante (Hope Lange), Melhor Roteiro e Melhor Fotografia (William C. Mellor). Vencedor do Globo de Ouro na categoria de Revelação Feminina (Diane Varsi).
Pablo Aluísio.
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