sexta-feira, 20 de abril de 2012

Dragão Vermelho

Hannibal Lecter já entrou no rol dos grandes personagens do cinema americano. O psicopata frio e calculista mas de alto QI já virou marca registrada. Surgiu para o grande público em "O Silêncio dos Inocentes" um filme que começou sua carreira de forma até despretensiosa mas que foi subindo degraus até ser aclamado pela Academia com um festival de prêmios. Após essa consagração o personagem retornou no péssimo "Hannibal", uma produção muito ruim e equivocada, baseado em um livro igualmente muito ruim, que parecia ter enterrado de vez o personagem para a sétima arte. Ainda bem que não desistiram dele pois esse "Dragão Vermelho" é em minha opinião a melhor transposição de Lecter para as telas. Baseado no livro de Thomas Harris esse é certamente o retrato mais fiel do serial killer. Embora seja um personagem de ficção Hannibal é na realidade uma fusão dos perfis de muitos psicopatas do mundo real. Tal como Norman Bates de "Psicose" o criminoso feito por Hopkins é na realidade um mosaico que reúne características de vários monstros assassinos que realmente existiram, tudo concentrado em um só personagem. Nesse "Dragão Vermelho" tudo é mais bem situado, explicado e caracterizado. Some-se a isso a boa trama e eis um filme realmente impecável sob qualquer ponto de vista. 

Uma das boas idéias de "Dragão Vermelho" é mostrar eventos que ocorreram cronologicamente antes de "O Silêncio dos Inocentes". Aqui um agente do FBI, William Graham (Edward Norton), procura ajuda com Lecter (Anthony Hopkins) para tentar capturar um novo serial killer chamado Francis Dollarhyde, interpretado com brilhantismo  por Ralph Fiennes. Sádico, extremamente desequilibrado e vivendo em um mundo de delírios, Francis leva toda uma cidade a um verdadeiro estado de pânico com seus crimes em série. O diretor Brett Ratner prima muito mais pelo suspense e tensão psicológica entre a dupla central do que pela escatologia pura e simples. Esse aliás é o grande mérito do filme. Ao invés do estilo mais cru, vulgar e grotesco de "Hannibal" o roteiro se apóia muito mais no clima sombrio e soturno no qual vivem esses homicidas do nosso tempo. Desnecessário recomendar o filme para os fãs do personagem. A trilogia original se encerrou aqui, o personagem infelizmente ainda voltou a dar as caras em um nova tentativa de revitalizar Hannibal nos cinemas mas foi uma tentativa frustrada. "Dragão Vermelho", por outro lado, é realmente o melhor já feito sobre o canibal famoso da ficção, fechando com chave de ouro sua melhor fase em Hollywood.

Dragão Vermelho (Red Dragon, Estados Unidos, 2002) Direção: Brett Ratner / Roteiro: Ted Tally / Elenco: Anthony Hopkins, Edward Norton, Ralph Fiennes, Harvey Keitel, Mary-Louise Parker, Emily Watson, Philip Seymour Hoffman / Sinopse: Famoso criminoso é procurado por agente do FBI para ajudar na busca de um serial killer que está à solta, jogando terror e medo na população de uma grande cidade americana.

Pablo Aluísio. 

Marilyn Monroe e John Kennedy

John Kennedy e Marilyn Monroe povoam o imaginário popular há décadas. Ele foi um dos mais populares presidentes da história norte-americana. Jovem, rico e bem sucedido JFK representou como poucos uma era de esperança e otimismo em relação ao futuro daquela nação. Era o começo da década de 60 e na Casa Branca os americanos tinham um líder quase mítico, tanto que sua presidência acabou sendo conhecida anos depois como “A Era de Camelot” em Washington. Se Kennedy era um ícone, Marilyn Monroe não ficava atrás. Uma atriz que saiu do nada e conseguiu se tornar uma das estrelas mais populares do cinema americano. Com uma biografia recheada de histórias trágicas Monroe conseguiu escalar os picos da fama e se tornar eterna na imaginação de toda uma geração. Uma Deusa em celuloide.
Isso de fato é o que ficou da dita história oficial. Cabe agora indagar até que ponto tudo não passou de um mito. 

Quem realmente eram Marilyn Monroe e JFK? O que os moveu a entrarem num dos relacionamentos mais controvertidos e debatidos da história? O que realmente aconteceu? Quais foram os efeitos trágicos desse romance? O caso deles até hoje é tratado oficialmente como mero “boato”. A biblioteca de JFK (John F. Kennedy Libraty and Museum) afirma até hoje “ignorar” qualquer tipo de envolvimento do presidente com a atriz. Essa também é a postura oficial da família Kennedy até os dias atuais. Para essas pessoas que vivem do legado do nome Kennedy tudo não passou de um boato espalhado pelos inimigos do presidente. Nada aconteceu de fato. JFK mal conhecia a atriz e a viu de forma esporádica e casual durante alguns eventos sociais e isso é tudo. Se trata apenas de um dos “não romances” mais comentados da história americana. Kennedy segundo essa visão era um exemplar pai de família que dedicava todas as suas horas livres para os dois filhos e sua amada esposa, Jacqueline Kennedy. Qualquer coisa fora dessa visão é mera especulação criada para macular a memória do saudoso líder americano.

Recentemente o jornalista francês François Forestier lançou o livro "Marilyn e JFK" sobre o famoso romance. Um dos grandes erros do livro é que Forestier não consegue manter uma postura imparcial em relação aos personagens retratados. Para falar a verdade ele parece odiar Marilyn e Kennedy na mesma intensidade. O autor não consegue sequer ter uma visão positiva sobre ambos, tudo é negativo, com sinais de rancor e raiva. A Marilyn que surge de suas páginas é manipuladora, interesseira, pouco inteligente e até mesmo suja (François não perde a chance de sempre dizer que ela não gostava de tomar banho). Sua visão de Kennedy não é menos negativa e apelativa. O presidente é retratado como um tarado, um maníaco sexual, um sujeito sem qualquer mérito pessoal cuja administração em sua ótica foi quase um milagre pois não havia tempo de ser presidente ao se envolver com tantas mulheres ao mesmo tempo. Quanta bobagem! 

Nem o céu e nem a terra, senhores. Nem JFK e MM eram anjos de pureza e nem tampouco demônios encarnados. Tanto a versão dita oficial é uma bobagem quanto a releitura de pessoas como Forestier. Deve-se procurar um meio termo no meio de tantas informações equivocadas e distorcidas. Ao que tudo indica ambos se aproximaram por mera curiosidade. Eram famosos, ricos e célebres em sua era. Tanto Kennedy tinha enorme curiosidade em conhecer Marilyn como vice versa. Obviamente no meio de tudo havia o poder político. Para Marilyn um romance sério com Kennedy e quem sabe a possibilidade de um dia se tornar a primeira dama dos EUA era certamente um ápice de uma vida como a dela. Para Kennedy a atriz era de certa forma apenas uma aventura deliciosa que só homens que ocupavam sua posição poderiam desfrutar sem medo de correr maiores riscos. Enquanto estavam juntos tudo correu às mil maravilhas, o problema foi após o momento do rompimento.

Foi Robert Kennedy o indicado pelo presidente para informar a Marilyn Monroe que tudo estaria acabado entre eles. John Kennedy havia sido informado que Monroe estava saindo na mesma época com um dos mafiosos do grupo de Sam Giancana, justamente um chefão que ele próprio e seu irmão queriam mandar para a cadeia. Namorar uma atriz que dividia os lençóis com um dos membros da gangue Giancana era demais até para Kennedy. O problema é que o tiro acabou saindo pela culatra e Bob acabou se envolvendo ele mesmo com Marilyn. Naquela altura Procurador Federal, marido e pai de vários filhos, o sensato Bob jogou o juízo pela janela e acabou se enroscando com a diva. Imaginem o teor explosivo de algo assim vazar para a imprensa.

O fato é que Marilyn há tempos vinha mostrando sinais de desequilíbrio em relação aos Kennedy. Ao se ver rejeitada por John e depois por Bob o sonho de virar esposa de um figurão da família veio abaixo. A partir daí surgem as várias e várias teorias de conspiração. Para os mais radicais Monroe ameaçou contar tudo para a imprensa e apavorados Bob e John teriam armado um complô para tirá-la de circulação. Será verdade? Quem pode afirmar algo com certeza? Absolutamente ninguém. Como sabemos histórias envolvendo ricos e poderosos nunca são contados de forma completa, tudo é propositalmente obscurecido por sombras e falsas informações. O assunto até hoje parece incomodar, mesmo passado meio século dos eventos. O tema acabou dando origem a uma literatura própria, aonde convivem obras sérias com bobagens (como o livro de Forestier). No meio desse pântano de evidências só resta ao leitor procurar um fundo de verdade nesse material farto e confuso. Se algo vai ser encontrado algum dia não sabemos, só nos resta mesmo tentar chegar o mais perto possível do que efetivamente aconteceu.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Quero Ficar Com Polly

Aqui temos em cena dois atores que só conseguem interpretar os mesmos personagens, filme após filme. Jennifer Aniston não consegue se livrar jamais de sua personagem em Friends, aquela série de grande sucesso de audiência. Lá se vão anos desde que Friends foi cancelada e ela continua na mesma. Estagnação pouco é bobagem. Já Ben Stiller é aquela coisa, não importa qual seja o filme e nem a estória pois Ben Stiller sempre vai ter o mesmo tipo de atuação, interpretando o mesmo estereótipo do idiota que tena fazer tudo certinho mas que atrapalhado faz tudo errado. Se Aniston é a namoradinha da América, Stiller é o americano médio abobalhado que sonha um dia se tornar o seu namorado. Já deu para perceber que com esses dois em cena não sairia nada melhor do que uma comédia romântica de rotina, para passar o tempo. Em termos de elenco e atuação a única surpresa digna de nota é a presença sempre excepcional do talentoso Philip Seymour Hoffman, esse sim um grande talento, só que com material tão fraco em mãos nada faz de muito relevante.

A trama de "Quero Ficar com Polly"? Ruben (Ben Stiller) é um perfeito quadradão. Certinho, burocrático e sem graça, leva a vida vendendo seguros ao mesmo tempo em que evita qualquer tipo de risco em sua vida. Seu mundo organizado desmorona completamente quando sua esposa, em plena lua de mel, lhe presenteia com um belo par de chifres. Corneado e desiludido ele acaba encontrando apoio em uma velha conhecida dos tempos de escola, a descolada  Polly (Jennifer Aniston). Ela aparenta ser o extremo oposto dele, não liga para riscos, é desorganizada e não está nem aí para planos sobre o futuro preferindo viver o presente intensamente. Como se sabe os opostos se atraem e assim os dois acabam envolvidos em um romance improvável. No saldo final "Quero Ficar Com Polly" é aquele tipo de filme descartável, com argumento bonitinho que vai ajudar "elas" a passarem o tempo. Já "eles" certamente torcerão o nariz! Só recomendado mesmo para fãs talibãs de Friends em geral.

Quero Ficar Com Polly (Along Came Polly, Estados Unidos, 2003) / Direção: John Hamburg / Roteiro: John Hamburg / Elenco: Ben Stiller, Jennifer Aniston, Philip Seymour Hoffman, Debra Messing, Alec Baldwin, Toni Blair./ Sinopse: Um casal formado por pessoas completamente opostas tentam levar em frente um romance nada convencional.

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Um Homem Sério

Durante a década de 60 um pacato professor de física vê os principais aspectos de sua vida desmoronar. Sua esposa decide lhe abandonar por outro homem, seu irmão não consegue se firmar direito na vida, seu filho o odeia e sua filha é uma pessoa artificial e tola que só pensa em dinheiro e bens materiais. Sem entender porque mesmo sendo um homem bom e religioso tudo dá errado em sua vida, resolver procurar por três rabinos para entender a razão porque afinal Deus o estaria punindo. "Um Homem Sério" é um filme para reflexão. Eu fiz uma leitura muito interessante sobre essa produção. Na minha forma de ver o filme tem como tema principal o acaso! Isso mesmo, o acaso. Poucos se deram conta mas o universo é regido pelo acaso. As coisas acontecem por acaso - a vida na terra foi uma grande acaso do universo. Se existisse realmente uma mente pensante por trás do universo não teríamos leis da física que demonstram que o universo foi formado por puro acaso, sorte ou qualquer denominação melhor que você queira. E o que isso tem a ver com o personagem principal do filme? Tudo.

Reparem que o professor do filme é um sujeito pacato, honesto que tenta levar a vida na linha. A despeito disso porém tudo dá errado para ele! Por isso ele não consegue compreender porque sua vida se transforma em um caos sem ele ter dado razão a nada disso. Por qual razão Deus não intervém para proteger esse homem bom e sério de todos esses percalços que enfrenta? Por que as leis divinas não o protegem? Onde estaria Deus, por exemplo? Ora, em lugar nenhum, porque afinal tudo acontece por mero acaso. O filme de certa forma tenta provar justamente essa tese. Percebam que os religiosos do filme (os três rabinos) são retratados como perfeitos idiotas que não tem respostas para nada! Claro que não tem. Reparem também que em certo momento o professor de física fala sobre as chamadas teorias da imprevisão do universo (onde tudo é ocasionado pelo acaso). É isso, poucos entenderam mas "Um Homem Sério" é no fundo uma fina ironia sobre o acaso que nos cerca e domina as leis do Universo. A religião é bastante baseada em outros dogmas, entre eles o da lei da ação e reação (seja honesto e bonzinho que Deus lhe proporcionará uma vida feliz, próspera e tranquila). Na base do roteiro desse filme nada disso é real. Todos fazemos parte apenas de um grande acaso do cosmos. Nada mais, nada menos.

Um Homem Sério (A Serious Man, Estados Unidos, França, Inglaterra, 2009) Direção: Joel Coen, Ethan Coen / Roteiro: Joel Coen, Ethan Coen / Elenco: Michael Stuhlbarg, Richard Kind, Fred Melamed, Sari Lennick, Aaron Wolff / Sinopse: Durante a década de 60 um pacato professor de física vê os principais aspectos de sua vida desmoronar. Sua esposa decide lhe abandonar por outro homem, seu irmão não consegue se firmar direito na vida, seu filho o odeia e sua filha é uma pessoa artificial e tola que só pensa em dinheiro e bens materiais. Sem entender porque mesmo sendo um homem bom e religioso tudo dá errado em sua vida, resolver procurar por três rabinos para entender a razão porque afinal Deus o estaria punindo.

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 17 de abril de 2012

Grease - Nos Tempos da Brilhantina

Grease significa literalmente graxa em português. Não que esse famoso musical fosse sobre mecânicos e seu trabalho diário com graxa, nada disso, graxa aqui é uma gíria usada para nomear a famosa brilhantina usada nos cabelos pelos jovens da década de 50. O produto era tão oleoso e pegajoso que mais parecia uma graxa daquelas que se usavam nos motores dos carros! Mas deixemos essa curiosidade de lado. Grease - Nos Tempos da Brilhantina foi certamente um dos melhores musicais já feitos na história do cinema. Adaptado de uma famosa peça da Broadway escrita por Jim Jacobs e Warren Casey o filme atravessou gerações e até hoje encanta por ser divertido, romântico e ter uma trilha sonora recheada de canções maravilhosas. É curioso porque a cada 20 anos surge um clima de saudosismo sobre a década que ficou. Hoje por exemplo vivemos uma onda de nostalgia em cima dos artistas e da cultura da década de 80, então nos anos 70 a saudade bateu em cima dos anos 50. Grease foi a melhor produção que captou esse clima que pairava naqueles anos. O elenco principal reunia dois jovens atores, muito talentosos e já naquela época bem famosos: John Travolta e a maravilhosa Olivia Newton-John de tantos sucessos nas paradas musicais e nas bilheterias de cinema.

O enredo do filme tenta reproduzir os antigos filmes de verão dos anos 50. Geralmente neles acompanhamos o relacionamento de dois jovens que na flor da idade se entregam ao amor adolescente em algum lugar tipicamente de férias. Grease não é nada muito diferente disso. O grande diferencial realmente vem nas canções e nas coreografias, todas muito bem realizadas  por todo o elenco. Travolta, jovem e no auge de seu rebolado, imprime nuances de seu trabalho anterior, o grande sucesso "Os Embalos de Sábado à Noite". Pra falar a verdade ele apenas levou seu Tony Manero para a década de 50. Já a cantora e atriz Olivia Newton-John inauguraria com Grease a melhor fase de toda sua carreira. Depois do sucesso desse filme ela emplacou outras produções musicais nos cinemas como o sempre lembrado Xanadu. Se você gosta de filmes musicais alto astral, com muita dança e ótimas canções então Grease é mais do que recomendado. Um filme que parece não envelhecer nunca, ainda mantendo o mesmo charme e o carisma de quando foi lançado. Não deixe de assistir e se divirta!

Grease - Nos Tempos da Brilhantina (Grease, Estados Unidos, 1978) Direção: Randal Kleiser / Roteiro: Bronte Woodard, Allan Carr baseados no musical "Grease" de Jim Jacobs e Warren Casey / Elenco: John Travolta, Olivia Newton-John, Stockard Channing, Jeff Conaway / Sinopse: Danny Zuko (John Travolta) conhece Sandy Olsen (Olivia Newton-John) durante as férias de verão. De volta às aulas descobre que ela é a nova garota caloura na escola onde estuda. O problema é que Zuko tem que manter sua fama de mau com seus amigos de turma e para isso terá que esnobar e fazer pouco caso de Sandy, embora por dentro ainda esteja completamente apaixonado por ela. Baseado no famoso musical da Broadway, Grease.

Pablo Aluísio. 

A Condessa

Erzebet Bathory (Julie Delpy) é uma condessa húngara que se torna obcecada por beleza e juventude. Tentando a todo modo permanecer sempre jovial e bonita ela começa a se tornar ávida por sangue humano pois acredita ser esse um excelente modo de se manter sempre jovem e bela. Em sua mente perturbada nada seria mais rejuvenescedor do que tomar um grande banho de sangue humano em sua banheira imperial, hábito que logo cultivaria com frequência em seu castelo isolado. Em busca de mais e mais sangue de jovens donzelas ela começa a assassinar jovens criadas de seu próprio quadro de serviçais. Não satisfeita e sem ter mais a quem matar entre sua criadagem, ela começa a sumir com jovens nobres da sociedade. O fato logo chega aos ouvidos do Rei que alarmado envia um nobre de alta estirpe para investigar o caso. Por mais bizarra e surreal que pareça a história da Condessa Bathory esse foi um fato real acontecido no século XVI na chamada Europa Central. Seus crimes se tornaram famosos pois estima-se que a nobre tenha levado à morte mais de 600 jovens mulheres que viviam em seu feudo. O filme é bem fiel aos acontecimentos porém há relatos de que a Condessa real foi ainda mais sanguinária do que a mostrada na tela. Muitos livros históricos afirmam que ela na realidade sofria de uma grave doença mental que a fazia sentir enorme prazer em ver outras pessoas sendo torturadas e mortas ao seu lado. Ela mantinha um calabouço de torturas onde promovia mortes horríveis a todas as jovens que conseguia capturar.

Sua história macabra inspirou várias lendas ao longo dos séculos, inclusive o próprio Drácula dos livros de ficção. Bram Stoker ficou particularmente interessado na sede de sangue da Condessa e por isso trouxe ao seu monstro vampiro a necessidade de sempre se alimentar de sangue humano. Anos depois do sucesso do livro de Stoker a própria nobre húngara recebeu o título de "Condessa Drácula" numa fina ironia do destino. Ao mesmo tempo em que influenciou a criação do personagem foi batizada pelo nome do mais famoso vampiro da história. O elenco em cena está bem inspirado, principalmente William Hurt dando show de interpretação no papel do nobre Gyorgy Thurzo. Em uma época em que a nobreza estava acima da lei ele teve a sensatez de encarcerar a psicótica Condessa em seu castelo até o fim de sua vida. Já Julie Delpy está perfeita como a desequilibrada Erzebet Bathory, uma mulher completamente obcecada pela beleza e juventude eternas que apaixonada por um homem bem mais jovem do que ela não mede esforços para consumar essa relação. A produção é um projeto pessoal de Julie Delpy que não apenas estrelou o filme como também dirigiu e escreveu seu roteiro. O resultado é de excelente nível. Um filme que mostra que a despeito de toda a nossa cultura e civilização ainda existe em certas pessoas uma perversidade intrínseca, que não consegue ser detida. Assista "A Condessa" e conheça um pouco mais sobre o lado mais macabro da alma humana.

A Condessa (The Countess, Estados Unidos, França, Alemanha, 2009) Direção: Julie Delpy / Roteiro: Julie Delpy / Elenco: Julie Delpy, William Hurt, Daniel Brühl, Anamaria Marinca / Sinopse: Erzebet Bathory (Julie Delpy) é uma condessa húngara que se torna obcecada por beleza e juventude. Tentando a todo modo permanecer sempre jovial e bonita ela começa a se tornar ávida por sangue humano pois acredita ser esse um excelente modo de se manter sempre jovem e bela. Em sua mente perturbada nada seria mais rejuvenescedor do que tomar um grande banho de sangue humano em sua banheira imperial, hábito que logo cultivaria com frequência em seu castelo isolado. Em busca de mais e mais sangue de jovens donzelas ela começa a assassinar jovens criadas de seu próprio quadro de serviçais.

Pablo Aluísio.

O Último Imperador

Superprodução que conta a vida do último imperador da China, Aisin-Gioro Puyi (John Lone). Como se sabe após séculos de uma dinastia forte e centralizadora a revolução socialista explodiu naquele país sendo a partir daí implantado um regime comunista linha dura que persiste até os dias atuais. Nesse processo o antigo regime veio abaixo. O imperador foi deposto e levado a ser doutrinado pela nova ideologia de poder. Embora discuta o tema político pois seria impossível realizar um filme com esse tema sem tocar nesse tipo de questão, O Último Imperador procura se focar mais na questão humana, no lado mais pessoal do monarca que se vê destituído de todos os seus poderes da noite para o dia terminando seus dias de vida como um simples jardineiro.  Para quem era dono de um império continental é uma mudança brutal. Curioso é que nessa mudança de status um aspecto chama a atenção. Provavelmente se fosse um ocidental esse monarca decaído provavelmente faria alguma besteira com sua própria vida mas o modo de viver e pensar dos orientais é bem diferente do nosso, ele acabou aceitando a mudança. De certa forma até agradecido ao novo regime pois tinha caído em mãos de outro regime extremamente brutal, o soviético, que não pensou duas vezes em liquidar sua própria monarquia deposta, os Romanovs.

Deixando essa nuance mais filosófica de lado é importante chamar a atenção do espectador para a luxuosa produção de “O Último Imperador”. O filme foi o primeiro a ter autorização de realizar filmagens na chamada cidade proibida. Essa era uma enorme área no centro da capital chinesa ao qual era permanentemente proibida a entrada do povo chinês. Vivendo lá dentro com todo o luxo e riqueza que se podia imaginar, ficavam os nobres do país, completamente isolados da plebe. O local, hoje tornado atração turística, realmente dá uma dimensão da pompa e riqueza sem fim da dinastia chinesa. Tudo é ricamente trabalhado, detalhado, com uma arquitetura maravilhosa que chama muito a atenção por sua beleza e harmonia. Não é à toa que o filme tenha vencido tantos Oscars. Realmente é uma produção classe A, com o melhor que pode ter em termos de cinema espetáculo. O elenco de apoio também é excepcional, com destaque para o veterano Peter O´Toole, que a despeito dos anos ainda mantém todo seu talento intacto. O filme venceu todos os prêmios importantes em seu ano de lançamento, Globo de Ouro, Bafta, César e levou para o estúdio os Oscars de melhor filme, diretor (para o mestre Bertolucci), fotografia (Vittorio Storaro), direção de arte, figurino, edição,  trilha sonora (que também levou o Grammy), melhor som e roteiro adaptado. Em suma, não deixa de conhecer esse maravilhoso momento do cinema da década de 80. Um filme com ares dos grandes épicos do passado.

 

O Último Imperador (The Last Emperor, Reino Unido, França, China, Estados Unidos, Itália, 1987) Direção: Bernardo Bertolucci / Roteiro:  Mark Peploe, Bernardo Bertolucci / Elenco: John Lone, Joan Chen, Peter O'Toole, Ryuichi Sakamoto / Sinopse: Cinebiografia do último imperador da China, Aisin-Gioro Puyi (John Lone). Deposto por um novo regime ele passa seus últimos dias como um humilde trabalhador braçal em seu antigo império sob ruínas.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Filadélfia

A nova doença que ficou conhecida por sua sigla, AIDS, pegou o mundo de surpresa na década de 80. Não se sabia ao certo do que se tratava nem como vencer seus terríveis efeitos. Só se sabia naquele momento que era fatal e que havia pouca chance de sobrevivência aos infectados. Milhões morreram, muitos na flor da idade, jovens e com uma vida pela frente. Philadelphia foi o primeiro filme de um grande estúdio a tratar a questão de frente, sem rodeios. Importante salientar que a AIDS trouxe consigo uma forte carga de preconceito contra os doentes. Os primeiros a ser diagnosticados eram homossexuais em sua maioria e por isso se criou todo um estigma ruim em cima desse novo mal. Hoje sabemos que a AIDS ataca a todos sem distinção, sejam heteros ou sejam gays e não há mais razão para esse modo de pensar, embora nos setores menos instruídos a idéia de ser um doença gay ainda persista. O roteiro do filme não ignorou esse aspecto e narra a estória do advogado Andrew Hackett (Tom Hanks). Jovem e bem sucedido ele é um profissional de sucesso. Os problemas começam a ocorrer quando os sinais da nova doença começam a se tornarem visíveis (manchas e feridos pelo corpo e rosto). Ao tomar conhecimento de seu estado de saúde o seu patrão o demite sem pensar duas vezes, revelando o lado mais cruel do preconceito. Sem trabalho e passando por dificuldades ele resolve buscar justiça. Contrata o advogado negro Joe Miller (Denzel Washington) e vai à luta nos tribunais. 

O argumento trabalha maravilhosamente bem com a dialética que existe no sistema judiciário americano. A lei é fria e abstrata mas infelizmente os homens que as aplicam não são. Nesse processo tudo se torna mais cruel, a situação dos litigantes acaba expondo o lado mais perverso da sociedade humana, onde ética, dignidade e honra são discutidas com rara beleza. Filadélfia marcou época pois tinha um tema relevante tratado com o devido respeito e seriedade. Os atores centrais brilham. Tom Hanks tem aqui a interpretação de sua vida, aquele que definiu toda sua carreira. Até aquele momento ele se limitava a interpretar personagens cômicos em comédias de verão mas a partir da coragem exibida nesse filme deu uma verdadeira guinada na carreira. Foi premiado merecidamente com o Oscar de melhor ator. O personagem de  Denzel Washington também é marcante pois se trata de um advogado tubarão que busca principalmente o dinheiro e a repercussão na mídia para se auto promover. Para completar pontuando tudo a ótima trilha sonora trazia Streets of Philadelphia em momento inspirado do cantor e compositor  Bruce Springsteen. Filadélfia demonstrou assim que o cinema também é um maravilhoso instrumento de conscientização social. Uma arte que quando bem utilizada serve para mudar atitudes e comportamentos arcaicos.


Filadélfia (Philadelphia, Estados Unidos, 1993) Direção: Jonathan Demme / Roteiro: Ron Nyswaner / Elenco: Tom Hanks, Denzel Washington, Jason Robards, Mary Steenburggen, Antonio Banderas, Joanne Woodward, Robert Ridgely, Charlies Napier./ Sinopse: jovem advogado é demitido por ser homossexual e portador de AIDS. Lutando por seus direitos ele decide levar o caso ao tribunal. Vencedor do Oscar e do Globo de ouro nas categorias de Melhor Ator (Tom Hanks) e Melhor Canção (Streets of Philadelphia - Bruce Springsteen)

Pablo Aluísio.

Mad Men

Compilo agora todos os textos sobre a série Mad Man que foram publicados no site. Segue texto compilado: Se você está cansado da mediocridade da TV aberta uma boa opção é procurar conhecer seriados e séries de canais mais alternativos. Geralmente nessas emissoras a pressão sobre o produto final é bem menor o que garante muitas vezes uma maior integridade do roteiro originalmente escrito. Um exemplo é a série Mad Men do canal pago AMC dos Estados Unidos. Longe de ser considerada uma das maiorais dentro do circuito de TV a cabo americano esse canal resolveu investir em produções ousadas e de bom gosto, coisa bem rara nos dias atuais onde impera a vulgaridade e a apelação para se conquistar a audiência a todo custo.

Conheci Mad Men justamente quando procurava algo diferente para assistir. Logicamente quando comecei a acompanhar a série ela era uma notória desconhecida do grande público, com poucos fãs, audiência e publicidade limitadas. Mad Men era basicamente um seriado cult para um público bem específico. E que público era esse? Basicamente admiradores de programas com mais conteúdo, que tivessem argumentos interessantes e instigantes. Mad Men, para quem ainda não sabe, retrata a vida de um grupo de publicitários americanos no começo da década de 1960. Embora traga um roteiro onde todo o elenco se destaca, a trama gira mais em torno de Don Draper, um típico cidadão americano, com uma bela esposa, uma casa, um carro do ano e filhos perfeitos e maravilhosos, ou seja, o próprio retrato do American Way of Life. Isso pelo menos em fachada pois ao longo dos episódios vamos descobrindo que nem tudo é o que parece ser e o bem sucedido publicitário tem um passado nebuloso e envolto em mistério.

Hoje em sua terceira temporada Mad Men perdeu muito do charme cult de sua estreia. O programa foi glorificado pela crítica americana (muito merecidamente é bom frisar) e acabou caindo no gosto popular nos Estados Unidos, vencendo inclusive vários prêmios importantes como o Globo de Ouro. Essa mudança de enfoque tem um lado bom e um ruim. O lado bom é que o trabalho de todos os envolvidos finalmente foi justamente reconhecido. O lado ruim dessa popularização é que agora com os holofotes em cima de si, Mad Men pode sofrer das mesmas pressões que costumam destruir boas ideias, principalmente no mundo da TV. Torço para que isso definitivamente não aconteça. Como admirador de bons seriados espero que o programa sobreviva ao seu próprio sucesso e que continue a surpreender aqueles que o assistem. Quer um bom conselho? Desliga o BBB e vá assistir Mad Men! (texto escrito em 2009).

Pablo Aluísio.

domingo, 15 de abril de 2012

Mistério na Rua 7

Numa Detroit abandonada, onde a população praticamente está desaparecida, um jovem luta para sobreviver com o pouco de luz que lhe resta pois a escuridão significa morte certa. Não adianta pegar apenas uma premissa simples para fazer um filme inteiro em cima dela sem nem ao menos desenvolvê-la. É isso que acontece nesse "Mistério na Rua 7". A tal premissa é a seguinte: todas as pessoas simplesmente começam a sumir após um pane que deixa toda uma cidade na escuridão completa. Essas pessoas que somem nas sombras deixam para trás apenas suas roupas pelo chão e simplesmente desaparecem sem deixar rastros. Só sobram cinco delas para tentar entender o que está acontecendo: um jornalista (o sempre inexpressivo Hayden Christensen), um projetista de cinema (John Leguizamo, péssimo), uma enfermeira, um garoto afro americano e uma garotinha misteriosa.

E é isso. Não existe mais nada no argumento do filme. Nada é explicado, nada é esclarecido, as tais sombras na escuridão fazem sons estranhos mas nunca aparecem, o Christensen corre pra lá e pra cá com lanternas penduradas no pescoço (sim, as sombras não conseguem devorar a luz e pelo que entendi atores canastrões também, o que talvez explique a sobrevivência desse sujeito). Com 40 minutos de filme a paciência acaba e você fica torcendo para que esses chatos morram logo de uma vez para você não ficar mais nessa encheção de salsicha. Enfim, filme fraco, suspense capenga e atuações medíocres. O filme só vale mesmo pela ironia: nele acompanhamos a carreira do Hayden Christensen sendo engolida literalmente pelo buraco negro! Tomara que agora ele suma de uma vez por todas! Amém!

Mistério na Rua 7 (Vanishing on 7th Street, Estados Unidos, 2010) Direção: Brad Anderson / Roteiro: Anthony Jaswinski / Elenco: Hayden Christensen, Thandie Newton, John Leguizamo / Sinopse: Numa Detroit abandonada, onde a população praticamente está desaparecida, um jovem luta para sobreviver com o pouco de luz que lhe resta pois a escuridão significa morte certa.

Pablo Aluísio.