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domingo, 25 de fevereiro de 2018

Angústia

Título no Brasil: Angústia
Título Original: The Locket
Ano de Produção: 1946
País: Estados Unidos
Estúdio: RKO Radio Pictures
Direção: John Brahm
Roteiro: Sheridan Gibney
Elenco: Laraine Day, Robert Mitchum, Brian Aherne

Sinopse:
A jovem e adorável Nancy (Laraine Day) parece ser a mulher ideal para se casar com o respeitável John Willis (Gene Raymond). O casamento é marcado, mas poucos momentos antes da cerimônia Wills é abordado por Harry Blair (Brian Aherne) que tenta convencer John a desistir do casamento o mais rapidamente possível! O motivo? Nancy seria sua esposa, uma mulher que tem muitos segredos em seu passado, uma mentirosa compulsiva, cleptomaníaca, que inventou toda uma farsa sobre sua vida para enganar seu futuro marido, o promissor John Willis. Afinal quem estaria realmente contando a verdade?

Comentários:
Em filmes do estilo noir é de se esperar que nada seja o que aparenta ser. Um exemplo perfeito encontramos aqui nesse roteiro. A personagem Nancy (interpretado pela linda atriz Laraine Day, parece realmente ser uma dama da sociedade, a mulher perfeita para se casar e constituir uma família. Pelo menos assim pensa seu noivo. Imagine tudo ruir com o surgimento de um perfeito estranho afirmando que sabe todos os podres de seu passado e como se isso não fosse ruim o suficiente ainda revela ser ele o verdadeiro marido dela! O enredo se passa todo na alta sociedade de New Orleans, então a direção de arte é realmente um destaque, com figurinos bonitos e estilosos. A cena em que Laraine Day vestida de noiva não aguenta a pressão psicológica pela qual está passando é realmente um primor de interpretação por parte da atriz (que injustamente não foi indicada ao Oscar, embora todos estivessem esperando pelo grande prêmio da Academia por sua inspirada atuação). "The Locket" ainda traz uma trama inteligente e intrigante, que leva o espectador e ter dúvidas até praticamente seu final. Se você é cinéfilo e gosta de filmes noir não deixe de conferir esse pequeno clássico dramático do pós-guerra.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Dominados pelo Terror

Esse é um western diferente, pois não se resume em contar a história de uma família de rancheiros, usando apenas daquela velha fórmula que conhecemos tão bem, valorizando a coragem desses pioneiros que foram para o oeste. Ao contrário disso investe em dramas familiares, mostrando as complexas relações entre os irmãos que no fundo não se suportam. Robert Mitchum é o irmão do meio. Ele tem uma personalidade forte, dominante. Também tem uma visão cínica do mundo. Ele sempre tem uma frase sórdida e ácida para dizer aos seus familiares. Quando o gado começa a aparecer morto, ele sai a cavalo ao lado de seu irmão mais velho para caçar a pantera negra que estaria matando os bovinos de seu rancho.

O lugar é inóspito, localizado no alto das montanhas de Montana, onde há muito neve e perigos em todos os lugares. Há um velho nativo que mora com a família. Ele tem visões sobrenaturais com a pantera, como se essa fosse uma manifestação do mundo espiritual. No fundo o animal funciona dentro do roteiro quase como uma metáfora da própria morte. O resultado é no mínimo estranho. Há um clima sombrio e de trevas que atravessa todo o filme, algo muito surreal e pouco comum em filmes de faroeste. Os mais velhos não são sábios, mas sim pessoas desprovidas de esperança, de boas virtudes. O velho pai do personagem de Mitchum vive atrás de sua garrafa de whisky que esconde em todas as partes do casarão, a mãe é uma mulher dura, com ares de fanatismo religioso. Um clima nada bom, em um filme com um tom tão escuro que em determinados momentos causa até mesmo agonia no espectador.

Dominados pelo Terror (Track of the Cat, Estados Unidos, 1954)  Direção: William A. Wellman / Roteiro: A.I. Bezzerides, baseado na novela escrita por Walter Van Tilburg Clark / Elenco: Robert Mitchum, Teresa Wright, Diana Lynn, Tab Hunter / Sinopse: Dois irmãos de uma família de rancheiros sobem às montanhas para caçar uma pantera negra que estaria matando todo o gado de seu rancho. No caminho encontram não apenas um animal comum, mas também uma manifestação sobrenatural da própria morte.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Feitiço Branco

Título no Brasil: Feitiço Branco
Título Original: White Witch Doctor
Ano de Produção: 1953
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Henry Hathaway
Roteiro: Ivan Goff, Ben Roberts
Elenco: Susan Hayward, Robert Mitchum, Walter Slezak
  
Sinopse:
Ellen Burton (Susan Hayward) é uma enfermeira americana que aceita o convite para trabalhar em um posto médico avançado no interior selvagem do país africano do Congo. A região é de complicado acesso, assim ele precisa contar com o apoio do aventureiro John 'Lonni' Douglas (Robert Mitchum) que ganha a vida como mercador de animais selvagens para os principais zoológicos do mundo. Ele tem suspeitas de que uma tribo isolada da civilização guarda em seu poder um manancial enorme de ouro, algo que ele precisa conferir com os próprios olhos, enquanto finge apenas ajudar Ellen em sua viagem de trabalho.

Comentários:
Apesar do filme ter sido dirigido pelo especialista Henry Hathaway, cineasta que assinou tantos clássicos da era de ouro do cinema clássico americano e do excelente elenco liderado pela carismática Susan Hayward e pelo sempre competente Robert Mitchum, "White Witch Doctor" se revelou realmente um pouco decepcionante. Inicialmente se percebe que o roteiro quis mesmo se inspirar nos antigos seriados de aventuras que reinaram nas matinês das décadas de 1930 e 1940, além de obviamente se mostrar bem próximo dos filmes de Tarzan, que ainda faziam grande sucesso de bilheteria nos cinemas naquela época. O problema é que em nenhum momento a trama se decide entre virar um filme dramático, romântico ou de aventura. Fica tudo no meio termo e nada é desenvolvido até o fim. Em termos de aventura "Feitiço Branco" tem pouco a oferecer, se resumindo mesmo em poucas cenas de combates ou ação. O herói Mitchum passeia em cena como uma figura heróica e aventureira, mas ao mesmo tempo também gananciosa, pois ele está de olho numa fortuna em ouro escondido nos confins da África negra. 

Seu romance com a personagem de Susan Hayward também não vai adiante, se resumindo em alguns beijinhos esporádicos e flertes casuais. Tampouco o lado mais dramático do roteiro pode ser considerado bom. Ele se desenvolve no idealismo da enfermeira que decide ir para o Congo para tratar de populações carentes da região. O problema é que uma vez lá ela não encontra mais a médica com a qual iria trabalhar, pois ela teria morrido por uma doença tropical. Sobra assim poucos momentos realmente interessantes nesse aspecto. Ela até tenta salvar vidas, mas como apenas é uma enfermeira e não uma médica e pouco conhece das doenças daquela parte do mundo tudo parece seguir em vão. Por fim temos que admitir também que a produção deixa a desejar em certos momentos. É nitidamente B. O uso excessivo de externas filmadas na África sendo projetadas nas costas do elenco incomoda. Os cenários pintados a mão também não convencem. Há um gorila em cena, logo no começo do filme, mas ele é tão mal feito, deixando tão claro que é um ator vestido de macaco, que chega a criar um humor involuntário, algo muito ruim para um filme como esse. Enfim, uma aventura que envelheceu mal, ficou muito datada e com roteiro inconclusivo e indeterminado. Definitivamente não é dos melhores.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

O Céu é Testemunha

Segunda Guerra Mundial. Após ter seu navio afundado por japoneses o cabo americano dos fuzileiros navais Allison (Mitchum) consegue sobreviver, ficando dias à deriva em alto-mar. Para sua sorte sua pequena embarcação é levada até uma ilha no meio do Pacífico Sul. Ao desembarcar ele acaba descobrindo que só há uma pessoa naquele lugar distante e esquecido por Deus, a freira Angela (Deborah Kerr). Ela é a única sobrevivente da comunidade. Seu superior, o padre Phillips, está morto. Agora juntos terão que sobreviver. Não será uma tarefa fácil, por causa da escassez de alimentos e pela provável ocupação das tropas japonesas que estão chegando para transformar a ilha em um posto avançado das forças imperiais de seu país. Caberá ao militar e à freira a complicada tarefa de não serem descobertos e presos pelos violentos soldados japoneses. Para isso Allison usará de todo o seu treinamento de fuzileiro naval enquanto protege a irmã Angela de mais uma tragédia em sua vida.

John Huston aqui realiza mais uma de suas obras primas. Baseado em um roteiro que foi parcialmente inspirado em fatos reais, Huston explora duas figuras completamente diferentes entre si (um militar e uma religiosa) que se encontram em uma situação limite pela sobrevivência. O mais curioso é que Huston ousou até mesmo ultrapassar certos limites, criando uma atração entre o personagem de Robert Mitchum e a jovem e bonita irmã, interpretada por Deborah Kerr. A tensão sexual que se cria entre eles é uma das melhores coisas desse argumento. Outro fato digno de aplausos é a técnica que Huston explora para desenvolver sua história. Com basicamente dois personagens centrais ele desenvolve diversos temas interessantes, como a força da fé, os limites éticos que caem na luta pela sobrevivência e o que não poderia faltar em uma produção como essa, o senso de aventura.

O militar de Robert Mitchum é um tipo que, apesar de crer em Deus, nunca foi muito preocupado com essa questão religiosa. Órfão, criado em abrigos a vida inteira, chegou a se tornar um delinquente juvenil antes de decidir entrar nos fuzileiros navais e finalmente se encontrar na vida, trilhando um caminho seguro. Já a freira de Kerr é jovem, bela e ainda não fez os seus votos definitivos de castidade, o que abre uma pequena margem de esperanças para o militar, que claramente fica apaixonado por ela. Assim temos um ótimo filme, baseado em uma história que prende a atenção do começo ao fim. Nada mais normal para um gênio do cinema como John Huston.

O Céu é Testemunha (Heaven Knows, Mr. Allison, Estados Unidos, 1957) Direção: John Huston / Roteiro: John Huston, John Lee Mahin / Elenco: Robert Mitchum, Deborah Kerr / Sinopse: Um fuzlileiro naval dos Estados Unidos (Mitchum) consegue sobreviver a um ataque japonês ao seu navio durante a batalha do Pacífico, no auge da II Guerra Mundial. Ele acaba indo parar numa ilha onde conhece a bela e jovem freira irmã Angela (Kerr). Juntos vão tentar sobreviver ao mundo em chamas e à fúria da natureza do lugar. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Atriz (Deborah Kerr) e Melhor Roteiro Adaptado (John Huston e John Lee Mahin). Indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz - Drama (Deborah Kerr). Também indicado ao BAFTA Awards nas categorias de Melhor Filme - Estados Unidos e Melhor Ator (Robert Mitchum),

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 19 de julho de 2017

A Estrada dos Homens sem Lei

Numa cidade infestada de gângsters e políticos corruptos, um novo capitão é designado para comandar um dos distritos mais violentos da metrópole. Seu nome é Thomas McQuigg (Robert Mitchum). Assim que assume seu posto ele precisa desvendar o assassinato de um mafioso que se colocou no caminho do violento gângster Nick Scanlon (Robert Ryan). Ele é encontrado morto, no meio de uma das avenidas mais movimentadas da cidade. McQuigg é velho conhecido de Scanlon. No passado ambos se enfrentaram, mas o policial se deu mal pois o criminoso tinha contatos com políticos importantes que o transferiram para outros distritos. Agora chegou a sua vez de se vingar de Scanlon. Para isso porém precisará superar o próprio sistema corrupto em que vive. O promotor está na folha de pagamento do chefão do crime organizado na cidade e Scanlon tem grandes contatos na prefeitura, inclusive o principal candidato ao posto de novo magistrado é um sujeito que recebe ordens dele. Para reunir provas o veterano tira McQuigg começa então a se utilizar de métodos nada tradicionais, como prisões arbitrárias, chantagens e provas plantadas. Vale tudo para prender Scanlon, tirando das ruas um criminoso perigoso e sociopata.

"A Estrada dos Homens sem Lei" é um filme policial noir, produzido pelo excêntrico milionário Howard Hughes (aquele mesmo que foi interpretado por Leonardo DiCaprio no filme de Martin Scorsese, "O Aviador"). Ele adorava um antigo filme mudo de 1928 e resolveu produzir esse remake para os estúdios RKO. Para estrelar seu filme Hughes contratou o ator Robert Mitchum (que curiosamente sempre se saía melhor no papel do gângster, mas que aqui acabou interpretando o policial honesto e íntegro). Uma velha conhecida do milionário, a atriz Lizabeth Scott, também foi contratada. Scott foi uma das primeiras atrizes de Hollywood na história a assumir sua condição de homossexual, algo que praticamente destruiu sua carreira. Como o roteiro foi baseado na peça teatral original o espectador vai sentir algumas características bem próprias do estilo teatro filmado, porém isso só ficará mais claro aos mais atentos. No geral é um bom filme policial, com cenas de ação, perseguições, tiroteios e aquele bem conhecido clima de decadência e cinismo que marcou muitos dos filmes noir. Há inclusive uma ótima cena quando Mitchum persegue um dos membros da gang em uma escada cheia de sombras e luzes, bem característico desse estilo cinematográfico. Com duração enxuta e roteiro objetivo, esse noir sem dúvida fez jus ao cinema clássico da época. 
 
A Estrada dos Homens sem Lei (The Racket, Estados Unidos, 1951) Direção: John Cromwell / Roteiro: William Wister Haines, W.R. Burnett / Elenco: Robert Mitchum, Lizabeth Scott, Robert Ryan / Sinopse: Policial honesto tenta limpar as ruas de sua cidade de uma quadrilha de criminosos que possui ramificações dentro do próprio governo, com políticos corruptos fazendo parte da folha de pagamentos do grande chefão conhecido apenas como "O Velho".

Pablo Aluísio.

sábado, 8 de março de 2014

Cabo do Medo

Título no Brasil: Cabo do Medo
Título Original: Cape Fear
Ano de Produção: 1991
País: Estados Unidos
Estúdio: Amblin Entertainment, Tribeca Productions
Direção: Martin Scorsese
Roteiro: James R. Webb, baseado na novela de John D. MacDonald
Elenco: Robert De Niro, Nick Nolte, Jessica Lange, Juliette Lewis, Robert Mitchum, Gregory Peck

Sinopse:
Max Cady (Robert De Niro) finalmente ganha a liberdade após passar anos na prisão. Ele age como um sujeito normal depois de sair da cadeia mas suas intenções logo se tornam bem claras. Ele quer vingança em relação ao advogado Sam Bowden (Nick Nolte) pois o considera um dos responsáveis por sua condenação. Para colocar seu plano em ação ele começa a jogar um terrível jogo psicológico contra Bowden e seus familiares.

Comentários:
Nunca cheguei a gostar completamente desse filme e não foi por falta de boa vontade. Sou fã declarado do cinema de Martin Scorsese. Do ator Robert De Niro nem preciso esclarecer, considero um dos grandes atores da história do cinema americano, apesar de atualmente não estar passando por um bom momento. Mesmo assim não deu para gostar mesmo. Achei uma produção sem alma, fruto única e exclusivamente do amor do diretor pelo filme original "Círculo do Medo" de 1962. Volto a repetir um pensamento que sempre me vem à mente quando me deparo com remakes: certas estórias já encontraram suas versões definitivas na sétima arte. Não adianta tentar revirar o que já foi muito bem feito no passado. Grandes filmes nunca ficam datados e por essa razão não precisam ser refeitos em hipótese nenhuma. Mas Scorsese, como sempre muito firme em suas convicções, resolveu apostar para ver no que tudo isso iria dar. O resultado é bem morno apesar da produção ter seus defensores (que em sua maioria não viram o filme origem com os grandes Robert Mitchum e Gregory Peck). De Niro surge em cena cheio de tatuagens com maneirismos de sociopata. Seu empenho é digno de aplausos mas no geral não chega a se destacar em sua filmografia. Enfim, aqui uma está mais um remake desnecessário, com a única diferença de que foi assinado por um dos grandes cineastas de nosso tempo. 

Pablo Aluísio.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Dois na Gangorra

Jerry Ryan (Robert Mitchum) é um advogado de Nebraska que chega a Nova Iorque após ver seu casamento destruído. Sem emprego, procurando se adaptar na grande cidade, acaba conhecendo casualmente numa festa no bairrro boêmio de Greenwich Village a dançarina Gittel "Mosca" (Shirley MacLaine). Após se aproximarem começam um complicado relacionamento enquanto tentam reconstruir suas vidas. "Two for the Seesaw" é um delicado estudo sobre o relacionamento amoroso de duas pessoas que aparentemente nada tinham em comum mas que acabam superando tudo isso apenas pela força do afeto e do carinho mútuos. O texto é belíssimo, baseado na peça de mesmo nome do autor William Gibson. Poucas vezes vi tantos diálogos bem estruturados e de bom gosto como aqui. Talvez só sejam superados por Tennessee Williams em termos de capricho e profundidade. O casal é destrinchado psicologicamente em cena com rara sutileza. Ela, jovem e impulsiva, jamais conseguiu ter um relacionamento adulto estável enquanto ele, maduro e calejado pela vida, acaba descobrindo os pequenos detalhes que fazem um romance ser inesquecível. A cena final do filme inclusive é um momento de rara beleza, onde os personagens se desnudam de todas as amarras sociais que muitas vezes impedem que duas pessoas sejam felizes juntas.

Em termos de atuação não há absolutamente nada a criticar. Shirley MacLaine está soberba. Na flor da idade, jovem e com uma beleza que sempre achei muito atraente, ela domina completamente a cena. É emocional e divertida nos momentos certos demonstrando que sempre foi uma grande atriz - e não apenas em sua fase mais madura como muitos ainda insistem em afirmar. Já Robert Mitchum está perfeito. O ator que construiu sua carreira com personagens à margem da sociedade, cínicos e durões, aqui esbanja sofisticação na pele do advogado Jerry Ryan. Ele é sutil na dose exata e demonstra, ao declamar o rico texto, que tinha um talento nato, que infelizmente nem sempre foi aproveitado adequadamente nas telas de cinema. Curiosamente o relacionamento entre Mitchum e MacLaine ultrapassou as telas e chegou em suas vidas reais. Ambos iniciaram um caso amoroso durante as filmagens e continuaram apaixonados por longos anos conforme ela mesma confessou em uma entrevista recente. Não deixa de ser mais um bom motivo para ver o filme. Por tudo isso e muito mais recomendo "Two for the Seesaw" para pessoas sensíveis, inteligentes e sofisticadas. Um aula de cinema de bom gosto e sofisticação que vai tocar fundo na sensibilidade dos mais românticos.

Dois na Gangorra (Two For The Seesaw, Estados Unidos, 1962) Direção: Robert Wise / Roteiro: Isobel Lennart baseado na peça teatral de William Gibson / Elenco: Shirley MacLaine, Robert Mitchum, Edmon Ryan / Sinopse: Jerry Ryan (Robert Mitchum) é um advogado de Nebraska que chega a Nova Iorque após ver seu casamento destruído. Sem emprego, procurando se adaptar na grande cidade acaba conhecendo casualmente numa festa no bairrro boêmio de Greenwich Village a dançarina Gittel "Mosca" (Shirley MacLaine). Após se aproximarem começam um complicado relacionamento enquanto tentam reconstruir suas vidas.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Círculo do Medo

Max Cady (Robert Mitchum) sai da prisão e parte atrás de vingança contra as pessoas que ele considera responsáveis por sua condenação. Entre elas está o advogado Sam Bowden (Gregory Peck) que se vê ameaçado pela presença do criminoso de volta na cidade em que vive. Ele havia sido testemunha no processo que jogou Max durante longos oito anos na prisão. Agora é a hora dele promover o que entende ser o acerto de contas entre ambos. "Círculo do Medo" é um eficiente thriller de suspense dirigido pelo apenas mediano J. Lee Thompson, um diretor que ao longo da carreira alternou filmes bons com abacaxis medíocres. Esse "Círculo do Medo" (que teve o título mudado anos depois no Brasil por causa do famoso remake "Cabo do Medo" de Scorsese) tem como maior destaque e mérito a ótima caracterização do ator Robert Mitchum. Ele passa longe da caricatura feita por De Niro anos depois do mesmo personagem. Se no remake tínhamos um sujeito completamente fora de controle, violento, com ares de delírio completo, aqui Mitchum desenvolve uma caracterização bem mais sutil (e eficiente na minha opinião). A maldade está lá, porém em um nível mais interior, sem profusão de cenas violentas desnecessárias. Obviamente que muitos preferem o filme recente de Martin Scorsese porém não compartilho dessa opinião. "Círculo do Medo" é bem melhor em termos de tensão e clima psicológico.

O advogado interpretado por Gregory Peck não tem muito o que fazer já que o filme pertence mesmo a Mitchum e seu personagem. Se limitando a se defender na medida do possível, Peck se mostra competente em sua interpretação, embora pela própria estrutura do roteiro seja limitada. Claro que não podemos aqui comparar com outras atuações brilhantes do ator como a que ele apresentou em "O Sol é Para Todos", por exemplo. É um diferente tipo de atuação, mais ligeira, com propósito específico de entreter e não conscientizar como naquela produção. Mesmo assim o saldo é muito positivo embora se deva reconhecer que o filme perde um pouco de pique justamente no terceiro ato, quando todos vão para um lugar isolado nos pântanos da Flórida (o próprio lugar que dá nome ao filme, cabo do medo). Até esse momento o filme tem um ritmo muito bom, de caçada gato ao rato entre os dois personagens principais. Depois disso a tensão perde espaço para a violência e o filme decai um pouco. De qualquer forma o resultado final é muito bom (e bem melhor que seu famoso remake). Não deixe de conferir para comparar depois com o famoso filme de Martin Scorsese. Eu certamente recomendo

Círculo do Medo (Cape of Fear, Estados Unidos, 1962) Direção: J. Lee Thompson / Roteiro: James R. Webb baseado no romance de John D. MacDonald / Elenco: Gregory Peck, Robert Mitchum, Polly Bergen, Lori Martin / Sinopse: Max Cady (Robert Mitchum) sai da prisão e parte atrás de vingança contra as pessoas que ele considera responsáveis por sua condenação. Entre elas está o advogado Sam Bowden (Gregory Peck) que se vê ameaçado pela presença do criminoso na cidade em que vive. Ele havia sido testemunha no processo que jogou Max durante longos oito anos na prisão. Agora é a hora dele promover o que entende ser o acerto de contas entre ambos.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Steve McQueen / Robert Mitchum

Steve McQueen
Quando não estava interpretando pistoleiros no cinema o ator Steve McQueen soltava o esqueleto na pista de dança. Nessa foto ele se requebra com a nova moda, chamada The Twist, uma das mais populares danças dos anos 60. Ao fundo se vê a filha do presidente dos Estados Unidos Lyndon Johnson, a jovem Luci Baines Johnson. Mesmo sem muito jeito, Steve parece se divertir bastante. O maior clássico de Steve McQueen no gênero western foi o filme "Sete Homens e um Destino" onde interpretava o pistoleiro Vin Tanner. Curiosamente embora tenha atuado nesse verdadeiro ícone cinematográfico dos faroestes o ator não fez tantos filmes do gênero como era de se supor. Ele só voltaria ao western seis anos depois em "Nevada Smith", filme que marcaria sua despedida do velho oeste nas telas. Embora se desse muito bem nesse tipo de filme Steve McQueen preferia as fitas de guerra, os policiais e os filmes de corridas, afinal ele era um verdadeiro apaixonado pela velocidade e as competições como Le Mans. chegando inclusive a atuar em "As 24 Horas de Le Mans", um de seus filmes preferidos.

Robert Michum
Foto de Robert Mitchum no western "Sua Única Saída" (Pursued), de 1947. Ele interpretava um cowboy chamado Jeb Rand, nesse filme que tinha um dom psicológico que não era muito comum nesse tipo de produção da época. O protagonista tinha traumas de infância após testemunhar, ainda criança, a morte de toda a sua família, durante uma viagem de colonos rumo ao oeste americano. Como se sabe essas famílias que iam rumo às terras a serem colonizadas, enfrentavam muitos desafios como tribos indígenas violentas, bandidos de todos os tipos e a própria selvageria da região. Esse acabou se tornando um dos filmes preferidos do diretor Raoul Walsh, um trabalho que ganhou elogios de Orson Welles. E como curiosidade final uma informação no mínimo interessante: esse filme foi assistido pelo cantor Jim Morrison na noite de sua morte, em Paris.  

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Robert Mitchum - Problemas Legais

Robert Mitchum protagonizou um dos maiores escândalos da história da velha Hollywood. O fato aconteceu em setembro de 1948. Mitchum estava em uma casa suspeita em Hollywood Hills, bairro de Los Angeles, ao lado da atriz Lila Leeds, seu namorado e a dançarina Vickie Evans. Todos pareciam estar numa boa, ouvindo música, dançando um pouco, namorando outro tanto, até que foram surpreendidos com fortes batidas na porta da frente. Era a polícia. Uma denúncia anônima - provavelmente de algum vizinho irritado - havia informado que no local estava havendo consumo de drogas.

Todos foram imediatamente revistados. O flagrante se consumou após os tiras encontrarem na sala de estar vários cigarros de maconha. Mitchum e sua turma foram imediatamente algemados e levados para os carros patrulhas. Alertada, a imprensa correu para o local e ainda conseguiu excelentes fotos do momento exato em que todos estavam sendo levados presos. Robert Mitchum ainda tentou convencer os jornalistas a abafarem o caso ali mesmo, no meio da rua, enquanto era levado para o carro da polícia. Ele virou-se para um conhecido que trabalhava no Los Angeles Times e disse: "Ei, não publique nada sobre isso! Se você publicar essa notícia será o fim da minha carreira!".

Era um temor justificado. Ser preso com maconha nos anos 1940 poderia realmente destruir a reputação de qualquer um, ainda mais de um ator de cinema. Mitchum, apesar de nunca ter feito o papel de galã em seus filmes (geralmente ele interpretava bandidos, criminosos e detetives cínicos em filmes noir) sabia que algo daquela magnitude poderia destruir sua carreira, fazendo com que os estúdios não o contratassem mais para trabalhar em novas produções. Seria o fim? Na delegacia Mitchum tentou se explicar. Afirmou que tudo estava sendo um grande mal entendido. Em sua versão ele estava naquele lugar por puro acaso após ir até Hollywood Hills em busca de uma nova casa para alugar. Como não achou nenhuma que atendesse suas expectativas resolveu dar um pulinho na casa da colega Lila Leeds que morava ali perto. Quando chegou a tal festinha já havia começado e se havia maconha no meio da sala ela certamente não lhe pertencia.

Levado perante o juiz o ator repetiu sua versão dos fatos. Chegou a dizer, com extremo cinismo, bem típico de seus personagens no cinema, que mal sabia o cheiro que um cigarro de maconha exalava e por isso era completamente inocente, uma pobre alma que estava no lugar errado, na hora errada. O magistrado não se convenceu e sentenciou Mitchum a uma pena de seis meses na penitenciária de Los Angeles. Claro que a imprensa fez a festa, cobrindo todos os menores detalhes: Mitchum sendo levado para a prisão, vestindo roupa de presidiário, limpando sua cela, etc. Curiosamente o ator a partir de determinado momento não quis mais saber de preservar sua imagem, fazendo inúmeras piadas sobre o ocorrido. Isso acabou criando uma simpatia do público com ele a ponto de todos o perdoarem pelo deslize. Quando saiu da cadeia Mitchum percebeu que sua carreira havia sobrevivido, novos filmes estavam à sua disposição e ele poderia seguir em frente, mas claro, agora sem maconha.

Pablo Aluísio.

domingo, 7 de outubro de 2007

Film Noir

O subgênero cinematográfico que passou a ser conhecido como Film Noir na verdade foi uma estética criada dentro dos estúdios para cortar custos. A fotografia escura, muitas vezes apenas escondia a falta de um cenário melhor ou de uma maior falta de recursos dessas fitas, a maioria delas classificadas como filmes B. Isso ficou bem claro em uma das últimas entrevistas do ator Robert Mitchum, um dos grandes astros desse estilo. Para o ator os filmes Noir, dos quais muitos deles participou, nada mais eram dos que uma forma dos estúdios faturarem um dinheiro extra nas bilheterias sem gastar muito.

O curioso é que esse tipo de produção acabou gerando uma grande fila de admiradores. Os roteiros eram muitas vezes crus e mostravam o lado mais sórdido do ser humano. As mulheres eram fatais, sem escrúpulos ou caráter. Usavam sua beleza em prol próprio, muitas vezes tencionando conseguir alcançar objetivos nada nobres, em muitas ocasiões puramente criminosos. Os detetives contratados não eram igualmente sinônimos de virtude. Eram cínicos e poderiam passar de um lado para o outro com extrema facilidade, muitas vezes impulsionados apenas por ganância e dinheiro.

Como os estúdios não gastavam muito nesses filmes eles também não tinham interesse em controlar muito a produção deles. Isso criava uma liberdade muito grande para os cineastas que usavam essa falta de rédeas da forma mais produtiva e criativa. Alguns filmes noir são verdadeiros exemplos de inovação e ousadia, ficando muitas vezes à frente de seu tempo. Além disso some-se a ótima narrativa que tais filmes possuíam pois sendo a maioria deles curtos (de novo para economizar custos), os diretores criavam pontes de narração extremamente inteligentes, algo que seria copiado também nas grandes produções. Ainda falaremos muito sobre cinema noir nesse blog. Um estilo que nasceu para ser pequeno, mas que conseguiu ser grande graças ao talento dos artistas que nele trabalharam.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Entrevista: Robert Mitchum

Ele chega vestido com um elegante terno azul escuro risca de giz, mas ele certamente nunca será confundido com um banqueiro. Há um toque de cinismo sobre Robert Mitchum, um sentimento de que as regras foram feitas para diverti-lo.

Ele está aqui no Festival de cinema de Virgínia, diz o programa, porque ele encarna "a alma do filme noir". Sim. Isso é certamente correto. Em suas inflexões irônicas, em seus olhos sonolentos cínicos, na forma lacônica como ele lida com uma arma ou uma dama, ele encarna a essência de um dos mais obscuros gêneros cinematográficos norte-americanos.

Tudo isso é verdade e Mitchum se diverte com o título que lhe deram. "Nós chamávamos aquilo de cinema B, filmes B", disse ele . "Simplesmente porque a pura verdade era que nós não tínhamos dinheiro para uma grande produção, não tínhamos os equipamentos, não tínhamos as luzes, nós não tínhamos nem tempo. A única coisa que nós realmente tínhamos eram algumas boas histórias para contar."

É o meu trabalho estar no palco com Mitchum, e entrevistá-lo depois da exibição do filme "Out of the Past" (1947), um dos maiores filmes noir já feitos, aquele em que Jane Greer diz para Mitchum: "Você não é bom, e eu não sou boa. Nós fomos feitos um para o outro". E o filme onde, brinca Mitchum, todos morrem, mais cedo ou mais tarde. "Mas bem que eu queria viver mais naquele filme" - sorri o ator.

Assim que chega e se senta para a entrevista no palco, Robert Mitchum agradece todos os aplausos. Sorrindo ele diz: "Que maravilhosa recepção! Muito obrigado. A última vez que vi algo assim foi quando Rin Tin Tin, o cachorro, você sabe, foi apresentado para a imprensa no salão de convenções da MGM. O totó foi uma das maiores estrelas do cinema! E pensar que Rin Tin Tin não passava de um truque de câmera!..." Os jovens estudantes de cinema morreram de rir com a ironia cínica de Mitchum.

Eu conheci Mitchum muitos anos antes. Em 1967, em Dingle, Irlanda, durante as filmagens de "A Filha de Ryan". Passei a noite em sua casa de campo à beira-mar, bebendo, e ele observou: "David Lean filmou por um dia inteiro hoje e olha que ele está oito dias atrasado nos cronogramas de filmagens. Daqui uns sete anos ele termina o filme!". Mitchum implicava com a data de seu aniversário onde, segundo ele, tudo dava errado. "Uma vez peguei uma carona no meu aniversário para ir até Pittsburgh e fui parar em Steubenville, Ohio!" Depois de beber mais uns goles completa: "Marilyn Monroe morreu no dia do meu aniversário. Gostava dela, assim toda vez que completo anos, lembro da loira". Depois observa: "Nasci no dia errado. No meu aniversário jogaram a bomba atômica sobre Hiroshima! Não falta mais nada para acontecer nesse dia!" - Depois disso o velho Mitchum soltou uma gargalhada sonora.

O que eu aprendi durante esses tempos em que convivi com Robert Mitchum foi que ele era um cara de ótimo papo, muito descontraído e certamente daria uma ótima entrevista, desde que você não fizesse nenhuma pergunta que lhe aborrecesse. Afinal Mitchum tem seu próprio ritmo, sua própria melodia. No palco, na Virgínia, ele acendeu um cigarro da marca Pall Mall sob aplausos, soprou a fumaça, e suspirou. Mitchum nunca fez média.

- "Você tem sido um ator de cinema por 50 anos" - eu disse.

Silêncio. Um encolher de ombros.

- "Bem, fazer caretas e falar linhas de textos escritos por outra pessoa não é realmente uma cura para o câncer, você sabe, mas eu sei fazer isso. Se você pode fazer com alguma graça, então melhor. Eu tive sorte. Fiz bons filmes por aí nesses anos todos. No final do dia você fica satisfeito com tudo"

- "Em "Out of the Past" você co-estrelou ao lado de Kirk Douglas. Você sempre foi muito descontraído e relaxado. Ele parecia ser mais focado, intenso"

- "Bem, Kirk era muito sério sobre tudo. Pouco antes de "Out of the Past", Betty Jane Greer e eu vi um roteiro que veio da Paramount chamado "O Estranho Amor de Martha Ivers". Kirk ficou muito interessante nele. Assim nós dissemos: "vamos deixar ele fazer esse filme, o estúdio tinha oferecido aquilo para nós mas eu disse, deixe pra lá, aparecerá outro texto bom". Ele passava o tempo todo com um lápis sobre o ouvido fazendo anotações em suas falas no script. Eu não estava nem aí para isso!" - afirma rindo bastante o ator.

- Você acha que houve alguma competição entre vocês?

- "Sim. Mas ele era um tipo diferente de ator. Eu era apenas um cara. É a tal coisa, por parte dele talvez. Eu era apenas o cara contratado"

O público em Virginia estava planejando assistir filmes noir durante todo o fim de semana: "The Big Sleep" (1946), "Detour", "Sunset Boulevard", "Ace in the Hole", "Os Imorais", "Gilda", "Chinatown" e outro filme com Robert Mitchum chamado "Farewell, My Lovely". Muitos dos filmes foram feitos há 40 ou 50 anos mas o interesse era enorme, o que comprovava que o filme noir não tem idade.

O público adorou as convenções sociais da época - como o hábito de fumar o tempo todo dos personagens. Sobre isso Mitchum não perdeu a piada: "Out of the Past (Fuga ao Passado, no Brasil) é talvez o maior filme já feito sobre o cigarro, eu fumo o tempo todo, Kirk também. Eu nem o via direto atrás de tanta fumaça" - o público cai na gargalhada.

- "Eu ainda fumo demais. A minha geração fumou muito. Pedir um cigarro era uma boa forma de puxar uma conversa." - resume sobre aqueles tempos o velho Mitchum.

- "Será que vocês tem alguma idéia de como fazer uma piada envolvendo o consumo de cigarros hoje em dia?" Eu perguntei.

- "Não, não... " - foi logo cortando Mitchum.

- "Porque há mais tabagismo neste filme do que em qualquer outro filme eu já vi" - completei.

- "Nunca pensei sobre isso. Era charmoso fumar naqueles tempos. Algumas atrizes tinham hálito de fumo! Para falar a verdade nem me lembro mais desse filme...mas me lembro dos cigarros, eram muito bons" - pisca o ator!

- "Você nunca reviu o filme?

- "Eu vi no cinema na época no dia de estreia, depois acho que o revi alguma vez, mas já faz tanto tempo que eu não sei... "

Depois de mais algumas perguntas, ele finalmente saiu para jantar com sua esposa, Dorothy, durante a exibição de mais alguns filmes noir. Depois, no restaurante, perguntei-lhe sobre "The Night of the Hunter" (O Mensageiro do Diabo, 1955), o grande filme dirigido por Charles Laughton, no qual interpretou o pregador sinistro que tinha em suas mãos tatuadas as palavras "Amor" tatuado de um lado, e "ódio" na outra.

- "Charles (Laughton) me ligou" - lembra Mitchum - "... e disse: Robert? Aqui quem fala é Charles. Ontem recebi um script horrível. Uma porcaria. Mas podemos fazer algo completamente diferente com ele. Com o dinheiro do estúdio faremos um grande filme. Deixem eles pensarem que estamos fazendo o filme que eles querem. Faremos algo nosso!. Então marcamos um encontro para discutir o projeto. Ele queria filmar em West Virginia ou Ohio mas o orçamento não permitia. Depois disse que chamaria Shelley Winters pois seu cachê era baixo, pouco mais de 25 mil dólares. Foi um filme feito com pouco dinheiro. Charles não era só diretor, às vezes era figurinista e até sonoplasta. Em compensação era um cineasta fantástico. Ele era como John Huston ou pessoas assim. Ele não lhe dizia o que fazer ou o que seu personagem estaria pensando. Alguém como Cukor diria: 'Agora, ele está pensando isso, e isso ...' E eu respondia: 'É Sério isso?!' Mas Charles era um cineasta sutil. Ele ajudava a montar a cena, junto com o ator, e depois agradecia pelo resultado. Era muito gratificante.  As pessoas sempre querem saber por que ele nunca dirigiu outro filme. O que posso dizer? Ele morreu cedo demais, foi por isso"

Na volta da entrevista diante do público no festival Mitchum percebeu que já tinha o público na palma da sua mão. Ele contou sobre sua afeição por Charles Laughton, mas todos queriam saber sobre outros grandes diretores com que ele trabalhou.

David Lean, por exemplo. Então Mitchum relembrou o estilo do cineasta no set: "David iria sentar lá na cadeira, pensando, pensando e pensando um pouco mais. Ficava sentado, olhando o horizonte,  pensando por horas e horas no set. Soube que quando estava filmando Lawrence da Arabia ele ficou tanto tempo na cadeira que pegou uma insolação! Depois tiveram que levar ele de lá às pressas porque uma guerra havia estourado perto do local das filmagens" - diz, divertindo-se Mitchum sobre o famoso diretor - "E ele estava na cadeira quando a guerra começou..." - mais uma vez o público caiu na gargalhada.

Perguntado sobre o que havia achado da refilmagem de seu filme de 1962 com Robert De Niro em seu antigo papel, Mitchum desconversou afirmando que não havia ainda assistido o filme de Martin Scorsese.

Alguém na plateia perguntou-lhe sobre de Marilyn Monroe e seu rosto se suavizou.

"Eu a amava" - disse ele - "Eu a conhecia desde quando ela tinha uns 15 ou 16 anos de idade. Era colega de trabalho de seu primeiro marido na linha na fábrica da Lockheed em Long Beach. Foi quando eu a conheci. E eu a conhecia muito bem. E ela foi uma linda menina.... muito, muito tímida. Ela teve o que hoje é reconhecido como agorafobia, tinha pavor de sair no meio das pessoas. Naquela época eles formavam um casal comum, como qualquer outro. Ela era muito doce e feliz. Mas daí o marido foi servir na Marinha longe de casa e o casamento acabou. A revi no estúdio, por acaso, anos depois. Fizemos filmes juntos e gostávamos de rir muito. Sei que muitos a exploraram em seus anos em Hollywood. Isso é triste".

E o que dizer de Humphrey Bogart? - alguém perguntou. Como ele era?

- "Sim, eu o conhecia. Bogey e eu éramos bons amigos. Uma vez ele me disse: 'Você sabe, a diferença entre você e eu e os outros caras, não sabe?... - o jeito dele falar isso foi muito engraçado. Bebia do café da manhã ao jantar e não ficava embriagado, impressionante. Lá pelas três da tarde eu já estava caído no chão, bêbado, quando ia na casa do Bogey e ele, que havia bebido tanto quanto eu, estava lá, sóbrio, com copo na mão e o terno impecável. Nunca vou entender aquilo!" - brinca Mitchum.

Havia um monte de alunos da Universidade de Virgínia na plateia, e um deles perguntou: " Ah, o Sr. Mitchum, dada a sua atitude despreocupada em direção de cinema, o que você acha de um festival como este, que estuda cinema de forma crítica e analiticamente? "

- "Minha o quê?"

- " Sua atitude ocasional ... "

- "Sim, sim, eu consegui o papel casual. Qual foi a outra parte?"

Todos riram.

- "O que você acha dos festivais de cinema?"

- "Eles são freak shows. É como um show de aberrações de um parque de diversões de quinta categoria. Assim que uma estrela de Hollywood confirma a presença as estações locais de TV são avisadas. É como se uma girafa fosse solta no seu quintal. As pessoas nunca vêem uma girafa tomando banho na piscina da sua casa, então todo mundo vai lá ver. Com os atores de cinema é a mesma coisa!"

Depois disso a plateia veio abaixo com palmas e risos. Robert Mitchum é muito simpático e brincalhão. Um dos grandes atores do cinema clássico que nunca se levou muito à sério. Foi um prazer entrevistar ele. Melhor do que ver uma girafa no quintal.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Robert Mitchum - Raposa do Espaço

Depois da II Grande Guerra Mundial e seu ciclo de filmes, Hollywood procurou por outro tema para seus filmes de guerra. Na década de 1950 várias produções foram rodadas tendo como tema central a Guerra da Coreia. Esse é o caso desse "Raposa do Espaço".  O lendário Robert Mitchum interpreta um oficial da força aérea que é enviado para o Japão com o objetivo de comandar um grupo de pilotos de caça que iriam lutar no conflito da Coreia.

Assim se você gosta de filmes de aviação, em especial os da linha mais clássica, não pode deixar de passar esse bom filme em branco. As cenas de combate, com Mitchum e sua equipe nas cabines dos aviões de guerra, até hoje chamam a atenção por serem extremamente bem feitas. O diretor Dick Powell optou pela perfeição técnica e nesse aspecto se saiu muito bem. O filme quando os aviões estão em ação, é tecnicamente perfeito.

Não podemos esquecer também do contexto histórico em que o filme foi rodado. Era a primeira fase da Guerra Fria, quando os "vermelhos" (em especial soviéticos, chineses e coreanos do norte) já apareciam como os novos vilões preferidos dos filmes americanos de guerra. E no meio das bombas caindo e dos duelos em pleno ar ainda sobrou espaço para um romance do personagem de Robert Mitchum com uma bela mulher. Afinal seu rosto cínico, sempre com um cigarro no canto da boca, sempre se adequava bem nesse tipo de enredo.

Raposa do Espaço (The Hunters, EUA, 1958) Direção de Dick Powell / Roteiro de Wendell Mayes e James Salter / Elenco: Robert Mitchum, Robert Wagner, Richard Egan / Sinopse: O enredo se passa durante a guerra da Coreia. Mitchum faz o papel de um Major que chega no Japão para liderar uma esquadrilha de caças durante esse conflito.

Pablo Aluísio

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

A Raposa do Mar

Após enfrentar uma batalha sangrenta o Capitão Murrell (Robert Mitchum) é enviado para um novo posto. Ela passa a ser o comandante de um destróier americano no Atlântico Sul durante o auge da II Guerra Mundial. Inicialmente a tripulação recebe seu novo comandante com certa desconfiança. Ele pouco interage com os marinheiros sob seu comando, preferindo passar seus dias trancado em sua cabine privada. Na verdade ele ainda tenta se recuperar dos vários ferimentos sofridos em seu último confronto. As coisas mudam quando subitamente o radar do navio localiza um ponto em alto mar que ao que tudo indica talvez seja um submarino alemão. Chamado à sala de controle o comandante então tem sua confirmação – é realmente o que se pensava ser. Em poucos minutos ele coloca o navio de combate no encalço do submarino do Terceiro Reich, o que dará origem a uma verdadeira caçada em alto-mar com consequências terríveis para todos os envolvidos.

Muitos filmes foram realizados sobre os combates travados durante a II Guerra Mundial mas poucos foram tão bem realizados como esse. “A Raposa do Mar” tem ótimos diálogos, um roteiro muito inteligente e um aspecto mais do que bem-vindo: ao contrário de outros filmes de guerra que retratavam os alemães como monstros, esse aqui se propõe a mostrar todos os conflitos e ansiedades vivenciadas pelos marinheiros do Reich dentro do submarino durante a batalha. Isso humaniza bastante esses militares, somando ainda mais ao filme, o transformando em uma pequena obra prima do gênero. 

O roteiro foi adaptado de um livro escrito por um almirante da marinha americana, D.A. Rayner, o que explica seu argumento tecnicamente muito fiel à realidade dos fatos. O capitão do submarino, Von Stolberg (interpretado com grande inspiração pelo ator alemão Curd Jürgens), é um homem que já lutou em várias guerras e sabe que os alemães dessa vez lutam em vão. A estrutura dramática do filme se apóia justamente em cima desse duelo entre o comandante americano Murrell e o capitão Von Stolberg, que lutam bravamente entre si para vencer essa marcante batalha naval. “A Raposa do Mar” é sem dúvida um grande filme de guerra, um dos melhores já feitos sobre a luta nos oceanos.

    
A Raposa do Mar (The Enemy Below, Estados Unidos, 1957) Direção: Dick Powell / Roteiro: Wendell Mayes, baseado no livro escrito pelo almirante D.A. Rayner / Elenco: Robert Mitchum, Curd Jürgens, David Hedison / Sinopse: Um comandante americano e um capitão de submarino alemão duelam no Atlântico sul durante a II Guerra Mundial. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhores Efeitos Especiais. Também indicado ao BAFTA Awards na categoria de Melhor Ator Coadjuvante (Curd Jürgens).

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

Galeria Cine Western - O Rio das Almas Perdidas


Marilyn Monroe - O Rio das Almas Perdidas
Embora tenha sido atriz em um dos momentos mais férteis do western no cinema americano, Marilyn Monroe só participou de um único faroeste em toda a sua carreira. Foi em "O Rio das Almas Perdidas" que ele finalmente visitou pela primeira e única vez o velho oeste. O filme foi dirigido por Otto Preminger em 1954 e contava também em seu elenco com os atores  Robert Mitchum e Rory Calhoun. Durante as filmagens em Alberta, no Canadá, Marilyn acabou se desequilibrando do barco onde estava e afundou no rio. Como estava com botas elas ajudaram ainda mais o afundamento da atriz na lama embaixo da água. Apenas com muito esforço dos membros da equipe técnico foi que finalmente ela foi puxada, evitando assim que morresse afogada! Marilyn jamais esqueceria desse curioso acontecimento até o fim de sua vida. Click abaixo no marcador e leia a crítica completa do filme.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

El Dorado - Curiosidades

1. Robert Mitchum começou a atuar no filme dando ao seu personagem um aspecto frágil e muito debilitado por causa da bebida. Isso porém não agradou ao diretor Howard Hawks que decidiu mudar um pouco as coisas. Assim Mitchum acabou dando mais força de vontade ao seu personagem bêbado. 

2. O papel de John Wayne exigiu no roteiro que ele surgisse de cabelos grisalhos, mas o ator recusou o uso de uma peruca cinza. Após alguns testes de figurino e câmera ele achou aquilo muito ruim e jogou fora a tal peruca. Acabou fazendo seu personagem com seus cabelos normais. 

3. John Wayne usa um rifle Winchester no filme que lhe pertencia na vida real. Ele criou uma maneira de usar o rifle com apenas uma mão, o girando pela alavanca. O rifle usado tinha uma alavanca de "D-loop" ampliada para facilitar o truque. John Wayne usou este tipo de Winchester modificada em vários outros filmes, se tornando uma de suas marcas registradas. A primeira vez que ele trouxe esse rifle para o cinema foi no clássico Stagecoach (1939).

4. John Wayne iria atuar em outro western chamado Nevada Smith, mas depois desistiu, optando por "El Dorado". Sem seu astro principal a Paramount resolveu então escalar Steve McQueen para interpretar o cowboy Nevada Smith. Os dois filmes acabaram sendo lançados no mesmo mês, criando uma concorrência entre eles. Sobre o filme de McQueen, Wayne diria: "É um bom western, muito bom mesmo!"

5. John Wayne e Robert Mitchum tinham trabalhado juntos pela primeira vez dez anos antes. Quando Wayne acertou com a Paramount para atuar ele sugeriu a Howard Hawks que contratasse Mitchum, que vinha enfrentando problemas com a imprensa por causa dos escândalos pessoais envolvendo mulheres, drogas, bebidas e brigas com produtores influentes de Hollywood. Uma semana depois Hawks ligou para Wayne para dizer que concordava com a sugestão, que iria contratar o bad boy Robert Mitchum.

Pablo Aluísio. 

domingo, 9 de abril de 2006

Robert Mitchum

O ator Robert Mitchum em foto promocional para o clássico do western "El Dorado". Bem humorado costumava brincar sobre seus filmes e suas atuações ao dizer: "Eu usei a mesma roupa e o mesmo dialogo durante seis anos. Só trocava o título do filme e a mocinha" Uma frase divertida mais pouco condizente com a realidade pois ao longo de uma produtiva carreira Mitchum estrelou alguns dos maiores clássicos do cinema americano, incluindo muitos filmes de western. 

Ele também trabalhou ao lado de Marilyn Monroe em seu primeiro e único faroeste. Na ocasião o ator tentou uma aproximação romântica com a famosa atriz, mas logo entendeu que iria ser complicado, já que o marido da loira sensual também participava das filmagens. Mesmo de longe, ficava o tempo todo de olho na esposa.

Em suas memórias, o ator relembrou que enquanto ele, Marilyn e os demais membros da equipe de filmagem trabalhavam, Joe DiMaggio ficava pescando nas redondezas, sempre cercado de um grupo de puxa-sacos profissionais. Todos italianos de Nova Iorque, contratados para basicamente rirem das piadas sem graça do maridão de Marilyn Monroe. Ele nunca simpatizou com Joe e ele sabia disso.

Outro fato que surpreendeu Mitchum foi o fato de que "Marilyn era boa de copo", sempre sentando com os homens do filme, bebendo de madrugada até cair de bêbada. "Essa garota não era brincadeira!" - brincou o astro do passado. No final de uma dessas noites Robert brincou e disse para Marilyn: "Ei, porque não vamos brincar só nós dois ali no escuro?". Marilyn riu e para desapontamento de Mitchum recusou o convite assanhadinho. Dono de uma extensa lista de conquistas, Mitchum não conseguiu levar Marilyn para a cama.

Pablo Aluísio.