Mais um exemplo do salto qualificativo que estava acontecendo gradualmente na discografia de Elvis Presley. É curioso perceber que enquanto os álbuns afundavam, tanto do ponto de vista artístico como comercial, os singles ousavam e ganhavam muito em termos de qualidade em si. Isso de certa forma demonstrava duas coisas: Primeiro, o medo que a RCA Victor tinha em lançar canções convencionais e fora dos padrões das trilhas sonoras. Segundo, que as próprias trilhas sonoras já não estavam com nada, uma fórmula que já deixava claro que não tinha mais futuro para Elvis. "Guitar Man" foi gravado nas ótimas sessões de setembro de 1967 no RCA Studio B, em Nashville, Tennessee. O produtor foi Felton Jarvis, acompanhado do engenheiro de som Jim Malloy. Foi justamente a canção que abriu os trabalhos naquela noite. Elvis tinha plena conviccão que as canções dos filmes deixavam muito a desejar e por essa razão estava com vontade de gravar material mais relevante. Acertou em cheio! Um dos destaques da gravação é seu arranjo, bem mais trabalhado e caprichado do que o que vinha sendo gravado para filmes em geral. Com uma levada country, porém com pitadas também do bom e velho rock, a canção certamente é uma das melhores gravadas por Elvis nesse período de sua carreira. Foram necessárias doze tentativas para enfim se chegar na versão master. De uma forma ou outra ela teria grande destaque posteriormente, durante o NBC TV Special, virando até mesmo tema principal do programa. Curiosamente nos anos 80 a música passaria por uma remodelagem sonora completa, com o aproveitamento apenas do vocal de Elvis, sendo substituída toda a parte de acompanhamento. Ficou diferente, menos country e de certa forma bem interessante, embora obviamente prefira a versão original.
"Hi-Heel Sneakers", por sua vez, é um blues visceral, também muito bem arranjado, contando com ótimas partes instrumentais. Foi gravada na mesma sessão de "Guitar Man", porém no dia seguinte, já na segunda-feira. A versão original foi gravada por Tommy Tucker no selo Checker em 1964. Acabou sendo seu grande sucesso indo parar no topo da parada Cash Box. Na Billboard também se destacou chegando na ótima décima primeira posição da Billboard Hot 100. É certamente uma das músicas mais regravadas da história, ganhando versões nas vozes dos Beatles, Rolling Stones, Sting, Led Zeppelin, Carl Perkins, Jerry Lee Lewis, Everly Brothers, Chuck Berry, Stevie Wonder e tantos outros. Estima-se que tenha mil versões gravadas, dentro e fora dos Estados Unidos. A de Elvis pode ser considerada, sem exageros, como uma das melhores. Voltando à sua discografia muitos anos depois, fazendo parte inclusive de uma excelente coletânea só de blues lançada nos anos 80 chamada "Reconsider Baby", um dos últimos LPs lançados de Elvis no Brasil já que o vinil estava em pleno processo de abandono por parte da indústria fonográfica. Por ter chegado nas lojas nesse momento histórico de transição foi também um dos primeiros CDs de Elvis a chegar no mercado brasileiro. Pela primeira vez o consumidor tinha o direito de escolher entre o vinil e o CD nas prateleiras dos grande magazines. Para quem tinha acompanhado a escassez de títulos em catálogo do cantor já era um avanço e tanto. Para quem estiver realmente interessado na música eu recomendo ainda os seguintes títulos: "Silver Box" e "Rare Elvis". Infelizmente poucos takes dessa música chegaram até nós. Ao que tudo indica Felton Jarvis acabou inutilizando as fitas que traziam as primeiras tentativas de Elvis em emplacar a canção dentro do estúdio. Uma pena.
Pablo Aluísio.
Elvis Presley
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