O primeiro single de 1969 na realidade trazia canções do ano anterior. O Lado A vinha com "Memories" do NBC TV Special. É curioso que apesar da importância histórica desse programa de TV, que levantou a carreira de Elvis, havia poucas canções inéditas em seu repertório. Na realidade apenas "If I Can Dream" e "Memories" eram novidade para os ouvidos dos fãs de Elvis. Todo o resto era um grande revival de sua época de ouro, muitas dos anos 1950, quando Elvis realmente revolucionou o mundo da música. Pois bem, segundo a RCA Victor o single vinha atendendo a pedidos dos fãs do cantor. Assim a gravadora resolveu apostar na faixa, mesmo que na época errada - na realidade o single com a música deveria ter sido lançada na mesma semana de exibição do especial na NBC e não meses depois como acabou acontecendo. O fato é que quando "Memories / Charro" chegou às lojas americanas, já era fevereiro de 1969, o natal já havia passado, as lojas estavam vazias e o impacto da exibição do programa também já tinha sido exaurido. Um típico caso de erro no timing certo no lançamento do compacto. Deixando esses aspectos comerciais de lado é interessante louvar a boa gravação e a bela melodia da canção. Muitos disseram que sua letra era de certa maneira constrangedoramente nostálgica, tentando pegar um gancho com o passado de Elvis para sensibilizar seus antigos fãs dos anos 1950 que o havia abandonado. Bobagem, essa é uma visão meramente simplista da composição em si.
Já o Lado B vinha para promover o faroeste "Charro". Estrelado por um Elvis barbudo e com visual diferente a película era uma tentativa de trazer novos ares para a estagnada e saturada filmografia de Presley em Hollywood. Infelizmente o filme não trouxe nada de muito marcante para Elvis nesse sentido. Era apenas uma cópia da cópia. Explico. O chamado Western Spaguetti nada mais era do que uma cópia italiana dos filmes americanos de faroeste. "Charro" é uma produção estranha porque era um filme americano que tentava imitar os filmes italianos, ou seja, tentava copiar uma cópia! Bem irracional não é mesmo? O filme em si deixa muito a desejar, não tem boa produção - mais parecendo um telefilme da época - e roteiro mal escrito. Elvis até se esforça, mas nunca deixamos de lado a sensação de que estamos na realidade vendo Elvis vestido de Charro. Em nenhum momento ele consegue desaparecer dentro de seu personagem. Na época o estúdio vendeu o filme como uma nova forma de apresentar Elvis nos cinemas, mas a verdade é que tudo se tornou apenas mais um fracasso de bilheteria em sua carreira. Se o filme deixa muito a desejar o mesmo já não se pode falar da música. Na primeira vez que a ouvi não gostei muito, sinceramente falando. Hoje em dia já tenho uma impressão melhor. Certamente passa longe de ser um tema com a qualidade de um Ennio Morricone, porém passa longe de ser um desastre ou uma vergonha alheia. Tem lá seus méritos. De uma forma ou outra, seja porque foi lançado em uma época errada, seja porque não teve uma boa divulgação, o fato é que o single em si não foi um campeão de vendas, alcançando apenas a trigésima quinta posição entre os mais vendidos. Bem abaixo do single anterior com "If I Can Dream" que fez bonito nas paradas. O lançamento temporão e fora de época pelo menos serviu para a RCA Victor ficar mais atenta na questão temporal, no tempo certo de colocar certas músicas de Elvis no mercado.
Pablo Aluísio.
Elvis Presley
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