Mais um single kamikase de Elvis a chegar nas lojas em julho de 1964. Esse pelo menos tinha um atrativo a mais para os fãs do cantor pois trazia no lado B a canção "Never Ending", inédita dentro da discografia, gravada em uma sessão convencional em maio de 1963, quando Elvis, muito pressionado pela gravadora, entrou em estúdio para gravar faixas que não faziam parte de trilhas sonoras de Hollywood. Agora pensem no seguinte absurdo. A música que era novidade para os fãs naquele momento simplesmente foi relegada para um obscuro Lado B do single que trazia como Lado A uma reprise do álbum "Elvis is Back". Tem como entender algo assim?
De duas uma, ou a pessoa responsável pelos lançamentos de Elvis Presley na gravadora não entendia nada de sua discografia ou então a própria RCA considerava "Never Ending" uma música tão sem expressão que resolveu não investir nada nela no momento de seu lançamento. A segunda hipótese é um pouco improvável pois apesar de "Never Ending" não ser nenhuma obra prima passa longe de se comparar com as bobagens que Elvis vinha gravando para seus filmes. É uma boa baladinha, com letra interessante, fugindo um pouco dos padrões. O tom suave que Elvis imprime em sua interpretação também a salva de cair na vala comum de coisas sem importância dentro de seus últimos trabalhos em estúdio. Agora se você acha que isso já seria bagunça suficiente que tal dar uma olhada na capa? Ela trazia uma foto de Elvis no filme "Love Me Tender" de 1956 (algo completamente nada a ver com as músicas do single) e para completar a confusão o disquinho ainda era qualificado como um "Lançamento especial de verão"!
No material promocional a RCA tentou justificar o single afirmando que seria a primeira vez que "Such a Night" seria lançada em 45 RPM. Também disse que estava atendendo a pedidos do público mas jamais deu maiores explicações sobre as suas afirmações. No fundo não era nada disso. A gravadora simplesmente não tinha mais material convencional de qualidade para lançar no mercado. Tudo o que sobrava para ela era tentar vender as trilhas sonoras de Elvis, o que andava bem complicado com a concorrência forte que estava por aí. Curiosamente o single trouxe resultados comerciais contraditorios. Naquela época a Billboard não classificada o single como uma entidade única mas sim com as canções separadas. Nesse sistema o Lado A conseguia uma classificação dentro das paradas e o Lado B outra posição. Algo ao meu ver sem muito sentido pois quem comprava o single acabava levando as duas canções simultaneamente. Uma questão de pura lógica. Se uma música era vendida a outra também.
Pois bem, na Billboard a canção "Such A Night" mesmo sendo uma reprise sem maiores atrativos conseguiu alcançar uma surpreendente décima sexta posição entre os mais vendidos! Já a música que era inédita, "Never Ending", sequer conseguiu classificação! Esse fato foi ruim porque a RCA desistiu de lançar as gravações de maio de 1963 - havia várias faixas arquivadas - em um álbum próprio. Ao invés disso a gravadora começou a utilizar essas faixas como "tapa buracos" ou "Bonus Songs" nas famigeradas trilhas sonoras que estavam por vir. Só nos anos 1990 as músicas seriam finalmente reunidas e lançadas como inicialmente tinha sido planejada. Isso deu origem ao CD "The Lost Album" (o álbum perdido), um título que recomendo aos fãs de Elvis pois mostra um dos últimos suspiros de relevância musical de Elvis Presley nesse momento tão conturbado de sua carreira.
Pablo Aluísio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário