sexta-feira, 15 de abril de 2005

Elvis Presley - Tickle Me

Do ponto de vista do produto é algo bem medíocre transformar uma coletânea de músicas aleatórias em uma trilha sonora, ainda mais em se tratando de Elvis Presley nos anos 1960 quando a única coisa relevante em sua carreira parecia se resumir nas canções inéditas de seus filmes, por piores que fossem. A pilantragem que parecia comandar as carreira do astro por essa época porém parecia não ter limites. Assim ao invés de gastar na gravação de uma nova trilha para o filme B (ou seria Z?) "Tickle Me" resolveu-se simplesmente aproveitar velhas gravações que já tinham sido lançadas muitos anos antes. Para Parker isso era uma maravilha pois nenhum tostão seria gasto e sua filosofia de "vender duas vezes a mesma coisa" voltava com tudo na carreira do cambaleado Elvis Presley.

Foram atitudes como essa que foram minando Elvis ao longo dos anos 60. Ele deixou de ser um artista relevante, um cantor respeitado, um produtor de sucessos, para virar um boneco na mão de pessoas que queriam lucrar muito com sua fama. O fãs? Um mero detalhe para gente como Tom Parker. O Coronel costumava dizer que "qualquer coisa que tenha o nome Elvis vende", ou seja, indiretamente chamou todos os fãs do cantor de bobocas pois afinal de contas eles comprariam qualquer coisa, mesmo que fossem figurinhas repetidas. Para Parker o fã de Elvis era um presente, uma pessoa que se poderia tapear por anos a fio.

Assim chegou ao mercado esse EP. Supostamente trazia a "nova" trilha sonora do novo filme de Elvis Presley. A trilha porém de nova não tinha nada, era uma colcha de retalhos barata e o filme... bom, todo já sabe, "Tickle Me" era aquele tipo de produção que não iria trazer nada para a carreira dele, nem do ponto de vista da indústria fonográfica e nem muito menos em relação ao cinema em si. Por falar em Hollywood o pior para Elvis aconteceu justamente por esses tempos. Os produtores dos estúdios entenderam que o nicho "filmes trash" era uma boa opção para comercializar os filmes do cantor. Afinal de contas se até o empresário dele dizia que qualquer coisa com Elvis vendia, para que iriam se esforçar em produzir algo bom? A ideia era colocar Presley para cantar uma meia dúzia de canções, em roteiros bobocas, atrizes de segunda categoria e orçamentos mínimos. Coisas como figurinos, cenários, etc, poderiam ser aproveitados de outros filmes. Quem iria ligar?

O filme inclusive foi programado para fazer sessão dupla com outros filmes trashs da época, produções obtusas com monstros de borracha e cidades de papelão sendo destruídas. Que pena, imaginar que Elvis havia sido comparado nos anos 50 com James Dean e agora amargar um destino desses...

Não adianta muito comentar sobre cada canção em si pois eram pratos requentados. Algumas são excelentes músicas, pinceladas de álbuns clássicos como "Something For Everybody" e "Elvis is Back!" e até bonus songs de outras trilhas sonoras cujos direitos autorais eram baratinhos e que Parker resolveu enfiar aqui. Um descalabro com os admiradores de Presley. As cenas em que Elvis as apresentou no filme também passavam longe de serem relevantes. Novamente o astro aparecia com cara de entediado, sem muita empolgação, de vez em quando dando seu sorrisinho torto para disfarçar o clima de constrangimento geral. Ele nem mais se importava em fingir melhor que estava tocando seu violão e quando o fazia a coisa era desastrosa - muitas vezes o violão surgia em cena com som de guitarra elétrica!!! E lá ia o ex- Rei do Rock fugindo de sujeitos mal encarados usando máscaras de lobisomens, dessas que você encontra em qualquer parque de diversões por alguns trocados.

Agora interessante chamar a atenção para o fato de que esse compacto duplo foi um tremendo fracasso de vendas. Não vendeu nada. Na Inglaterra nem chegou a ser classificado, tamanho o fracasso comercial. Nos Estados Unidos só conseguiu chegar no máximo ao lugar de número 70 na classificação geral dos mais vendidos. Até discos com piadas sujas vendiam mais do que isso. Bandas de garagem com canções escrachadas conseguiam vender mais do que Elvis por essa época, provando que Parker estava bem equivocado ao dizer que os fãs de Elvis eram idiotas e compravam qualquer coisa - não compravam, isso é o que esses números provam! Ser fã de Elvis por essa época deve ter sido horrível... ter que engolir tanta mediocridade em nome de uma paixão, não é coisa para os fracos, definitivamente.

Tickle Me (1965)
I Feel That I've Know You Forever
Slowly But Surely
Night Rider
Put Blame On Me
Dirty, Dirty Feeling
 
Elvis Presley - Tickle Me (1965) - Elvis Presley (vocais) / The Jordanaires, Millie Kirkham (backing vocals) / Boots Randolph (sax) / Scotty Moore, Hank Garland, Harold Bradley, Grady Martin, Jerry Kennedy (guitarras) / Floyd Cramer (piano) / Bob Moore (baixo) / D. J. Fontana, Buddy Harman (bateria) / Data de Lançamento: junho de 1965.

Pablo Aluísio.

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