A prova que a carreira musical de Elvis estava dividida em duas fatias bem claras. Na primeira, relacionada aos álbuns, o cantor se via preso nas trilhas sonoras dos filmes Made in Hollywood. Em relação a esses discos não havia muita saída. O pacote já chegava completo e fechado nas mãos de Elvis. Tudo o que lhe sobrava era colocar sua voz nas canções determinadas pelos estúdios de cinema e por sua gravadora, a RCA Victor. Em relação aos singles havia maior margem de liberdade, principalmente a partir de 1966, quando a RCA foi se conscientizando que as músicas de filmes estavam destruindo as possibilidades comerciais de Elvis Presley em se destacar. Assim os próprios executivos incentivavam Elvis a escolher o material que desejasse nessas sessões. Na verdade o próprio Elvis estava farto! Ele queria gravar material de qualidade, adulto, que não tivesse mais aquela pegada adolescente que ainda persistia em seus álbuns de filmes. Ele queria cantar canções relevantes, que falassem de sentimentos das pessoas de sua idade. Ficar cantando sobre praia, surfe e mariscos estava se tornando insuportável. Assim a RCA programou uma sessão em setembro de 1967 em que Elvis teria plena liberdade para escolher o material que queria gravar. Nem preciso dizer que a sessão se revelou maravilhosa em todos os aspectos. Presley sabia que muito provavelmente algumas daquelas gravações seriam desperdiçadas como bonus songs em trilhas sonoras, mas também tinha esperanças que outras pudessem chegar ao mercado para vencer por seus próprios méritos.
"Big Boss Man" foi a segunda música gravada nessas sessões, logo após outro clássico, "Guitar Man". Elvis estava determinado e procurar por novas sonoridades, outros tipos de letras mais interessantes, que fugissem um pouco do romance adolescente que imperava em suas canções para filmes. Também é importante destacar que nessa noite do dia 10 de setembro Elvis emplacou apenas duas gravações, demonstrando que tudo foi realmente gravado com capricho, calma, para acertar em cima de um arranjo muito bem elaborado e de qualidade. Já o lado B do single, "You Don't Know Me" foi gravada no dia seguinte. Elvis amava essa canção. Era uma de suas preferidas e ele vinha aborrecido há tempos porque não tinha gostado da versão que havia gravado para o filme "Clambake". Ele queria chegar em um take mais decente, em suas próprias palavras. Fã de Eddy Arnold não queria deixar uma versão de segunda categoria com seu nome na capa. Quem dirigiu os trabalhos nessas sessões foi Felton Jarvis, um produtor que se deu muito bem com Elvis dentro dos estúdios, a tal ponto que não mais se largaram após essas sessões iniciais. Felton tinha uma incrível capacidade de entender o que Elvis queria quando estava gravando. Além disso lhe proporcionava uma liberdade e um clima ameno e agradável para que ele liberasse seu talento sem pressões ou atritos. Era o produtor que ele tanto procurava após todos aqueles anos.
Pablo Aluísio.
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