Mais uma trilha sonora de Elvis lançada sem muita repercussão. O que é de se admirar uma vez que "Blue Hawaii" havia feito tanto sucesso (e não fazia muito tempo). Ao que tudo indica a RCA Victor tinha alguns problemas com a United Artists (que produziu o filme). Só isso poderia explicar a falta de promoção das canções por parte da gravadora de Elvis. O resultado era de se esperar: fracasso de vendas e nenhum efeito maior no mundo musical de sua época. Nas vésperas da chegada dos discos dos Beatles nos Estados Unidos, Elvis não conseguia mais se destacar nas paradas de sucessos. O curioso é que o material até apresentava boas músicas, algumas até quem sabe com força suficiente para emplacar um Top 10 entre as mais vendidas. Sem divulgação adequada porém até o público americano ignorou o lote de novas músicas de Elvis Presley no mercado.
Seu pouco sucesso fez com que a filial inglesa da RCA não mostrasse interesse na trilha, só a lançando no ano seguinte e mesmo assim após os fãs ingleses protestarem por não terem acesso ao disquinho. Até a capa do EP foi considerada ruim, com uma foto pouco interessante de Elvis usando luvas de boxe! Tudo bem que seu personagem era um lutador mas que atenção iria chamar ao consumidor comum uma capa tão estranha como aquela? Com vendas ruins e sem expressão "Kid Galahad" acabou antecipando o que iria acontecer com muitas trilhas sonoras gravadas por Elvis Presley nos anos seguintes.
King of The Whole Wide World (Batchelor / Roberts) - Não só a melhor canção do filme mas também uma das melhores músicas de Elvis na primeira metade da década de 60. Uma gravação que não fica devendo em nada às músicas de estúdio de Nashville. É daquelas canções que fazem de Elvis o Rei do Rock. Com uma letra simples, porém inteligente e ainda com uma lição de moral, essa música ainda prima por um ritmo alucinante, alto astral que combinava muito bem com o estilo de Elvis. A banda dá um show, especialmente o excelente saxofonista Boots Randolph, um dos músicos mais subestimados que trabalharam para Elvis. Saxofonista de mão cheia, Boots apareceu no palco com Elvis nos shows de 1961 de Memphis e Honolulu e se tornou o responsável por solos incríveis de sax em músicas como "The Meanest Girl in Town", "Fools fall In Love", "Witchcraft", "Return to Sender" e a obra prima "Reconsider Baby". Ele fez na década de 60 o equivalente ao que Scotty fazia na década de 50, tendo seus solos de sax substituídos os de guitarra de Moore em várias músicas. Trabalhou com Elvis até 1968 em sua última sessão em Nashville da década. Nessa música não é diferente, nos presenteando com dois solos, sendo o último o melhor deles. A voz de Elvis aqui também é o destaque, ainda exibindo um timbre parecidíssimo com o da década de 50. Como a maioria das cenas musicais de Elvis a música é apresentada de forma ridícula, com Elvis cantando na traseira de um caminhão. Uma versão mais lenta e sem a pegada foi tentada e exigiu quase 30 takes! A versão definitiva lançada alcançou o master com apenas quatro. Essa é para mostrar aos amigos que não são fãs de Elvis.
This is Living (Weisman / Wise) - Outro exemplo de uma boa música em um filme de Elvis. Também muito pra cima, essa canção tem uma letra meio escapista, o que nem sempre é ruim. Dificilmente alguém com mais de 25 anos vai se identificar com ela, mas temos que lembrar que em 1961 o público de Elvis ainda era abaixo de dessa faixa etária. Garotada mesmo. Afinal, uma música que fala sobre liberdade (de uma forma bem inocente, convenhamos) e sobre um cara que não quer se amarrar e só curtir a vida, não é para todas as idades. O primeiro verso é cantado só pelos Jordanaires e Elvis só entra do refrão em diante. O ritmo é contagiante. A única crítica fica para a banda que deveria ter tocado, digamos, de uma forma mais pesada, ficando o resultado final uma música legal, com bom ritmo, mas com uma pegada um pouco falha, sem muito "feeling".
Home Is Where The Heart Is (Edwards / David) - Se você é daqueles fãs que acham “Love Me Tender” a melhor balada gravada por Elvis, então você precisa se aprofundar mais na discografia de seu ídolo. Do contrário, você vai perder preciosidades como essa belíssima canção. Com uma melodia celestial, instrumentalmente simples e um vocal soberbo de Elvis, essa música merece ser ouvida mais de uma vez. Aqui, pessoalmente, eu acho um dos pontos altos, vocalmente falando, na carreira de Elvis que vai de um grave até então inédito até aquele agudo característico dos anos da Sun Records. Nessa música Elvis dá uma aula de canto em menos de três minutos! Os takes iniciais são mais lentos, porém prefiro o master, um pouco mais acelerado.Como em "Don´t", por exemplo, Elvis pega uma música aparentemente boba e simples e suga sua essência de tal maneira que ela se transforma em Elvis e ele nela, fato que iria ocorrer em dezenas de outras ocasiões como em "Bridge Over Troubled Water", guardada as devidas proporções na qualidade do material. Como Pomus e Shuman diziam: "Elvis era o único cantor que conhecíamos que nos mostrava algo em nossas músicas que ainda não sabíamos ou não tínhamos percebido."
I Got Lucky (Fuller / Weisman / Wise) - Puro Pop dos anos 60. "I Got Lucky" inexplicavelmente não fez sucesso nas paradas, talvez por não ter sido dada a devida atenção e ter sido lançada em um EP e não em um single. Amostra perfeita do som que os adolescentes escutavam na época: músicas bobinhas, com letras falando de amor adolescente e ritmo extremamente pegajoso e impregnante (no bom sentido!). Nada de errado com isso, em uma América ainda inocente. Essa canção é daquelas que envelheceram e ouvindo-a, imediatamente vem aquele gostinho de nostalgia. Me lembra muito "I Gotta Know", do ano anterior. Na cena do filme em que Elvis a canta o vemos em um picnic tipicamente americano e meninas com saia rodada, características da época. Elvis ensaia um pouco de seus movimentos de Pelvis, contidos, é claro, do mesmo jeito que a música é. Doo Woop de primeira para ninguém botar defeito.
Riding The Rainbow (Weisman / Wise) - Junto com "A Whistling Tune", a mais fraca da trilha, porém, sem prejudicar em momento algum a qualidade do material. O interessante dessa trilha é que até as músicas mais bobinhas são infinitamente superiores a materiais futuros como "Harum Scarum" ou "Easy Come Easy Go". Na mesma linha de "I Got Lucky", essa canção aparece no filme na parte em que Elvis após reformar um antigo cadillac leva todos para dar uma voltinha, incluindo no banco traseiro o troglodita Charles Bronson. Interessante é ver Bronson, o brutamontes de "Desejo de Matar" escutando versinhos inocentes como " I´m riding the rainbow, I´m Following my star to where you are". Irônico, no mínimo! Uma das primeiras, de muitas músicas que Elvis cantaria em um filme dentro de um carro.
A Whisling Tune (Edwards / David) - A mais fraquinha da trilha, essa havia sido rejeitada, apesar de gravada, para a trilha de "Follow That Dream". A diferença é que no filme anterior o arranjo é feito com o piano e aqui a melodia é feita com assovio mesmo, justificando o título da música. Apesar da melodia e letra agradáveis, essa canção representa uma parcela de tudo que estava errado nas músicas nas trilhas: letras bobinhas e melodias suaves e pueris demais. Nem o adolescente de 1961 iria dar atenção e se identificar com essa aqui.
Ficha Técnica: Elvis Presley (vocal) / Scotty Moore (guitarra) / Tiny Timbrell (guitarra) / Bob Moore (baixo) / Buddy Harman (bateria) / D.J. Fontana (bateria) / Neal Mathews (guitarra) / Dudley Brooks (piano) / The Jordanaires: Gordon Stoker, Hoyt Hawkins, Neal Matthews e Ray Walker (vocais) / Gravado no Radio Recorders, Hollywood, California / Data de gravação: 26 e 27 de outubro de 1961 / Produzido e arranjado por Jefrey Alexander / Data de lançamento: Agosto de 1962 / Melhor posição nas charts: #30 (USA) e #23 (UK) Obs: O EP só foi lançado na Inglaterra em janeiro de 1963.
Pablo Aluísio e Victor Alves.
Elvis Presley
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