Em 1964, em desespero de causa, a RCA Victor lançou no mercado finalmente um single de canções convencionais inéditas de Elvis Presley. Como não havia nada arquivado com força suficiente para fazer bonito nas paradas os produtores responsáveis pelos lançamentos do cantor foram até os arquivos da gravadora em Nova Iorque em busca de alguma coisa inédita de Elvis. E encontraram essa gravação de "Ain't That Loving You Baby", ainda dos anos 50 que havia sido arquivada pois o engenheiro de som havia notado algumas falhas técnicas. Ela tinha sido registrada numa das últimas sessões de gravação de Presley antes de ir para a Alemanha servir o exército americano. Pois bem, como a RCA estava desesperada o jeito foi lançar aquilo mesmo, do jeito que fosse possível. Realizaram um tratamento sonoro na música e a colocaram no mercado. O resultado foi melhor do que o esperado. Elvis soava novamente interessante para o público e para a crítica - pena que em um registro antigo, dos tempos de roqueiro de Elvis quando ele ainda não havia se rendido ao estilo açucarado de Hollywood. Em relação ao Lado A desse single devo dizer que essa versão nunca foi a minha favorita. A acho sem ritmo e sem pique, algo que foi alcançado numa versão lançada bem mais tarde no álbum "Reconsider Baby" em 1985 - aquilo sim é um som de arrasar! Poucas vezes vi tanta energia e jovialidade em gravações de Elvis como naquele tape. Com uma bateria forte, compassada e feroz, a música faz qualquer um levantar da poltrona para dançar. Uma grande gravação de Elvis que sabe-se lá o porquê ficou anos e anos pegando poeira nos arquivos da gravadora.
Já "Ask Me" não acho tão marcante. Seu arranjo é daqueles que ficaram extremamente, profundamente datados. É interessante notar que arranjos de sax e guitarra (que eram comuns em gravações de Elvis por essa época) até hoje soam bem agradáveis de ouvir mas aqueles baseados em órgãos musicais (como aqueles que eram usados em igrejas) não soam nada bem hoje em dia. Esse tipo de arranjo inclusive foi bem usado em artistas nacionais durante o advento da jovem guarda. Os Beatles também flertaram com esse tipo de instrumentação mas em poucas canções. De uma forma ou outra foi algo que em minha opinião envelheceu bastante, deixando as canções com ares de coisa velha, ultrapassada. A letra também é banal demais para ser levada muito à sério. No geral é um típico lado B com tudo o que isso significa em termos de importância dentro de um single. De uma forma ou outra a boa notícia foi que pela primeira vez em bastante tempo Elvis tinha finalmente um single de sucesso. Também pudera o Elvis que surgia nesse compacto quando o sujeito ligava a vitrola em casa era o mesmo que havia incendiado a América com seus rocks viris - algo que constratava enormemente com o Elvis dos filmes Made in Hollywood. A fera do rock havia se transformado em uma Doris Day de calças, para desapontamento de todos os que admiravam seu enorme talento. A pergunta que fica no ar é a seguinte: se os rocks blues de Elvis sempre faziam sucesso quando lançados porque o Coronel Parker e o próprio Elvis viraram as costas para o gênero nos anos 60? Além do mais se as primeiras colocações eram todas do bom e velho Rock, agora nas gravações de grupos britânicos como os Beatles, por que diabos Elvis não aproveitou o bom momento e voltou ao velho estilo? São perguntas que jamais teremos as respostas, infelizmente.
Pablo Aluísio.
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