Todo artista tem seu momento de auge, de apogeu e depois a queda é inevitável, diria até natural. Música tem bastante a ver com juventude e no mercado fonográfico o importante é aproveitar as bandas que estão na moda, aquelas que os jovens (principais consumidores de discos) estão curtindo no momento. Em 1964 não é segredo para ninguém que os Beatles dominavam as paradas, as capas de revistas e a atenção da mídia. Aqueles cabeludos em terninhos traziam algo de novo e a indústria do disco americano correu atrás da onda. A RCA Victor assistiu tudo meio sem saber o que exatamente fazer. A gravadora tinha Elvis Presley sob contrato mas desde que ele e o seu empresário colocaram na cabeça de irem para Hollywood as coisas não iam nada bem. A RCA tinha que lançar no mercado todas aquelas trilhas sonoras sem qualidade, um material que não tinha força dentro das paradas musicais. Assim os executivos resolveram radicalizar. Já que Elvis praticamente não entrava mais em estúdio a não ser para gravar músicas de filmes eles resolveram relançar velho material, reprises em singles kamikases que seguiam uma lógica meio sem noção - se vendessem, ótimo, caso contrário a RCA lavava as mãos. Era uma indireta para Parker e Elvis - para que eles colocassem a mão na consciência, quem sabe assim o cantor voltaria a gravar material convencional de qualidade.
Em 1964 alguns compactos que seguiam essa filosofia no mercado foram lançados. "Kiss Me Quick / Suspicion", "Such A Night / Never Ending" e "Blue Christmas / Wooden Heart" tentaram a sorte no disputado mercado de singles. Nenhum desses produtos se destacaram nas paradas, sendo praticamente ignorados, virando mercadoria sem expressão nas lojas. As músicas tinham sido gravadas há anos, algumas da volta de Elvis aos Estados Unidos em 1960, sem nenhuma novidade digna de nota. As capas eram simples, os próprios disquinhos eram feitos de material sem nenhum luxo. Na realidade nada trouxeram para a carreira de Elvis e em pouco tempo estavam pegando poeira no fundo das lojas americanas. Não demorou muito e estavam na seção de "promoções", vendidos a um terço do preço normal de um single de sucesso. Se nos Estados Unidos os kamikases nada trouxeram de bom para a carreira do cantor em países de terceiro mundo (como o Brasil) alguns deles acabaram caindo no gosto do povão. Um exemplo é "Kiss Me Quick" que vendeu muito em nosso país. Em lojas populares os disquinhos eram vendidos em bacias e cestas, onde eram misturados com outros compactos populares em promoção. Elvis disputava espaço com música caipira, samba, forró ou boleros. Em valores atuais custavam uma mixaria, algo em torno de R$ 2,00 ou um pouco menos. Com esses preços irrisórios acabaram atraindo o consumidor brasileiro que os levava para casa - geralmente os singles ficavam posicionados perto dos caixas, assim eram usados como brindes ou troco para as compras do mês. Quando chegavam em casa obviamente as pessoas tocavam os disquinhos em animados churrascos com a vizinhança e assim "Kiss Me Quick" acabou virando um tremendo sucesso (mas apenas no Brasil mesmo). Afinal, se é para ser popular então que se lance produtos popularescos. Elvis nos anos 1960 provou a veracidade dessa afirmação.
Pablo Aluísio.
Elvis Presley
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